segunda-feira, julho 31, 2006

Bamako



Hotel Salam - Bamako
Face ao Rio Niger.

[1139]

Refugio-me aqui neste hotel do calor e da humidade de uma cidade estranha, onde as vivendas de luxo se misturam com cabras a pastar nas bermas das ruas de intenso trafego automovel, que conferem ao cenario uma policromia so possivel em Africa. Tanto as cabras como os carros. As ruas sao verdadeiros expositores de mercadoria à venda, desde latas de gasolina ateh cartoes de telemovel, passando por galinhas vivas e vestes arabes. Ha centenas de peças da idade do bronze que, segundo os residentes sao facilmente recolhidas com uma simples cavadela de enxada e que os tuaregues enviam para a capital, para serem compradas por estrangeiros avidos.

As mulheres sao muito bonitas, de corpos esculturais, acastanhadas e muito bem vestidas e quase todas maquilhadas. Sempre a sorrir, recebem-nos com simpatia e eficiencia. Os homens sao enormes, altos, possantes e corteses.

A cidade eh muito suja, muito confusa e muitas das fachadas velhas e surradas ah berma das ruas, onde comem galinhas e cabras, escondem esplendidos batiments de escritorios.

A presença arabe eh muito forte, apesar de, contrariamente ao que eu julgava, cerca de 50 por cento da populacao ser cristan.

Surpreendentemente, a economia assenta na agricultura, pesca (o enorme Rio Niger que dah nome a um outro pais) e ouro. O Mali eh ainda o primeito produtor africano de algodao. Razoes suficientes para que eu aqui fizesse uma visita. E quando eu pensava que ja conhecia Africa toda, eis que piso um pais pela primeira vez, um pais estranho, acolhedor, morno e indolente como o enorme rio que atravessa a capital Bamako. Pais que, dizem os entendidos, tem uma enorme riqueza historica, arqueologica e ainda um surpreendente sentido pelas artes. Uma verdadeira surpresa.

E agora vou-me embebedar de ar condicionado, espojado numa cama para quatro, no hotel que veem la em cima.

Bon jour

[1138]

Estou maki... ou MALI, qualquer coisa por ahi;

A primeira coisa que se faz quando se estah fora da paroquia eh dizer que nao ha cedilhas nem tis; coisital, por isso nao digo...
Mas nao resisti a vir cuscar um pouco.

De volta ah paroquia vendredi prochaine;

sexta-feira, julho 28, 2006

I'll be right back


[1137]

Vou-M(e) ALI e já venho. De vez em quando tenho de trabalhar como as pessoas. Mas não me estou a queixar. No fundo, no fundo, gosto do que faço. Sobretudo pela envolvência humana que isso representa, sempre que tenho de viajar para mais longe, aliás andava a ficar um niquinho enjoado com pulinhos a Madrid, Londres e Porto (!...). Ainda por cima, dos três países onde irei (dois deles africanos) há um que pisarei pela primeira vez. E isso dá-me uma satisfação especial. Desde pequenino…

Estarei de volta dentro de cerca de uma semana e até lá, "Internet permitting", procurarei visitar os amigos da blogos que já fazem parte do meu universo e andar a par da má-língua cá da paróquia. Porque, convenhamos. O que seria a vida sem a coscuvilhice nacional, por muito pequenina que seja?

Até breve. Volto já
.

Os tontos


[1136]

Consola saber que há noções de vida e de decência muito para além do mero exercício retórico de opinar. Sobretudo quando este exercício é feito com a elevação e qualidade como Vasco Graça Moura o faz no texto que transcrevo e que foi publicado no DN
aqui.

É claro que os
tontos do costume, para usar uma expressão feliz do Bekx, vêm de imediato a terreiro. Ainda se o fizessem dentro dos mínimos exigíveis de decência, sem malabarismos de cartilhas datadas, valeria a pena a troca de ideias. Mas não é o caso. Este é um argumentário e uma forma de estar que tem mais a ver com as idiossincrasias do “produto” e com o reflexo da sua imagem nas águas do rio do que com a expressão honesta de uma opinião.


"Assiste-se a um inacreditável branqueamento do terrorismo. Logo a seguir ao 11 de Setembro, as esquerdas pós-soviéticas esfalfaram-se a explicar o baixíssimo nível de desenvolvimento das sociedades onde campeia o fanatismo islâmico, o que, como não podia deixar de ser, era da responsabilidade do Ocidente Disseram lamentar a chacina mas no íntimo rejubilaram. O poderio norte-americano, a democracia representativa, a civilização ocidental, tudo isso era posto em causa por uma horda suicida. Não faltaram os malabarismos intelectuais repugnantemente apologéticos. No conflito palestiniano, os pós-soviéticos não se impressionam com a perda de vidas civis causada pelo terrorismo em Israel (e ainda menos com os sucessivos genocídios que têm vitimado milhões de seres humanos em África). É característica do terrorismo a componente civil da acção violenta e a sua ocultação na sociedade, para tentar impedir uma repressão ou para engendrar dramáticos argumentos invocando as vítimas civis quando ela ocorre, porque tudo se faz para que assim seja.É verdade que, da parte de Israel, há excessos condenáveis nessa repressão. Mas os pós-soviéticos descontextualizam tudo. Não perdoam a Israel que seja um Estado de Direito e lute firmemente pela sobrevivência. Escamoteiam sempre os termos periclitantes dessa sobrevivência. Omitem que, desde há décadas, se deve ao mundo árabe uma tremenda sucessão de ataques, tanto militares como terroristas, com vista à aniquilação de Israel, e que os radicais islâmicos e palestinianos nunca aceitarão a existência do estado judeu. Nunca lhes fizeram mossa as actividades do Hamas e do Hezbollah, nem o não desarmamento deste no Líbano (contrariando a decisão da ONU), nem a colaboração da Síria e do Irão no sustento logístico e na operacionalidade da organização. Não se preocupam com o facto de o Hezbollah não bombardear unidades militares, mas sim as populações. Aí, calam-se circunspectamente. Formalistas sempre que lhes convém, angelizam o terrorismo. Exaltam o processo das eleições na Palestina, mas não falam na responsabilidade do eleitorado que colocou um grupo terrorista no poder, nas relações desse grupo com o Hezbollah, a Síria e o Irão, nos propósitos explícitos e irrenunciados da fundação do Hezbollah e do Hamas para o extermínio de Israel, na impossibilidade de tomar a sério as suas propostas. Ainda no sábado era noticiado que o Hamas tinha proposto, quanto a Gaza, um cessar-fogo condicionado, mas que dois grupos militares o não aceitavam…Francisco José Viegas resume lapidarmente a posição dos pós-soviéticos: "Sim, dois estados soberanos. Desde que 1) Israel esteja disponível para ser alvo permanente do Hamas e do Hezzbollah e, 2) que o outro Estado soberano seja uma plataforma para que outros Estados soberanos ataquem Israel sempre que quiserem".Na sua batota totalitária, desceram tão baixo que até já nem acham que a religião seja o ópio do povo! Tudo serve, desde que aponte a Israel e aos EUA. Nesse caso, centenas ou milhares de mortos já não têm importância nenhuma.Criticam a UE pela sua passividade, quando se alguma crítica há a fazer-lhe é a de ela ter andado a alimentar, pela ajuda humanitária, algumas das molas reais do conflito e algumas das corrupções mais devastadoras de que há memória na Palestina.E nutrem um ódio étnico e torpe contra os judeus. Lenine falava na "canalha bundista" e entusiasmou-se com a teorização de Estaline sobre o Bund judaico fundado em 1897. A acção de Estaline culminou numa repressão feroz contra os Judeus, considerados "o inimigo principal" a seguir a 1945, já depois de conhecido o genocídio nazi. Laurent Rucker fala no seu "anti-semitismo obsessivo" e Pierre-André Taguieff destaca o fenómeno paradoxal e soviético que levava à prática do anti-semitismo e, ao mesmo tempo, à denúncia deste e do racismo… A absoluta falta de escrúpulos do sinistro ditador levou-o a apoiar a fundação de Israel em 1948. Não por ter mudado subitamente de ideias, mas para desestabilizar a Inglaterra e os EUA, colhendo dividendos para a URSS pela perturbação que contava provocar no mundo árabe. Mas, em 1951, já acusava Israel de conluio com o imperialismo.Os pós-soviéticos, que nem sequer criticam o negacionismo dos nazis iranianos, mantiveram-se reverentemente impregnados até à medula desse anti-semitismo atávico. Mas indignam-se virtuosamente contra o racismo e a xenofobia."

Vasco Graça Moura no DN

quinta-feira, julho 27, 2006

Dominar o sonho...



