quarta-feira, setembro 30, 2009

Reciclagem

[3380]

Não tenho nenhum respeito por 80% dos críticos do Cavaco. Não são institucionalistas. São socialistas. Para eles os princípios são instrumentais. Servem para fazer avançar a agenda da esquerda. Julgam que a presidência só está bem entregue se o presidente for de esquerda. Acham-se donos do regime. Quando as mesmas questões foram colocadas contra Sampaio ou contra Soares calaram-se. Não sejamos portanto ingénuos. 80% dos críticos de Cavaco não estão preocupados com as instituições, que desprezam sempre que elas os contrariam. Estão preocupados com a conquista do poder por parte da sua facção. E contra isso, Cavaco ainda é o melhor contra-poder.

João Miranda, no Blasfémias


Só acrescentaria que, para além de tudo isto, os socialistas têm um convívio muito difícil com a decência e a integridade, valores que foram sendo substituídos por um conceito de política como uma técnica que deve poder-se dominar como a hidráulica, a zootecnia, a topografia ou a engenharia civil. Todos os que resistiram á desumanização da política vão sendo paulatinamente depositados no recipiente da respectiva reciclagem.
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Apelo


[3379]

Oi, amiga. No momento, o meu país fede. Arranja um buraquinho para mim ao pé destas «ipê rosa» do teu quintal, nem que seja por um dia, tá? Prometo portar-me bem e posso até ajudar na limpeza das folhas na piscina. Nos intervalos vou dormir um pouco e sonhar que este país ainda vai «…descobrir seu ideal e tornar-se num imenso Portugal…». Pelo menos o sonho é livre e não custa dinheiro.

Já vi o anúncio do Maboque em Portugal. Vou comprar, claro. Como é que faço para me autografares o livro? Vens cá? Posso mandá-lo aí para o autografares?

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Coitado! E agora?


Foto que o DN escolheu hoje para ilustrar a comunicação de Cavaco Silva. Esta gente não brinca em serviço

[3378]


A propósito da comunicação de ontem e passando pelos jornais e posts de hoje, acho verdadeiramente hilariante a preocupação dos adversários de Cavaco Silva sobre a distinta possibilidade de ele ver a sua recandidatura ameaçada. Só falta dizer. E agora?
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terça-feira, setembro 29, 2009

A Comunicação do Presidente


[3377]

Não consigo perceber a aparente dificuldade no entendimento cabal da mensagem do Presidente da República. Percebo, sim, a estratégia deliberada de uma grande parte dos jornalistas e comentadores que ouvi depois da intervenção de Cavaco Silva, baralhando o cenário, tergiversando, especulando, questionando e formatando afirmações à medida das suas próprias conveniências. Alguns desses comentadores foram mesmo caricatos como Luís Delgado e o fiel Betencourt Resendes, frenéticos na missão de baralharem de tal forma as ideias que às tantas eles próprios se perdiam, não sabendo bem o que estavam a dizer.

No fundo, o que verdadeiramente fica deste episódio, mau grado a reconhecida inabilidade de Cavaco Silva em lidar com a política dura, é que o Presidente acusou frontalmente o Partido Socialista de uma elaborada manobra de manipulação tentando por duas vezes colá-lo ao PSD, para mais tarde o poderem acusar de parcialidade, através de uma urdidura bem tecida, com pormenores absolutamente espantosos e que revelam bem o profissionalismo de quem esteve envolvido na trama. Desde a utilização e publicação dos mails pelo pasquim do costume a (aparentes) afirmações de dois dos lacaios do regime, Junqueiro e Vitalino, quando começaram a berrar que elementos da Casa Civil da Presidência estavam a fazer o programa eleitoral do PSD e exigindo (os socialistas exigem) que o Presidente interrompesse as férias para vir a Lisboa desmentir o assunto. E depois há toda uma sucessão de episódios de todos conhecidos que basta juntar como se fosse um puzzle para se perceber o alcance da manobra. E é isto que está factualmente comprovado. Pasmo é como com todo o histórico de «trambique» do Partido Socialista haja ainda quem questione a factualidade desta situação e se admire.

Cabe ao Partido Socialista descalçar a bota. O que Cavaco Silva irá ou não fazer, não sei. Provavelmente nem ele. Mas, entretanto, revelou o seu elevado sentido de Estado ao esperar pelo fim das legislativas para acusar, olho no olho, o partido do Governo como responsável pela tramóia. Que de uma tramóia se tratou. E um exemplo vivo da tal asfixia democrática de Manuela Ferreira Leite tanto falou e que foi motivo de alarve chacota por parte dos costumeiros bobos da corte.

O Partido Socialista, uma vez mais, prestou um muito mau serviço ao país.
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segunda-feira, setembro 28, 2009

Sessão de festinhas no lombo


[3376]

Estar de costas para o televisor sintonizado no Prós e Contras tem um efeito inesperado. Desde logo (estes «desde logos» são cruciais e apropriados ao cenário) percebe-se melhor a omnipresença da apresentadora Fátima. Talvez não minta se disser que não passam 30 segundos sem que ela interrompa quem fala.

A outra questão é que, por muito que me custasse a acreditar, estou a «ouvir» o mais espantoso elogio aos vários ministros do governo cessante. Numa sucessão de florilégios que eu teria dificuldade em reproduzir. Na vanguarda dos elogiados, o ministro das finanças. Da parte dos elogiadores, Carlos Abreu Amorim vai perfeitamente integrado no pelotão da frente, em pedalada firme.

Há coisas que, contadas, não se acredita. Mesmo «considering».

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Despautério


[3376]

O Sporting Clube de Portugal, clube bem, clube de elites perfumadas por esmerada educação, onde tocar piano e falar francês é coisa vulgar, em cujo restaurante se limpa a boca chegando-lhe o guardanapo, suavemente, sem a esfregar e se deixa o mesmo cuidadosamente enrodilhado após a refeição, clube de gente fina é outra coisa, foi duramente atingido na sua reputação, nesta foto. Dias Ferreira, não obstante estar sob uma bateria de câmeras num talk-show televisivo, palitava paulatinamente os dentes enquanto exprimia um opinião qualquer sobre as jogatanas do Sporting.

Presume-se que o programa, sendo transmitido em directo, apanhe os «paineleiros» ainda com a boca a saber a carne assada com puré de batata mas, que diabo, por este andar um dia destes ainda apanhamos Dias Ferreira a tirar macacos do nariz ou mesmo, quem sabe, a soltar um arroto. Pequenino e discreto, mas arroto.

Foto surripiada ao Combustões

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Quem se mete com o PS...


[3375]

A luta continua, Cavaco para a rua.

Cavaco tem de se pôr a pau, antes que seja comido. Literalmente. Situações como esta, entenda-se um grupo de idiotas de sermão encomendado a berrar este estribilho numa das varandas do Altis diz bem da sede com que lhe estão. A Cavaco.

É urgente que esta história de Mata-Haris à portuguesa seja rapidamente esclarecida. Não tanto pelos continuadores de lutas mas para aqueles que continuam firmemente convencidos que tudo isto cheira a tramóia planificada ao milímetro para dar o empurrão final ao PS: E peço desculpa se me enganei.

