sábado, outubro 30, 2004

A Cristina




Correlophus ciliatus



A Cristina veio para ficar.

Entrou sem pedir licença e instalou-se num cantinho da sala, envergonhada e a inspirar um olhar piedoso. A reacção não foi das melhores. A filha desconfiou e as gatas miraram-na, curiosas.

Houve uma troca de olhares cúmplices e no silêncio desses olhares decretou-se que a Cristina passaria a fazer parte da família. Ela parece que compreendeu porque da imobilidade inicial passou a deslocar-se com certa desenvoltura pelos cantos da sala.

Já lá vai um mês e permanece o mistério sobre o paradeiro da Cristina durante o dia. Mas, à noite, lá aparece ela, serena e elegante a instalar-se num dos cantos da sala. Já nos habituámos a ela e é uma excelente companheira. É sociável, não complica, bem educada, não fala e vai comendo os minúsculos insectos que não vemos mas que devem existir na sala, pois já lá vai um mês e ela está gorda e com bom aspecto. Só nos preocupa um pouco a Gray e a Twilight (as gatas). Não sei se é ciúme de afectos partilhados ou... se é fome. A avaliar pelo olhar guloso que lhe mandam durante longos períodos, talvez na vã esperança de que ela caia do tecto!

.

Etiquetas: ,

Pare, SCUT, Olhe...PUM! Era analfabeto





Acabei de ver um representante do PS no Algarve a expressar uma série de catilinárias na TV sobre a aplicação de portagens nas SCUT, com aquele ar de marialvismo mal disfarçado que emprestam às grandes causas e a associar-se ao “povo algarvio” nas suas justas reivindicações.

Esta questão das SCUT faz-me reflectir sobre a forma como os responsáveis do país onde vivo - e que também é meu - geram questões onde não vislumbro qualquer fundo de polémica e que deveriam ser facilmente compreendidas, pela sua clareza Senão, vejamos:

- João Cravinho foi o pai das SCUT. Não sei se convictamente achou que estava a fazer bem ou se o fez apenas porque sim. Tal como há algumas décadas assumiu um forte protagonismo e responsabilidade no desmembramento e nacionalização de empresas privadas.

- É consensualmente reconhecido que este tipo de medidas se inscreveu sempre muito mais numa lógica de partido e de idiossincrasia ideológica do que verdadeiramente pela convicção de que aquelas medidas seriam as mais aconselháveis ao desenvolvimento, ao bem estar e justiça sociais;

- Ainda não consegui ouvir um válido contraditório ao facto de as SCUT constituírem um verdadeiro atentado à economia, um exemplo de má gestão e total irresponsabilidade, sobretudo em relação a gerações vindouras que teriam de arrostar com uma dívida de enorme magnitude, apenas porque um socialista cristalizado e zangado com os capitalistas achou que estava a fazer o melhor;

- Ainda há pouco, na Assembleia da República, Santana Lopes desmontou com alguma eficiência a falácia das SCUT, acusou directamente João Cravinho de responsável principal pelo desastre e não vi João Cravinho ou qualquer dos seus pares fazer mais que esboçar sorrisos cínicos (aliás esta coisa dos “sorrisos superiores” está bem na linha dos sorrisos que há poucos dias vi na cara dos deputados europeus, quando Durão Barroso adiou a votação – e que espelha bem a ligeireza, revanchismo e total ausência de sentido democrático da esquerda que temos), sem que esboçassem sequer qualquer argumentação de defesa;

- Não consigo perceber, ainda, porque é que este governo, ou outro, ou alguém ou, quem sabe, até, o Presidente da República não “expliqa” aos portugueses este tremendo logro das SCUT e permita que se continue a debater a teoria do utilizador-pagador quando, na verdade, este debate está ferido de legitimidade e acaba por apadrinhar um debate que não deveria ter sequer razão de existir.. Não há SCUT porque não há dinheiro para as pagar, ou melhor, para as pagar ( e basta recordar o exemplo recente da CREL) terá de se ir buscar o dinheiro a outro lado qualquer.

Sócrates deveria parar um minuto e “explicar” aos seus correligionários isto mesmo. Em vez de permitir que um Partido que está preste s a ganhar as próximas legislativas não só colabore neste estilo arruaceiro de fazer política, dando cobertura a acções como esta do Algarve, como ainda, pior, valide uma situação de continuidade duma política populista e de embuste, esta sim, populista, de nos agradar a todos fazendo de todos nós estúpidos.. É desonesto, é criminoso, é danoso dos nossos mais legítimos interesses e aspirações e deveria haver alguém que conseguisse ou pudesse explicar isto aos portugueses.

E se a minha condição de cidadão comum não me permite reparar nalgum argumento favorável às SCUT que me esteja a passar ao lado, façam o favor de me esclarecer.

Fico à espera da “recuperação” das SCUT com Sócrates como primeiro ministro, Guterres como Presidente da República e o F.C.Porto a ganhar campeonatos. É... o meu futuro não e risonho!

sexta-feira, outubro 29, 2004

Maravilhas (quase) desconhecidas



LAGO NIASSA

Terceiro maior lago africano e na última rota de Livingstone, encravado entre a Tanzania, Moçambique e Malawi (antiga Niassaland).

Tem areias finíssimas e brancas, ondas, peixes e a vastidão do mar. Mas não é mar, falta-lhe em sal o que lhe sobra em beleza num dos mais esmagadores cenários do mundo bonito em que vivemos.

quinta-feira, outubro 28, 2004

A Natureza da coisa



Numa época em que se assiste a uma indefinida e quiçá surda reflexão sobre a natureza e a razão da mais antiga e estimável atitude relacional entre o sexo oposto, eis que a natureza, algures numa floresta onde proliferam coníferas (honni soit...), malváceas, anacardeáceas, musáceas e aceres avulsos, se encarrega de nos proporcionar uma visão pictórica da mais refundada e sublime razão da nossa existência.

Há quem veja nela, na razão, um simples acto de procriação, quem se arrogue a visão poética da união da espécie, quem o reduza a uma premissa de coito tout court (“que é para isso que vimos ao mundo e se até os passarinhos gostam...”) e há quem sublime a cópula num cadinho de poetas e pensadores. E há ainda quem consiga transpor conceitos universalmente institucionalizados e se reveja neste acto com a singeleza e naturalidade das coisas boas da nossa existência.

Estará ainda por escrever ou determinar onde nos levará a contínua mutação de conceitos e ideias sobre uma coisa tão simples como fazer amor (expressão absoluta e exclusivamente humana). Pertenço ao número daqueles que aceitam sem reservas a dinâmica das coisas, sem apego a prismas estereotipados da visão contemporânea do sexo, nas suas mais variadas vertentes de fidelidade, traição, ciúme, vulgarização, indiferença ou, hélas, sacralização. Sei que o homem, como indivíduo, porque é inteligente, tem uma inevitável tendência para complicar, para verter a simplicidade do sexo na mais inextricável das questões. O sexo é prazer e é emoção. Se fosse só prazer não havia emoção. Se fosse só emoção, não haveria sexo. Com sexo e emoção a sexualidade atinge o que de mais sublime contém, na inter-relação entre o homem e a mulher (o britânico intercourse...).

Há uma certa injustiça no julgamento do homem, aqui como macho, em tudo o que se relaciona com o sexo. São recorrentes as piadas, anedotas, dichotes e a ideia generalizada de que o homem funciona quase que exclusivamente num registo de macho conquistador .Eu discordo. Há é homens broncos, tal como há mulheres estúpidas. Mas, vistas bem as coisas, quando existe um manifesto capital de “massa crítica”, de inteligência, humor, cultura e, claro, as indispensáveis hormonas, o “flirt” funciona, a conquista instala-se, no conquistador e no conquistado, e o desfecho remete para a mais bela manifestação de vida e dos prazeres nela implícitos.

E depois, olhando para a foto acima, digam lá se mesmo do ponto de vista plástico, não é uma magnífica visão! Não sou capaz de acabar este post sem um sorriso cúmplice com algumas recordações que, estou certo, todos nós, homens e mulheres, guardamos no disco rígido da nossa existência.

quarta-feira, outubro 27, 2004

Zangam-se os cunhados...




....descobrem-se os pecados. Paes do Amaral diz assim, Marcelo diz assado. Parece que quem disse menos foi mesmo o Governo. Gomes da Silva perdeu uma excelente oportunidade para estar calado e deixá-los na porrada.

Estou profundamente preocupado, agora, é com as manas. Continuam amigas? Vão deixar de se falar? Talvez fazerem um blog para o contraditório do contraditório?

Com cenas destas fica-nos, porém, a virtude de ficarmos a saber o que já sabíamos. Que anda uma data de gente a mentir.

Lembranças amigas...