O Céu da noite africana. Distingue-se, com facilidade, o Cruzeiro do Sul.


Clicar na foto para aumentar

[1135]

Tenho andado a correr. Talvez por isso, esta noite sonhei que estava numa esplanada africana a comentar para uma amiga neófita nestas latitudes a miríade de estrelas a brilhar intensamente num céu escuro sem lua, mas com tanta intensidade que quase se diria haver luar, num quadro só possível no hemisfério-sul (
Laura, isto leva hífen?). A recém-chegada a paragens austrais dizia-me estar a assistir a um espectáculo de luz e de cor como ela não imaginaria poder existir.

No meio da conversa, puxei de um cigarro. Acendi-o com deleite e inspirei profundamente uma golfada de fumo que parece que contém mil coisas que matam mas também um milhão de partículas de felicidade. E falávamos e olhávamos para o céu e víamos as estrelas e eu fumava. De repente sonhei que estava a sonhar – percebi nitidamente que o sonho era sonho, embora o cigarro me parecesse tão real e, consciente da minha condição de transgressor da decisão de ter deixado o cigarro há dez meses, achei-o divinalmente retemperador. A amiga com que sonhei era conhecida, não era fictícia, apesar de ser uma pessoa pouco dada a êxtases de contemplação de estrelas. Quando me apercebi do sonho, “decidi” que não acordaria antes de acabar o cigarro nem de explicar a essa amiga os segredos que fazem com que os céus do hemisfério-sul sejam diferentes, feéricos, silenciosos e muito brilhantes. Juntamente com uma sensação muito real de grandeza, de espaço libertador, sobretudo quando vivemos em espaços limitados em que só vemos bocadinhos de céu, apertados na malha urbana onde já nem nas estrelas reparamos.

Acabei o cigarro, a minha amiga adormecera e eu achei que podia, finalmente, acordar.

Reajustamentos


[1134]

“…nos noticiários mais anti-americanos e israelitas da televisão portuguesa…no meio da contínua manipulação das palavras que constitui o grosso das notícias sobre o conflito…”, (excertos de texto que retirei do Abrupto e a que não faço link por receio da pirarataria a que tem estado sujeito) opinião que eu não poderia partilhar com mais veemência, a RTP resolveu apresentar hoje de manhã um apontamento de reportagem com a mãe de um dos soldados israelitas raptados. Os israelitas também já foram promovidos a pessoas e o repórter da CNN admitiu finalmente ter sido manipulado pelo Hezbollah.

É o que faz ser um blogue de referência. Meia dúzia de linhas a comentar o sectarismo e o esquerdismo de esferovite da RTP foram suficientes para que o discurso se moderasse um bocadinho. A cartilha continua a estar a bem presente e a vergonha continua a ser nenhuma, mas sempre foi uma brisa a amenizar a canícula que vai lá pela estação pública!

quarta-feira, julho 26, 2006

Pension Fund... a fundo


[1133]

Quando eu julgava que o meu País já nada de novo me poderia ensinar, fiquei a saber que exilados políticos e presos políticos têm direito a uma pensão de reforma. Claro que isto me suscita uma série de interrogações sobre, por exemplo, quanto tempo de prisão conta, um dia, um mês, à semana, enfim, as pessoas têm que saber, até porque fui preso um par de vezes (é certo que uma vez foi por andar à pedrada às montras de uma rua de Coimbra mas por cada pedrada eu gritava “morra Salazar”, outra porque fui “agressivo” e malcriado com a autoridade quando estava a ser revistado em Vila Franca de Xira a caminho de um jogo de raguebi em Lisboa) e preciso de saber se é currículo suficiente para receber uns Euros extras quando chegar à idade de reforma. Já sobre exílio político, não fui exilado, acabei por me “exilar” voluntariamente mas apenas para sobreviver (literalmente), pondo a salvo dois bebés que por acaso eram meus filhos e com quem andei a fazer gincana entre cargas de morteiros, bazookas e chuvas de balas até conseguir pô-los a salvo. Claro que isto não é tão heróico como ir ler notícias para a rádio em Argel ou comer cocos em S. Tomé, por isso até me calo. Quem me mandou a mim ter sido pai aos 22 anos e andar a brincar aos estágios de fim de curso em Angola quando poderia e deveria muito bem estar a receber umas massas para (com jeitinho exigir até uma “subvenção” para a minha mulher como fez Mário Soares) dizer umas patacoadas no contexto político da época ou a parir uns panfletos?

Portanto, é bem feito. E repito: lá pelo exílio ainda me calo, mas aquelas duas vezes que fui ter às “masmorras fassistas” não me dão direito aos melhores 10 minutos dos últimos quinze que passei na prisão?

Tanta coisa que, afinal, não sei…

NOTA: Manuel Alegre, num magnânimo gesto que tenho alguma dificuldade em classificar (altruísmo? excesso de dinheiro? Pudor???) a propósito dos três mil e tal Euros de reforma que vieram a lume a propósito daqueles três meses mal explicados na RDP informou a populaça que ainda teria direito a outra reforma como preso político que foi, mas que não queria receber. Fiquei esclarecido. Mas um dia a úlcera rebenta-me e mando esta corja toda para… ai, quase que me saía
!

Tenho a impressão que já vi este filme...

[1132]

As autoridades de Timor-Leste estabeleceram uma data limite para que todos entregassem as armas até segunda-feira. Se alguém fosse apanhado com armas depois desta data seria detido.

Acontece que há notícia de se ter detectado ontem armas numa casa que havia sido ocupada pelo major Reinado. Paulo Gorjão, no seu
Bloguítica, apresenta uma versão (não consigo link directo, mas é o post 1026) segundo a qual o major Reinado teria entregue voluntariamente as armas, ainda que fora do prazo. PG mostra depois o seu espanto pelo facto de Reinado não ter sido detido. Acontece que a versão que ouvi numa rádio não coincide com a de PG. O que ouvi foi que a GNR terá ido à tal casa, a pedido das autoridades, por força de uma denúncia anónima feita nesse sentido. A GNR foi à tal casa e não é que as armas estavam lá todas arrumadinhas à espera?

Eu não sei qual das versões é a correcta, se a de PG se esta que ouvi na rádio. A ser esta última não me surpreende muito, porque faz parte de um guião usual de um filme que vi várias vezes. Assim um bocadinho como o"leão da Metro". E como no fundo tanto Xanana como Reinado aprenderam pela mesma cartilha, não me surpreendo por aí além.

Mas pode ter sido como conta Paulo Gorjão. Vá lá uma pessoa saber…

terça-feira, julho 25, 2006

Sonhos de uma noite de Verão...


[1131]

Há coisas que continuam a fascinar-me, pela forma extraordinária como ocorrem, como são tratadas, pela fluidez como percorrem o leito das necessidades e idiossincrasias daquilo a que se chama, prosaicamente, de audiências.

As audiências são um conjunto massivo de pessoas que ouvem rádio ou vêem televisão, sem “protecção”. Ou sem “filtro”, como queiram chamar. Não porque não tivessem capacidade para tal mas quiçá porque todos nós nos deixámos encaixar numa cadência de vida que tornou, só por si, o uso de um “filtro” para o que se ouve e vê numa televisão uma desnecessidade. Por outras palavras, há como que uma certa fatalidade e uma aceitação tácita a partir do momento em que accionamos o comando que nos faz partilhar as tais audiências com a bonomia dos indiferentes e a “bovinidade” dos comodistas.

Isto vem a propósito de quê? Vem a proposto de eu ligar o televisor, como as pessoas, todas as manhãs, enquanto me sento na sala a tomar um café fresquinho de aroma pecaminoso, com o meu “bread roll” (cá está um caso em que me recuso a falar português, eu a contar isto e a dizer “comer uma carcaça” é, no mínimo, grotesco) e um queijinho bom, daqueles com muita gordura para o colesterol e para o pneuzinho da cintura. Hoje, não fugi à rotina (as rotinas, valha-me Deus, as rotinas…) e eis senão quando aparece na “pantalla”um psicólogo em directo, num destes programas noticiosos que pululam pelas nossas televisões logo pela manhã a dizer, segurem-se… qualquer coisa como “as mulheres têm uma maior predisposição para a prática do sexo no Verão, durante as férias”. Claro que fiquei estarrecido com a revelação, eu que pensava que as mulheres eram mais “dadas à coisa” quando estavam na cozinha de avental e a picar cebola, a mudar uma fralda ao bebé ou fossem acometidas por uma quase irreprimível vontade de se masturbarem no meio do trânsito caótico quando vão “despejar” as crianças a uma creche antes de irem aturar, um chefe qualquer, cretino, seboso e quase analfabeto, acabo por ser esclarecido que não. As mulheres são permeáveis ao sexo mesmo, é na praia, com a brisa a acariciar-lhes a cara e as coxas e o sol a banhar cada um dos centímetros quadrados de pele que, por artes mágicas e incidência de UV se tornaram, como por encanto, em zonas erógenas. Estão mais permeáveis, mais ousadas (significa que tomam a iniciativa, na fatalidade de não serem abordadas por um macho tisnado e fato de banho justo a evidenciar uma absolutamente irresistível e lasciva proeminência) e, last but not the least, atingem o orgasmo com muita mais facilidade e rapidez. Fiquei esclarecido. Passarei a frequentar mais a praia, desta vez com olho clínico (claramente em pose de estudo e observação) para ver quantas mulheres olham para mim e me inspeccionam a estampa zootécnica.