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Algumas notas avulso


[3374]

- O CDS ganhou em toda a linha. A competência, dedicação e coerência têm, sempre, de dar alguns frutos.

- Louçã é consabidamente malcriado e inconveniente. Mas desta vez excedeu-se. Anunciou em directo a remodelação da ministra de educação como se tivesse sido ele a fazê-lo. Grave, grave é muita gente acreditar…

- A telegenia é como o tamanho. Toda a gente diz que não conta, mas conta. Ferreira Leite deveria ter, no mínimo, autorizado que lhe mudassem as fatiotas e aprendido um sorriso ou dois, por tímidos que fossem;

- O PC confirma estar confinado a um canto da história e cada vez mais uma seita alimentada pela utopia de ideias e ortodoxia de métodos. Só mesmo num país como em Portugal consegue sobreviver.

- 40 trotskistas/estalinistas/leninistas no Parlamento, diz o JCD no Blasfémias, como razões do nosso atraso. Não foram quarenta mas anda por lá perto. Em qualquer caso, não poderia concordar mais com ele acerca das razões para o atraso. Mas é preciso salientar que talvez os grandes culpados por essas razões não sejam os próprios, mas sim quem os leva ao colo, quem lhes acha graça e quem os usa para disseminar uma mensagem progressista, moderna, justa, solidária e desenvolvimentista, i.e., muitos jornalistas e comentadores políticos e o próprio Partido Socialista.
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Mais Sócrates...


[3373]

A espaços, cheguei a pensar que a decência se impunha à pantomina e a um país formatado pela máquina exímia do Partido Socialista e Sócrates acabasse por ser democraticamente afastado do poder. Não foi. Antes, ganhou e, de imediato, deixou a sua imagem de marca junto dos aclamadores (o atraso da chegada justificado pelo café que foi tomar e pelo elevado número de transeuntes que o quiseram saudar foi um exemplo vivo do Sócrates delicado e querido).

Assim sendo, descontando o milhão de posts e artigos que vão dissecar a questão, nada mais resta senão percebermos mesmo que o país está doente (como disse Jardim em afirmações que o inenarrável José Alberto Carvalho considerou de dogmáticas na RTP) e formatado em duas vertentes essenciais – a extraordinária eficiência da máquina de propaganda do PS e as suas (dele) próprias idiossincrasias, consabidamente voltadas para a mantinha e borralho do Estado, mesmo que este lhe arranque as entranhas em impostos.

É um dia triste mas a verdade é que cada vez mais se entende melhor a sujeição bovina a aforismos estabelecidos ao milímetro para nos manter simples, atentos, veneradores e obrigados por nada.


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sábado, setembro 26, 2009

Juke box 75

[3372]

Como já de há muito estou reflectido quanto baste, aproveito o dia para os pequenos grandes prazeres da vida. Um «franguinho da guia» com um molho especial e batatame frito, cheiinho de colesterol, bebida muito gelada (daquela que faz um mal imenso às amígdalas portuguesas, juntamente com as correntes de ar e com os ácaros do ar condicionado) e música. Muita música.

Deixo aqui este excelente «Dream a little dream of me». Armstrong tem voz rouca mas dá para perceber bem a letra. E começa assim:

Stars shining bright above you

Night breezes seem to whisper I love you

Dream a little dream of me.


Bom fim de semana para todos e viva o Sporting.

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sexta-feira, setembro 25, 2009

É a vida...


[3371]

De vez em quando dá-me disto e sujeito-me à violência de me levantar às cinco da manhã porque tenho de ir a algum lado em trabalho. Volto logo.

Ontem à noite preocupou-me o facto de ter tido alguma dificuldade em adormecer (não uso despertadores, trauma de juventude por força de um daqueles despertadores redondos, de lata, que faziam um tique-taque digno de uma fábrica de pregos e lançavam um trrrimmmm capaz de acordar um quartel de recrutas a cinco quilómetros. Mais tarde, a coisa melhorou. O progresso e uma tia simpática contribuíram para que eu passasse a acordar ao som de uma emissão de rádio qualquer o que era uma avanço considerável, se pensarmos que ainda não havia telemóveis nem serviço de despertar. E repare-se que não foi assim há muito tempo…), o que fazia prever algumas dificuldades para acordar a tempo de me meter no duche para ir ao Porto. Que é onde tenho de ir hoje.

Diagnóstico feito após uma olorosa chávena de café feitinho agora mesmo, a insónia teve a ver com a «Quadratura do Círculo» de ontem à noite, que vi já na cama. Convenhamos que há um milhão de opções melhores de cama do que ver a «quadratura do círculo» mas como queria adormecer cedo, foi isso que aconteceu. E é assim que acordo a saber algumas coisas que já sabia. Que o Partido Socialista tem, ou é, a mais poderosa máquina de manipulação, não olhando a meios, com gente capaz de tudo para alcançar os fins. É feito de gente arrogante, de uma presunção dificilmente igualável e de uma indigência cultural aflitiva. Não hesitam em seguir os mais tortuosos caminhos para chegarem ao destino, sendo que este é o poder que lhes confere e legitima as situações de excepção que não conseguiriam se tivessem de fazer uma carreira profissional, como as pessoas. Estes últimos dias têm sido um exemplo vivo disso mesmo. Ainda ontem, enquanto Pacheco Pereira, visivelmente irritado, dizia umas verdades do tipo que toda a gente conhece mas que por razões ínvias, muita gente parece guardar para si, enquanto António Costa se revelava uma das mais tortuosas (reparo agora que estou a repetir este epíteto) personagens do regime, repetindo á exaustão o argumentário conhecido, que se caracteriza por nada dizer senão mostrar a única coisa que o PS parece saber fazer. Dizer mal de alguém em proveito próprio.

Verdadeiramente nada do que vi ontem na «Quadratura» é novo para mim. Mas tiro o chapéu a P. Pereira pela clarividência com que denuncia esta mistificação de um partido que não hesita em lançar a mão seja o que for para perpetuar a sua influência, para não perderem as benesses que de outra forma não conseguiriam atingir.

Este enredo das «escutas» na presidência é talvez a estocada final no PSD e a história acaba aqui. Domingo será, provavelmente, um dos dias mais tristes da minha vida. Sobretudo porque ainda admiti que Sócrates pudesse ser realmente afastado da via política. Quanto mais não fosse, por razões de higiene. Aparentemente, não vai ser assim.

Felizmente estarei hoje todo o dia fora, ocupado e, a partir de amanhã, estaremos em «reflexão». O que, quanto mais não seja, tem a grande vantagem de não ouvir Sócrates, Silva Pereira, Lello, Santos Silva, Junqueiro (Junqueiro, meu Deus…), Soares e toda esta panóplia de «seres superiores» que acham que não podemos passar sem eles e que lhes devemos tudo.

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quinta-feira, setembro 24, 2009

O que nos vale é ter uma ministra assim


[3370]

Com o devido respeito pelo falecido e família, este caso de um homem com uma insuficiência renal a quem foi feito o transplante de um rim e que estava em fase de rejeição e que acabou por morrer acusando o vírus da Gripe A, faz lembrar um cidadão de «Bananolândia» que sofria imenso de caspa e conduzia o seu carro por entre o pesado tráfico da cidade. Eis senão quando lhe cai uma partícula de caspa num olho, circunstância aliás facilitada pelo facto de ele andar também com um problema nervoso que lhe fazia cair as pestanas e, na falta de uma delas, a partícula de caspa alojou-se com facilidade na vista. O homem teve um impulso reflexo, fechou o olho e, com tanto azar, isso coincidiu com o facto de o outro olho também estar fechado, porque o homem tinha um tique nervoso que lhe fazia piscar os olhos. Resultado: atirou com o carro contra um candeeiro e morreu.