HOUT BAY - SOUTH AFRICA

Os primeiros holandeses a estabelecer-se na península do Cabo (Cape Point, Africa do Sul) iniciaram missões exploratórias para trás da Table Mountain e descobriram Hout Bay (holandês para Wood Bay, dada a excepcional qualidade das madeiras ali disponíveis para construção e reparação de navios). Antes deles já Bartolomeu Dias aqui tinha parado, abrigando-se das “tormentas” do mar da região (aqui, já Oceano Índico e a poucas milhas a Este do Cabo da Boa Esperança), antes de aportar a Cape Agulhas, que mantém ainda hoje o nome português.

Sempre me impressionou como o sul-africano comum sabia mais de Bartolomeu Dias do que o português comum. É gratificante e provavelmente a roçar alguma lamechice patriótica ouvir falar destas coisas a mais de 12.000 km de Portugal...

Hout Bay é uma vila pitoresca, ainda hoje muito ligada à pesca e rodeada por um dos mais esmagadores cenários que tive o privilégio de ver - e já vi alguns. Tem muitas lojas típicas e alguns restaurantes tipo “pezinhos na água”. Recordo uns fabulosos “fish grill” que não ficam nada a dever ao nosso cantado peixe de Sesimbra, de Setúbal, da Nazaré ou do Algarve. Basicamente consistem numa travessa individual contendo uma selecção de pedaços de peixes frescos (linguado, robalo, corvina real, garoupa, kinglip – que não sei traduzir nem existe cá e que é um manjar dos deuses - ), grelhados ao ponto, regados com um molho de manteiga, ervas e limão e enfeitados com batatinhas novas. Para quem goste de peixe, este prato é um pecado maior que ser gay na perspectiva de Buttiglione.

A proteger a baía, o imponente Chapman's Peak, nas faldas do qual se estende um milionário subúrbio de espantosas residências das quais, pelo menos duas pertencem a dois afortunados portugueses meus amigos...

Muito mais tarde que Bartolomeu Dias e os settlers holandeses, descobri eu este local magnífico, de águas gélidas e focas a dizer-nos que o Polo Sul é logo ali, que me encheu os olhos e regalou o estômago. Por isso e já que que não me apetece falar dos temas do costume e que preenchem o nosso quotidiano, me apeteceu fazer este pequeno registo desta magnífica foto de um magnífico local e onde, de quando em vez, passei magníficos dias.


segunda-feira, outubro 25, 2004

Comissariados



Se eu fosse jornalista, tivesse sido convidado para director de um jornal e tivesse declinado o convite por achar que esse mesmo jornal era uma comissariado político e eu não quisesse ser comissário, teria dito aos jornalistas que me interrogassem sobre a questão:

- Não aceitei o convite, por não ter chegado a uma plataforma de entendimento.

O meu universo social e profissional está a anos-luz do jornalismo mas não consigo encaixar bem esta atitude de Clara Ferreira Alves, ao fazer da sua recusa um instrumento político. Sinto-me um pouco deslocado pois já li várias referências ao facto sob os maiores encómios e chapeladas. Independentemente das razões que lhe possam assistir, acho que a atitude de CFA foi, no mínimo, de mau gosto. E feia.

Esclarecimento

O meu post de Sábado “O Espirro de Bagão” suscitou alguns mal-entendidos, sobretudo por parte de pessoas pouco ligadas aos blogues, que me apresso a esclarecer.

O post, em si, continha uma simples frase. A maioria dos comentários foi igualmente feita por mim. Isto porque os comentários complementavam o post, na sua ideia inicial. A ideia era essa mesmo. Uma frase... e uma chuva de comentários. Tenho a certeza que uma leitura mais atenta do conjunto levará facilmente a este entendimento.

domingo, outubro 24, 2004

Falta de "coidado"





Sempre achei que pior do que falar mal é poder falar bem e não reparar, ou não sentir, que se está a falar mal.

À ideia recorrente de que se fala mal em Portugal escapa uma vertente de análise pela qual nos poderíamos aperceber de que muita gente com responsabilidades , sobretudo gente da rádio, televisão e imprensa, fala mal porque “não repara”. A isto eu chamaria uma gritante ausência de rigor e laxismo que tem mais a ver com as nossas características (seja lá o que for que entendamos pelas nossas características) do que termos sido mal ensinados. Alguém acredita, por exemplo, que Jorge Coelho do PS não saiba que não se diz “hadem”? Ou “póssamos”? Que F. Thomaz não saiba que “iriam-se” é incorrecto? Ou que Helena Vieira da TSF seja recorrente em dizer “ilecóptero”? Alguém duvida que se esta senhora fizer um ditado escreveria helicóptero e não “ilecóptero”? Estes são pequenos exemplos de centenas em que eu não acredito que as pessoas não saibam, mas simplesmente não têm rigor no que fazem. Ausência de rigor que é igualmente aplicável a quem tem responsabilidades de chefia. Eu nunca permitiria, se fosse chefe de redacção, director de programas de televisão ou de rádio que um repórter ou apresentador fosse recorrente nos erros que dá. Pelo que acho que as chefias têm o mesmo grau de responsabilidade que os prevaricadores, Talvez mais.

Outro aspecto frequente e profundamente irritante é a forma rebuscada, elaborada e fastidiosa como se fala. Os políticos, autarcas, comentadores, repórteres em directo, chefes de brigada de trânsito, chefes de bombeiros, representantes de sindicatos, representantes de comissões de pais, de professores (de professores, meu deus...) e outras figuras de exposição mediática falam de tal maneira, “querem” falar de tal maneira que frequentemente perdem o fio da conversa, perdem-se no contexto, trocam o género dos adjectivos e acabam perdidos sem saber como acabar o que começaram. Isto sim, é falar mal e não tenho uma opinião formada das razões para que isso aconteça. Poderão, eventualmente variar com as pessoas e com a sua formação. Mas uma coisa é certa. Se a educação privilegiasse a dicção como uma prioridade na comunicação, este aspecto poderia ser substancialmente reduzido.

Ocorreu-me estas considerações a propósito do “Campeonato Nacional da Língua Portuguesa e deste post no Baleia que também se preocupa com estas coisas. E, ainda, porque ainda são 11 da manhã de um Domingo chuvoso e, por duas vezes, já ouvi na tv a expressão “tem a haver” e uma vez um “sob” que devia ser “sobre”. Bom Domingo para todos e hadem ver que a gente havemos de melhorar com o tempo...

sexta-feira, outubro 22, 2004

O espirro de Bagão



Bagão Félix deu um espirro à entrada do Ministério das Finanças.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Láprálapa





Tenho o privilégio de trabalhar perto de um dos mais simpáticos restaurantes de Lisboa. Desce-se a Buenos Aires e é lá no fundinho. O “Láprálapa”. É limpo, sem o insuportável ruído de talheres e loiça a bater, o ar condicionado funciona e tem um oferta reduzida de pratos, mas todos eles de excelente confecção. Além de que é o género de pratos grandes com comida pequena no meio, que poderá ser sempre repetida, se for esse o nosso desejo. As bebidas são vertidas em copos até à metade, o pão é caseiro e a manteiga não vem naqueles detestáveis pacotinhos de plástico. Toalhas e guardanapos de pano. Tudo isto sem luxos e a preços perfeitamente aceitáveis. Recomendo os ovos verdes ou um ensopado de borrego dos deuses, com aquela salsa toda picadinha por cima. O regresso ao escritório, a pé, tem o pequeno inconveniente de a rua ser a subir. Mas o piso de paralelepípedos, as árvores frondosas e o toque arquitectónico da área amenizam a "escalada". Quem for alérgico ao PSD fechará os olhos por um momento, à passagem da Sede, claro. Mas é um momento breve.

São os “petit quois” desta cidade, sem grande expressão de per si, mas que nos incrustam a alma, como diria a Gal Costa, das saudades que gostamos de ter...

quarta-feira, outubro 20, 2004

Azia...



Não gosto deste governo, pressinto-o desconchavado e com um elevado défice de competência. Digo eu...

Mas ouvir o Partido Socialista vociferar contra uma entidade reguladora da RTP como serviço público de televisão causa-me uma insuportável azia. Porque não consigo esquecer um passado recente, muito recente, de insuportáveis ingerências na vida da estação e – gravíssimo – com uma acumulação exponencial de défice financeiro, tratando-se do dinheiro de todos nós, de braço dado com uma desbragada programação e o mais descarado compadrio. Foi Guterres no seu melhor.

Morais Sarmento saneou as finanças, com a competente ajuda de Almerindo Marques (tendencialmente socialista), promoveu uma programação decente com subida de audiências e não se vergou aos humores de caciques que, sob a capa da cultura ou outras, faziam e gastavam o que queriam e sobravas-lhe tempo.

E quando vejo televisões públicas de outros países, interrogo-me qual delas é mais plural e livre do que a nossa.

Mas isto digo eu...

P.S. Quando pensava que estava sozinho neste raciocínio, afinal havia outra. Ainda bem, não fosse dar-se o caso de eu estar a entrar em algum processo isolado de idiotia...