Mas o que verdadeiramente me impressiona é a facilidade com que hoje se ganha dinheiro. Comecei a pensar quanto é que aquele psicólogo recebeu para ir à televisão falar durante três minutos de orgasmos à beira-mar, da importância dos raios UV na libido e da “ousadia” das mulheres que não hesitam em atacar a presa, sempre que o predador não prede coisa nenhuma e se mantenha imperturbável a ler a “Bola” sem lhe reparar naquela erogenia “peça única” que tem ao lado. Sobretudo reparei no ar técnico e académico com que o homem nos concedeu estas revelações extraordinárias, certamente fruto de muitas horas mergulhado em sebentas, enquanto as mulheres se entretinham a conquistar homens em férias. Pensei ainda quantas pessoas vão ao consultório daquele ser arguto, perspicaz e sábio, cheio de conhecimentos sobre a fêmea de praia em férias, para dizer o óbvio e, ainda por cima, de uma forma em que, juro, eu seria capaz de dizer o mesmo com muito mais impacto e convicção.

A diferença é que a mim não me pagam coisa nenhuma. Frequentemente, nem sequer em mim acreditam.

Condescendências

[1130]

Eu esforço-me por achar que estou errado, que é impressão minha, mas cada vez me convenço mais que muitos dos anticorpos que Cavaco Silva gerou se devem ao facto de ele ser filho de um obscuro gasolineiro de Boliqueime, tal e qual como os gerados pelo Bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves, que se atreveu a ser filho de um polícia.

A um há que tolerar, condescendentes. O outro… bem, o outro, há que proceder à antecipação da eleição de um novo Bastonário. Rápida e discretamente.

segunda-feira, julho 24, 2006

Obscenidades

[1129]

Os nomes constantes
deste abaixo assinado (já tardava) representando um Movimento que deve ter sido organizado tipo "registe a empresa em 57 minutos" são a garantia de que, desgraçadamente, o sofrimento genuíno de pessoas e a brutalidade de uma guerra não são, de todo, o leit motiv da iniciativa. Estas pessoas são suficientemente conhecidas pelo seu oportunismo político e despudor em se mediatizarem sempre que, conjunturalmente sentem que o podem fazer. Foi sempre assim e será sempre assim. Em nome de si próprios e da sua insuportável arrogância.

É claro que não está em causa a liberdade de expressão nem a pluralidade de opinião. Só choca porque este tipo de atitudes é sempre tomada por gente que não hesitaria um segundo em no-las coarctar se algum dia tivessem o poder. Não tenho dúvidas nenhumas disso, porque conheço bem o artigo.

Nota: A foto que acompanha a notícia é absolutamente obscena. Ler também
aqui e aqui.

Falando de cornos nobres


[1128]

Ontem "aterrei" numa tourada na Póvoa de Varzim, transmitida pela RTP.

O linguajar do comentador, independentemente de assentar numa articulação sintáctica mais ou menos ininteligível para um cidadão que tenha tirado, pelo menos, o antigo 5º ano dos liceus, dispersa-se numa terminologia fascinante. São termos e expressões salpicados de nobreza misturada com o Divino e passando pela expressão pagã de superstições várias e uma irreprimível tendência para que tudo gire à volta de um par de cornos. Por cornos, ontem aprendi que um touro pode ter uma hasteação nobre, um touro pode ser cornalão, a postura de um touro pode ser cornalta e que a nobreza de um touro estava bem expressa na cornamenta. Um outro touro, ainda, porque tinha uma bossa elevada, era um touro com esqueleto.

Como nota final, acontece uma pega mal sucedida, o forcado é colhido e o primeiro-ajuda atira-se para cima dele (do forcado) para o proteger. Uma atitude nobre e bela que fica nas nossas memórias, não é como o futebol em que é tudo à canelada e a fingir que estão magoados. Disse ele, o comentador, enquanto, presumo, mentalmente se persignava, fazia figas e se extasiava com a nobreza do forcado, cara coberta de sangue quente e adocicado das inúmeras farpas que entretanto tinham rasgado o dorso do cornalto.

domingo, julho 23, 2006

Missão Impossível


[1127]

A Júlia qualquer coisa “oska” veio cá a casa mostrar o António qualquer coisa “enko”. O bebé é lindo, tem uns olhos azuis muito grandes e um tamanho de pés que lhe augura um sucesso garantido com as mulheres, quando for mais crescidinho.

A Júlia ainda não pode ajudar-me no meu desmazelo inato porque o António, aparentemente, dorme de dia e chora de noite pelo que ela tem de ajustar o sono à ditadura do António e foi isso mesmo que ela me veio dizer cá a casa, para além de me mostrar o bebé, claro.

Enquanto eu exercitava um conjunto de caretas e sons senis, daqueles que costumamos fazer aos bebés enquanto eles olham para nós com uma expressão tipo “porque é que só dou de caras com idiotas”, a Júlia foi dar uma volta pela casa. Não sei bem o que ela viu, só sei que regressou à sala de semblante grave. Ainda pensei que lhe tinha morrido alguém na família mas ela acabou por me dizer, num tom misto de maternal e de censura: - Senhor, eu tem de resolver situação. Vou falar meu amiga vir já aqui durante dois mês, depois António vai na creche e eu já poder voltar aqui. O que é facto é que a Júlia telefonou à Júlia (começo a pensar que as Ucranianas são todas Júlias), a outra Júlia apareceu-me aqui em casa vinte minutos depois, cara bonita no topo de 100 kg de carne com osso, meteram-se as duas pela casa dentro enquanto eu continuava a tentar imbecilizar o António com caretas e "brl brl brl’s" e passados dez minutos em que ouvi as Júlias falar imenso em Ucraniano (ia jurar que num tom de censura e piedade, tipo, os homens são assim e não há nada a fazer), a Júlia (a genuína) disse-me casa está um pouco sujo, vidros, lavatórios e chão e não pode esperar mais, está bem senhor?

Quem sou eu para a contrariar… A partir de amanhã tenho a Júlia versão dois a pôr-me a casa num brinco outra vez enquanto eu espero que o António atinja os 4 meses para ir para a creche! Fico a cogitar sobre a gravidade do que a Júlia terá visto na sua inspecção para, num ápice, arranjar uma amiga para tratar de mim…

sábado, julho 22, 2006

Vão por ele...


[1126]

Eu peço desculpa, eu sei que parece idiota, mas a verdade é que não sou capaz de olhar para este homem sem me rir. Claro que com estas coisas não se brinca,
estamos a falar de emprego, de desempregados, de economia e assim, mas que querem? Rio-me, pronto. Deveria chorar, certamente, este homem é o exemplo acabado da ideia que tenho que andamos atrasados trinta anos em relação ao resto do mundo civilizado. Já desde a Revolução Francesa. O próprio Estado Novo chegou atrasado, o vinte cinco de Abril devia ter sido em 1944 e a falência do estado providência já deveria ter acontecido em 1976. É trágico, eu sei, mas que querem? Eu olho para o homem e rio-me. E se olhar e ouvir, com aquela fonética de “Famel Foguete”, em que os “rrrrrrrrr’s” se confundem com o trabalhar de um motor a dois tempos, parto-me a rir. Se se conjugar uma série de factores, i.e., olhar para o homem, ouvir os erres e centrar-me naquelas pupilas de tiróide hiperactiva, então a coisa é grave desconjunto-me em pedaços e temo pela integridade do meu grande simpático.

sexta-feira, julho 21, 2006

Necessidades essenciais


[1125]

Por vezes, a intensidade dos ataques de idiotia é tão grande, o cerco é tão asfixiante, a descrença é tão vincada, a “coisa” torna-se tão patética e assucatada, que eu sinto uma necessidade visceral de postar um qualquer exemplo de classe e bom gosto.