Pressurosa e protectora, a ministra da saúde de «Bananolândia» veio de noite à rádio e televisão anunciar a primeira vítima mortal de caspa. Não sem exortar todos os «bananolandenses» a telefonarem para a linha SOS mal reparem que a gola do casaco passasse a andar suja. E fechou a funcão com aquela expressão mais ou menos do tipo de «o que seria de vocês se não fôssemos nós»?
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quarta-feira, setembro 23, 2009

Altas cilindradas


Fiat Abarth de baixa clindrada (1400 cc)
[3369]

Sempre me irritou a designação «alta cilindrada». É uma expressão errada para o efeito que se pretende, na justa medida em que há carros de alto cilindrada que são verdadeiras pasteleiras e, ao contrário, há carros de cilindrada baixa ou média que são autênticas bombas.

Mas a expressão «alta cilindrada» tem impacto. O impacto que se pretende junto da mole bovina em que nos vamos tornando à força de sermos martelados com a retórica que nos é imposta – no caso, a associação da alta cilindrada aos ricos e poderosos que é, no fundo, o que se pretende, embora muitos (a maioria) dos que escrevem ou palram num microfone conduzam carro de razoável cilindrada. Se não for mesmo alta.

No caso desta corrida idiota que António Costa insiste em manter como imagem de marca, a pergunta é: - Do Campo Grande ao Rossio qual é a diferença entre um carro de alta cilindrada e um de baixa cilindrada? Nenhuma, de facto. Mas, correcção oblige, o efeito pretendido está embutido na expressão alta cilindrada. Coisa desprezível, obra do demo que veio ao mundo para nos tornar em matéria consumível do consumismo e do capitalismo desenfreado, até acabarmos na massa putrefacta que, eventualmente e por ironia, irá dar origem, muitos séculos depois, ao petróleo que serve para mover os carros de alta cilindrada.

Enfim. Alta cilindrada be it. Mas se a hipocrisia e a patetice deste tipo de iniciativas se medisse em centímetros cúbicos, estaríamos em presença de uma altíssima cilindrada de idiotia.

Nota: Esta pérola, mencionada neste post, fazia o deleite da rapaziada da velocidade. Tinha 2 ou quatro carburadores, conforme fosse TT ou TTS e tinha, sentem-se, 1000 c.c. para o TTS e 1200 c.c. para o TT. Um baixa cilindrada que atingia os 100 km/hora em 8 s.

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terça-feira, setembro 22, 2009

Atropelado no dia sem carros


[3369]

Já uma vez solenemente o afirmei. Sou um homem azarado. Aquele tipo de gajo que quando o meu barco chegar, eu estarei no Aeroporto. Vale-me não ser supersticioso e ter raiva a quem é. Por isso tanto me faz ter estatuetas de elefante em casa com a tromba para cima como para baixo, passo distraidamente por um gato preto e, sem querer, parto espelhos e passo sob escadotes. Jamais dou uma volta a uma cadeira antes de me sentar e é-me absolutamente indiferente sentar-me a uma mesa de 13. Entro com o pé esquerdo onde tiver de entrar e sei que os azares que tenho são contrabalançados com uma grande sorte na vida. Ser sãozinho de corpo e espírito, amar muito os que me são queridos e saber como eles me amam também. No fundo trata-se de saber amar, apesar da Leonor Coutinho me querer aumentar a dose desde que, naturalmente, vote nela para a câmara da terra onde tenho a sorte (lá está) de viver.

Mas nada disso muda o essencial. E o essencial é que sou azarado. Acontecem-me as coisas mais mirabolantes, algumas delas que, contadas, não se acredita. E de todas elas, talvez a mais bizarra me tenha acontecido hoje. Fui abalroado por um carro no «dia sem carros». Acorda uma pessoa politicamente correctinha que é um regalo de se ver. Vai de comboio para o Cais do Sodré, apanha o eléctrico (olha, eléctrico ainda leva ‘C’, os especialistas devem andar distraídos) para a Lapa e, ao sair do eléctrico, leva com uma pancada do espelho do carro de um energúmeno que não se dignou, sequer, parar. Caí o suficiente para ficar sentado no passeio e motivar um fluxo de gente para saber se estava tudo bem (ao mesmo tempo que me contavam como também já tinham sido atropelados, é uma coisa a que o português genuíno não consegue furtar-se, contar como também já lhe aconteceu a ele, seja o que for), o que é uma coisa que me irrita um bocadinho porque me faz lembrar os velhinhos que caem e que apanham com um grupo de boas vontades para o levantar do chão.

E é assim que me levanto para mostrar a toda a gente que estava tudo em su sítio e limitei-me a insultar mentalmente a mãe do condutor do Corsa branco de rede ao meio que, entretanto, desapareceu.

A história não passa disto e não estou ferido nem magoado, mas o essencial ficou. O azar de ser atropelado no dia europeu sem carros, que é um coisa que eu julgava que já tinha acabado e se resumia, eventualmente, a alguma fotografia avulsa no escritório do Al Gore ou do senhor Ferreira da Quercus. O dia em que eu julgava que o único carro a circular em Lisboa era o Porche do Pedro Couceiro a fazer uma corrida com António Costa, que corria de metro. António Costa ganhou, claro. Mas o atropelado fui eu.

Adenda: Afinal, ganhou um Sousa, de bicicleta. Nem taxi, nem Porche, nem mesmo o metro. Bicla é que é. Pelo menos pela Avenida da Liberdade abaixo.
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Chamem-lhes parvos


[3368]

Esta foto foi surripiada do Angolabelazebelo, de resto um blogue que recomendo vivamente a todos os que conhecem e se interessam por Angola, e documenta a chegada do ministro do interior ao Namibe, para a comemoração do dia do herói nacional.

Lembrei-me que do jeito que as coisas estão a levar aqui pela paróquia, esta foto tem mais a ver connosco do que se possa pensar. Isto porque poderemos estar muito bem na senda de voltarmos a ter um ministro do interior e de escolhermos um dia para dia do herói nacional. Que será socialista está bem de ver.

Posso achar que Deus nos livre de semelhante possibilidade mas, por outro lado, já esta saudável forma de recepção, bem demonstrada na foto, poderia ser bem acomodada nas nossas prioridades. O que eu pagava para ver alguns putativos ministros do interior da nossa praça a serem recebidos desta maneira num qualquer aeroporto português…

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Vergonha

[3367]

Não fazia a mínima ideia da existência deste episódio. A ser como está descrito, só posso congratular-me com a posição assumida por Manuel Maria Carrilho e solidarizar-me com o Jorge Costa no sentido de que nos vejamos livres deste bando socialista rapidamente. E sentir muita vergonha, muito embaraço, que é o que sinto todos os dias.
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Pecado capital


[3366]

Por causa deste post, ou muito me engano ou deve estar a sair por aí um artigo modernaço e esclarecido acusando Pacheco Pereira de ser católico, o que, como se sabe, é pecado. Pior, um católico camuflado, embutido, disfarçado, envergonhado mas activo e, por isso mesmo, retrógrado, passadista, saudosista e, de caminho, «fassista». Ou muito me engano ou deve estar a aparecer por aí. Num jornal ou blogue perto de si.
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A justiça da F1


[3365]

A F1 pode ter muitos defeitos. Mas ninguém a pode acusar de tremideiras ou hipocrisia nas decisões que toma.