A nova casa dos Cunha Penavião



NOVA CASA DOS CUNHA PENAVIÃO.

O bom gosto arquitetónico num cenário de sonho ali para os lados de D. Maria - Caneças

O Ministro das Finanças cometeu uma injustiça gritante ao anunciar que os habituées da imprensa cor de rosa iriam passar a ser escrutinados a pente fino e que os seus sinais exteriores de riqueza teriam de compaginar a verdade das suas declarações de IRS.

A "FACES", cumprindo escrupulosamente os mais sãos princípios da deontologia e da justiça social decidiu fazer esta pequena reportagem sobre a nova casa dos Cunha Penavião e provar ao senhor ministro que é cruel, injusto e persecutório colocar sob suspeita a gente bonita que alegra e dignifica a nossa sociedade. Poder-se-á verificar, com esta reportagem, que o berço e o pedigree são essenciais para manter os elevados índices de bom gosto a que a gente bonita nos habituou mesmo quando, como é o caso dos Cunha Penavião, luta com grandes dificuldades financeiras.



A QUICA, uma das seis galinhas que os Cunha Penavião mantêm para poderem usufruir de tétés fresquinhos e económicos.

Alimento as minhas galinhas com couves migadas ali da horta, táver, e de vez em quando misturo uma machinha de sêmeas. Ai quida, está impossível encontrar sêmeas. Mas lá vou conseguindo. É fundamental para as piquenas comerem tétés frescos e sem antibióticos, táver? - Diz Tita Cunha Penavião olhando com orgulho a Quica e pensando no tété que a Quica lhe entregará daí a pouco...



Bernardo Nuno Borges Monçó da Cunha Penavião, Tita Luís Magrassó Ribeiro de Sousa Cunha Penavião e as piquenas, Rita Sofia Ribeiro de Sousa Cunha Penavião e Sara Mafalda Ribeiro de Sousa Cunha Penavião.

Uma família bonita e feliz que, apesar das suas dificuldades financeiras, não se esquece de se manter unida e com gosto pela vida. Na foto em cima, banhando-se no tanque de rega da horta.



A NOVA MOBÍLIA DE SALA DE JANTAR DOS CUNHA PENAVIÃO

Perdi uma noite no Ikea, mas consegui comprar esta mobília a pagar em três anos, sem juros e ainda tive direito a um cheque de 100 Euros que guardei para poder comprar um puff de plástico no próximo mês - diz Bernardo Cunha Penavião, demonstrando um grande sentido de responsabilidade, espírito de família e forte consciência orçamental doméstica.



O MONOVOLUME DOS CUNHA PENAVIÃO

Esta família feliz conseguiu algumas poupanças (incluindo a venda de duas galinhas e parte da produção de bróculos da horta)que usou na aquisição desta idílica viatura familiar que ainda no Verão passado usou para umas férias de três dias na Trafaria. Já foram mesmo ao Algarve e a "Aninhas" (assim baptizaram carinhosamente a viatura) portou-se muito bem, apenas tiveram dois furos e a bomba de travões também teve de levar umas borrachas ali no Canal Caveira - para evitar as portagens - diz o Bernardo orgulhoso!




A Tita tem uma vaidade especial neste cesto de farnel.

Uma boa família não perde os bons hábitos - diz ela. Todos os fins de semana fazemos piquenique aqui na área. D. Maria tem bons ares a a região saloia é lindíssima. E é importante que as piquenas cultivem estes bons hábitoa da cultura portuguesa, além de que é muito económico, claro.

Repórter "FACES" - Fotos de Zezinha Corte-Real, fotógrafa principal

terça-feira, outubro 19, 2004

Batota à portuguesa




A batota não é um exclusivo nacional. Arriscar-me-ia a dizer que há batota em todo o mundo e desde que o mundo existe. Porém, a batota portuguesa tem um não sei quê que a torna mais repulsiva que outras batotas que conheci. Talvez porque os batoteiros nacionais afivelam a máscara angélica da virtude com um esgar ou outro pelo meio a querer dizer “aqui quem manda sou eu”.

Convenhamos que o nosso país é um campo fértil para este desiderato. Fazer batota e achar que os outros é que a fazem. Sobretudo, convencê-los disso. E é isto que me irrita. Habituei-me a ver a batota “limpa” do jogador de poker que esconde o ás na manga e leva um “farwéstico” tiro entre os olhos se é descoberto e que lava a honra de toda a gente. Não me ocorre a imagem de batoteiros que a façam e que, com olhos merinos e trejeitos de esperto, nos acusem de sermos nós que a fazemos. Por qualquer razão que me escapa, ser batoteiro português não é o mesmo que ser batoteiro noutras latitudes. E não me venham os espíritos iluminados dizer que isto é “vontade de dizer mal” do produto nacional. Tenho sempre dificuldade em maquilhar as verdades em nome de um pretenso espírito de defesa das virtudes que não temos. A coisa é factual e, em face disso, não há que escamotear nem “make up the truth”.

Está-nos nas tripas e não há nada a fazer. Um batoteiro que se preze fá-la, a batota, na legítima esperança de que a consiga fazer e recolha os benefícios dela decorrentes e, de preferência, que ninguém dê por isso. Mas nós, não. Fazemos batota e não resistimos a transmitir ao próximo a ideia de que é estúpido porque se deixou levar na batota.

Não há como fugir de dizer que isto tem a ver com o que se passou no Domingo passado. O futebol não é uma escola de virtudes, todos nós o sabemos. E o espectáculo pré e pós jogo foi degradante. Falou-se de fuga ao fisco, esposas legítimas e namoradas em pecado, apitos azuis, houve um claro apelo à violência e os representantes do Benfica (pobre Benfica...) mostraram à saciedade o que é ser-se boçal e cheio de defeitos de linha de montagem. Sobretudo quando se metem à liça com um espírito arguto, matreiro, inteligente e com outra “fibra” como o de Pinto da Costa. Mas o facto fulcral permanece. Independentemente de todas aquelas manifestações de boçalidade e total ausência de civismo a que assistimos foi claro que houve batota e da grossa. Por mais que venham agora associações disto e daquilo, ministros e exposições à Uefa e à Fifa. Houve um golo claro não validado e um jogador do Benfica agarrado e impedido de chutar sem que o F.C. Porto fosse penalizado. E agora, quanto maior for o barulho e a referência às relações ilegítimas de Pinto da Costa mais depressa se esquecem da batota.

Uma nota final. Sou lagarto, nem sei porquê, mas sou...

segunda-feira, outubro 18, 2004

Libertação



Picasso - Mulher a ler

A vida tem birras que a razão desconhece. Não foi bem isto que Pascal disse, mas anda por lá perto. Tal como as crianças. E se às crianças se pode fazer prevalecer uma vontade contrária à birra, porque achamos que a birra é desajustada ou irracional e é só isso mesmo, uma birra, já com a vida as coisas são algo diferentes. A vida não é uma criança, é demasiadamente velha para ter birras e, todavia, mantém a atitude pueril de ter birras e nos fazer pirraças. Ora não se pode dar uma palmada no rabo da vida nem pô-la de castigo um fim de semana sem brincar com a Play Station. Nem a vida tem rabo nem porventura gostará de jogar com a Play Station. Que fazer, portanto? Ignorar a birra? Assumir uma atitude de aquiescência e fazer o jogo da vida? Zangarmo-nos com ela só porque tem birras?

Com birras ou sem elas, a vida é demasiadamente boa e importante (apesar de...) para que nos zanguemos com ela. Há que fruí-la e conceder-lhe o benefício da dúvida sobre as verdadeiras razões das birras que tem. Encontrar espaços que acomodem as nossas próprias e racionais birras ( a mania que temos de que tudo tem de ser racional...) com as birras da vida e tirar disso algum proveito. Um proveito que acabe por nos conceder o privilégio de sabermos e podermos ser equilibrados naquilo que a vida exige de nós, em termos de comportamentos sociais e respeito pelas sequelas do nosso instinto gregário e, por outro lado, saudavelmente loucos naquilo que de bom esperamos e pensamos ter direito a extrair dela. E é encontrando esses espaços que talvez consigamos atingir o equilíbrio necessário para que o possamos perder ( o equilíbrio ) todas as vezes em que nos der na gana ser loucos. Porque é nessa loucura que podemos continuar a sentir-nos vivos, sãos, doentes, apaixonados, indiferentes, contentes, tristes, desiludidos, realizados, traídos ou traidores. Numa palavra, felizes. E, felizes, poderemos sempre dizer à vida que, aqui e ali, não estamos para lhe aturar as birras. Ou mesmo, porque não, dar uma sonora palmada no rabo que a vida deveria ter.

