segunda-feira, agosto 31, 2009

Sabor a pato


[3331]

Como de tudo. Sou aquilo que se chama uma «boa boca». Peixe, carne, legumes, frutas e farináceos. Massas, arrozes, solanáceas e cucurbitáceas, crucíferas, liliáceas e umbelíferas, alcachofras e papilionáceas. Lacticínios de toda a espécie, desde que não seja leite, por causa de um trauma de juventude, quando vi um colega ganhar uma aposta ao beber leite em circuito directo do teto de uma vaca holandesa para a boca. Boca, dele, bem entendido, mas boca. Nas carnes, também não sou esquisito, Vaca, porco, borrego e javali. Aves de muitas espécies. Galinha, peru, codorniz, perdiz, avestruz e outras aves. Aves? Bom, aqui reside a excepção. Não suporto pato. Eu diria mais. Não é uma questão de não gostar de, é uma absoluta incapacidade de deglutir semelhante anserídeo. Sabe-me mal, sabe-me a pato, a capoeira, é uma ave deselegante e desengonçada, lembra-me alguma gente que eu conheço. Há mesmo patos com umas verrugas horrendas vermelhas (carúnculas) por cima do bico que lhes dão um ar putrefacto em vida o que, convenhamos, é desagradável à vista. Não gosto de pato, ponto final. Arriscaria mesmo em dizer que devo ser o único português que não gosta de pato, a avaliar pela expressão extasiada de gente conhecida e colegas de cada vez que lhes dizem nos restaurantes que «há arroz de pato», hoje por hoje um dos pratos portugueses mais desenxabidos e da mais pobrezinha imaginação e que consiste num vulgar arroz feito com a água de cozer o pato, servido numas travessinhas pirosas de barro, com uns fiapos do marreco e uma rodela de chouriço por cada mastigante.

Mas isto vem a propósito de quê? Eu explico. Vem a propósito da frustração indizível de percebermos que quando julgamos que as filhas absorveram pela osmose única da família as idiossincrasias dos pais e tomamos isso como um facto adquirido, acabamos por verificar que em cerca de um ano esse conhecimento passa à história, só porque começam uma nova família.

A minha filha mais nova convidou-me ontem para jantar. Entrei, deu-me o beijinho e disse: Pai, senta na sala. Tenho ali uns peitos de pato à… (confesso que me passa o nome, era um nome queque e que nem parecia de pato, mas é que a palavra pato embota-me a memória). Olhei para ela, chorei para dentro e pensei que, na verdade, a vida continua. E continua tanto que o passado se torna um mero instrumento de retórica. Tipo contar aos netos que não gostamos de pato e esperar que eles se vinguem nos pais quando daqui por vinte e três anos se esquecerem do que é que eles gostam e não gostam. E lhos digam. E que eu cá esteja para bater palmas.

Sentei-me na sala, pensativo. O Liedson, entretanto, marcou um golo e aqueceu-me um pouco a alma.

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domingo, agosto 30, 2009

Sem eira nem beira…


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Lemos a entrevista de Zé Pedro ao Jornal de Leiria e pasmamos. Ou não. Afinal, nada de muito diferente acontece nessa entrevista em relação aos costumes. Mas no caso dos Xutos há a agravante não despicienda de a banda ter usado em seu proveito uma musiqueta que atacava Sócrates com violência. Depôs a gente lê a entrevista e conclui que este rapaz está mesmo sem «eira nem beira». E ocorre-me que nunca Zé Pedro mereceu tanto o nome da banda que integra: Xutos e Pontapés. Num sítio que eu cá sei não se perdia nada.

P.S. Lamentável o aproveitamento que o Simplex, com a maior desfaçatex, faz (ou parece fazer, vai-se a ver é ironia…) desta passagem da entrevista.

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Ora aqui está uma opinião com caroço


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Não consigo link mas li no Público que Carolina Patrocínio afirmou que "Portugal foi objectivamente um dos primeiros países a sair da recessão técnica e isto assinala o início da retoma económica”.

Prontes, estou muito mais descansado.

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Home, sweet home


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Uma pessoa anda um par de dias retirada da intriga nacional e depois estranha. Por esquisito que pareça, dificilmente consegui ligar para as televisões de sinal aberto e TVI24 e SIC-N que não deparasse com Sócrates a esbracejar e de indicador espetado.

Considerando que por várias vezes referi que já me sinto genuinamente embaraçado em ouvir este homem a falar, é fácil perceber que me bastava a sua imagem para eu dar corda ao controle remoto, pelo que verdadeiramente nunca cheguei a saber o que é que ele dizia. Mas depois damos uma vista de olhos pela Blogo e percebemos que para além do embaraço se começa a desenhar uma certa esquadria de grotesco em tudo o que Sócrates diz. Se acrescentarmos o discurso mais ou menos psitacídio das claques que se segue a cada uma das suas intervenções, o grotesco começa a adquirir contornos de iminente catástrofe natural.

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quarta-feira, agosto 26, 2009

Volto já


[3327]

Vou ali e já venho.

P.S. Não sem deixar uma beijola amiga à Carlota por ter tido a trabalheira de alterar datas de jantar e eu sem poder retribuir. Às vezes é nestas pequenas coisas que reparamos como as pessoas podem ser grandes.

E, já agora, um bom regresso a Bruxelas.

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Reflexão a fechar um dia de férias demasiadamente curtas


[3326]

Afastar Cândida Pinto e ter o processo Freeport resolvido antes das eleições legislativas (em consistência com o vaticínio da própria Cândida Pinto, há algum tempo), como, de resto, processos e questões apendiculares como a – alegada – pressão do presidente do Eurojust sobre magistrados, mais do que um sinal da desejável eficiência da nossa justiça, teria sido um acto de decência e de higiene.

Assim, da forma como tudo está a correr, consolidamos a ideia generalizada de que muito do que temos e somos é pouco confiável. E recorda-nos de que além de pouco já valermos como povo, estamos comprometendo definitivamente o nosso futuro como nação, merecedora do respeito devido enquanto tal, no inevitável concerto regional em que temos necessariamente de estar incluídos.
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Pensar nas pessoas 2


[3325]

Evidentemente que concedo algumas excepções aos desígnios de António Costa. Ver as ruas do Bairro Azul assim, como na foto, poderia constituir uma plausível razão para acabar com os carros em Lisboa.

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Pensar nas pessoas


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Pensar nas pessoas – aqui está uma expressão querida à esquerda moderna que não percebe que de tanto pensar nas pessoas acabam por chateá-las até ao tutano e prejudicá-las consideravelmente. A esquerda pensa nas pessoas quando projecta aeroportos, TGV´s, aumenta o défice, corta o tráfego automóvel, condiciona acessos ou visita bairros problemáticos de cada vez que alguns dos seus moradores assaltam, roubam ou molestam outras pessoas (por acaso também pessoas, mas não servem tão bem o propósito).