Flávio Briattore, um poderoso da disciplina, achou que podia fazer o que lhe apetecia e daí a obrigar um dos seus assalariados (Piquet) a despistar-se para dar a vitória a Alonso foi um passo. A coisa soube-se e o senhor, juntamente com a prosápia que o caracteriza, foi pura e simplesmente eliminado para todo o sempre da F1.

Pergunto-me como seria se no futebol se usasse a mesma celeridade nas decisões e a mesma dureza de penas…

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Fall


[3364]

Pode ser que essa seja uma das razões por que gosto do Outono. Pode ser o mosaico das cores, pode ser o turbilhão dos cheiros enovelados pelas folhas que vão caindo e restolhando pelas ruas ao sabor dos primeiros ventos frios que começam a soprar. Pode ser, mas também sei que o Outono é o epílogo de uma novela que todos os anos se renova e, frequentemente, se vai sem saudades que permaneçam.

Mas pode haver outras razões. Quem sabe se não será uma idiossincrasia simples de alguém como eu que, por qualquer capricho da natureza, parece andar, frequentemente, em contra-mão. Mas ninguém pode ficar insensível às cores. Se Deus existe, e Ele é muito bem capaz disso, tenho a certeza que escolheu uma paleta de cores especiais para o Outono que, cá pelas minhas contas, deve ter calhado aí pelo 4º dia da Criação. E o resultado é o que se vê. O Outono de 2009 começa hoje e aqui fica o registo da minha saudação pessoal. E especial.

Também há uma amiga, de gosto refinado, que eu sei partilha a minha estação fétiche. E hoje já deve andar de câmera a postos.



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Factóides mais ou menos humanóides

[3363]

Quando um homem eticamente pequenino, truculento e carregado de ódios de estimação que não soube ou não quis sublimar, resolve lançar umas diatribes malcriadas sobre gente cuja dimensão está a anos-luz da sua pequenez, não há factóides que cheguem para beliscar, de leve que seja, aquilo que toda a gente aprendeu a respeitar. A integridade e a lisura de Cavaco Silva. O resto… é factóide e próprio do desvario e má-criação.
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segunda-feira, setembro 21, 2009

Falando de futebóis


[3362]

De há bastante tempo que o meu interesse pelo futebol da paróquia se tem vindo a desvanecer aceleradamente. Mesmo quando um ou outro jogo interessante trazia uma alminha nova ao meu desencanto, lá vinha uma caso qualquer encarregar-se de me carrilar no enfado – que é, em última análise, o que acaba por acontecer ao mais pintado. Isto para não falar daquelas questões que jamais virei a entender e que se tornaram rotina no futebol português, como seja o facto de se pagar a um homem como Rui Santos para falar na SIC. Neste caso, de futebol, mas pôr Rui Santos a falar seja do que for e pagar-lhe por cima é um acto absurdo e que jamais entenderei.

Mas, tudo junto e somado, não desminto que, aqui e ali, não surja um motivo de alegria intestina ou uma explosãosita, mesmo contida, tipo Juca Chaves quando desatou a gritar «é hoje, é hoje, é hoje». E isso tem acontecido com o renascimento do Benfica, mesmo dando de barato que sou um lagarto confesso por razões que a razão desconhece. Mas comecei a gostar de ver uma equipa capaz de mostrar ao FêQuêPê que nem sempre a glicose, aminoácidos, fibra e vitaminas da fruta da época chegam para ganhar campeonatos, já que o vigor do meu leão se continua a parecer cada vez mais com uma anemia crónica de um tareco ao borralho de uma velhinha míope e de xaile. Isto para não falar de quanto mais vezes o Benfica ganha e o FêquêPê perde, menos crónicas específicas o CAA mete no Blasfémias, blogue simpático que tem o JCD e a Helena Matos e tudo e tudo e tudo mas que quando começa a falar do Benfica e da drª Ferreira Leite apetece mandar para o Bolhão vender rodovalho (a escolha deste peixe como exemplo não tem qualquer conotação fonética com o que quer que seja, tem apenas a ver com um dos peixes que mais aprecio e desde já recomendo os «Três irmãos» ou os «Três rapazes», já nem me lembro bem, em A-Ver-o-Mar, onde este peixe vem a escorrer frescura para a travessa).

Voltando ao futebol, aceitar a melhoria do Benfica e rebolar-me de gozo com as derrotas (nacionais, atenção) do FêQuêPê é uma coisa. Agora que, de repente, se comece a sentir que se está a levar o Benfica ao colo é outra. Ainda ontem o Benfica ganhou com um golo resultante de um livre que não existiu e outro de um penalty que ainda existiu menos. Ou seja, não exageremos. Aceitemos a melhoria dos lampiões mas não comecemos agora a actuar por simpatia (no sentido militar, mesmo) e a levar o pequeno-almoço à caminha da lampionagem.

Posto isto, estou para ver o que é que o Sporting faz logo à noite.
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domingo, setembro 20, 2009

Quem se mete com o PS...

[3361]

Mas ninguém repara nisto? As pessoas não reparam, nem que seja em diagonal, ou estamos todos já amestrados ao ponto de acharmos natural um conjunto de práticas que reflectem a verdadeira natureza deste Partido Socialista? Como é que as pessoas se preocupam com o feitio retrógrado de Manuela Fereira Leite (ainda hoje o impoluto Manuel Alegre mentiu descaradamente acusando a senhora de ter dito que o casamento servia para procriar, uma mentira redonda que poderia sair de Louçã ou Bernardino mas, não, saiu da pureza virginal do pensamento do poeta), com o seu conflito com a sintaxe, com os seus critérios de escolha de listas de deputados ou mesmo com as alegadas malfeitorias de Helena e Preto (uma prática de há muito denunciada e extensiva a outros Partidos) e não se impressionam com esta história aberrante de se bulir com a vida um cidadão só porque, no entendimento, do Partido Socialista se meteu com Paulo Pedroso?

Esta história arrepia. Pela crueza com que é contada e, sobretudo, pela aparente indiferença de quem a lê. E, ainda, porque para além do episódio em si, põe a nu um contexto mais lato do que a simples avaliação profissional de um juiz.

Sabemos que quem se mete com o PS leva, fomos atempadamente avisados mas, que diabo, sempre pensei que houvesse limites para a pouca vergonha. Esta gente goza de um incompreensível sentido de impunidade.
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sábado, setembro 19, 2009

Custa-me a crer, mas...