Não sei bem porquê, mas a verdade é que hoje não me apetece transigir com as birras da vida. Apetece-me mais meter a racionalidade na gaveta e cantar um hino à liberdade de, querendo, não me libertar daquilo que gosto. Pode ser que seja uma birra minha. Mas é minha e faço-a quando quiser...

domingo, outubro 17, 2004

Piggs Peak

Hoje apetecia-me estar aqui...

FOTO RETIRADA

Longe de densos ofícios,
Emaranhados interstícios,
Coisas complicadas,
Que servem para tudo e para nada
Menos para o que me apetece.

Desta janela para fora...

FOTO RETIRADA

Há uma imensidão de pinheiros,
De flores bravas sem canteiros;
E uma brisa suave e pura
Que torna clara a mais escura
Vontade de nada fazer.


PIGGS PEAK Hotel, Swaziland, incrustado numa das mais deslumbrantes paisagens que conheci. Está rodeado de milhares de hectares de pinheiros e, também, de floresta natural. Há riachos, quedas de água, cavalos, e pode-se jogar golf sem a angústia de sabermos se no dia seguinte vimos ou não na "Caras", pela simples razão de que não viremos com certeza. Há uma cozinha excelente e um serviço esmerado. Um CÊAESSEIENEÓ cosy em que até a roleta podemos jogar sentados. Os pequenos almoços são pecaminosos e ninguém fala do Santana Lopes nem do José Sócrates. E o Francisco Louça é assim uma vaga reminiscência de algum filme de terror que tenhamos visto em miúdos. Os telemóveis têm rede e não nos assaltam os carros.

Mas eu vivo em Cascais. Por isso lá vou eu ter a peregrina e imaginativa ideia de me contentar com um café na Casa da Guia e um fim de dia a ver a provável carnificina que se avizinha para mais logo no Estádio a Luz. Ah! E as eleições dos Açores. E ainda a magna tarefa de saber se o Expresso publica ou não o desmentido de Santana Lopes que não foi dormir a sesta coisa nenhuma depois de ter saído da Assembleia. Sobretudo isto, porque não estou descansado sem saber se o homem dorme sestas ou não e se o Expresso não tem mais nada que fazer. Pode lá ser uma coisa destas. Então um homem mata-se a trabalhar e temos um primeiro ministro que dorme sestas? E aquele jantar do Marcelo com a redacção da TVI, claro. Finalmente o professor falou. Falou e disse que não falava porque tinha sido uma conversa privada e, mais, que tinha havido um acordo em não falar. Assunto arrumado, portanto.

Vistas bem as coisas, tenho uma data delas (de coisas) com que me entreter. Preciso lá agora de pensar que gostava de estar em Piggs Peak...

NOTA: As fotos foram retiradas porque o url continha uma palavra que provocava o arrastamento de uma montanha de publicidade e automaticamente estabeleciam um link na palavra que, a meio do texto, me vi obrigado a soletrar. Se eventualmente alguém clicou na palavra em questão antes desta edição do post, as minhas sinceras desculpas pelo transtorno.

sábado, outubro 16, 2004

Menina do Uganda



Não lhe chegaram Idi Amine e sucessores, ainda tem de ouvir um deputado idiota na Assembleia da República Portuguesa a insultá-la...

sexta-feira, outubro 15, 2004

Philadelfia



Nunca se podeu tanto em Portugal como hoje. Não há jornal, pelo menos dos que li e leio muitos, que não glose a poda, bem soletrada com todos os epes e erres, que Scolari opereceu de bandeja a uma menina do Record que achava que um capitão de equipa não deveria ser capachinho dum treinador. Tal como os alunos o não devem ser da propessora, os operários dos capatazes, ou os jornalistas dos chepes de redacção. Como a senhora é nova deve ter lido aquilo num dos manuais da Ana Benavente e vai de o pôr em prática. Só que teve azar e saíu-lhe uma velha raposa que dot de ais e crosse de tis, que não conhece a Ana Benavente de lado nenhum e que achou que poder deve ser uma nobre e estimável alternativa a escrever textos pós-modernos de ejaculação precoce.

Mas o que me impeliu a escrever este pequeno post poi a poda generalizada com que a imprensa hoje nos brindou, uns dependendo a Céuzinha, outros achando que a piquena podia (aqui é mesmo podia) arranjar outra ocupação em vez de andar a poder o juízo aos outros. Eu acho que há um epeito benépico nisto tudo. Radicaliza-se a semântica mas ganha-se em conteúdo. Não creio, por exemplo, que o “estou-me a cagar de Perro Rodrigues” tenha a elegância ponética e a sonoridade trauteante de Pilipe Scolari. De resto, Scolari parece ser mais inteligente e diz melhor. O “estou-me a cagar” do ex secretário do PS é escatológico é onomatopaicamente ridículo (reparem “tou-ma-ca-gar” remete-nos de imediato para o pungagá da bicharada) e, sobretudo, cheira mal. Esteticamente também não é nada que se compare a uma boa poda. Portanto, viva Scolari e o resto que se pôda.

Este post deve ser lido, até aqui, seguindo a exemplificação de Dupont dizendo a Dupond como se soletrava uma determinada palavra: - “With a P, like in Philadelphia”. Entenderão melhor o sentido da coisa e este foi um subterfúgio a que recorri pois ainda tenho uma filha jovem que de vez em quando me lê o blog.

Para terminar e falando ainda das magnas questões nacionais, queria deixar aqui lavrado o meu protesto contra Filipe Vieira. Eu sou lagarto mas não é essa condição que me remete para esta críticas. Temos de ser justos. Pinto da Costa, que jamais usou de pressões, declarações incendiárias, guarda-costas ou incitamentos à violência, vê-se, de repente, confrontado com um aprendiz de feiticeiro que podia muito bem estar calado, já tinha a casa cheia e escusava de se prestar a esta farsa dos bilhetes para o jogo. Porque é assim (este “é assim” está a caír em desuso, já só se ouve no barbeiro...). O Porto está em baixo de forma e corre sérios riscos de perder o jogo. Pinto da Costa percebeu a coisa a tempo e mandou aquela boca que correu o território nacional, segundo a qual “só hoje decidimos se bámos estar em Lisboa ou não, debido aos riscos inerentes”. Ele sabe que se não vier é punido com uma derrota. Mas se o comando da PSP decidir hoje às 19:00 que não estão reunidas as condições de segurança, o jogo pura e simplesmente não se realiza, por decisão do Ministério de tutela e o F.C.Porto não sofre a derrota. Pois é... Filipe Vieira ainda tem de aprender muito!

Uma última notinha e desculpem-me eu hoje estar a dar-me para as grandes questões nacionais. Eu que até “sou mais bolos...”A Elsa Raposo chora numas Termas com pena de não estar na “Quinta”. Por mim, Elsa Raposo já e em força. Acho a piquena interessante e não é justo que o Frotinha jogue apenas em duas frentes. Há que aumentar o número de frentes, mesmo até de retaguardas, sob pena de qualquer dia estarmos todos fartos de ver as beldades a ordenhar vacas e o Vêvê a dizer que o povo de Amarante pode contar com ele. Porque a verdade é que o concurso já começou para aí há uma semana e ainda está tudo vestido... com aquela brilhante excepção do Vôvô Avelino em boxers azuis. E eu arriscaria ainda que furo, furo mesmo, era mandar para lá o Famel Foguete, vulgo Louçã, e fechá-lo numa sala com uma galinha e uma vaca. E era vê-lo no dia seguinte com um ovo na mão : - “Fui eu, fui eu, fui eu, fui eu” ! Podia ser que a vaca se chatiasse e reclamasse a maternidade do ovo ou que a galinha achasse que deveria pôr ordem naquilo tudo e chamasse o Scolari que gritasse um “vássifódê” generalizado e acabasse tudo na cama. Ou melhor, no palheiro. Era êxito garantido.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Vassifódê



Ganda Scolari! Vive em Portugal este brasileiro que me tem enchido as medidas pela sua competência, simplicidade, modéstia, desapego, inteligência e com aquela faculdade intestina, lá mesmo do fundo das tripas, de se estar nas tintas para a pressão ( já agora deixem-me usar este palavrão, que está na moda) do Vítor Baía, do Pinto da Costa, dos jornalistas, do Mourinho preocupado porque ele nunca foi a Londres ver o Chelsea etc..

Desta vez foi aos jornalistas do Rekord. Perante a habitual imbecilidade e idiotia dos jornalistas cá da paróquia, o homem lançou um rotundo e delicioso “vássifódê”, em directo na televisão. Comeram e calaram. Além de que a sonoridade da coisa, em “brasileirês”, tem, de longe, muito mais graça e elegância do que aquele “eu quero que o publico se f...” do falecido João César Monteiro, em resposta a uma pertinente pergunta sobre como reagiria o público a pagar para ir ver um écran preto durante hora e meia.