Alívio

[1124]

É reconfortante
não me sentir sozinho. É que às vezes chego a pensar que sou eu que sou esquisito!

quinta-feira, julho 20, 2006

Delícias


Guerra por procuração

Jactância

[1121]

Os guerrófilos

Os que apoiaram o ataque dos EUA ao Iraque aplaudem agora também o ataque de Israel ao Líbano. Há um clube de fãs de todas as guerras. Não conseguem passar muito tempo sem uma guerra a sério, sobretudo as lançadas pelos fortes contra os fracos...


Esta afirmação é desonesta, pesporrente, sectária, imbuída da mais desprezível arrogância, é duma jactância repugnante e indigna. Seria bom se
Vital Moreira fizesse uma introspecção e verificasse se não é ele próprio um guerrófilo, fremente de desejo por uma guerrazinha qualquer onde possa fazer o uso costumado de um tique de longa data da esquerda. Estar do lado dos fracos contra os fortes, uma atitude que tem tanto de charme como de hipocrisia, sobretudo quando os fracos são apoiados, instigados e manipulados por um bando de assassinos. Ricos.

quarta-feira, julho 19, 2006

Diálogos da terrina


[1120]


À porta do gabinete

Ele: Está sozinho?
Eu: Estou…
Ele: Almoçamos juntos?
Eu: Claro!

À mesa do restaurante

Ele: Então vai de férias agora?
Eu: Não, vou só em Setembro.
Ele: Para o Algarve?
Eu: Não, vou a Maputo, a Johannesburg e no regresso paro em Luanda, em serviço.
Ele: E fez as reservas pela Internet?
Eu: Não, porque…
Ele: O meu filho vem amanhã da Bélgica, a gente vai à Internet depois tem de dar o código onde está ligado a agência, tá a ver? E depois marca, dá o número do visa e depois já está.
Eu: Pois, eu sei…
Ele: E a menina perguntou-me se o meu filho tinha e-mail, eu disse que sim e uma hora depois ele estava a receber um e-mail com o código do bilhete.
Eu: Claro, mas…
Ele: Depois é só ir ao check-in mostrar o bilhete de identidade, nem precisa de dizer o código, mostra o bilhete de identidade a menina vai ao computador, aparece logo o nome, o número do vôo, aquilo é fantástico, depois é só seguir para a sala de embarque.
Eu: Pois…
Ele: Ele vem na Virgin, mas da última vez veio na TAP, quando estava e estudar em Amsterdam é que vinha na KLM… quer dizer, uma vez veio na TAP mas depois passou a vir na KLM, agora anda mais TAP, a Virgin nem sempre é certa.
Eu: Mas a Virgin…
Ele: Quando o meu filho estava cá, antes de ir para a Holanda é que foi ao Brasil na viagem de fim de curso e foi na TAP mas para vá veio na Varig, eu na Varig só fiz um vôo directo para Fortaleza mas depois eles pararam esse vôo agora para Fortaleza é na TAP e na Varig já não voltei a voar.
Eu: Pois, a Varig…
Ele: Mas quando for a Moçambique faça as reservas na net, vai ver que é porreiro, dá o código, indica a agência de viagem…
Eu: Sim…
Ele: Depois é só ir directo ao check-in dá o código, nem precisa de dar o código, mostra o bilhete de identidade e a menina vai ao computador está lá tudo, o nome, o percurso, o número de vôo, tudo.
Eu: Sério?
Ele: Mesmo que o bilhete não seja para si, pode fazer tudo na mesma pela net, é um avanço imenso….
Eu: Levar no cu faz doer?
Ele: …imenso, pá, é fantástico, que eles depois até podem mandar directamente ao beneficiário como fizeram com o meu filho quando estava a estudar na Holanda, tá a ver?
Eu: A sua irmã, na cama, não vale um caracol.
Ele: Pois, mas é óptimo a gente paga e o bilhete vai directo para o beneficiário, tá a ver?
Eu: Você ultimamente anda com um hálito horrível.
Ele: Han?
Eu: …que é possível. Hoje tudo é possível.
Ele: É verdade!

De regresso ao gabinete

Eu: Como é que eu hei-de fazer um post disto?

terça-feira, julho 18, 2006

A praia de Lavos é "porreira"



Lavos - Igreja Matriz. Foto daqui

[1119]

Parece que na Figueira da Foz há uma Freguesia que se chama Lavos. Então o presidente da junta achou que devia fazer um muro junto à praia para prevenir a erosão. Os Figueirenses não gostaram (Lavenses???) e vai daí organizaram uma manifestação com banda e folclore e dísticos onde se podia ler A praia de Lavos é “porreira”. Uma senhora, entrevistada pela TV disse: Chamo-me Júlia Reizinha, tenho oitenta e oito anos e isto assim não pode ser. Estão a gozar com o povo (e esforçava-se, leia-se berrava, para impor a voz à música da banda que desfilava na marginal). A menina correspondente na Figueira gastou mais uns quatro minutos a dizer que o muro foi mandado levantar pelo presidente da junta e a senhora Reizinho disse que agora iam perder a bandeira azul por causa do muro. Passados uns bons cinco minutos de reportagem, lá deixaram as notícias importantes e passaram para as "minudências" como a iminente invasão do Líbano por tropas terrestres israelitas.

Mas eis que a notícia é cortada para um directo do aeroporto de Lisboa onde um senhor cujo nome me escapou aguardava emotivamente a chegada da sua “esposa” que era o primeiro português a ser evacuado de Beirute no avião que chegava de Madrid às oito e meia. E a repórter visivelmente emocionada, gritava que o momento estava carregado de emoção já que o senhor (passou-me o nome, que chatice…) aguardava ansiosamente o momento, muito emocionado e muito tenso a quem a repórter ia agora pedir uma opinião sobre o assunto. É então que aparece um pacato cidadão que nos diz que estava ali á espera da “esposa” derivado à insegurança. Calmo e sorridente o tenso e emotivo senhor (mas que chatice que não me lembro mesmo do nome…) manteve-se a olhar pateticamente para a câmara e a repórter lá salvou a “branca” dizendo que ainda faltavam vinte minutos para o avião aterrar. É aí que do estúdio dizem que voltarão em directo à Portela na altura da aterragem do avião.

É por estas e por outras que chove lama na paróquia…

Mud Rain


[1118]

Pela segunda vez em cerca de quinze dias chove lama em Lisboa. Assim mesmo, sem tirar nem pôr. Poeiras africanas arrastadas pelo vento sul atravessam o Mediterrâneo e deixam-se cair com as gotas de chuva para tornarem esta cidade assim parecida com Marrakesh e pintarem os carros todos da mesma cor.

Há um certo simbolismo nesta chuva e lama que nos cobre a todos. Mas eu não vou por aí porque é matéria gasta e, com esperança, a TSF leva o tema ao Fórum e acabamos todos por concluir que a culpa é de Bush. Bush que
ontem disse shit, imagine-se. E não fosse Blair ter descoberto que o microfone estava “on”, sabe Deus o que lá viria. As televisões já mostraram o vídeo na íntegra e tenho estranhado a ausência de posts sobre o assunto. Com jeito ainda deve aparecer um da Joaninha.

Entretanto o calor continua. De 38 baixámos para 30 mas, como chove, muito casaquinho sairá a arejar hoje, não vá arrefecer lá para a noite. E, terceiro mundo por terceiro mundo, tenho de ir a Bamako. Quando eu pensava que já conhecia uma colecção considerável de países africanos, vou “descobrir” mais um. São só 2 dias e só vou deste Domingo a oito. E Moçambique que nunca mais calha… Em Setembro, o mais tardar tem mesmo de calhar. Se, pelo meio houver tempo e espaço para umas férias, mesmo curtas, será o que farei. Porque é que não fui para civil servant (gosto da ironia desta expressão, servant)?

domingo, julho 16, 2006

Pouco sério


[1117]

Por mais voltas que se dê ao texto, o que Jerónimo de Sousa acabou há minutos de dizer no telejornal foi que "Freitas do Amaral foi objectivamente substituído no MNE porque Portugal já sabia que a situação no Médio Oriente ia azedar e vai daí despedem Freitas do Amaral para podermos ficar silenciosos perante a “agressão dos israelitas” e não chatearmos o Bush.

A política, por definição, contempla alguma maleabilidade de verbo e de ideias mas afirmações deste género remetem para uma total falta de seriedade de quem as profere. Na eventualidade de Jerónimo acreditar mesmo no que disse, então precisa, provavelmente, de ajuda profissional. Apenas porque é líder de um partido político com representação na AR e tem responsabilidades políticas.