[3360]

Posso estar redondamente enganado mas palavra de honra que não consigo imaginar um quadro em que o Presidente da República pede a um assessor para mandar, à sorrelfa, uma nota para os jornais segundo a qual ele, presidente, se queixa de que anda a ser escutado. Não encaixa mas, desde que o outro viu um porco a andar de bicicleta já não digo nada. Peço licença porém para conceder todo o benefício da dúvida a um homem que me habitou à seriedade e lisura de processos. Já o governo não me permite um mícron de confiança, habituado como estou ao seu percurso eivado de mentiras, artimanhas, compadrios, estratégias obscuras, suspeitas, favores, cumplicidades (esta história recente da classificação do juiz Rui Teixeira é absolutamente espantosa e quase não merece notícia…) e cujo primeiro ministro contribuiu decisivamente para adensar o cenário com as sua própria forma de estar e lidar com as questões.

Assim sendo, ainda que admitindo estar errado, toda esta história me parece mais esturrada que uma posta de carne numa panela sem molho, tenho mesmo de referir que não consigo ver Cavaco Silva a conspirar da forma como parece querer-se fazer crer. Ou então está tudo tontinho. E a verdade é que os jornalistas também não ajudam.

Nota: Discordo em absoluto da forma como Cavaco Silva não disse nada, acabando por dizer muito, quando adiou para depois das eleições alguma acção sobre a matéria das escutas. Penso que uma situação delicada como esta mereceria acção imediata. Com eleições ou sem eleições. Mesmo que causasse muito burburinho, fosse ele qual fosse, talvez ajudasse a clarificar muita coisa.
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Snob e pouco sério

[3359]

Francisco Louçã não é um homem politicamente sério e enreda-se com facilidade em episódios que certificam bem a sua falta de seriedade. Ultimamente os episódios estão a ser demasiado frequentes mas, como dizia Guterres, é a vida. Aconteceu agora com a sua alergia às peixeiras e com as explicações atabalhoadas que deu sobre o facto de ter um PPR. Coisa que se veio a saber horas depois de ter lançado um dos seus mais violentos ataques ao sistema de poupanças reforma, acusando os bancos de se limitarem a arrecadar comissões sobre investimentos que dão 0% de rendimento.

Em todo o caso, toda esta desonestidade mental, aliada ao verdadeiro terrorismo verbal a que Louçã deita mão todos os dias ao levantar da cama, não parecem suficientes para travar o facto, parece que irreversível, do Bloco se vir a tornar na terceira força política portuguesa. E quem come do que gosta não tem de se queixar.
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quarta-feira, setembro 16, 2009

Pum-Pum


[3358]

Faleceu hoje José Manuel de Mello, de 81 anos, conhecido empresário que começou cedo a trabalhar no Grupo CUF, fundado pelo seu avô Alfredo da Silva e que deixou uma sólida rede empresarial no nosso país, sem precisar de fugir para o Brasil e, por causa da fuga, como diria Louçã, o país ter ido à bancarrota.

Pelo jeito que as coisas vão ficando cá pela paróquia não me admiraria muito se visse algumas conhecidas e eminentes personagens da nossa esquerda moderna a celebrar, dançando e disparando tiros para o ar, como na Palestina.

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E os netos nem precisaram de avisá-la


[3357]

Impossível passar ao lado da presença de Manuela Ferreira Leite na entrevista com Ricardo Araújo Pereira. Manuela mostrou fluidez de verbo, raciocino ágil e, sobretudo, uma naturalidade desarmante. Tudo isto contrastou com a performance da véspera do seu opositor, que mais pareceu um «gadget» previamente programado para a função. De plástico, como o país de O’Neill. E quanto a humor, julgo que toda a gente percebeu que o próprio «Gato» não conseguiu conter o riso genuino com a oportunidade e qualidade de algumas respostas de Manuela.


Manuela ganhou. E nem precisou de dizer que os netos a tinham avisado.
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terça-feira, setembro 15, 2009

Debates de bloggers


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A TVI24 está a promover uma série de debates entre bloggers, a propósito das eleições legislativas.

Joâo Gonçalves (Portugal dos Pequeninos) já debateu com Nuno Ramos de Almeida (5 dias) e pode ser visto aqui.

Os debates prosseguem hoje e os intervenientes (aos pares) são:


Filipa Martins (Corta Fitas)
Helena Matos (Blasfémias)
Marta Rebelo (Blogue de Esquerda)
Miguel Morgado (O Cachimbo de Magritte)
Paulo Pinto de Mascarenhas (ABC do PPM)
Rodrigo Moita de Deus (31 da Armada)
Tomás Vasques (Hoje há conquilhas)
Vítor Dias (O tempo das cerejas)

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Os senhores da outra senhora


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Por vezes, a família Soares dá uma colherada no refogado e encarrega-se de nos lembrar que, independentemente do mais, pai e filho passam da arrogância à pura má-criação com o mesmo à vontade com que se aumenta a cebola ao estrugido.

Agora foi o filho João que achou que a melhor forma de se expressar em relação a Manuela Ferreira Leite foi afirmar que a escolha é entre José Sócrates e a outra senhora. João foi grosseiro, foi rude e nada ficou a dever ao pai Mário quando este, numas eleições europeias, uma vez afirmou que Nicole Fontaine fez um discurso de dona de casa. Para além de malcriado, Mário foi sexista, machista, retrógrado, passadista e patriota bacoco, para usar o léxico em uso na repartição Soares.

É por estas e por outras que volta e meia sinto um impulso de simpatia em relação a Alberto Jardim, truculento, mas incomparavelmente mais franco e sadio na forma como insulta quem acha que deve insultar. Fuck them, fuck them, disse Jardim da última vez. Que não se lhe tolha a língua em episódios como estes.
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segunda-feira, setembro 14, 2009

A velha



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O epíteto adquiriu forma e estabilizou-se na linguagem corrente da onda socrática que varre o país. Se nada mais desaconselhar o voto em Manuela Ferreira Leite há sempre o argumento de que ele é, está velha. Além do mais é feia, veste mal e fala pior. Estão definidos os factores pelos quais não devemos votar Manuela. Ela não tem filhos de tios mais ou menos suspeitos, formou-se num dia útil, tem um currículo académico e profissional como as pessoas, não gosta da hipocrisia populista (apesar de eu já ter ouvido, em «politiquês», que ela tem a mania que é progressista, mas é divorciada…) nem do ar de comício que se tornou regra para cada um dos actos políticos em curso, por mais simples que sejam, que se tornaram rotina na paróquia. Não é suspeita de nada e, que se saiba, nunca perdeu papéis nem em casa nem em notários, referentes a escrituras. Que me ocorra, tem alguns pecadilhos como o de ter percorrido três centenas de metros num carro oficial quando estava em campanha, ficando por esclarecer se ela sabia disso. Resumindo: No geral, tem as condições necessárias e suficientes para ganhar as eleições. Mas é velha. É feia e veste mal. Fala ainda pior e, como se sabe, quem fala mal é porque pensa mal. Daí que em muito blogues «a velha» ganhou direito a menção corrente, ao contrário de outros velhos do PS que gozaram sempre de imunidade etária, como Soares e Almeida Santos para referir apenas dois nomes que me ocorrem. Sobre Soares há mesmo quem habilmente se refira ao seu espírito maroto com as mulheres e ache as suas sestas famosas pelo desprendimento da coisa política e nunca por cansaço, feitio estouvado ou velhice. Jamais como um velho.