António Costa deve ter pensado pelo menos em dez pessoas que estão a precisar de fazer exercício. Elas terão, a breve trecho, uma ciclo via onde poderão derreter lípidos e colesterol, desentupir artérias e enrijecer os gémeos. Em breve teremos dez pessoas mais saudáveis e que, eventualmente, viverão mais tempo (se, lagarto, lagarto, não caírem da bicicleta).

O custo desta medida será o aniquilamento de 400 a 500 lugares de estacionamento no Bairro Azul. Mas também, por que diabo é que esta gente se havia de lembrar de ter carro? Costa já disse que quer acabar com os carros em Lisboa, uma tirada que lhe vai muito bem com a gravata e muito em uso nesta repartição. Cai mal a toda e gente que tem e precisa de carro para se deslocar mas cai-lhe bem a ele mai-los seus correligionários.

Não caírem eles da bicicleta…
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Internacionalistas


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A vinda recente de uns quantos médicos para Portugal e a sua respectiva mediatização deu-me que pensar.

- Estas missões internacionalistas ainda dão direito a pontos, tipo BP ou Galp, mediante os quais os «voluntários» têm direito a um par de torradeiras quanto voltam a casa?

- Os médicos em questão têm as qualificações necessárias? Ou são os conhecidos eternos finalistas de medicina que Fidel não deixa acabar o curso para evitar que eles debandem do paraíso do comandante, tal como fazia, aliás com os advogados?

- Mesmo não sendo contas do nosso rosário, os salários são pagos aos interessados? Ou são pagos ao governo cubano através de protocolos adequados mediante os quais os internacionalistas apenas recebem um subsídio local estritamente de acordo com as suas necessidades básicas?

Mesmo dando de barato que Cuba e Venezuela são, hoje por hoje, um fetiche da esquerda intelectual portuguesa (entenda-se aquela que acha que se pode e deve criticar os regimes de Chavez e Castro mas que encontra sempre um fundo «humanista» nas barbaridades de cada um deles), gostava de ter respostas a estas minhas dívidas. Para além de me explicarem a diferença entre o escarcéu habitual com a vinda de médicos vizinhos espanhóis e a solene mediatização concedida aos «internacionalistas» cubanos.

Nota: Esta nota nada tem a ver com os médicos em si, como pessoas. Conheci situações semelhantes com outras profissões, como a de pilotos de pulverizações aéreas, por exemplo, onde encontrei e acabei por fazer amigos, na convicção pueril de que o mundo era assim (subsídio local, salário para o partido, pontos para a torradeira, etc.). Nesse grupo de amigos descontava os bufos, naturalmente sempre incluídos nos «grupos de trabalho» para manterem os niños na ordem e evitar que se rendessem aos pecados do capitalismo e se «esquecessem» de apanhar o avião de volta.

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domingo, agosto 23, 2009

Juke box 74

[3322]

Let´s make a nice piece of Sunday!

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Em defesa da Carolina

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Ainda não percebi os pecados da Carolina. Só comer cerejas sem os caroços que a empregada lhes tirou, preferir uvas sem grainha e não gostar de perder, preferindo fazer batota, entre outras afirmações, são afinal uma imagem de marca dos portugueses em geral e da juventude em particular. Sendo que a juventude tem menos culpas no cartório pois, como se espera, seguir os exemplos dos meus velhos é uma prática desejável.

Já Sócrates deveria limpar as mãos à parede com a escolha que fez. Ou não. Porventura ele próprio se revê na filosofia (!!) da Carolina, habituou-se a comer cerejas descaroçadas (às vezes até se perdem os caroços, depois), uvas sem grainhas e quanto a batota, parece que começou bem cedo com os projectos da Guarda (não vejo que outro nome se possa dar àquilo) ou com os diplomas dominicais (continuo a não ver que outro nome se possa dar àquilo). Isto para nos cingirmos apenas às afirmações da mandatária para a juventude. Porque há mais, evidentemente.

Exaltemos, pois, a Carolina como alguém que não precisa de explicador para aprender bem a matéria. Quanto aos que a escolheram, afinal onde está a novidade? Não são eles próprios batoteiros, com mau perder e dados à cereja descaroçada?

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sexta-feira, agosto 21, 2009

Eu tenho um art director


[3320]

Não parece, mas eu tenho um Art director. Foi ele que me tratou de passar o Espumadamente meio mostrengo que tive para oferecer durante quase cinco anos para a obra de arte que é hoje. Para que conste, não lhe pago, embora condescenda em dar-lhe o privilégio da minha companhia ao almoço. Pouca coisa, se pensarmos que outorgo o mesmo privilégio a outros mastigantes que não são directores de arte nenhuma. São directores de outras artes que não vêm ao caso, mas de arte, arte pura, não. Finalmente tenho ainda de declarar que não votamos no mesmo partido. Eu voto bem e ele vota mal, porque a única coisa que conseguiu até hoje foi um lugar de prelesidente de junta, coisa aliás que lhe vai bem com as camisas de dois tons e com o telefone número 3 que ele gosta de usar. Mas pronto. Tenho um art director. Para que se saiba. Para que conste.

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Ainda se lembram do Fripór?


[3319]

Se eu tivesse vários depósitos avultados, na ordem dos €200.000 e não me lembrasse porquê, como e por alma de quem, de certeza que ia ao médico certificar-me de que estava com as meninges no sítio. Mas há gente que não se importa. Não sabe, não viu, não se lembra e, com jeitinho, deve ter raiva a quem sabe. Porque de certeza que as pessoas vão logo aproveitar estes lapsos de memória para continuar as campanhas negras, só porque o beneficiário dos depósitos foi presidente do Instituto de Conservação da Natureza no tempo de Sócrates como ministro do ambiente.

Um país de má-língua, é o que é.



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É a vida...


[3318]

O novo Street View da Google já está envolto em polémica. Na Alemanha, por exemplo, já há queixas. Em Portugal, para além de já me ser possível saber se a vizinha está de janela aberta, surgem flagrantes como os das fotos. Casos destes (ao cimo do Eduardo VII) deveriam ter uma chamada tipo «aumentar bem a imagem e vai ver que a senhora está apenas a conversar com o cavalheiro». Aqui.

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quinta-feira, agosto 20, 2009

Caldeirada à Isaltino

[3317]

Não sei quem faz estes vídeos, nem como. Mas para soltar uma boa gargalhada, serve. E haverá coisa melhor que uma saudável e sonora gargalhada? Nem a caldeirada de Isaltino. Riamo-nos (não deu erro ortográfico, deve estar certo) que o Verão está aqui está a acabar.

Via 31 da Armada

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Picaretices


[3316]

«...Sócrates não é tipo para "debates". É um solipsista que fala essencialmente dele e para ele. Sem encanto, imaginação, rasgo ou qualquer tipo de sofisticação. Lá onde o outro era uma "picareta falante", este é um falante que gosta de exibir picaretas...»