Qualquer dos casos é grave. Não percebo é porque é que ainda me admiro com estas coisas
.

Boa vizinhança


[1116]

Esta é a
minha vizinha. Uma companheira perfeita porque me ouve e não recalcitra, limita-se a marulhar em regime de infinito e a mostrar-me a mais fantástica combinação de azuis que podemos imaginar. É fresca, bonita, elegante e não se dá com muita gente, guarda até uma certa altivez que lhe impede sentir-se diminuída junto das fragas do Cabo da Roca. Às vezes irrita-se um pouco e sopra um vento forte e cortante mas até esse vento se tornou uma das suas facetas de uma identidade muito própria, impossível de imitar por outras praias. A água, muito limpa e muito azul, vai debruando a areia com espuma muito branca que brilha intensamente com a batida do sol. E a areia convida a um passeio de silêncios e cumplicidades. É um exemplo feliz de boa vizinhança.

Para minha satisfação, os lisboetas continuam a não gostar da praia do Guincho porque é muito fria e um horror de ventosa…

Cheguei a este site via IO

Os Idiotas Úteis


[1115]

Os “idiotas úteis”
fazem mais pelas causas (?????) do Hamas, do Hezbollah, da Síria e do Irão que uma bateria de mísseis disparados em simultâneo para as capitais europeias.

Cada país tem o idiota útil que merece. A Espanha tem o seu, Chirac também já mandou umas patacoadas e Prodi anda meio hesitante mas, com jeitinho, chega lá. Os nossos vão-se corporizando na figura de Louçã, que é o melhor que se pode arranjar…

sábado, julho 15, 2006

Desesperada Esperança


[1114]

O
Desesperada Esperança completa hoje três anos. Um grande abraço ao Bruno, que tive o gosto de conhecer pessoalmente e que vai escrevendo muito e bem. Parabéns e

Tchin-Tchin

sexta-feira, julho 14, 2006

Acho que vou...


[1113]

… vestir umas calças rotas nos joelhos, bem coçadas (esta é uma habilidadezinha só para que se perceba que já voltei ao peso normal, depois da inchadela por ter deixado de fumar e já caibo nas jeans), uma T-shirt de alças a deixar ver a tatuagem no ombro esquerdo a dizer "Angola 69" e "Amor de Mãe", pôr uns óculos escuros de lentes espelhadas, ténis da Nike, óculos de ler e cartão de crédito e arrancar para um sítio frio, onde haja rafting, lareira a crepitar e um prato de javali à noite, antes de me deitar num quarto de paredes de madeira, janelinhas de casa de bonecas com cortinas de xita e um bruto de um colchão macio e largo, muito largo para onde me atire (depois de tomar as pastilhas e os sais que a idade não perdoa e lá vai o tempo em que eu até em pé dormia, ou melhor eu dormia em pé, eu comia em pé, eu fazia uma série de coisas em pé que agora já não faço porque, aparentemente, me tornei demasiado comodista e selectivo – numa palavra, num idiota a caminho de velho) e durma convictamente o resto da noite.

Para o caso de eu não conseguir arranjar os óculos espelhados, acciono o plano B. Umas calças creme, polo azul claro, boné de pala curta, carro bem passado nas escovas e estaciono num sítio que eu cá sei onde nos arrumam o carro como a gente vê nos filmes americanos. Dirijo-me então à entrada de um local "posh" e escovadinho e assumo um ar compostinho de engatatão de meia idade com cara de quem sabe anedotas de salão, domina umas noções básicas de erotismo serôdio e tem um apartamento na Guia.

Para as emergências, há ainda o plano C. Ir até casa, acabar um livro que se chama "A África começa mal" que foi escrito há mais de 50 anos por um senhor francês que conhecia muito bem o continente africano e já nessa altura ele achava que África estava a começar muito mal e poderia acabar pior. Pelo meio vejo um filme, vou ver o "Poseidon" versão Kurt Russel ao Caiscaisvilla e deixo-me embalar na rotina de quem já não se excita muito com as T-shirts de alças (salvo ocasiões especialíssimas) nem com polos azuis claros. Receio, porém, os perigos da rotina que são muitos e letais. Daí que eu a quebre com alguma frequência. A questão é que a quebra de rotinas torna-se ela própria uma rotina, pelo que eu devo é ser um eterno insatisfeito.

Seja qual for o plano, vou apontar o comando para o ar condicionado, fechar o computador e entregar-me ao acaso. E deixo aqui os meus votos sinceros e amigos de um bom fim de semana.

quinta-feira, julho 13, 2006

A arte de bem apalpar um melão


[1112]

E quando eu pensava que a expansão dos telemóveis e a democratização dos preços dos fatos de treino da Adidas tinham contribuído para a extinção da espécie, eis que verifiquei ontem que a sua continuidade está bem e recomenda-se.

Refiro-me ao português comprador de melões – exemplar único no planeta, estou certo. Porque comprar um melão exige uma ciência assente no conhecimento e na sensibilidade que só os portugueses têm, na ponta dos dedos. Sobretudo se usam bigode, condição que muito provavelmente lhes aguçará o olfacto, não sei, mas a verdade é que é corrente que um comprador-apalpador de melões desempenhará o seu mister com muito mais eficiência e segurança se usar um bigode de pelo grosso, bem preto e a tapar completamente o lábio superior.

Este exemplar lusitano, resistindo à normalização da fruta nas grandes superfícies, consegue distinguir um bom de um mau melão. Para isso exercita um ritual muito próprio, eu diria que único, que consiste em sopesar o melão com uma mão enquanto que com o polegar da outra vai exercendo pressão num dos pólos do melão e, com este gesto cheio de técnica e muito revelador dos seus conhecimentos, ele inicia o exame. Após premir o melão pelo menos umas dez vezes, ele gira o fruto e faz o mesmo no outro pólo, nunca se sabe, um melão pode ser bom de um lado e pepino do outro e era o que faltava estes malandros (sim, porque são todos uns malandros, que só não nos levam o dinheirinho se não puderem – esta característica herdámos e mantemos carinhosamente da nossa cultura judaico cristã que em se tratando do nosso dinheirinho temos de ter muito cuidado que ele custa muito a ganhar e há que desconfiar de toda a gente) venderem-lhe um melão que não prestasse, o que é que havia de dizer a mulher que se houve coisa que a cativou em solteira era a sua reconhecida competência em apalpar e escolher melões em Almeirim?

Portanto, o "comprador-apalpador de melões" continua o seu exame, com ar circunspecto, sobrancelhas franzidas e olhar penetrante, agora rodando o melão sobre si próprio uma, duas, três, quatro vezes, sopesa-o de novo e entra na fase oral. Entenda-se por fase oral aquela em que ele começa a falar para a mulher. Desbobinando as características de um bom melão mas, sobretudo, não divulgando o “segredo” da arte de se avaliar o dito. Falando. Falando muito por muitos minutos enquanto prolonga a “operação apalpar o melão”. Quando finalmente se decide, a mulher tem ainda de o ouvir desde a frutaria até à caixa a perorar sobre as características do melão, situação que se prolonga até ao “parking” e, em alguns casos até casa, altura em que se inicia a cerimónia da abertura do melão. Porque isto de abrir um melão tem também, a sua arte e, sobretudo, ciência, não é para qualquer um. Mas isso dava outra crónica e esta já vai longa.

Esta “acção apalpar melões” é exclusivamente reservada aos homens. Senão, experimentem perguntar a um deles se a mulher sabe apalpar melões e verão a resposta que levam. Mas não se riam as donas porque ninguém como a mulher portuguesa sabe examinar um carapau na praça. Pegar-lhe no rabo. Examiná-lo atentamente, verificar as cores das guelras, consistência do rabo e carregar-lhe num olho, até se decidir a comprá-lo. Não sem perguntar primeiro ao vendedor do lugar: - Ó senhor Fonseca o pexinho é fresco?
(Ainda não perdi a esperança de, um dia, ver um senhor Fonseca qualquer responder: - "Não minha senhora. Não leve que o pêxe é uma merda". Um dia calhará…)

Capicua


[1111]

O chamado post capicua. E logo calhou eu não ter nada para dizer…

"Disparar"


[1110]

A nossa incapacidade para o funcional desempenho das coisas que estão ao nosso alcance é absolutamente atroz. Pelo menos para aquilo que corresponda à normalidade do nosso bem estar e a tudo o que tenha a ver com a exigência de algum rigor. O ar condicionado, por exemplo, ilustra bem o que digo, já que nestes dias de canícula é mais evidente a dificuldade, se não mesmo impossibilidade, de se conseguir um restaurante convenientemente climatizado. E porquê? Porque os restaurantes não têm condicionadores de ar? Errado. Têm. Mas não trabalham. Ou trabalham mas "disparam".