A «velha» vai a votos. Receio bem que perca. É um feeling. Porque é patrulhada ao milímetro e porque, realmente, lhe falta fio de discurso para dizer umas coisas que poderia e deveria dizer e evitar outras que, pela forma como as diz, são imediatamente aproveitadas para a derrubar. E porque de cada vez que fala é sujeita a uma sessão de «tiro ao boneco», sobretudo por uma indecorosa colecção de comentaristas, analistas, politólogos, sociólogos, «economólogos» e «idiotólogos» que enxameiam as televisões com teorias delirantes.

A «velha» é muito bem capaz de perder…



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domingo, setembro 13, 2009

Cartões vermelhos


[3353]

O Paulo passou-me a corrente dos dez cartões vermelhos. Pensei, pensei, e achei que esta coisa dos cartões vermelhos é um bocado como os tumores. Os benignos e os malignos. Como os malignos dariam quase todos para o universo político, optei pelos benignos. E como nos benignos o Paulo esgotou já a matéria sobre o gineceu, decidi por me ater a questões mais ou menos anódinas mas, mesmo assim, suficientemente irritantes para levarem um cartão vermelho. Aqui ficam, assim, dez cartões vermelhos para:

1 – Aquela gente que arruma os carros por cima dos traços que delimitam o espaço «parkável». Circunstância agravada pelo facto de eu achar que não o fazem de propósito. É gente que vive à bolina de uma dinâmica muito própria e, essencialmente, muito portuguesa. E reveladora de uma absoluta ausência de espírito de cidadania. Daí que o grave mesmo não é o carro mal estacionado mas o fenómeno que lhe está subjacente;

2 – A absoluta impossibilidade de se manter uma conversação normal numa mesa em que estejam mais de três pessoas. Os portugueses sabem tudo, discutem tudo e têm opinião sobre tudo. Esta, a opinião, tem de ser dada seja em que altura for, mesmo que venha a propósito de nada e careça de oportunidade, pelo que se interrompe tudo e todos em função daquilo que achamos que temos de dizer here and now, no matter what. Neste caos cabem ainda aquelas alturas em que pensamos que o nosso interlocutor já acabou a frase, por força do silêncio a que se remeteu e começamos a falar de outra coisa qualquer. Apenas para sermos interrompidos por uma extensão do tema anterior – qualquer coisa em que o «outro» ficou a mastigar, não reparando sequer que, entretanto, já estávamos a falar de outra coisa. Exemplo simples.

Indivíduos A, B. C. D., E e F à volta de uma mesa.

A para B : Gosto imenso do Algarve para passar férias. B para A: Eu não, gosto mais do Minho. C para B e D para todos (em simultâneo): Nem pensar, a praia é a praia e não há nada queB para todos… desculpem lá mas a praiaC para E: a tua mulher está melhor? E para C: Nem por isso, mas entretanto A para F: não concordas comigo? F para A: quer dizerC para E: bom mas já lhe passou a febre, não é? B para todos… desculpem lá, mas a praia… desculpem lá mas a praia…desculpem lá mas a praia… desculpem lá mas a praia… Empregado de mesa para A: Mais uma imperial? D para empregado: Eu também quero. A para todos: ouviram o debate do…com quem joga o Benfica este Sábado? perguntou C para todos quando o A ia dizer entre quem tinha sido o debate. È mais ou menos isto. Cartão vermelho e bem vermelho para esta lusa e indisciplinada verborreia;

3 – O energúmeno que nos dá uma traseirada na viatura e sai do carro com cara de quem nos quer bater, porque não tínhamos nada que parar no semáforo porque o sinal ainda estava laranja;

4 – O mastigante impaciente que não suporta, de todo, esperar pela comida sem nos ir «picando batatas fritas» do prato, apenas porque tivemos o azar de chegar primeiro que ele à mesa e, entretanto, mandámos vir o almoço;

5 – A mulher que diz não com a boca, sim com os olhos, depois se baralha e já não sabe se foi assim ou se foi ao contrário e acaba por criar a maior confusão mas acaba por, três horas mais tarde e uma prelecção sobre as relações a tracejado, dizer sim com tudo o que tem à mão, preparada para uma contrição desnecessária e absolutamente desajustada para mais tarde, um nadinha antes de recomeçar o ciclo do sim, não, não só, mas também...

6 – Aquela gente que a partir de Junho de cada ano começa a pedir nos restaurantes que desliguem o ar condicionado porque o frio lhes está mesmo a bater nas costas, sobretudo aquela que vai-se a ver e está de costas para uma parede sem ar condicionado nenhum;

7 – O conflito nacional com o clima, mesmo dando de barato que Portugal tem um dos melhores climas do mundo. Tipo, estarmos um mês seguido com sol e calor e duas horas depois de começar a chover se queixa que isto está tudo mudado, já não é como era dantes, já não há estações, é o aquecimento global, os americanos são umas bestas e telefona para casa a perguntar se está tudo bem porque parece que também vai trovejar;

8 – Cadeias blogosféricas, sobretudo quando elas vêm de gente a que não sabemos, nem queremos dizer não;

9 – Sócrates. Porque sim. Porque me irrita. Porque tem filhos de tios a mais. Porque passa a vida a ralhar comigo na televisão. Porque se amanhã lhe pedirem para ler o boletim meteorológico na TV ele faz um comício e diz mil vezes que anda há quatro anos e meio a tornar Portugal um país próspero, moderno, tecnológico e cheio de novas oportunidades;

10 –
A esquerda nacional. Porque vai contribuindo alegremente para que Portugal seja hoje o único pais da Europa com cerca de 20% de apoiantes da extrema esquerda and counting. O que, como se sabe, não abona muito a viabilidade da paróquia.

E passo a corrente:

À Dulce
À Carlota
À Cristina
À Ana
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sexta-feira, setembro 11, 2009

As boas recordações


[3352]

Nunca falei nisto, mas “dei” com esta foto e lembrei-me que consegui um primeiro lugar na classe e um terceiro lugar na geral num dos mais prestigiados ralis em África – o Rali do BNU.

Foi em 1973 e a chegada a Luanda foi em apoteose, com direito a primeira página no dia seguinte no “Província de Angola”. Como navegador tive o Lima Miranda, um grande amigo e colega que vive no Algarve e sei que não lê blogues. Mas vou ligar-lhe para ele ler o post.

Um doce, a quem souber identificar este carro.

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À beira da apoplexia


[3351]

Começo a preocupar-me com a distinta possibilidade de me encontrar sozinho no mundo da interpretação do que os comentaristas políticos vão dizendo por aí. Clara Ferreira Alves é disso um exemplo vívido. E quando eu pensava que ela estava razoavelmente «emprateleirada» no Eixo do Mal e entretida com os florilégios do costume, arejando a caprichosa pluma pelo Expresso, eis que me aparece de corpo inteiro, ataviada de indesmentível exuberância, na SIC-Notícias, num painel organizado pelo Mário Crespo, para comentar o debate Portas/Ferreira Leite.