«...Sócrates, pelo contrário, sabe que o país já mal o pode ouvir...»


João Gonçalves, aqui.

Há um pormenor em que discordo do JG. Quando ele diz que o país já mal o pode ouvir, há que descontar aqueles que não só o ouvem (mesmo que o detestem), como acordam diariamente a pensar na cantata socrática que farão ao longo do dia. Vá lá saber-se porquê.

Um outro pormenor em que discordo é que há muitos que já passaram de nível. Do «nível mal o podem ouvir» passaram ao nível seguinte de absoluta incapacidade de ouvir sequer o seu timbre de voz. Ao ponto de mudarem de restaurante sempre que aquele em que acabaram de entrar tem a televisão sintonizada na SIC, já que esta estação agora resolveu acompanhar o Grande Líder ao milímetro. Vá lá saber-se porquê...
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quarta-feira, agosto 19, 2009

Hilariante

[3315]

Já viram o filme? Bruno (Sacha Baron Cohen) explica como é que conseguiu um terrorista para entrevistar.

«It’s not that easy to find a real terrorist, you know?»

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Comer e calar


[3314]

Aqui há um tempo a minha filha levou um formidável murro no queixo, enquanto esperava que o metropolitano arrancasse, na estação do Campo Grande. Sentada com uma colega, no regresso da faculdade, aguardava que o comboio arrancasse quando dois animais se lhe dirigiram com uma série de obscenidades. Como elas se levantassem para mudar de lugar, um dos animais, o mais repelente e maior, assentou-lhe um murro na boca. Confusão, um polícia à paisana que consegue apanhar um dos animais (o animal que bateu conseguiu fugir) e uma queixa apresentada na esquadra da estação do Marquês de Pombal. Quando levantei dúvidas sobre a utilidade de apresentar queixa (a minha filha ainda era menor), o polícia insistiu, porque conhecia o animal, sabia muito bem onde ele morava e aquilo era trigo limpo. O animal morava em Loures e ia lá e prendia-o.

Dois anos depois, surge uma convocatória da PSP de Cascais a intimar a minha filha para comparecer no posto. Telefonei para lá, li a intimação e de lá disseram que era para ser informada que tinha de ir à esquadra de Carcavelos. Pedi o contacto e telefonei para Carcavelos. Fui informado de que era para dizerem à ofendida que não tinham prendido o animal e que iam arquivar o caso. Não liguei mais ao assunto até cerca de duas semanas depois, quando me aparece um polícia, educado, à porta de casa a perguntar pela minha filha porque ela tinha faltado ao tribunal e ia, assim, detê-la…. E para não fazer disto uma longa história, direi apenas que expliquei que ela já tinha saído para as aulas, que eu era o pai e que ia lá eu, mas não escapei de ter de pagar duas unidades de conta (mais de €300) por ela ter faltado ao tribunal. De pouco valeu eu ter dito que tinha telefonado para a esquadra de Cascais e de Carcavelos e de ter tomado a informação de Carcavelos como final – que o animal não tinha sido apanhado.

Este episódio vem a propósito desta notícia. O que me leva a pensar que nesta terra o melhor é comer e calar. É que as coisas depois embrulham-se tanto que uma pessoa ainda acaba a pagar custas ou unidades de conta por ter faltado ao tribunal, para lhe dizerem que não apanharam o agressor. Mas não contem nada a Sócrates que ele anda muito ocupado a visitar escolas desde que saiu a notícia dos 40 milhões do Ministério da Educação sem concurso público (se não souberem bem do que se trata é ouvir a SIC com atenção que esta estação explica os passos do Grande Líder ao milímetro e ao segundo) e não tem tempo para disparates de Verão.
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Coisas


[3313]

Ou é a season que é mesmo silly ou começo a ter dificuldades em que me ocorra qualquer coisa de jeito para fazer um postesinho asseado. Agora por coisas, quem é o João Coisas? E o que é um Art Director? E porque carga de água é que o homem não vota PS?

Tirando as coisas do Coisas, coisas que o nosso Grande Líder teria apelidado de disparates de Verão se a SIC lho tivesse perguntado, não fica grande coisa para postar. Há o jogo de ontem, eu sei, cheio de coisas esquisitas como a parcialidade do árbitro e de haver ainda jogadores que ganham milhares de euros por dia e ainda se esquecem que se tirarem a camisola depois de um golo vão para a rua. Coisas de jogadores de futebol.

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Ouve o que eu te digo...


[3312]

Giro, giro, é estar a ouvir as notícias matinais na RTP e, na rubrica «falar bem português», ouvir a repórter perguntar aos transeuntes se se diz trezentos gramas ou trezentas gramas…

Nota: A grande maioria dos interpelados respondeu trezentos gramas pelo que deduzo que a maior parte deles não vê a RTP.

Adenda: A Ana, com o seu rigor que muito aprecio, chama a atenção no seu comentário a este post para o facto de a unidade ser sempre singular. Fica o registo mas pergunto à Ana: Se de cada vez que vou à charcutaria e peço duzentos gramas de fiambre a menina já olha para mim como se eu fosse um ET, imagina tu eu chegar e pedir dê-me duzentos grama de fiambre, por favor.

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terça-feira, agosto 18, 2009

Uhhhh! He needs a cocktail, now!

[3311]

"Eu acredito que um casamento deveria acontecer entre um homem e uma mulher. Isso não é nenhuma ofensa às outras pessoas, mas é como eu fui criada."

"Eu não aceitaria dizer qualquer outra coisa. Eu disse o que eu sinto. Eu dei uma opinião que é verdadeira comigo mesma e isso é tudo o que eu posso fazer".

E eis que, de repente, aparece uma miss que além de bonita fala de forma escorreita e pensa pela própria cabeça. O resultado é que em vez de se pronunciar pela paz, pela justiça entre os homens e se referir às criancinhas a ser comidas pelas moscas na Etiópia, achou que devia responder com sinceridade à pergunta sobre a sua opinião acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo, feita por um blogger e activista gay de nome Perez Hilton que, entre outras coisas, achou que Carrie se resumia a half a brain e era uma bitch ordinária e que acabara de ser vaiada com toda a justiça (este Hilton, com jeitinho e se tivesse um blogue português ainda chamava filho da puta a alguém), por causa da resposta que ela deu.

Bem se esforçou Carrie Prejean em tornar claro que aquela era a sua opinião e que nada tinha contra gays, isso não evitou que Hilton espumasse uma série de diatribes contra a atrevida que, entretanto, perdeu o concurso a favor de uma outra concorrente, objectivamente porque o juiz Hilton ficou «arrasado» e achou que a resposta de Carrie «alienou milhões de americanos gays e lésbicas, as suas famílias e os seus apoiantes».