"Disparar" é um termo frequentemente usado para explicar que está tudo a morrer de calor porque a caixa de fusíveis tem uma amperagem insuficiente para a instalação de um ar condicionado. Pior do que o calor é o ar com que nos dizem que o ar condicionado "disparou". Todos os portugueses têm uma forma peculiar de dizer algumas coisas. Fazem-no como se estivessem a explicar-nos a duplicação das células ou a enumerar os amino-ácidos de uma proteína. E afivelam ainda um trejeito de condescendência. Porque se um ar condicionado "dispara", o empregado entende que nós, vulgares mastigantes da uma da tarde, estamos a milhas de saber o que é que aquilo significa e da sua importância para a assadura das carnes.

Pois foi com esse ar que me disseram hoje por três vezes em três sítios diferentes que o ar condicionado "disparou". Eu colho mesmo a ideia que o episódio se torna lúdico ao ponto de promover a felicidade dos simpáticos empregados de mesa que antegozam a ideia de, acabado o almoço, pegarem numa chave de fendas e num busca-polos e "escaranfucharem" o quadro, que é outra coisa que facilmente torna um português feliz. Uma chave de fendas e um busca-polos e "escarafunchar" qualquer coisa.

O que custa a perceber é que a maioria dos restaurantes tem ar condicionado. E um aparelho custa facilmente €1500. Se uma sala dispuser de dois aparelhos estamos a falar de €3000, condenados a estar parados porque os ares condicionados "disparam". E ainda ninguém percebeu que se não aumentarem a capacidade do quadro, os aparelhos passarão a vida a "disparar" e os donos dos restaurantes acabam por não os ligar sequer porque eles "disparam". Não deixando de ter €3.000 empatados.

É uma lógica voraz que me consome as meninges e me faz questionar se haverá no mundo outro país igual, em se tratando deste tipo de situações. Porque de duas uma. Ou se se empata €3000 e, provavelmente, €100 ou €150 num quadro novo ou então o melhor é não comprar os aparelhos. É mais barato e mais inteligente. Mas provavelmente descaracterizar-nos-ia e, depois, como é que os empregados fariam aquela expressão de sabedoria a dizer-nos "tenha paciência mas não dá para ligar porque os ares condicionados "disparam"?...

Sinistralidade


[1109]

A brigada de educação anuncia que cerca de metade dos examinandos deste ano não lograram obter positiva a Português e 64% teve negativa a Matemática.

Não há feridos a registar e as brigadas de bombeiros do Ministério da Educação e Sindicatos de Professores procederam rapidamente à limpeza do pavimento e a situação já regressou à normalidade.

quarta-feira, julho 12, 2006

Última hora


[1108]

Finalmente, Z. Zidane decidiu falar e explicar a sua cabeçada. A Lusa emitiu um comunicado do jogador onde ele afirmava:

“Contive-me quando ele disse que tinha dormido com a minha irmã. Suportei com estoicismo quando ele insultou a minha mãe. Aguentei-me ainda quando ele me chamou terrorista. Mas quando ele me disse que eu ia jogar para o Benfica… aí não aguentei e dei-lhe mesmo”.

Recebida da Passada por sms

Imperdível

[1107]

Para começar o dia bem disposto. Ou não, como diria uma amiga minha.
Portugal no seu melhor.

Via Blasfémias.

terça-feira, julho 11, 2006

Entretenimento em estado puro...


[1106]

… é o que se consegue com a atordoante Jennifer Aniston (ainda não percebi Brad Pitt dropping this "state of art woman" para levar Angelina Jolie para Gaberone ter um filho, mas cada um sabe de si…) e o impagável Vince Vaughn na comédia romântica The Break-Up (Separados de Fresco). Por isso só cheguei agora a casa e vim a pensar que às vezes parece fácil fazer filmes. Basta sermos nós, ter um bocadinho de graça e saber falar. O filme é uma delícia, quase tão delícia como Jennifer e Vince tem cada vez mais graça.

Dois excertos de diálogo entre os dois:

Gary (Vince): Richard did not kick my ass, what Richard did was attack me while I was half asleep.

Brooke(Jennifer): Really? Is that how you see it?

Gary: Theres a really big gap between getting your ass kicked, and having a dancing, singing sprite fool you with trickery, and then strike your throat before you know that you're even in the fight. But I wouldnt expect someone like you to understand that, because all you do is make moves from up in your ivory tower.

... ... ...

Brooke (desculpando o procedimento errático de uma irmã): She's been through a lot
Gary:
...of dick

É de direita, MAS é um gajo porreiro


[1105]

De Boaventura Sousa Santos ouvi e li pouco mas o suficiente para quase me ter zangado com uma grande amiga de Coimbra. Só por isto não gosto dele. Mas o homem hoje, no Forum TSF, excedeu-se. Então não é que ele acha que muitos países usam símbolos nacionais na sua divulgação, como a Espanha, por exemplo, que nos menus da Iberia inclui especialidades espanholas (ele disse um par delas, mas "passou-se-me"…) - porque não há-de a TAP fazer o mesmo? (Por acaso BSS escolheu um mau exemplo, a Tap tem uma excelente tábua de queijos portugueses na executiva e inclui pastéis de nata e pastelinhos de bacalhau nos snacks). E dizia mais: - "Não confundamos as coisas porque neste caso, o nacionalismo é bom, o nacionalismo pode ser de direita MAS, neste caso, é bom".

O á vontade e despudor com que algumas pessoas ousam assumir este arzinho paternalista e pedagógico sempre que se fala de esquerda e de direita é do mais provinciano, mentalmente pelintra, insuportavelmente arrogante e, quase que diria, freudiano que possamos imaginar. É a teoria do é de direita MAS é um gajo porreiro, uma asserção só comparável a "o Fonseca é um gajo porreiro. É do Benfica, MAS é um tipo muito fixe".

No caso vertente apetece-me dizer que BSS é sociólogo, escreve com sintaxe apurada e fala com desenvoltura, MAS é um chato petulante.

Fazer o mundo pulsar


[1104]

"…porque nós somos pequenos, mas não somos pequenos. Somos até o ventrículo esquerdo do mundo. O hardware (o homem disse arduerde, mas é possível que seja já embirração minha…) para o desenvolvimento automático do mundo…" (sic)

Isto de misturar assuntos de coração com informática só pode acabar mal. Um dia acaba mesmo…


In Forum TSF, 11/7, a propósito do comportamento da selecção nacional

Are you proud of it?


[1103]

A primeira coisa que um repórter que se preze pergunta a um português bem sucedido no estrangeiro é se ele se sente orgulhoso em ser português. Naturalmente, a resposta chega, emotiva e em fluent english que "of course I’m very proud of it"... É raro o futebolista brasileiro famoso que não seja questionado sobre as suas raízes transmontanas e até Tom Hanks revelou uma difusa e divertida ancestralidade açoreana e nós ficámos todos contentes.

Agora foi a vez de um Abreu, cujo primeiro nome me passou, luso descendente na África do Sul e vencedor do logo do campeonato do mundo de futebol na África do Sul. Naturally, he’s very proud of being Portuguese and he’s very happy to have won the contest.

Dá-me muito gosto ver portugueses e descendentes de portugueses com sucesso no exterior. Eu próprio me recordo quando os sul-africanos perceberam que também havia professores, engenheiros, juristas, médicos e investigadores, depois das independências das nossas colónias. Mas esta bizantinice de se perguntar a cada português bem sucedido se tem orgulho nas suas raízes é reveladora de uma mentalidade pequenina por parte de gente que, provavelmente, beneficiaria muito de uma estadiazinha no exterior que lhe alargasse um bocadinho os horizontes. Visuais ou aparentes.

segunda-feira, julho 10, 2006

Itália




Italian girl - Circa 1842


[1102]

Ainda bem que a Itália ganhou. Tem muito mais a ver comigo que aqueles “panacas” dos franceses. E nestas coisas de futebol podemos e devemos ser sectários. Temos mesmo a obrigação estrita de o ser.