Confesso que admiti que, consideradas as exigências de alguma seriedade acrescida relevada da transição de um programa mais ou menos humorístico para um programa que se pretende sério, que a plumosa escritora e jornalista se ativesse a um módico de seriedade e objectividade que lhe permitiriam exercer o mister para que fora convidada, em desejáveis termos de imparcialidade e lisura. Enganei-me redondamente. Esta senhora não resiste, não consegue manter a frieza necessária para criticar objectivamente o PSD. Ressuma tanto ódio, tanto ressabiamento - e vá lá saber-se porquê, nem interessa para a análise em questão - que chega a enovelar-se no que diz e perde o sentido das coisas e o fio da conversa. Sem receio de errar, chego a pensar que de cada vez que CFA é chamada a falar sobre o PSD corre evidentes riscos físicos, de tal maneira as veias se lhe relevam do pescoço e fervilham à flor da pele.

São mistérios que nunca, provavelmente, saberei explicar. Talvez Pulido Valente o possa fazer. Eu não, com certeza. Não conheço a senhora e limito-me a tentar perceber como é que uma pessoa pode alojar tanto ódio e, escovada como é, se deixe arrastar no torvelinho dos sentimentos para acabar a dizer uma série de disparates sem nexo nem aparente propósito.

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É a liberdade, estúpidos


[3350]

Dois episódios na minha vida, mais do que quaisquer outros, ajudaram-me a perceber melhor os homens e o mundo. O período pós 25 de Abril e a destruição das torres de Manhattan. Este último aconteceu exactamente há oito anos, quando o mundo, estupefacto, ou pelo menos parte dele, assistiu à tragédia.

Aqui fica a evocação da data e o desejo que, ao menos, as vítimas não tenham morrido em vão mas, ao contrário, tenham contribuído, com o seu sacrifício, para a preservação do maior e mais nobre valor de que dispomos – esse mesmo, a liberdade.
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quinta-feira, setembro 10, 2009

Os cevados mentais


[3349]

Este homem é um exemplo acabado do homem (que se quer) novo. Embusteiro, demagogo, fala do que sabe e do que não sabe. Inventa, mente, desacredita, intriga, emaranha e espuma de raiva em face dos valores instituídos. Ou, pelo menos, de alguns. Não espumou quando lhe ocorreu cobrar € 2000 por entrevista. Salvo erro esta ideia brilhante aflorou-lhe às meninges depois do «Capitalism. A love story», onde considera o capitalismo de Wall Street um crime.

Moore sucks. Mas há quem goste. E pague por cima.

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quarta-feira, setembro 09, 2009

Nacionalizações?


[3348]

Tenho acompanhado os debates a tracejado. Está tudo e estão todos muito vistos para que me detenha com atenção na verve destas criaturas que nos têm tratado da vida (???) durante os últimos anos.

Há uma coisa, porém, que me impressiona, qual seja a da frequência e o à-vontade com que se tem falado nas nacionalizações. Pior que a frequência tem-me surpreendido a forma como nenhum dos adversários dos paladinos das nacionalizações têm reagido. Nenhum deles, nem Portas nem Ferreira Leite nem Sócrates parece ter argumentação forte para calar o talento falante de Louçã ou a candura de Jerónimo.

Isto pode querer dizer uma de duas coisas. Ou os candidatos referidos não dão verdadeira importância ao que a extrema esquerda vai dizendo por aí ou realmente se instalou na sociedade portuguesa uma abulia generalizada sobre as consequências trágicas das loucuras do Prec, coisas do passado, pensarão muitos ou, muito mais grave, talvez que as nacionalizações não fossem má ideia, para acabar com os ricos e os poderosos.

É evidente que não posso ter a certeza, mas receio que possa ter razão se afirmar que Portugal poderá muito bem ser o único país europeu onde as nacionalizações ainda possam constituir matéria de discussão em período eleitoral.

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Faz-me espécie


[3347]

Fico genuinamente em pulgas para saber dos resultados da reunião entre o ministro da Justiça, o Procurador-geral da República, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e o bastonário da Ordem dos Advogados.

Somos um país fértil no absurdo, mas palavra de honra que esta reunião me «faz espécie», como diria uma empregada do norte que tive em miúdo. Mas também é verdade que nos habituámos a desconfiar de tudo e de nada. Assim sendo, vou aguardar «com tranquilidade» o que é que estas entidades têm para nos dizer. Se é que têm. E no-lo dizem. Mas que me «faz uma espécie» tremenda, faz.

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terça-feira, setembro 08, 2009

Moedinha na boca

[3346]

A melhor reflexão que li ultimamente sobre Louçã:

«Francisco Louçã é um desses talentos falantes com qualquer coisa de mecânico e automático que parece só precisar que se insira uma moedinha para termos o benefício de um discurso empolgado e retórico, cheio de palavras frases feitas e ideias de esquerda marteladas para ouvidos modernos e ressabiados ou para aqueles que ainda não se tenham conseguido libertar do “complexo de esquerda”. Não importa a verosimilhança do que diz, o compromisso responsável do que propõe ou a honestidade interpretativa de coisas que só ele lê onde elas não estão. Tudo isso é secundário face ao caudal inesgotável (e tão irritante, meu Deus) de palavras que lhe saem da boca»

Joana Carvalho Dias no Hole Horror.
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Coitado de Chávez, esse incompreendido


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Oliver Stone faz o panegírico de Hugo Chávez, numa longa prelecção, a propósito de um filme que mete guerra e sacanas. Poucas vezes tenho ouvido tantas alarvidades em tão pouco tempo. Ficou-se-me a última, segundo a qual deveríamos compreender Chávez porque, afinal, poucos países da América Latina se poderão gabar de ter tido tantas eleições como a Venezuela. Ainda segundo Stone, a pobreza foi quase erradicada e Chávez está a ser vítima de campanhas dos media internacionais em geral e americanos em geral (ainda há dias a imprensa dizia que Chávez achava muito bem que o Irão devia ter a bomba atómica e que, idealmente, se deveria constituir uma zona nuclear de parceria venezuelana e iraniana no continente americano, esta imprensa é danada para a brincadeira, quando embirra com alguém é isto).

Houve uma altura em que ainda me interrogava como era possível haver gente assim. Hoje, limito-me a perguntar aos meus botões como é que este pessoal «avançado» consegue tanta audiência.

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Da acção desinfectante do oxigénio, ou do cretinismo militante


[3344]

As coisas vão começando a ficar patéticas e sem aparente remissão. O homem da Quercus hoje aconselha-nos vivamente a ter piscinas biológicas. E então é assim, para usar a expressão em uso na paróquia. Faz-se o buraco no chão. Enchemo-lo de água e depois «aquilo» vai-se enchendo de fetos, algas, plantas aquáticas diversas e até nenúfares sobre cujas folhas começarão a aparecer rãs e outros batráquios correlativos. Aí, as plantas emitem oxigénio que desinfecta a água (como sabemos o oxigénio é um poderoso desinfectante, as pessoas é que se lembraram do cloro, do hipoclorito de cálcio e outras esquisitices, em nome do lucro e do progresso e porque as pessoas são assim, são esquisitas, pronto) e, com sorte e a avaliar pelas imagens mostradas na televisão, nessas plantas poderão fácil, e ecologicamente emaranhar-se as pernas de crianças que inevitavelmente morrerão afogadas. Mas mesmo que não dêem com os cadáveres durante uns dias, a água continuará utilizável porque as plantas manterão a sua capacidade de produzir oxigénio e, consequentemente, desinfectar a água, evitando os maus cheiros.