Vale a pena ver o vídeo aqui. A partir deste vídeo pode aceder a vários outros sobre o mesmo tema, incluindo uma entrevista do arrasado Hilton a Larry King.

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segunda-feira, agosto 17, 2009

País absurdo


[3310]

«Como não era acusado de pedofilia não tive ninguém do PS a receber-me.»

(José Luis Judas em entrevista ao i de hoje)

A mim o que verdadeiramente me choca é como é que frases destas já não chocam ninguém. Nem quem as diz, como José Luis Judas disse hoje em entrevista ao i, nem quem as lê ou ouve.

É o resultado de um sentimento instalado por um governo e por um Partido que continuadamente não respeitou os seus eleitores e não se respeitou a si próprio, patrocinando e avalizando episódios mais ou menos burlescos que de tantos e tão absurdos acabaram por enformar a razão plausível daqueles que hoje dizem, à boca cheia, que Portugal é um lugar mal frequentado. Por isso este desabafo de Judas passará ao esquecimento em menos de vinte e quatro horas. Mas que envergonha e faz pensar, lá isso é verdade.

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Sobe o nível da blogosfera


[3309]

O verniz da esquerda é como o leite. Fervendo, vem por fora do fervedor. Ainda no Jugular, agora chama-se filho da puta a João Gonçalves. A razão parece residir no facto de João Gonçalves ter chamado ao filho de Vítor Constâncio filho de Vítor Constâncio. Chamou, é verdade «outro» a Constâncio pai, no contexto do post e que nada tem de ofensivo, muito menos com senhoras mal comportadas. Em relação à mãe do filho de Constâncio não consegui descobrir qualquer referência.

Mas João Galamba não gostou. E daí a chamar filho da puta a João Gonçalves foi um passo.
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Mais do mesmo, lá dizia Moita Flores

[3308]

Uma das mais recentes estrelas socialistas, tida por muito culta e muito inteligente e muito inteligente e muito culta, não resistiu à tentação de desfiar um rosário de banalidades a favor do Grande Líder. Pode-se dizer que o blog que usou dá bem com o propósito, mas de uma figura confortada pelo ambiente encomiástico e laudatório como é Miguel Vale de Almeida e que recentemente fez ninho no PS depois de visitar várias esquerdas, esperar-se-ia, pelo menos, que se alheasse da vulgata socrática e apresentasse obra asseada. Afinal, aos costumes disse nada.
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domingo, agosto 16, 2009

Idiotas?

[3307]

Aqueles que utilizam com frequência a expressão «idiotas úteis» deveriam ler com atenção (e quedar-se em «útil» reflexão) esta notícia do Público. E perceber que nem sempre os idiotas são tão idiotas como parecem, nem a sua utilidade é desprezível. Sobretudo para eles próprios.
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sábado, agosto 15, 2009

A República em perigo


Este aurtarca, guionista e ex-polícia não vai votar no PSD. E agora?

[3306]


Alguém me explica o peso específico de um senhor que se chama Moita Flores e é presidente da Câmara de Santarém? É que ando há setenta e duas horas a ouvir o referido autarca em regime «moto-contínuo» na televisão, dizendo que não vai votar no PSD. Interrogo-me sobre em que é que isso contribui para a minha felicidade e, sobretudo, quem é realmente esta criatura que, com um ar seráfico, consegue concitar a atenção das televisões para solenemente nos informar que não vai votar no PSD.

A roçar o divertido é Moita Flores, na última intervenção que lhe ouvi, dizer que não vota no PSD porque está farto de mais do mesmo. Sendo que o «mesmo» dos últimos quatro anos é PS, o jornalista perguntou-lhe, com toda a legitimidade, aliás, se isso significaria que ele também não votaria no PS. Que não sabe, diz Mota, que não sabe ainda, diz a celebridade escalabitana com ar circunspecto e meditativo. Porque está farto de mais do mesmo.

É evidente que com tiradas e lógicas destas quem está farto de mais do mesmo são aqueles a quem as televisões impiedosamente castigam com a opinião sábia de tão ilustres personagens. Com a agravante de que um dia destes o homem ainda escreve uma novela sobre um desiludido da vida que, farto do PS, resolve deixar de votar PSD.

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sexta-feira, agosto 14, 2009

Post dedicado


Nharea - Rápidos do rio Cunhinga (Foto de 2007)

[3305]


A Dulce é uma portuguesa nascida em Nharea, no longínquo planalto do Bié, por entre as bissapas e morros de salalé que enfeitam a anhara. Vive no Brasil e o seu coração, tanto quanto julgo perceber, triparte-se entre Portugal, o Brasil e Angola.

A Dulce tem um blogue. Eu leio pouco dele porque ela escreve pouco. Mas o que escreve é de uma riqueza muito grande. Basicamente ela está fazendo uma pesquisa de vocábulos correntes no Brasil, de raiz angolana. E documenta-se devidamente sobre o assunto. Termos como samba, jingar, xingar, moleque, cochilo, bunda, quitanda e tanga são apenas exemplos de muitos mais que a Dulce tem no arquivo da memória. De tal maneira que acabou de publicar um livro, com lançamento previsto em Portugal para muito breve. Se ela me ouvisse, faria o lançamento em Luanda, também.

Vale a pena uma visita ao Sabor de Maboque. Até porque para além dos vocábulos ela é uma mulher de fino humor e muito bonita também. São precisos mais argumentos?
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Descubra as diferenças

[3304]

Acabamos de ler este artigo de Vasco Pulido Valente e depois recordamos a argumentação deselegante e furibunda de Carlos Abreu Amorim. Só por exemplo, ocorre-me ele achar que Manuela Ferreira Leite é mentirosa, opaca, enviesada, intelectualmente boçal e, naturalmente, não tem categoria para formar governo. Dando de barato a frequência com que ele «posta» sobre a matéria.

Se quisermos ser verdadeiros, transparentes, rectilíneos e intelectualmente escovados, para seguirmos a linha de retórica de CAA, temos de admitir que as diferenças são demasiadamente grandes para não acharmos que CAA, ao contrário de VPV, é incontornavelmente grosseiro e desprovido de substância nas suas críticas. Mesmo sem discutir as razões pelas quais o homem se ira contra Manuela. Aliás, perante o trato demonstrado, torna-se mesmo irrelevante perceber porque é que ele não gosta da senhora.
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Será assim tão difícil de entender?