33º


[1101]

Minha querida amiga. É nestes dias que me lembro de
ti com mais cumplicidade. Soframos a canícula dos dias que se avizinham com um sorriso nos lábios, por muito amarelo que seja. Cantemos a bem aventurança do ar frio e leve que não deve voltar antes de Outubro, Novembro e juntemos esforços para que Agosto e Setembro não nos moam as meninges nem nos retirem o discernimento necessário, sempre que ouvirmos pedir uma bica bem escaldada ou uma mãe extremosa atirar uma recomendação para o telefone, no sentido de que a sua criança não se esqueça de levar um casaquinho porque à noite arrefece. Tu, que utilizas transportes públicos, ergue os olhos aos céus e pede para que o ar condicionado dos autocarros não se escoe por todas as janelas abertas do veículo. Sobretudo, mantém-te solidária comigo neste pesadelo que parece ter chegado para ficar e que é, consabidamente, um meio de vida apenas para animais de sangue frio, tipo salamandra, osga, lagartixa azul e iguanas enjoadas. Força, Ana. "Eu estou aqui", como o Pedro Abrunhosa no tal Banco. Solidário, cúmplice e, já agora, à beira de um ataque de nervos, que nem as mulheres de Almodôvar!

domingo, julho 09, 2006

Bad Dream


[1100]

Eu sei que passo diariamente, a caminho do trabalho, à beira de Carcavelos e Santo Amaro de Oeiras. Mais ou menos por essa altura ouço na rádio que a água de Santo Amaro de Oeiras está imprópria para banho. Mas eu vejo milhares de pessoas, dentro de água, banhando-se com alacridade e absorvendo fungos, bactérias e coliformes fecais por cada poro que têm na pele e ainda se riem por cima.

Terá sido por isso que eu esta noite tive um “bad dream”. Ou comi alguma coisa indigesta ao jantar ou adormeci a pensar que todos os dias, milhares de pessoas estão a apanhar doenças de pele, de esófago, de olhos, de fígado. E ainda se riem por cima. Com sorte, ainda poderão apanhar com um arrastãozito, daqueles que a Diana Adringa e o Daniel de Oliveira dizem que não há.

E sonhei com isto. Com isto, lá em cima. Não acham que até pode fazer mal? Uma pessoa não está preparada, não é?

Aqui e ali, uma saudade


[1099]

Contrariamente a muitos dos meus amigos, é nesta altura do ano que eu tenho uma saudade especial de Maputo. É o Inverno, o frio, as neblinas matinais e uma luminosidade resplandecente durante o dia a banharem um mar calmo, muito azul e muito silencioso que nos permite navegar sem estremeções durante vinte e cinco ou trinta milhas até atingirmos os nossos pesqueiros de eleição. O peixe é mais pequeno que no Verão, mas mais abundante. Há também uma família de baleias (quem sabe se sempre as mesmas ao longo dos tempos) que todos os anos se instala no Baixo Danae e por ali se mantém durante praticamente todos os meses de Junho e Julho, até abalarem de novo para as águas frias do Sul. É a altura ideal para se mergulhar, também. A água é mais fria, mas nada que não se resolva com um bom fato de mergulho. Nas marés mortas não há praticamente correntes, sobretudo nos pontos de viragem da maré, pelo que a visibilidade se alarga por dezenas de metros e se “afunda” até vinte e cinco e mais metros.

Foi nesta altura do ano que os irmãos Morgado me desafiaram uma vez em que casualmente nos encontrámos no mar, para parar o barco perto do “Cockburn” e mergulhar com eles. Em cinco minutos me vesti e os acompanhei. O mar ali tem cerca de trinta metros de profundidade que nós descíamos até cerca de metade, porque do fundo elevava-se uma garoupa gigante com mais de duzentos quilos que se abeirava de nós até cerca de um metro e nos observava com curiosidade. Era uma cena de dez a quinze a segundos, após o que tínhamos de vir respirar á superfície, notando que à nossa subida correspondia o regresso da garoupa ao fundo. E mergulhámos cerca de uma dúzia de vezes e por uma dúzia de vezes a garoupa correspondeu á nossa visita, de olhos redondos e boca imensa e sem dentes.

O Rui e o Jorge, irmãos e mergulhadores experientes visitaram a garoupa talvez uma centena de vezes durante dois anos. Durante esse tempo procuraram dar-lhe de comer à mão. A garoupa nunca aceitou, limitando-se a conceder aqueles segundos de convívio de cada vez que se dava a aproximação.

Um dia a garoupa desapareceu. O mar é assim. Nunca é igual por muito tempo. Está em constante mutação e daí eu dizer que das centenas de vezes que saí para o mar, nunca tive duas viagens iguais. Reside aí, talvez o seu maior fascínio. Como tudo na vida, afinal. Será o sortilégio da mudança que produz o fascínio sem o qual poucos de nós saberíamos viver. Tal como aquele peixe enorme que se deve ter cansado de nós e abalou para outras paragens.

E hoje é Domingo, é Julho, eu agora não tenho barco e lembrei-me da garoupa que visitei com os irmãos Morgado
.

E agora?


[1098]

E agora? Entretemo-nos com quê? Um faducho e uma ida a Fátima?

sexta-feira, julho 07, 2006

Dois anos a espumar


[1097]

O
Espumadamente completa hoje dois anos. Sem interrupções e servindo o propósito original, entreter o dono. Incidentalmente parece ter entretido mais gente e, mais importante, ter gerado amizades e cumplicidades.

Um abraço e beijos para todos e um agradecimento muito sincero pelas inúmeras provas de apreço que tenho registado ao longo deste período.

Actualização: Já depois de ter escrito esta nota, verifiquei que a
Carlota já me estava a felicitar lá no Lote. Com a graça e simpatia do costume. Uma beijola muito grata para ela; o Shark também já tinha escrito um post. Obrigado e um abraço. Obrigado também à Laura Lara, querida e atenta, como sempre; à Sinapse, que andava baralhada, mas já lhe fiz uma sinopse da coisa, porque sinapse sem sinopse é complicado. Beijinho; à Gota , que não leva link porque não tem, mas que é uma assídua leitora e comentadora; ao Torquato da Luz, que é capaz de fazer um poema de um candeeiro a petróleo ou de um político na reforma, com azia do almoço. Um grande abraço; ao Old Man, um abraço sem ser old e que é minha leitura diária, também; à MCM, que anda toda vaidosa por ter uma filha jornalista. Beijinho e parabéns, também; À Isabella (a minha inimiga mais amiga, tão inimiga que até achei que ela torcia pelo Togo e que também me dedicou um post), um beijinho amigo; à Madalena que é capaz de tornar um limão doce, um beijinho muito amigo também; à a lice, (merecidos...); à dakidali, que ando para lincar há séculos e nunca mais calha. Obrigado; à Princesa, que eu não conheço, mas só pode ser boa pessoa; à Ti "mailinda", beijinho grande aí para os shelves todos; à Lurdes, que resolveu cuscar, um beijinho; à Luna, que fez um post querido; ao Bekx, um grande abraço; à malta do Jerrassão Rasca que curte bué e fez um post bué da cool, um "abrasso"; à Miss Springs que toda a gente sabe que mora em Roma mas que não faz a mínima ideia onde moro eu e que fez um post muito giro. Um beijinho. À Miss Pearls que vai conferindo o "touch of class" que por vezes irá faltando por aquilo que vou escrevendo. Um beijinho amigo, Isabel; à Lilla Mig, um beijinho amigo; à Formiga, que tem andado a hibernar, mas um dia destes volta em força; à 125_azul, que por lá por ser 125 acha que tem de ir todos os fins de semana para o Algarve. Para a Alexiaa, obrigado e um beijinho também. E se por acaso me passou alguém, peço desculpa. Um abraço para todos.

quinta-feira, julho 06, 2006

Insónias


[1096]

Um dia destes acordo. Estou cansado de dormir e deixar passar os sonhos à minha frente apesar de os viver com sofreguidão ou estoicismo, conforme sejam bons ou maus. Eu gosto de me sentir a dormir, percebo, percebo tudo, sei que estou a dormir e que sonho mas também sei que estou suficientemente acordado para o perceber. É um dos males. Durmo acordado e vivo acordado com uma considerável porção das minhas aptidões adormecidas, seja por preguiça, seja por inércia em repouso, seja porque gosto de configurar situações da minha vida numa atitude cordata e plasmá-las no respeito e no trato polido, a que acho devermos dar primazia nas relações humanas. Mas um dia destes acordo. Acordo todo. Com isso perderei talvez muito do encanto com que vamos enfeitando os sonhos todos os dias, mas ganharei certamente um sentido mais pragmático das coisas e das pessoas. Perco em ilusão, ganho em resultados práticos da vida. Tenho medo é de me cansar tanto de estar acordado que prefira voltar a adormecer-me na letargia própria dos meus níveis de exigência e, depois, me dê uma insónia tão grande que nunca mais consiga sonhar
.