Foi de homem. Teve graça e encheu-me as medidas. Ressalve-se apenas o cuidado que Scolari deverá ter para a eventualidade de voltar a usar este expressão. Não vá haver casos em que os visados façam mesmo o que se lhes diz...

quarta-feira, outubro 13, 2004

Sucks...



O que levará um tal Sr. Tavares, obscuro director de um jornal de província, a vir cinco (cinco!...) anos depois queixar-se para os meios de comunicação social que sofreu tremendas pressões de Santana Lopes, quando este era presidente da Câmara da Figueira da Foz?

O que levará um advogado mais conhecido pelo seu ressabiamento em não ser dirigente do Sporting Clube de Portugal do que por qualquer outra coisa, talvez com a excepção de ser irmão de Manuela Ferreira Leite, a ir dizer para a SIC-Notícias que sofreu pressões de Santana Lopes para ser afastado de comentador de um programa desportivo da RTP?

O que levará a comunicação social a repetir à exaustão estes dois casos, sobretudo o segundo, sobre o qual o próprio Paulo Catarro já veio clarificar que Dias Ferreira foi afastado pelo Director de Informação do C1 pelo seu comportamento caceteiro e de má educação, numa emissão em que quase chegou a vias de facto com o representante do FCP, cenas aliás passadas em directo?

São episódios como estes que ilustram bem o nível do nosso meio social, o caldo de mesquinhez, invejas e formação pífia com o qual temos de conviver todos os dias. Além de que com oposição deste tipo a Santana Lopes ainda arranjam maneira de eu vir a gostar do homem (salvo seja, não desfazendo...).

terça-feira, outubro 12, 2004

O almoço



Pertenço a uma tribo que consagra e diviniza alguns aspectos da sua existência. De entre eles, o calorzinho do corpo, aqueles 36 grauzinhos e meio que Deus nos deu, é um dos que mais me impressionam. Não há nuvem no céu, por pequena que seja, que não espolete uns milhares de "leva um casaquinho que está a refrescar", a nível nacional. Uma corrente de ar, um ar condicionado num restaurante, um pequeno chuvisco, uma "mudança de temperatura" são tudo coisas que geram no espírito dos portugueses uma imediata reacção de precavida atitude. Não vá o diabo tecê-las. Eu, que aos dois dias de idade tirei uma fotografia, nú, no pinhal da Encarnação (hoje a execrável Segunda Circular) tive a sorte de ter um pai com uma notável capacidade de me passar por osmose a sensibilidade do reconhecimento das nossas deliquescentes reacções de fado e tragédia, acabei, com o tempo, por perceber que Portugal tinha um dos mais privilegiados climas do mundo. A parte negativa da coisa é que depressa me apercebi, também, que somos as maiores "flores de estufa" do mesmo mundo. Melhor... não somos. Gostamos é de o ser, enformando a canção da desgraçadinha para quem tudo é mau, perigoso, trágico. Como uma simples e perigosíssima aira de Verão.

Mas eu queria mesmo era falar do almoço. Do divino, sacrossanto, inadiável e solene almoço. Nada se faz sem almoçarmos. A vida pararia se não almoçássemos. Por isso, a vida pára porque temos de almoçar, para evitar que a vida parasse porque não almoçamos. Em grande parte dos países civilizados do mundo (não é a essa parte que pertencemos?), o almoço é uma refeição que se toma porque temos fome durante o dia e dá, frequentemente, muito jeito para se continuar a tratar do que estávamos a fazer, como um negócio, por exemplo. Por outro lado, serviços de atendimento geral mantêm-se activos e até acredito que as pessoas almocem, deve é haver algum "engenhoso e avançadíssimo" plano de alternância de funcionários que possibilita o atendimento das necessidades dos cidadãos. Para nós, portugueses, a coisa não é bem assim. O português pára, virtualmente, todos os dias, para almoçar. Criei até a ideia que nem mesmo uma grande catástrofe, tipo terramoto de 1755, alteraria as coisas, quando muito (shhhhhiu, F. Thomaz, não é nada "quanto muito")alteraria rotinas. Género, é pá, hoje temos de ir a Campo de Ourique porque os restaurantes da Estrela foram abaixo com a merda do terramoto. Lá está o "rés-vés-Campo de Ourique" a dar muito jeito, até para escrever este post.

A hora de almoço não existe para mais nada que não seja para isso mesmo. Para almoçar. Nos países civilizados, os horários são já períodos continuados, as pessoas de atendimento são revezadas por forma a que os utentes, os cidadãos, que por acaso pagam impostos e votam nos caciques para serem respeitados, o sejam. Respeitados, está bem de ver. É certo que algumas repartições públicas, urgências de hospitais e outros serviços já não fecham para almoço, o problema é que estão abertos mas os funcionários, a partir da uma, estão ausentes. Porque foram almoçar. É estranho, mas é isso mesmo que acontece.

Tudo isto me ocorre porque ontem tive necessidade de "queimar" um dia no hospital Curry Cabral, a acompanhar um parente. A longa espera a que fui submetido (tive azar porque não era dia de o Jorge Sampaio lá ir) proporcionou-me a observação dos mais variados diálogos entre os utentes, doentes, enfermeiros, condutores de ambulâncias e muita gente que eu não sabia bem o que andava por ali a fazer, mas provavelmente estaria a fazer o mesmo que eu. Havia também um elevado número de gente a falar ao telemóvel. Muitas das conversas eram relativas ao estado dos doentes que ali levavam. Tinha sangue muito espesso, tinha o sangue muito fino, anda com uma tosse esquisita há dois dias (devia ser do tempo), a dor nas costas agora "está-le" a passar para as pernas, foram coisas que ouvi, entre muitas outras "urgências" do género. Mas, pasmem. Posso garantir que muitas, mas muitas, das conversas de telemóvel que ouvi versavam, guess what... o almoço. Diz à Vanessa que vá pondo as costeletas de carneiro a descongelar", "tira o aroz que está dentro do forno e depois come-se com qualquer coisa", "tempera aqueles dois bifes que..." são expressões que não escaparam à preocupação dúplice dos presentes, ou seja o estado dos doentes e o que "se almoçava", mais ou menos na mesma proporção. A sala de triagem também sofreu um ajuntamento à porta por volta da uma e um quarto, porque " o doutor foi almoçar" e hoje já telefonei umas seis vezes para o número que ontem me indicaram para eu saber notícias da pessoa que ontem acompanhei e que, entretanto, baixou, mas não obtenho resposta. Quando liguei para o número geral do hospital e disse isso mesmo, que estava há meia hora a tentar telefonar para as "urgências do sector em questão" e obtive a resposta que ligasse "por volta das três" porque estavam a almoçar, apeteceu-me mandar isto tudo à merda e só não mando porque andei anos a ensinar os meus filhos que praguejar era grosseiro e de mau gosto. E sendo que falta meia hora para eu eventualmente obter resposta do tal número de telefone, aproveito... e vou almoçar.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Razões

Há razões boas e razões más para se saír de casa às nove da manhã e chegar só agora...e há outras que antes pelo contrário!
Boa noite a todos.

domingo, outubro 10, 2004

Pés pelas mãos...

Pois... fiz burrada. Peço desculpa.E quero informar que este post a que me referi no meu post anterior (Chapeau) é do JoâoG e não da Prima. Já me desculpei em directo, mas tinha de fazer aqui a necessária correcção. O JoãoG é um senhor e não uma senhora, "prontes" e está tudo dito e peço desculpa e blá blá blá e não volta a acontecer. Nunca mais deixarei de ler cuidadosamente o nome dos autors dos textos. Confiteor Deo omnipotent, beatae Maria semper virgini, etc...
Parabens à Prima, (xiça já me estou a enganar outra vez, esta era do Candal...) parabens ao João e desculpas à Prima...

Chapeau



Acordei e vinha aqui expressar um par de ideias sobre dois temas actuais. Um teria a ver com o espírito de cidadania que nós portugueses, em geral, não temos e que me foi suscitado pelo debate entre Bush e Kerry. Mas alguém se adiantou e fê-lo com a acutilância e o humor a que eu, provavelmente não chegaria. Por isso vão aqui e está lá tudo o que me apetecia escrever esta manhã sobre o tema. Só não concordei muito com aquela "tirada" final em que a autora nos avisa de que não é direita... o que tem uma coisa ver com a outra para o caso em questão?

O outro tema tem a ver com a já estafada novela de Marcelo. E no meio de tanta histeria, imbecilidade e estrabismo, é reconfortante ler um post como este.