[3303]

«Há um erro essencial em transformar um chefe de partido no árbitro da honestidade dos militantes. Manuela Ferreira Leite deixou essa função aos tribunais (que por enquanto não desapareceram) e tratou legitimamente de "fazer" o grupo parlamentar que lhe convinha. Os protestos do PSD vieram de quem deviam vir e não impressionaram ninguém. E, fora dele, só os mais cegos fiéis de Sócrates, como infelizmente o renascido dr. Soares, resolveram achar que ela se dera um tiro no pé. Não deu. Nem quando recusou o papel de juiz. Nem quando correu com Pedro Passos Coelho e com a respectiva comitiva. Tolerar (e desculpar) um cavalheiro que pública e constantemente se ofereceu como substituto dela era com certeza a melhor maneira de promover a crónica indisciplina do PSD e, em última análise, a desconfiança do eleitorado. Uma ou outra boa alma também se aplicou a criticar o "quero, posso e mando" de Ferreira Leite. Esses democratas de ocasião chegaram presumivelmente anteontem da Lua e perderam portanto o embaraçante espectáculo do PSD, desde que Marques Mendes saiu. Sem uma autoridade fixa e até, eventualmente, brutal, o partido deslizaria outra vez para a "federação de câmaras" (à mistura com algumas "distritais"), que dia a dia se afundava na intriga e na irrelevância. As "listas" de Manuela, embora longe da perfeição, não a entregam à pasmosa irresponsabilidade dos "notáveis" e, num tempo de crise, isso é sem dúvida o ponto principal. »

Vasco Pulido Valente, no Público

Via Portugal dos Pequeninos
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Cuidados com a erosão


[3302]

Não sei se é do calor
(Ana, respiras?), mas estou a atingir a fronteira da intolerância ao timbre de Sócrates. Timbre porque o conteúdo (!!!) há muito que me passa ao lado. Mas aquele registo de mestre-escola, cruzado de prior com presidente da Junta ou das antigas «casas do povo» abana-me o grande simpático e solta uma colecção privada de palavrões e imprecações que guardo nas meninges para as alturas de crise e que fariam corar o Capitão Haddock.

Eu sei que isto pode parecer preconceituoso e gerar um sorriso de desdém no SimpleX (se me lessem, bem entendido) mas é tal e qual como me sinto de cada vez que oiço aquele homem a falar. E a verdade é que de cada vez que se coloca um «facto» no éter (agora são os 0,3%) a criatura aparece com uma cadência assustadora, o que nos pode tornar as meninges erodidas. Ninguém quer meninges erodidas, feitas voçorocas. Safa! Com ponto de exclamação e tudo.
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Esta é da equipa que arruma o carro por cima dos riscos


[3301]

«...Uma pessoa a 45 à hora se chocar tem o impacto de cair de um 4º andar ou seja uma pessoa que pese 60 kg é como se pesasse vinte vezes mais e projectado como se pesasse um quilo e duzentas.»

Citado de cor mas onde procurei ser tão fiel quanto possível. Tanto na sintaxe como nas duzentas. Esta pérola de português e rigor saiu do programa informativo matinal da TVI. Há meia hora atrás. Palavra de honra que pagava para saber como, onde e por alma de quem é que as televisões descobrem estes peritos do por tudo e por nada.

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Coincidências


Coincidência

[3300]


A coincidência (entenda-se o sentido literal da coisa, acontecimentos a coincidir) é um fenómeno que assenta basicamente em duas premissas. Ou há uma série de acontecimentos que naturalmente coincidem e dão corpo natural ao vocábulo ou há uma estratégia rigorosa, estudada e traçada ao milímetro, que faz com que o rebanho mais avisado torça o nariz pela oportunidade com que os factos coincidem. E torce o nariz porque, a ser este o caso, a coincidência não é coincidência coisa nenhuma.

Moniz sai da TVI, Ferreira Leite derrapa estrondosamente na elaboração das listas de deputados, a blogosfera afina um coro apropriado, Sócrates escreve um artigo inqualificável e «coincidente» no Diário da Manhã Jornal de Notícias e, de repente, o produto sobe (deixa cá ver…) 0,3%, e Sócrates salta para a comunicação social, após umas merecidas e secretíssimas férias, a explicar aos portugueses qualquer coisa, e cito de cor, como o princípio do fim da crise. Mais. Segue-se uma extraordinária frisa de programas e comentários políticos onde toda a gente diz, mutatis mutandis, que a crise ainda não passou mas que estamos perante um facto positivo.

E é com esta «positividade» que nos aproximamos de mais uma operação de escrutínio nacional em que os portugueses são peritos em borrar a escrita. Pressinto que o currículo pouco recomendável de Sócrates dos últimos quatro anos seja lavado e engomado como a bandeira de Lisboa o foi no 5aSec antes de ser devolvida à Edilidade e assistamos, uma vez mais, ao plebiscito do costume. Antes de, como se espera, passarmos à fase de falar mal do PS outra vez.

Estranho país, este.
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terça-feira, agosto 11, 2009

Já agora




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Convenhamos que de um posto de vista estético, não há comparação possível.


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Restauração da monarquia


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Como esta só me lembro da vinda de um grupo de árabes jantar ao Tavares rico, anunciando toneladas de petrodólares na exploração do petróleo que tinha sido descoberto em Portugal, levando a comunicação social do dia seguinte a primeiras páginas fulgurantes. Foi Nicha Cabral e um grupo de amigos.

Congratulo-me com a persistência da nossa saudável libertinagem e sentido de humor, argumentos que ainda vão evitando que Portugal se torne na mais fastidiosa e cinzenta nação do mundo. Entretanto, a respectiva queixa foi apresentada.
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Complicadez

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São tiques de linguagem, são vícios arreigados no discurso e nisto, haja Deus, os socialistas não são apenas bons, são inultrapassáveis. Nesta recente vaga de complicar as orações transformando, por sistema, um modesto complemento directo numa oração completa com sujeito, predicado e complemento directo e em que este último é uma forma verbal em concordância com o… atrevo-me a chamar-lhe aposto ou continuado, há especialistas (até explicar isto é complicado, valha-me a santa). Mas a ministra Ana Jorge, então, é aquilo que é um exemplo acabado
. Nos noticiários desta manhã repetiu-se («voltou-se a repetir»?) inúmeras vezes, nesta nova «postura gramátical» e disse uma porção de vezes aquilo que é e aquilo que são. Irra, que não há ninguém que lhe faça ver aquilo que é uma forma rebuscada de falar por parte daqueles que são os que têm evidentes responsabilidades naquilo que é a imagem que os políticos deveriam ter naquilo que é a sua conduta diária naquilo que são as suas responsabilidades na comunicação com as pessoas.
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segunda-feira, agosto 10, 2009

Genialidade

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Ida ao Médico – Raul Solnado

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«Minuto Verde» mais orgânico e interessante


Iuuupiiiii, o homem foi de férias

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O senhor Ferreira da Quercus foi substituído por uma jovem no seu «minuto verde». A jovem soltou as vacuidades do costume, mesmo que ecológicas. Mas vacuidade por vacuidade sempre se obtém um registo mais verde, sobretudo mais orgânico, com a jovem do que com o senhor Ferreira.