Nomes traiçoeiros

[1095]

Se o Mário Mata,
a Florbela Espanca,
o Jaime Gama
e o Jorge Palma,
que é que a Rosa Lobato Faria?
Talvez a Zita Seabra
para o António Peres Metello
...
Recebida por mail

quarta-feira, julho 05, 2006

Um mimo logo pela manhã

[1094]

Um
mimo destes logo pela manhã sabe bem e derrete-nos ao frio. Uma pessoa abre o blog antes de ir trabalhar e vê isto, certo e sabido que se vai a babar para o duche, corta-se a fazer a barba e pensa cá para os botões que esta coisa dos blogues, se mais não tivesse, tem disto. Favorece um tecido de relações de amizade que muito prezo.

Um grande beijinho para esta
gaija do norte que não se esqueceu, que me visita todos os dias, que escreve admiravelmente e que tem os olhos mais bonitos ao norte do Mondego.

Obrigado, minha querida amiga e um grande beijinho para ti.

terça-feira, julho 04, 2006

Busy


[1093]

Afazeres e curtas viagens têm-me impedido de postar com a regularidade que desejaria. Não porque deva, mas porque gosto. Gosto de vir aqui, gosto de escrever qualquer coisa e, sobretudo, gosto de ler o mundo da "blogos". Ler, sobretudo, os que gosto de ler. Cada um à sua maneira, com o seu próprio estilo, o seu próprio tema ou sem tema nenhum, divirto-me com os comentários e partilho algumas emoções. E depois, há os blogues de referência, aqueles que informam tudo, mais e mais depressa que os jornais e, frequentemente melhor. Tenho “espreitado” os blogues, havendo mesmo aqueles que não dispenso, significa que mesmo a tempo curto tanto fico a saber das razões da demissão de Freitas do Amaral como do concurso do Thumb…thing, e desculpa
minha querida amiga, mas não me lembro sequer do nome da coisa. Acho que é mesmo só coisa, não é? Thumbthing, ou “something” like that!. Estou nessa, não sei se o concurso tem limites de idade, sexo ou credo religioso ou cor de peúgas, mas eu quero um thumb… pois. Tal como não perco a verdadeira reportagem beirã da Laura, os silêncios da Sinapse e as surpresas da 125 e vou ficar por aqui senão gasto trinta linhas a mencionar nomes de pessoas que leio e de gosto.

Estou um bocadinho mais solto. Procurarei não ter brancas de três dias. Como aconteceu agora. Boa semana de trabalho para todos.

Depois admiramo-nos...


[1092]

Estes dois exemplos citados pelo Blasfémias, a propósito dos exames nacionais dão boa conta de como o ensino continua a fazer-se ao atropelo dos mais elementares deveres de alguns dos professores juntos dos seus alunos, homens e mulheres de amanhã. Não hesitando em sacrificar a génese do que deveria ser ensinado em favor de uma noção enviesada e carecida dos mais elementares sentidos de responsabilidade pela formação dos jovens.

Este exemplo do Exame do 12º ano de Português B é bem elucidativo de como um grupo de pessoas, ainda hoje detentoras de poder, consegue manipular as coisas de uma forma absolutamente obscena. Misturando alhos com bugalhos, para esta gente é completamente descartável a questão de um jovem vir a poder expressar-se ou não em Português correcto, desde que tenha a noção que
as grandes potências partiram à descoberta do espaço porque não sabiam, não podiam ou não queriam utilizar os imensos recursos de virtualidades quase infinitas, em benefício do homem e de todos os homens.

Estes exemplos são revoltantes e um sinal inequívoco de atraso e explicam muita
coisa.

sábado, julho 01, 2006

Heróis do mar



Fotos fresquinhas de há bocado, do site da FIFA

[1091]

Sempre achei que Scolari tinha a obrigação de seleccionar o Vítor Baía. O Ricardo só defendeu três, o Baía poderia defender quatro e nós ganhávamos um minuto mais cedo!...

É incontornável não dizer nada sobre o jogo. Grande equipa e um excelente e emotivo espectáculo. Parabéns àquele grupo de tugas descomplexados e àquele brazuca que mostrou que sabe da poda.

Xiça


[1090]

Vou tomar um comprimido!

Reparando melhor...


[1089]

... na foto do post anterior, é giríssimo como a primeira coisa que salta á vista é... a extraordinária regularidade do círculo formado pela cauda.

A natureza tem destas coisas. Onde menos esperamos, a natureza concede-nos a graça de nos mostrar como é perfeita, seja a desenhar um par de asas rigorosamente simétricas de uma borboleta (reparar na foto acima), seja a produzir círculos perfeitos, apesar da dificuldade do material - no caso vertente um rabo fibroso, ossudo e irrequieto. Sobretudo, como se espera, se o rabo pertencer à classe de porcos descritos no post anterior. E perdoe-se-me a possibilidade de eu ter gerado alguma expectativa naqueles que, eventualmente, admitiram eu ter reparado em qualquer outra particularidade física do porco.

Já nos homens a coisa não saíu tão perfeita. Em bom rigor, tudo aquilo que o homem tem aos pares (narinas, orelhas, mãos, ... isso, também, claro, carece de simetria. Há sempre diferenças, nuns casos mais visíveis do que noutros, mas há. Ou não há
?

Já rebarbativamente estucha...


[1088]

... e tão certo como como dois e dois são quatro é autores de comentários
como este serem, habitualmente, os primeiros a exprobar aqueles que insinuam correr com alguém à pedrada, chamando-lhes direita torcionária. Provavelmente, porque "chapos pedagógicos" sempre contêm um sentido mais humanista, solidário e internacionalista que uma vulgar pedrada.

Por outro lado, a expressão porco neo-coneiro terá de ser passada ao largo. Por mais voltas que dê ao porco ao neo e ao coneiro, ainda que consiga encontrar significado para cada um dos termos de per se, já para a expressão, na sua plenitude, não logro descortinar qualquer sentido. Terei de remeter-me à condição de ignorante sobre assuntos neo-coneiros.

É que já não há pachorra...

Já tipicamente rebarbativa...

[1087]

...é
a reacção de Luis Rainha no Aspirina B. Nada de novo, afinal. Desta vez, uma reacção devidamente ilustrada por dois eloquentes comentários que vale a pena ler.

Notável

[1086]

Este artigo de
Luciano Amaral no DN.

“…É este o curriculum da irresponsabilidade europeia e dos seus instrumentos de política externa favoritos. Uma irresponsabilidade própria de quem, precisamente, não se sente responsável por nada, mas vai deixando atrás de si um rasto trágico. Perante isto, compreende-se que haja apenas uma solução: culpar Bush. É fácil e sempre dispensa de se pensar e fazer qualquer coisa.”

Ler todo o artigo
aqui.

"Taimingues"


[1085]

Há um consenso alargado sobre a habilidade do nosso primeiro ministro em anunciar a demissão de Freitas do Amaral na véspera do Portugal x Inglaterra. Comentadores, jornalistas, directores de jornais, colunistas, todos concordaram que o “timing” foi perfeito (sic) e que depois do jogo de Portugal já ninguém se lembrará da demissão de Freitas.

Eu não duvido da bondade do timing. O que me faz uma grande confusão é a aceitação plena de que para se lidar com as pessoas é necessário ser habilidoso, ter um apurado sentido de oportunidade e uma argúcia invejáveis, por outras palavras, o ideal é ir fazendo as coisas, boas ou más, é irrelevante, sem “o pessoal” dar por isso, ou que dê por isso, mas não muito. Garantidamente teremos a inteligência da paróquia a gabar-nos o engenho. Donde presumo que ser ladino e chico-esperto, paga. Ser frontal e claro é que já é mais complicado e mais perigoso.

Mas não se pense que a culpa é só das peças do nosso xadrez político. O trágico é que eles acabam por ter razão. Imagine-se no caso vertente, remodelar o MNE numa período sem notícias de substância. O quer não daria em páginas e jornais, “escolhas de Marcelo”, artigos do Miguel de Sousa Tavares (entre duas patacoadas sobre o FêQêPê) e arrotos do Manuel Serrão. Assim, e para já, o único facto de relevância foi a primeira página do Expresso de hoje, excitada a dizer “afinal nós tínhamos razão", que é uma expressão que os jornalistas adoram e usam recorrentemente, já não tão em uso quando, por exemplo, fazem um estardalhaço a dizer que “na semana das pontes” não estava ninguém nos “serviços” da Câmara e o desmentido de Maria José Nogueira Pinto vem desterrado para um cantinho microscópico, de tamanho e de substância. Tão microscópico que Maria José viu-se obrigada a fazer
um artigo de opinião no DN. Artigo onde o Expresso, realmente, ficou muito mal na fotografia.