Trata-se de duas senhoras cujos textos leio habitualmente, com gosto. Não é galanteria. Gosto mesmo.

sábado, outubro 09, 2004

Week-end recess



Este fim de semana vou esquecer-me de porta-vozes idiotas, de administradores amuados, directores ininteligíveis, comentadores espertos, Presidentes de República preocupados, reacções histéricas, gente tendenciosa, pífia, mentalmente pelintra, consumidores de cultura (feliz expressão de Pedro Mexia...), trânsito caótico, ruas encardidas, mortíferos condutores de carrinhas de rede ao meio e correlativos. "Estou numa" de me rir com o Zé e o Vêvê, ir ver um filme, ler qualquer coisa decente (juro que não é consumir cultura), visitar o Guincho com vento e chuva e acabar lá em cima no Moínho a tomar qualquer coisa quente, com música de fundo e vista para o mar. E quando olhar para o mar, recordar-me-ei novamente, por um bocadinho que seja,de "amigos" que deixei pelo hemisfério sul, como me sugeriu a magnífica foto lá em cima. E pensar que quem não teve o privilégio de ver um cenário destes pelo menos uma vez na vida perdeu uma das mais fortes sensações de liberdade e de pura fruição da natureza que está "aí" à nossa espera, um pouco por toda a parte e nas mais variadas formas...

sexta-feira, outubro 08, 2004

Fui levado



A TVI conseguiu a proeza de me manter das oito às nove a ver incêndios, protestos anti-portagens e estragos do "temporal que assolou o país" (???),à espera do Eduardo Moniz que ia fazer uma "declaração pública". É desta, pensei eu. Pelo menos haja alguém que abra uma nesga do cortinado que tapa o segredo da saída de MRS da estação.
Lá pensar, pensei. Mas fiquei na mesma. Alguém de alma caridosa me explica o que é que ele queria? Ou o que é que ele disse?

quinta-feira, outubro 07, 2004

Gatos assanhados





Vou ter que escrever e alinhar as ideias a ver se entendo alguma coisa disto, se não é uma autêntica baralhação. Vejamos:

1) Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) fazia comentários políticos na TVI há cerca de quatro anos e meio.

2) Sempre gostei de o ouvir e, como eu, parece que uns milhares de portugueses, o que remetia para a sua própria valorização política e para os shares da estação. Ainda que, com frequência, desse comigo a pensar que os comentários eram mais “azedas” de inverno (trifolium, para os que não sabem e que, porventura, ficarão na mesma, com esta minha botânica “tirada”) do que comentários isentos. Marcelo não comentava. Espicaçava e espicaçou Cavaco Silva, Jorge Sampaio, Guterres, Soares, Durão Barroso e, ultimamente, o inimigo de estimação Pedro S. Lopes. E mesmo quando dizia bem de alguém era para que o ricochete atingisse um terceiro. Eu acho que MRS é de uma inteligência superior, tem génio descritivo e uma agilidade mental como poucos. Senhor de uma verrina terrível não resiste, naturalmente, a grelhar vivo quem ele não gosta. Além de que à medida que ia sentindo a sua crescente projecção e admiração ia dando largas aos seus tiques de miúdo traquinas, daqueles que levantavam as saias às senhoras, espetavam alfinetes nos olhos dos canários e amarravam latas aos rabos dos gatos. Senhor de uma memória prodigiosa e de uma capacidade analítica fora do comum, usou estes atributos a seu bel-prazer, no seu interesse e na acumulação de réditos da TVI.

3) Um ministro idiota de um governo risível caiu na tremenda asneira de lançar para a opinião pública o seu (dele, do governo...) desagrado pelo comentário do passado Domingo. “Pior que o pior de Guterres” é devastador, não deixa ninguém em pé. Tipo campanhas napoleónicas. No comentário diz MRS que este governo é mau, sem se esquecer de dizer que Guterres era, igualmente mau. Isto é brilhante.

4) A idiota intervenção do ministro foi a melhor coisa que sucedeu a MRS. Janta com Paes do Amaral e faz nova declaração assassina que basicamente queria dizer: Retira-se porque em quatro anos em meio sempre foi livre e agora não é. Com esta frase, Paes do Amaral e o Governo ficam mal na fotografia e ele sai com a imagem reforçada e à espera de um telefonema da SIC.

5) As reacções de variadíssimos sectores da Oposição e do próprio partido foram céleres e mortíferas. Não me ocorre consenso igual desde a questão de Timor. Quem não gosta de PSL e não perdoa a Jorge Sampaio não quis saber de mais nada. Nem um minuto pararam para pensar. Riram como a hiena e prepararam-se para o repasto. Jornais, televisões, blogues, rádios atiraram-se aos despojos e mesmo gente que me merece o maior respeito pelo seu gabarito intelectual, cultura e traquejo político se deixou arrastar pela torrente, bradando pela eminente censura e pelo desrespeito pela liberdade de expressão. Gente como Pacheco Pereira, por exemplo. Porque o ódio de estimação por Santana Lopes foi mais forte que a razão. Posto isto, e na minha modesta opinião, acho que:


5.1. – A TVI é uma empresa de capitais privados. Admite quem quer e despede quem lhe apetece pelas mais variadas razões. Não vejo que seja necessário haver pressão do Governo para que Paes do Amaral tomasse a atitude que tomou. Alguém se lembrou que pode ser ele Paes do Amaral a pensar por si e pelo conhecido envolvimento entre o Grupo e o Governo via Portugal Telecom? Pode ser eticamente condenável... mas não são estas as regras do jogo? Imagine-se um escritório de advogados em que uma das secretárias vem para a porta da rua com um estandarte a dizer que os patrões são um grupo de vigaristas. O que é que os patrões fazem? Provavelmente despedem-na...e lá está a pobre da secretária com a sua liberdade de expressão coarctada . Ou um consultório médico... ou uma pizzeria...ou uma loja de ferragens.

5.2.- Se existisse um caso de limitação de liberdade de expressão MRS sentir-se-ia impedido de continuar a comentar. Não creio que seja o caso. A menos que o seu fino instinto o leve a não aceitar os vários convites que vai receber para que a sua vitimização seja mais efectiva. Mas o facto permanece. MRS pode continuar sempre, como, onde e quando quiser a comentar e ninguém o prende ou lhe arranca as unhas.


Tudo isto me faz pensar. Afinal o Governo que temos é reconhecidamente um motivo de gáudio, se não fosse trágico. Mas, e aqui bate o ponto, tanto quanto a Oposição, donde não vi ou ouvi a mais breve intervenção com alguma contenção. Talvez com a honrosa excepção de Cavaco Silva e do professor Rui Cádima. O resto tem sido a mais acabada manifestação de falta de cultura política e de cidadania. O costume, afinal. Nem mesmo Jorge Sampaio resistiu a chamar MRS a Belém. O povo gosta destas tiradas e a oposição resfolega. Resumindo. Somos todo gatos do mesmo saco e continuamos a arranhar toda a gente e a nós próprios, o que é mais grave. Faz parte da nossa cultura de inveja, de mesquinhez, de raivinhas surdas e de ânsia de protagonismo. Não é dizer mal de nós próprios. É factual e, até novas ordens, é isso exactamente o que sinto. É certo que tudo começou com a intervenção idiota de um ministro idiota. Mas tivessem todos estado quietos e a coisa não passava disso mesmo. Duma intervenção idiota.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Stress



Já não há pachorra para:

1. Ouvir o Santana Lopes a dizer PPD/PSD;

2. O Santana Lopes;

3. O Bloco de Esquerda;

4. A fonética, ensaiada, de “Famel-Foguete” do Francisco Louçã;

5. O Francisco Louçã;

6. O Francisco Louça a achar que não deve levar gravata para o Parlamento;

7. Para os amuos da Maria do Carmo Seabra;

8. Ter de ouvir o Herman José a toda a hora com a mania que sabe inglês;

9. Ter de ouvir o Herman José a deixar a ideia que é o maior macho da paróquia;

10. Para o Herman José;

11. Para a esquizofrenia do governo que temos;

12. Para ouvigue falague o Mogais Sagmento;

13. Para o “passa-piolho” do Mogais Sagmento;

14. Para o Mogais Sagmento;

15. Para a pose do José Luís Arnaut quando fala para a televisão com aquele ar de quem, cinco minutos depois de acabar, começa a receber chamadas e sms do mulherio cá do pedaço;

16. Para o Barnabé;

17. Para os comentários, com assinatura, do Barnabé;

18. Para uma tal Alice in the looking glass mai-la a sua raínha de copas;

19. Para o Pinto da Costa a dizer que os benfiquistas dão pontapés na gramática, pensa ele de que;

20. Para o Sporting não conseguir ganhar a ninguém porra nenhuma;

21. Para apanhar multas de estacionamento, em regime de exclusividade, no meio de um milhão de carros em cima dos passeios;

22. Para ouvir o José Sócrates a dizer que temos uma dívida de gratidão para com Guterres;

23. Para o José Sócrates;

24. Para os blogues chatos e compridos (provavelmente como o meu...);

25. Para a tendência de uma parte substancial da blogoesfera estar perigosamente a resvalar para o estatuto de engatatódromo, tipo salas de chat do IRC;

26. Para as cliques e claques da blogoesfera;

27. Para ouvir Jorge Sampaio dizer que é o Comandante Chefe das Forças Armadas e que está atento ao governo e que se ele se portar mal lhe dá tau-tau no tutu (arriscando, mesmo, que alguns membros do governo se entusiasmem com o cenário);

28. Para ouvir meio mundo a gritar que já há censura em Portugal e, porventura, ninguém se ter lembrado se a saída de Marcelo da TVI não terá sido “usada” pelo próprio Marcelo para pôr o país todo a falar dele (bem) e do governo (mal), ou alguém duvida que Marcelo pode ir comentar para a SIC assim que lhe apeteça?