Cá para mim, o senhor Ferreira foi de férias. Pois que elas sejam looooongas e proveitosas. E que não se esqueça de fechar as luzes à noite e de dosear a água do autoclismo com aqueles balões não sei das quantas. O povo agradece e sempre vai prestando mais atenção aos atributos às dicas da tal jovem.
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Cretinismo em uso nesta repartição


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Fernando Rosas, na senda da sua preocupação pelas grandes causas, está à beira de uma apoplexia pelo facto de dois ex-reclusos de Guantanamo recebidos em Portugal estarem sujeitos a medidas especiais de controlo. Fernando Rosas acha que o governo está a actuar de forma escandalosa, mesmo dando de barato que ninguém sabe exactamente os antecedentes e as condições do envio dos dois cidadãos sírios para Portugal. Mas Rosas analisou e botou sentença. Um escândalo, diz ele. Aos dois sírios dever-se-ia conceder já liberdade absoluta e estatuto de refugiado político. Admira-me Rosas não exigir casa e ordenado mínimo. . Provavelmente «passou-se-lhe».

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Custou, mas foi

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Somente cerca de vinte e quatro horas depois, consegui ouvir alguém, de entre aqueles que prestaram o seu respeito a Raul Solnado, afirmar que o grande comediante tinha sido um grande combatente na longa noite fascista de Salazar. Custou, mas foi.
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Um minuto de palmas


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Quando eu era pequenino, ensinaram-me que um minuto de silêncio era uma manifestação de pesar pela passamento de alguém e uma forma de recolhimento perante essa perda. Pesar e recolhimento consubstanciados naquele curto período de silêncio pesado, afinal um tributo ao falecido, em forma de solene respeito.

Ainda ontem observei um minuto de silêncio num estádio de futebol, um minuto em que umas dezenas de milhares de pessoas observaram rigoroso silêncio pela morte de alguém cuja identidade me passou. As pessoas silenciaram-se e aguardaram respeitosamente o apito do árbitro. Não, não foi cá. Foi em França onde, ao que parece, o silêncio é silêncio e palmas são palmas. Mas não em Portugal. Por qualquer razão que me escapa, de há uns tempos para cá que todos os minutos de silêncio em estádios de futebol são minutos de aplauso.

Os portugueses são originais e quando se esquecem como sê-lo, inventam. Agora é a moda das palmas. Há qualquer coisa que não bate certo em dar o significado das palmas ao silêncio, mas a nossa originalidade não tem limites. Ainda anteontem, no jogo Benfica vs Milan, no minuto de silêncio a Raul Solnado a multidão irrompeu numa ruidosa salva de palmas, para espanto dos nossos visitantes. Como de costume, afinal.
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domingo, agosto 09, 2009

Sou um optimista, é o que é


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E é quando ando de mais ou menos bem com o meu país que estas coisas me acontecem. Há alturas em que me convenço que somos um povo normalzinho da cabeça, com os defeitos e virtudes do resto dos povos. Eu sei que há a insistência trágica da nossa comunicação social em fazer reportagens em directo e escolher os entrevistados a dedo, entenda-se, de bigode, gordos, calinos e boçais, no caso «deles» e feias, desdentadas e doentes dos ossos e com dores nas costas, no caso «delas». Mas, que diabo, lá está, dá-se o desconto à profundidade da nossa comunicação social e acreditamos que os directos são meramente circunstanciais e que não representam a grei. E entramos, por isso, num período de conforto e gozo das coisas boas que temos e tolerantes, contemplativos e até participativos da gente que somos. Mas depois, vem um grunho qualquer e borra a escrita. Que é quando, por exemplo, nos dão uma batida no carro. E dar-nos uma batida no carro é isso mesmo, é irmos sossegados na nossa faixa (na da direita, ainda por cima) em velocidade reduzida, mesmo porque ensanduichados pelo trânsito que nos precede e procede e apanhar com um idiota que se cansou de ir atrás do eléctrico e resolveu mudar de faixa. Parados os carros e disposto a submeter-me ao flagelo de estrear o colete (o meu carro tem um anito e meio…) e ao preenchimento da declaração amigável, oiço de imediato um f…-se, c…… então bócê entra-me assim pelo lado? Olho para o energúmeno e diluí a raiva na tristeza de ter me confrontar com esta gente, sobretudo se, como era o caso, usam um bigode farfalhudo, barba de anteontem, mãos de sapo e a cheirar a canos, e a conduzir um carro com matrícula começada por K (ainda há destas matrículas, para quem não saiba…) e a gasól, está bem de ver.

Pondo de lado as c......das com que o nosso tuga iniciou o diálogo, passámos ao preenchimento dos papéis. Era flagrante a dificuldade do homem. Aparentemente ele lia muito bem, mas claramente não percebia patavina do que lá estava escrito. Ajudou-o a mulher, mais calma, e ele lá atamancou a coisa o melhor que podia, não sem ter feito três esboços diferentes do choque, qualquer deles mostrando claramente que ele é que mudava de faixa, e indicando facilmente a culpa no acidente. Mas teve de fazer três desenhos, em cada um o carro avançava mais uns metros e foi preciso eu dizer para parar, porque daí a pouco ele estaria a desenhar a viatura dele á frente da minha, só faltando depois dizer que eu lhe batera por trás, mesmo tendo a ele a parte dianteira direita amachucada e eu as duas portas do lado esquerdo.

É a grandeza da nossa pequenez ali estampada num episódio tão insignificante como uma batida de carros. O português não tem culpa, nunca tem culpa, a culpa é sempre do outro, mesmo que a culpa que tem seja tão evidente como as nuvens negras anunciarem tempestade. Articula a sua «Chico-espertice» como se de inteligência se tratasse e termina o acto com a última palavra e com a expressão de que levou o outro no bico.

É por estas e por outras que tenho de desconfiar sempre dos períodos demasiadamente longos sem batidas no trânsito de Lisboa e sem directos das nossas televisões que é quando a massa crítica da minha análise introspectiva começa a ceder com a luz de Lisboa, com o clima, com o 25 dos Prazeres, jardim da Estrela, Chiado, Tejo, marginal, comida e outras delícias. Até um grunho qualquer me raspar as duas portas do carro e sair de baioneta calada aos berros de f…-se c…… Já me f..eu o BMW, f…-se, então bócê entra-me assim pela faixa, c......?

Nota: Faltou apenas referir que o valentão tinha um metro e meio, calçado, era rubicundo como um globo terrestre que o meu paí me ofereceu como candeeiro de quarto quando entrei para a escola e usava calças de bombazine verdes.
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E a mana Gaza? Lembram-se?


[3290]

Este post da Helena Matos recordou-me o episódio da geminação de Lisboa e de Gaza. Assim, visto à distância, a coisa adquire contornos estranhos e dá que pensar. Porque ao fim e ao cabo verifica-se que a geminação, incubada numa fortíssima carga ideológica, se deveu à iniciativa isolada de um Partido de expressão residual, com a cumplicidade de todos os outros Partidos.