O homem da Quercus não diz, mas presumo que os sapos chamarão cobras, mas sabe-se que, de um modo geral, as cobras de água não são venosas, metem um bocadinho de impressão, mas pouco mais. E venenosas, venenosas mesmo, só se for um casalito ou outro, coisa sem expressão Quanto a fungos e outros agentes de doenças de pele, a peça de televisão também é omissa mas presume-se que a acção desinfectante do oxigénio vai-se a ver e tem também uma acção fungicida. Assim sendo, tudo a fazer piscinas biológicas. Poupamos cloro, promovemos micro ecossistemas e até o pé de atleta deve estar preservado, penso que o oxigénio libertado pelas plantas dá para tudo, micoses incluídas. Com jeitinho e alguns ajustes poderemos até, um dia, quem sabe, substituir as estações de tratamento de água dos grande centros por piscinas naturais. Nestes casos, ate poupamos o sulfato de alumínio para além do cloro. Arriscamo-nos a ter de engolir, aqui e ali, um sapo ou outro, mas hoje em dia quem é que não engole sapos?


Adenda: Lembrei-me que há quem viva em climas tropicais. Nesses casos, há esperança que o ecossistema venha a incluir o caracolinho da bilharzíase. Fica a piscininha ecologicamente completa.

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sexta-feira, setembro 04, 2009

«Este PS-Governo é muito perigoso para a liberdade»


[3343]


Está tudo aqui, neste notável artigo de Eduardo Cintra Torres, no Público:


«A decisão de censurar o Jornal Nacional de 6ª (JN6ª) foi tudo menos estúpida. O núcleo político do PS-governo mediu friamente as vantagens e os custos de tomar esta medida protofascista. E terá concluído que era pior para o PS-governo a manutenção do JN6ª do que o ónus de o ter mandado censurar. Trata-se de mais um gravíssimo atentado do PS de Sócrates contra a liberdade de informar e opinar. Talvez o mais grave. O PS já ultrapassou de longe a acção de Santana Lopes, Luís Delgado e Gomes da Silva quando afastaram a direcção do DN e Marcelo da TVI. A linguagem de Santos Silva e do próprio Sócrates na quinta-feira sobre o assunto não engana: pelo meio da lágrimas de crocodilo, nem um nem outro fizeram qualquer menção à liberdade de imprensa. Falaram apenas dos interesses do PS e do governo. Sócrates, por uma vez, até disse uma verdade: o PS não intervinha no JN6ª. Pois não, foi por isso que varreu o noticiário do espaço público. O PS-Governo de Sócrates não consegue coexistir com a liberdade dos outros. Criou uma central de propaganda brutal que coage os jornalistas. Intervém nas empresas de comunicação social. Legisla contra a liberdade. Fez da ERC um braço armado contra a liberdade (a condenação oficial do JN6ª pela ERC em Maio serviu de respaldo ao que aconteceu agora). Manda calar os críticos. Segundo notícias publicadas, pressiona e chantageia empresários, procura o controle político da justiça e é envolvido em escutas telefónicas. Cria blogues de assessores com acesso a arquivos suspeitos que existem apenas para destruir os críticos e os adversários políticos. Pressiona órgãos de informação. Coloca directa ou indirectamente “opiniões” e “notícias” nos órgãos de informação. Etc. O relato da suspensão do JN6ª, no Jornal de Notícias e no Diário de Notícias e outros jornais de ontem é impressionante, sinistro e muito perigoso. Provir de supostos “socialistas”, portugueses e espanhóis, em nada diminui a gravidade desta censura. Esta suposta “esquerda” dos interesses, negócios e não resolvidos casos de justiça é brutal. Intervindo na TVI, o PS-Governo atingiu objectivos fundamentais. Como disse Mário Crespo (SICN, 03.09), o essencial resume-se a isto: J.E. Moniz e M. Moura Guedes foram eliminados —e com eles as direcções de Informação e Redacção e um comentador independente como V. Pulido Valente. Este PS-Governo é muito perigoso para a liberdade. Até o seu fundador está preso nesta teia, por razões que têm sido referidas. Ao reduzir a censura anticonstitucional, ilegal e protofascista do JN6ª a um caso de gestão, Soares desceu ao seu mais baixo nível político. É vergonhoso que seja ele, o da luta pela liberdade, a dizer uma coisa destas. Será que em 1975 o República também foi calado só por “razões de empresa”? O PS-governo segue o mesmo caminho de Chàvez, ao perseguir paulatinamente, um a um, os seus críticos: e segue o mesmo caminho de Putin, ao construir uma democracia meramente formal, em que se pode dizer que a decisão foi da Prisa não dele, em que se pode dizer que os empresários são livres, que os juízes são livres, que os funcionários públicos são livres, que os professores são livres, que os jornalistas são livres, que a ERC é livre, etc — mas o contrário está mais próximo da verdade. Para todos os efeitos, Portugal é uma democracia formal, mas estas medidas protofascistas vão fazendo o seu caminho. Não dizia Salazar que Portugal era mais livre que a livre Inglaterra? Sócrates e Santos Silva dizem o mesmo.»

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Deixem trabalhar quem trabalha


Curva de Caxias. Esta foto deve ter mais de 6o anos. Descobri-a no Google e desconheço o autor.

[3342]


Esta é, realmente, uma terra onde cada um faz o que quer, o que lhe apetece e sobra-lhe tempo. Quem quer que seja o dono da obra de repavimentação da marginal de Cascais, achou que uma sexta-feira em hora de ponta é a altura ideal para se continuar os trabalhos. O resultado é uma bicha de carros que vai já desde a primeira rotunda de Carcavelos até ao Alto da Boa Viagem. Sabendo-se que a A5 é uma cena semelhante ao sodomizado que é obrigado a pedir desculpa por estar de costas, entenda-se, há acidentes TODOS OS DIAS que provocam o sistema de pára/arranca no percurso Cascais/Lisboa e, num dos «páras» ainda somos violados em €1,25, dá vontade de ir à marginal invectivar o energúmeno que achou que poderia muito bem continuar a pavimentação em hora de ponta. Mas é evidente que nos arriscamos a ouvir o costumeiro «Qué que quer, ó chefe? Não vê que estou a trabalhar?»

Adenda: A televisão diz que a marginal ainda piorou mas a A5 está…quer dizer…… hummmm…acessível. Vou tentar.

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«Cave»


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E, como num passe de mágica, Sócrates passou a vítima do silenciamento de Manuela Moura Guedes. Multiplicam-se os posts dos indefectíveis (e não só) que explicam como qualquer pessoa medianamente inteligente perceberia que uma pressão sobre a TVI para o silenciamento do Jornal nacional só poderia prejudicar Sócrates. Há mesmo quem veja em tudo isto a mão do PSD. Reflexões mais do que suficientes para ilibar Sócrates do pecado.

Este é um dos casos em que até um mediano jogador de poker perceberá bem as nuances da jogada e as congeminações possíveis à volta dela. E, para já, Sócrates parece estar a recuperar do «abalo» do lance e pode muito bem ganhar a parada. Mas, se perder, é capaz de ter ficado sem crédito para ir buscar outra «cave».
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