29. Para ouvir gente inteligente que poderia censurar ( e com toda a razão e motivos do mundo) este medíocre governo e, em vez de o fazer, se deixa arrastar pela comodidade da investida cega, só porque “não gostam do homem”);

30. Para mim, que já podia estar a dormir e continuo a chatear-me com estas coisas.

Pântanos




O meu país não vive uma época particularmente brilhante. Nem fácil. Numa altura em que um partido como o PSD se deixa enlear numa das mais promíscuas e criticáveis fases da sua existência e demonstra uma gritante carência de gente capaz, surge a oposição democrática (leia-se o Partido Socialista, que o resto é folclore de mau gosto) a prometer a continuidade, na minha opinião, de um dos mais funestos períodos da nossa democracia e do nosso desenvolvimento.

Tendo acompanhado a evolução e o debate da situação do PS, cheguei a pensar que existisse por parte deste Partido o reconhecimento do verdadeiro desastre que foi o mandato de Guterres, com as consequências que ainda hoje estamos a suportar. Algumas delas, quiçá, inultrapassáveis.

Nunca duvidei que Sócrates alcançaria os seus objectivos e que a candidatura romântica de Alegre não passaria disso mesmo, de romantismo e que a de João Soares de uma simples bravata, em que o clã é especialista. O que, confesso, admiti, foi que Sócrates tivesse um capital mínimo de decência e, mesmo que eticamente se sentisse impelido a não atacar o governo de que ele próprio fez parte, ainda que, reconheçamo-lo, com eficácia, seriedade e voluntarismo, soubesse usar as suas inegáveis capacidades de comunicação no sentido de incutir nas pessoas a imagem de um PS renovado, competente e isento da mais despudorada carga de demagogia (em alguns casos, verdadeiramente danosa) que Guterres usou.

Enganei-me redondamente. Sócrates, numa entrevista à RTP, a primeira como Secretário Geral, usou e abusou dos seus ademanes mediáticos e duma estruturada pose previamente estudada ao detalhe, para nos insultar com o mais descarado branqueamento que me foi dado assistir sobre as legislaturas de Guterres, passando por cima, sem vergonha, de abundantes referências a esse período negro da nossa vida política e social, em que até insuspeitas figuras públicas de reconhecido gabarito e independência não hesitaram em acusar como sendo a causa próxima e directa do verdadeiro descalabro em que nos mergulharam. Ainda recentemente Silva Lopes e Medina Carreira a isso se referiram, sem subterfúgios e muito claramente, em intervenções na televisão e no jornal Público. Para nem citar Vítor Constâncio que nunca negou as responsabilidades directas do PS de Guterres nas causas que nos fizeram resvalar para um perigoso pântano. Pântano que Guterres teve o atrevimento e a desvergonha de citar como causa para se demitir. Demitir-se por causa do pântano para o qual ele, elaborada e conscientemente, contribuiu.

Tenho para mim que, com frequência, os políticos não acreditam no que eles próprios dizem. Dizem-no, ponto. Porque têm que o dizer e porque querem ganhar eleições. E, honestamente, aceitemos que PS não é filho único neste desiderato. É assim com o PS, com o PSD e já nem menciono o Bloco que, com o poder histriónico de alguns dos seus elementos, consegue fazer da mentira uma autêntica farsa burlesca em que se sentem actores principais, com um ou outro special guest star.

Mas é muito mau para todos quantos acreditam que ainda há gente competente, racional e intelectualmente honesta para reconhecer que o nosso país necessita de medidas extremas para corrigir os efeitos do desastre Guterres e da actual paródia em que nos encontramos, que apareça agora um mais do que provável futuro primeiro ministro a chamar-nos parvos e a branquear uma situação que deveria merecer de todos nós o mais vivo repúdio e uma consciencialização no sentido de sentirmos a necessidade de moralizarmos a governação, os seus métodos e os seus, e isto é grave, objectivos. Se Sócrates acredita no que disse a Judite de Sousa é idiota e não creio que o seja. Se não acredita... está ser velhaco, desonesto e a passar-nos um insuportável certificado de burrice que me apresso desde já a rejeitar. E a dizer-nos que os idiotas somos nós.

E.T.

Num passado recente:

Guterres: - “Se preciso for, partimos as fuças à direita”.
Jorge Coelho: - “Quem se meter com o PS, leva”.

Hoje, na Assembleia da República:

António Seguro (com aquele expressão de puto embirrento da primária a quem todos os colegas batiam, nos recreios, por ser queixinhas): - “É deplorável a atitude do Governo em relação a Marcelo Rebelo de Sousa. Nós, no PS, sempre pautámos a nossa postura por uma forma elevada, aceitando críticas de todos os quadrantes.”

Francisco Louçã: - “...um governo em que a maioria se come a si própria...” Hélas!

Maria do Carmo Seabra: - “Neste momento, 100% das escolas, TODAS, (ênfase da ministra) estão a funcionar, com excepção daquelas que...”

Não há pachorra!...

terça-feira, outubro 05, 2004

O Palácio das Celebridades



Acordei sobressaltado com um pesadelo hooooooorríííííível. Eu explico:

A Cinha Jardim reconciliara-se com Santana Lopes e este (imagine-se) era o Presidente da minha República. Estavam no Palácio de Belém e preparavam-se para receber uns convidados que tinham conhecido uns tempos antes numa Quinta de Coruche. Tomaram um chá. No fim, entraram burros galinhas, porcos, vacas e carneiros. O sonho começou a ficar difuso e confuso. De repente um, que falava com sotaque brasileiro e tinha tatuagens nos braços irrompe na sala e a Ana Lucas pergunta-lhe o que é que ele andava a fazer com um poste de vedação de gado entre as pernas. O brazuca responde, de vozeirão, que aquilo não era poste “coisa nênhuma, pô” era o coisão que Deus Nosso Senhor lhe tinha dado e que andava à procura do “tau de Casteu Branco” e dizia isto com os olhos esbugalhados. Uma beldade que por ali andava seminua diz que o “Casteu Branco” estava na copa. O brasileirão corre e encontra-o, mas ele estava a ordenhar um bode...não resistindo ao erotismo da coisa, segura no coisão e agarra-se ao “Casteu”. A Cinha olha e diz para Santana: - Vê, Vê. Responde o Avelino Torres: - Sou eu, sou eu, o que é que querem? Não vêem que estou a aprender mirandês com o burro? Santana Lopes vem à varanda do palácio por ter ouvido um barulho e vê uma multidão gritando: - VêVê amigo, Amarante está contigo. Santana corre para a Cinha e diz que vai mandar o Ministério das Cidades para Amarante. Um bando de galinhas irrompe pela sala a cacarejar. Da copa chegam gritos do Casteu: - Brasileirão assim nãããão.” Deuuuuuuses isto é de fugir. A outra vai-me ouvir...” Ana Lucas anda por ali meio perdida. Vêvê chaga ao pé ela, de boca babada e diz: - Já em pequenino eu bebia das tetas das cabras, vacas é que não. Entra a Preto e diz: - Abra lá uma excepção, Vêvê, enquanto se lhe sentava em cima. Júlia Pinheiro está em casa a maquilhar-se para ficar ainda mais feia e recebe um telefonema de Moniz e diz que tem que ir fazer um directo a Belém. Corre para lá. À chegada encontra Paulo Portas à frente de duas Chaimites e da Presidente da Comissão de Bons Costumes aos gritos: - “ O deboche não passará. Aqui somos nós quem manda, vão debochar lá prá Holanda”. Paulo Portas diz-lhe que estava a confundir as coisas, que aquilo eram Chaimites e não fragatas, mas a outra continuou a mandar os debochados para a Holanda. Chega ainda Nobre Guedes que pergunta a Portas que bagunça era aquela e se ele queria que ele mandasse demolir o palácio. Santana diz que não há necessidade e que o melhor que ele tinha a fazer era ir buscar o Thomaz e o Portas e se juntasse à bagunça e já agora que fosse à casa da Arrábida buscar umas peruas.... no meio da confusão e já sem saber bem se estava a sonhar ou a acordar, a coisa já meio esbatida, ainda me lembro da figura seráfica de Sampaio a fazer uma comunicação em directo ao País, dizendo que ainda era o Comandante das Forças Armadas e que estava atento ao Governo... mas o directo teve de ser interrompido porque os animais irromperam pelo estúdio a fugir do Vêvê, que fugia do Casteu Branco, que fugia do brazuca, que fugia da Cinha, aos berros: - Para a rua já. Fora do meu Palácio, que me estão a partir a loiça toda...