Por outras paragens parece impor-se a racionalidade sobre esta matéria de geminações, como pude observar via Câmara dos Comuns. Deo gratias.

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Raul Solnado 1929 - 2009

[3289]

Muito antes do que se convencionou chamar-se de stand-up comedy, havia já um grande comediante português que desbravava o género. A ida à guerra é simplesmente genial. O humor português ficou definitivamente mais pobre.

Raul Solnado foi um comediante excepcional. Curiosamente, era tímido e de pobre expressão oral, julgo que sofria mesmo de uma ligeira gaguez. Notório, também, um incontornável tique lisboeta do discurso. Na entoação e nos termos.

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sexta-feira, agosto 07, 2009

Bendita RTP, diz ele


[3288]

Opiniões respeitáveis e insuspeitas como as de Marcelo Rebelo de Sousa começam a ser usadas com deleite no esboroamento final da imagem de Manuela Ferreira Leite.

Além de muito visto e cansativo, Marcelo começa a sublimar virtudes miméticas, ou é impressão minha?

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A sanha e o escarcéu...


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… são, consabidamente, uma forma emotiva e irracional de reagir a qualquer coisa de que não gostamos. Deitamos fora a licitude dos propósitos e ignora-se qualquer réstia de pudor e ponderabilidade para extravasarmos a torrente revolta da revolta dos nossos sentimentos em relação a uma situação ou a uma criatura.

A reacção em cadeia às listas dos PSD (talvez o acontecimento do ano…) poderia e deveria constituir-se em case study da idiossincrasia nacional e tenho a certeza que algumas das considerações finais seriam pouco menos que espantosas.

Mas isto é uma coisa, outra, bem diferente, é a pauta cuidadosa e profissionalmente estabelecida para se pronunciar uma das mais competentes urdiduras conta o PSD. Refogou-se umas quantas características de Manuela Ferreira Leite em unto de um fenómeno mais ou menos indecifrável (leia-se um ódio visceral a uma coisa que se convencionou chamar de cavaquismo) adicionou-se as especiarias em uso na paróquia e eis que surgiu facilmente o pomo da campanha, que de uma campanha se trata, ainda que, em alguns casos, subconsciente. Passos Coelho, um homem pouco fiável nos padrões de confiança de MFL e de quem o mais que sei é que leu um livro que Sartre não escreveu, parece que é bonito e fica bem nas fotografias e na televisão (ah! E foi o MELHOR líder da JSD, segundo me foi fito por um expert na matéria), DEVERIA ter sido escolhido para as listas (que MFL não é dona do Partido), Preto e Helena deveriam estar a ferros numa masmorra qualquer e, céus, o cavaquismo voltou em força. Os velhos. As relíquias. O cavaquismo em peso, aguardando agora os pormenores que, adivinha-se, pintalgarão o universo dos leitores de blogues, revistas e jornais, e onde não faltará uma célebre manta da TAP (estou francamente admirado de ainda não se terem lembrado de tal) que aqueceu Deus Pinheiro nos intervalos das suas snobes partidas de golfe.

Temos, assim, dois aspectos distintos do tema nacional do momento. A bruxa, a velha, a feia, a espanta-votos que se permitiu destruir o que restava do PSD e um conjunto de acções habilmente criadas e geridas para aproveitar a dinâmica do momento para, de uma vez por todas, pontapear o que resta da credibilidade de MFL e afastar para bem longe o espectro do «fenómeno fortuito» da vitória nas europeias, coisa que se tem de evitar a todo o custo. E é assim que temos a esmagadora maioria da Blogo a carpir a fatalidade das escolhas de MFL ou a entreter-se no mais descarado vitupério de que me recordo num passado recente, lado a lado com um desfile de personalidades absolutamente extraordinárias que comparecem à chamada na tareia a MFL. A recente ida á SIC-N da extraordinária Maria de Belém Roseira (mulher que, como se sabe, se distinguiu no seu brilhante desempenho como ministra da igualdade, se bem se lembram e a partir do que ficamos todos iguais…) e do espantoso Ângelo Correia são, de tudo isto, um bom exemplo.

Preparemo-nos, assim, para mais quatro anos de Sócrates. Arrecademos as licenciaturas domingueiras, o bom gosto e a lisura de processos das casas da Guarda. As trapalhadas em que ele, coitado, se viu envolvido na qualidade de Zezito, por causa de um tio trapalhão e de um «filho do tio» mais ou menos estouvado e em mode zen lá pelo oriente, do terceiro-mundismo em que durante quatro anos nos vimos mergulhados por força das campanhas, viagens e inglês técnico do nosso primeiro a vender Magalhães pelo mundo fora, os ralhetes e descomposturas diários a que fomos sujeitos porque, aparentemente, nos portávamos mal, quando não compreendíamos ou nos entretínhamos em campanhas negras contra ele, ele, coitado, razão de umas quantas trapalhadas de pressão de justiça e outras banalidades, o vazio estarrecedor de tudo quanto este homem nos foi dizendo durante anos, em tom e forma de comício, esqueçamos ainda as monumentais trapalhadas em que este homem nos envolveu ou permitiu que nos envolvêssemos mas, por amor de Deus, concentremo-nos no essencial. MFL não é dona do PSD, não tinha nada que ostracizar os PSD’s que melhor saem nas fotografias e na televisão e, céus, muito menos se atrever a fossilizar o Partido com algumas tenebrosas figuras do tenebroso regime do vampirino Aníbal.

Leitura recomendada: “…Declaração de interesse: tenho mais respeito por Kim Jong-Il do que por Pedro Passos Coelho…”
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quarta-feira, agosto 05, 2009

Grrrrrr


[3286]

Espanto-me com o bruaá que domina o momento blogoesférico pelas escolhas de MFL, para as listas do Partido. A exclusão de Passos Coelho e a inclusão de Pacheco Pereira são os pontos altos dos patrulheiros de serviço, tão céleres na crítica como sinuosos na forma como a fazem. Há blogues colectivos com dezenas de pequenos posts e apontamentos sobre o facto, cada um com os argumentos mais diversos e anunciando desde já morte do PSD, pelo desplante da presidente.

Por mim, que não morro de amores pelo estilo e falta de jeito da senhora para lidar com o meio social, ocorre-me apenas questionar para que servirá ser-se presidente seja do que for se não para, exactamente, exercer as prerrogativas emergentes do mandato para que foi legitimamente eleita. Para além de que gostaria que me explicassem melhor a obra de Passos Coelho, nos intervalos das suas leituras de Sartre, no Partido. Quanto a Pacheco Pereira, parece que o busílis reside nos ódios que suscita. Há quem tenha ódio a Pacheco porque acha que ele suscita ódios, coisa que, como se sabe, é muito feia para a democracia, sobretudo quando os ódios relevam de verdades inconvenientes que Pacheco Pereira aponta com frequência a muito boa gente.

Ferreira Leite, enquanto presidente do PSD pode e deve escolher quem entender para as listas de deputados. E quem não gostar que se vá embora, ou espere pelo próprio congresso e ponha a presidente na rua através do seu voto. Assim é que é. Quanto às críticas dos patrulheiros do costume, seria bom que elas fossem aproveitadas em questões quiçá bem mais delicadas e escandalosas do partido do governo que, justiça lhe seja feita, continua a ser imbatível na forma como passa incólume por elas.
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terça-feira, agosto 04, 2009

Twente 1-1 Sporting


[3285]

Com o devido respeito e competente sentido de cumplicidade, regozijemo-nos, os lagartos de gema, com o convidado especial que o Sporting levou à Holanda.

Nota:Tem sido giro a cascata de comentários técnico-científico-filosóficos que fervilham ali pela TVI 24 a propósito de um jogo em que o Sporting foi aflitivo a jogar (??) e que se resolveu com um golpe vacum, que nem o vizinho do outro lado da segunda circular…

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Publicidade moderna


[3284]

- Mamã, queria ir fazer cocó.
- Vai meu filho.
- Mas eu queria fazer cocó na casa de banho do Francisco.
- Mas porquê meu filho?
- Porque a casa do banho do Francisco cheira bem.


Publicidade pós moderna, a um desodorizante qualquer. Disponível numa televisão perto de si. Se tiver um televisor numa casa de banho pode ver o anúncio enquanto faz cocó.

Nota: Cocó com hífen (có-có) dá erro ortográfico. Cocó, sem hífen, já dá correcto. Prova cabal que eu não escrevia ou lia esta palavra desde o tempo do «camprandando» (a minha amiga Dulce que explique o que é o «camprandando»). Admitindo que eu tenha tido necessidade de me referir á substância em questão por razões óbvias e humanas, assusta-me pensar que diabo de palavra usarei eu em linguagem corrente. Merda de dúvida!...

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Liberdade


[3283]

Não sei. Não quero. Não me apetece. Não vou. Sei que não sei, quero não querer, apetece-me não me apetecer coisa nenhuma e vou onde não devo. É a suprema sensação de liberdade, apesar de perceber que há momentos em que melhor seria não dispor da prerrogativa de a usar. Porque é bom saber, querer, apetecer e ir. Só que não se pode ter tudo – a liberdade e, ao mesmo tempo, apetecer-nos não ser livres. É a utopia, a omnipresença do paradoxo, fazendo parte do quotidiano de cada um de nós. E, por vezes, há que escolher. E, escolhendo, vale mais a liberdade. Mesmo que se drene e doa a, certamente efémera, felicidade de saber, querer, apetecer e ir. Resumindo: Nada substitui a liberdade.

Há dias assim.
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segunda-feira, agosto 03, 2009

Faz-se já uma lei


[3282]

Cai-me o queixo de espanto com a bagagem futebolística de Lula da Silva. O que o presidente brasileiro sabe de clubes, calendários e de estratégias superou qualquer expectativa que eu pudesse ter na matéria. Retive, porém, um pormenor. A facilidade com que os políticos se lembram de legislar. Não sei se é porque de vez em quando acordam e se lembram que uma lei sobre qualquer coisa vai bem com a gravata ou se é uma questão puramente visceral. Lula da Silva ficou irritado com a vinda de um tal Ramires para o Benfica e falou para quem o quis ouvir que devia haver uma lei que…

Fico a pensar que, queiramos ou não, deixámos uma forte carga genética pelas antigas colónias. Legislar, ou a capacidade de, foi, certamente uma delas. Não só nos preenche os mínimos do ego (o gozo que dá fazer uma lei) como alimenta o burocrata que todos temos dentro de nós (aqueles artigos todos, as alíneas, os 3.4.2.2 b- parágrafo, travessão, muda de linha, dois espaços). Ou, por outras palavras, sempre que nos irritarmos com algumas manifestações dos nossos irmãos lusófonos (e não me refiro só ao Brasil) lembremo-nos sempre que tiveram excelentes professores.
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sábado, agosto 01, 2009

A praga de «ilecópteros»


[3281]

Portugal é assolado todos os anos por uma praga de «ilecópteros». Vêm com os fogos, tal como a formiga branca de asa (térmitas) anuncia a chuva tropical. O «ilecóptero» é assim uma espécie de avião. Voa como os aviões mas não tem asas. Isto é, para os mais esclarecidos, tem uma asa, porque o rotor principal é, tecnicamente, uma asa, mas não me apetece escarafunchar as leis da física e muito menos a terminologia «aviónica».

O «ilecóptero» escreve-se helicóptero mas por qualquer razão que me escapa, a grande maioria dos radialistas e … «têvêistas» da paróquia pronunciam ilecóptero, apesar de, naturalmente, todos eles saberem ler. Mas aquilo deve ser uma coisa assim parecida com o pugrama, toda a gente na televisão sabe escrever «programa» mas depois, lá está, dizem pugrama. Há ainda o telefone pronunciado tfone e mais uns quantos exemplos avulso que seria fastidioso enumerar. Como se percebe, não é uma questão de sotaque, sotaque é dizer-se banho (numa situação qualquer deixada à imaginação de cada qual) à mulher e a mulher dizer sim, vai lá ao banho que estás com odor corporal, quando afinal o homem estava a enunciar o verbo vir e ele não tem culpa nenhuma que a mulher seja estúpida e não o entenda como debe de ser.

Mas, dizia eu, a praga dos «ilecópteros» está aí. Como todos os anos. Por cada fogo, nacional ou estrangeiro, há uma verdadeira praga de «ilecópteros». Soletrados helicópteros mas ditos ilecópteros e não há um director de televisão, «unzinho» que seja, que chame o pessoal e os obrigue a falar português escorreito.

N.B. Um pouco a propósito, hilariante foi ver um jovem repórter (certamente desconhecendo que o Rei de Espanha fala português fluente por ter vivido muitos anos no Estoril, mas que diabo, também não se pode exigir à rapaziada da comunicação social que saiba estas ninharias todas), ao serviço da TVI, a fazer perguntas a Sua Majestade em espanhol macarrónico, Sua Majestade em palpos de aranha para perceber o repórter e a responder-lhe em português escorreito e o repórter insistia, insistia, mas ai que insistia exaustivamente num castelhano levedado e enxertado em corno de cabra, não se apercebendo dos esforços do monarca em lhe fazer compreender que falava português como ele.

Ao alto, pairava um «ilecóptero», certamente a fazer a reportagem da visita da realeza espanhola à Madeira, enquanto Jardim anunciava, cheio de «córagem», que os espanhóis iam investir na ilha. O quadro estava completo e o «pugrama» cumprido.
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