Acordei de vez, tomei um duche, pois estava inundado em suor e dei uma volta pela casa. De bichos e de tais gentes só vi duas gatas. Civilizadas e inteligentes. Ele há cada sonho...

segunda-feira, outubro 04, 2004

Choldra



Os factos:

Estação do Metro do Campo Grande, 4 da tarde de Outubro do ano passado.. A Jessica e a Patrícia, ambas de 18 anos, tomaram o seu lugar numa das carruagens. Entram dois homens ( ? ) , com ar de rufia, soltando impropérios e obscenidades, insultando o Bush, os americanos, os portugueses que não ligavam aos emigrantes e os passageiros da carruagem. Um deles, olhando de frente para a Jessica, diz-lhe para lhe chupar “ali”, enquanto segurava lá o que quer que fosse que tinha entre as pernas. Perante a cena, a Jessica e a Patrícia levantam-se do banco que ocupavam e fizeram menção de mudar de sítio. Ao passar pelos energúmenos, um deles agarra-a, a Jessica defende-se e a besta, acto contínuo, dá-lhe um soco na boca. O comboio começara, entretanto a andar. Perante a passividade de toda a gente, uma senhora idosa levanta-se e acciona o alarme após o que a composição, de imediato, parou, abrindo as portas. No meio da confusão instalada, aparece um jovem vestido à paisana que se identifica como polícia e consegue imobilizar uma das feras enquanto a outra, a que agredira, foge e ninguém mais a viu. O polícia leva o preso e as duas colegas para a esquadra da PSP no Marquês de Pombal. A Jessica telefona ao pai que, de imediato, faz os cerca de 40 quilómetros que o separam da cena e se junta a ela. Queixa apresentada e assinada, aliás fortemente sugerida pela polícia que “até conheciam o gajo, morava em Loures e era fácil apanhá-lo", a Jessica é informada de que deveria deslocar-se ao Instituto de Medicina Legal para obter um relatório médico. Quando o pai da Jessica se dispôs a ir ao IML, é informado que “só na Segunda feira”, porque era Sexta e o IML estaria fechado. Refreando o impulso de dizer à Policia que, pelo visto, os cidadãos só “deveriam” ser agredidos aos dias úteis, o pai da Jessica resolveu ir para casa, desinfectar o lábio cortado da filha e, na Segunda Feira lá estavam os dois, pai e filha no IML. Atendidos por um médico de meia idade, ouviram uma longa prelecção sobre o amor entre os homens e que o perdão era essencial para se atingir o reino dos céus, Cerca de quarenta e cinco minutos depois (sem qualquer exagero) e quando o fervor religioso do médico era já do devido conhecimento da agredida e do pai (já agredido, também, com tanto surrealismo), o pai lembrou o médico que o melhor seria fazer o tal exame médico. Pelo andar da carruagem, quando se acabasse a doutrina, as equimoses teriam passado.

Setembro de 2004:

A Jessica recebe uma notificação para se apresentar na PSP de Cascais, por carta registada. Civicamente, deslocou-se à PSP, é recebida por um agente da autoridade que pega no papel. Olha-o, remira-o, devolve-o e diz com ar neutro: _ Ah, “isto” é em Carcavelos (sic). A Jessica regressa a casa, conta a cena e o pai, que não é jurista, nem policia e tem pouca ou nenhuma experiência de tribunais, diligências e correlativos, diz à Jessica: - Filha, esquece isso.
Duas semanas depois, a Jessica recebe uma notificação do Tribunal de Menores e de Família e da Comarca de Carcavelos ( e atenção às conjunções que, no caso vertente, são importantes), dizendo que ela tinha sido condenada a uma multa de 2 Ucs, € 178, para pagar em cinco dias, podendo ser detida, não o fazendo... blá blá blá por ter faltado a uma diligência.

Moral da história:

- A Jessica leva um murro há cerca de um ano que lhe abriu o lábio inferior, chorou toda a noite de raiva e o pai da Jessica andou quinze dias com vontade de matar toda a gente;

- A Jessica foi fazer um exame médico três dias depois, quando as equimoses, embora ainda perfeitamente visíveis, estavam já claramente atenuadas;

- O exame médico, que levou dois minutos, foi precedido de um compulsivo processo de evangelização das vontades por um médico claramente inadequado para o efeito e a necessitar urgentemente de ajuda profissional, que é uma forma elegante de se dizer que o homem deveria consultar, sem demora, um psiquiatra;

- A Jessica é notificada UM ano depois para ir à PSP de Cascais, cumpre civicamente o que lhe é imposto, é recebida por um polícia idiota e claramente impreparado que lhe deveria ter explicado profissional e exactamente do que se tratava em vez de ter despachado a jovem com um seco e rápido “isto é em Carcavelos”;

- O pai da Jessica vai pagar € 178 porque se a policia não é capaz de encontrar um elemento perigoso da sociedade, mesmo conhecendo-o muito bem e sabendo que ele mora em Loures, está, com certeza, em condições de deter a Jessica, como reza a notificação. Sobretudo porque sabem onde ela mora e porque ela não anda a dar socos nas pessoas que viajam de Metro.

Independentemente da revolta que tudo isto provoca, gera-se um inevitável sentimento de impotência pela forma como estes factos acontecem e a convicção, cada vez mais forte, que a choldra que Eça descrevia e o rei D. Carlos se queixava continua de saúde e recomenda-se. Ser prior nesta freguesia é obra. Mas ser ovelha deste rebanho é, mais do que a vergonha que isso nos suscita, perigoso. E, ainda por cima, caro. Senão... experimentem levar um murro no Metro. E depois, contem.

sábado, outubro 02, 2004

Lembrar os amigos



“Ele há” dias assim. Por isto ou por aquilo, lembramo-nos dos amigos.

Este nobre animal é um Perciforme, da família das Sphyraenidae e existem cerda de 20 espécies conhecidas. Dá pelo nome comum de barracuda e as espécies mais conhecidas são a cuda, que pode atingir os 18 kg e a great barracuda que pode atingir os 40.

É um formidável predador e alimenta-se de tudo o que mexe. Contrariamente ao que se diz, NÃO ataca o homem, apesar de ser voz corrente que o faz e, até, de existir um desonestíssimo filme americano, onde uma barracuda devora humanos entre dois momentos de ócio.

A great barracuda é normalmente solitária e, embora não atacando o homem, convém não a irritar. As cudas formam normalmente cardumes que podem atingir as duas centenas de indivíduos e comportam-se como um disciplinado batalhão militar. Já as vi debaixo de água. em skin diving, perfiladas, viradas para mim, quase imóveis. Ao mais ligeiro movimento que eu fizesse, elas rodavam 180 graus, virando-me as costas com evidente falta de educação e desprezo, todas rigorosamente ao mesmo tempo, como que obedecendo a uma ordem. Se eu permanecesse quieto durante 4 ou 5 segundos, eis que elas se viravam de novo para mim, obedecendo a uma invisível e inaudível voz de comando, espantosamente sincronizadas.

Em pesca desportiva, “pegam” bem em rapala, pena ou colher. Isco vivo não tem grande sucesso.

A minha maior cuda tinha 16 kg e a maior “great” tinha 26...

Ao içar uma barracuda para o barco há que ter o maior cuidado em desengatar a “fera”. Tem dentes compridos e afiados e se ferram uma mão ou um braço NÃO é possível abrir-lhes a boca, havendo necessidade de lhes cortar a cabeça, para libertarmos a zona mordida. É uma operação que pode custar alguns dedos ao pescador...

Tem uma excelente carne para variadíssimos pratos e está para a pescada como a lebre está para o coelho.

Na passagem de ano de 92 para 93, no fim de uma directa no motel de uma ilha, meti-me no barco e, com o raiar do dia, estive cerca de uma hora ininterruptamente a içá-las para bordo. Mar chão, tipo folha de alumínio e céu encoberto.

Enfim, coisas do mar. De vez em quando lembramo-nos dos amigos. Sobretudo quando não nos apetece escrever sobre mais nada...

E.T- Na foto, o nobre animal am apreço é, está bem de ver, o do meio!

sexta-feira, outubro 01, 2004

Hoje acordei assim...



E que me seja perdoado o evidente plágio da ideia, retirada de um coceituado blogue perto de si...
Talvez porque estou farto das pataniscas e do arroz de feijão dos restaurantes aqui à volta do escritório e do trânsito que logo tenho de enfrentar na A5. E porque tenho aqui na secretária dois recados a avisar-me que tenho de telefonar para um par de países, um dos quais verdadeiro santuário destes peixes que, por um tempo da minha vida, foram meus "compagnons de route".
Mas isto daqui a um bocadinho passa..