sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Coisas simples


[5089]

É do conhecimento geral que o maior produtor mundial de café, o Brasil, tem estado a sofrer uma seca muito severa, em consequência da qual poderá haver uma queda abrupta na produção, que se situa para além dos três milhões de toneladas por ano. O que é que acontece? Falta café no mercado, a procura aumenta, a oferta diminui, a cotação internacional sobe e o custo da bica agrava-se. A isto chama-se mercado e coisa mais simples e mais justa não há. As pessoas que gostam de café vão pagá-lo mais caro ou, alternativamente, não tomam café. Os produtores terão prejuízos, mesmo assim minorados pelos preços mais altos que vão obter por uma produção mais baixa e toda a gente fica contente, para o ano chove outra vez e se os deuses quiserem as coisas voltam ao normal. É o sistema, os mercados e o regime de livre iniciativa funcionando.

Se Portugal produzisse café, a alternativa socialista passaria por:

1 – Os agricultores queixam-se da falta de chuva;
2 – A comunicação social manda os seus repórteres fazer perguntas capciosas aos produtores e pergunta-lhes o que é que o Estado já fez para resolver a situação;
3 – Os deputados socialistas mandam chamar o ministro de agricultura ao parlamento para explicar porque é que o governo não preveniu a falta de chuva. Exigem;
4 – Mário Soares escreve na sua piedosa página do DN que não chove por causa dos mercados;
5 – Galamba, Bagão Félix, Ferreira Leite e similares dizem que a culpa é da Merkel e a Ana Lourenço pergunta, no noticiário, se a culpa não será da Merkel;
6 – O ministro da administração interna manda abrir um processo para averiguar das razões por que os serviços de meteorologia não previram a seca;
7 – A ministra da agricultura sente-se coagida pela opinião pública e pelo seu chefe de Partido e, em nome da lavoura, convence a ministra das finanças a disponibilizar uma linha de crédito com juro bonificado e um fundo perdido para ajudar os cafeicultores;
8 – Parte desses fundos chegam aos agricultores e desata a chover de novo. Aí os beneficiários acham que dá mais jeito comprar um tractor ou mesmo, quem sabe, um jipão à maneira;
9 – Os milhões disponibilizados saíram do orçamento de estado e custou aos cidadãos três vezes mais do que se tivessem aumentado o preço da bica. Aos que bebem e aos que não bebem bica;
10 – O povo continua feliz, continua a pedir uma bica bem escaldada ao mesmo preço e acha que assim é que é, o Partido do governo dá uma conferência de imprensa dizendo que resolveu a situação e os socialistas fazem uma declaração onde demonstram ter tomado as dores dos produtores de café, dos cidadãos em geral e dos mais desfavorecidos em particular, o esquadrão socialista das redes sociais enche os seus murais com críticas ao sistema e ao aquecimento global que provoca as secas e Jorge Sampaio diz que há vida para além da seca.

Uma «seca», dirão alguns. E uma «seca» bem cara diria eu.

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quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Os blogues e o casamento


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Tenho para mim que no casamento o mais difícil são os primeiros vinte anos, depois… a gente habitua-se. Com os blogues as coisas passam-se de uma forma diversa. Eu diria que o mais fácil são os primeiros dez anos. Depois… bom, depois as coisas começam a complicar-se.  Uma rotina plasmada num caldo de cultura activista e, fundamentalmente, imbecil  (jornais, televisões e a vaga permanente de iluminados do FaceBook) acaba por gerar em nós um preguiça quase patológica e aquilo que, em termos zootécnicos, eu chamaria de posição em decúbito «vão chatear o Camões».

A caminho dos dez anos de blogue, encontro-me, irremediavelmente, no estádio da preguiça e resisto estoicamente à fase do decúbito. Vejamos o que acontece. Isto vem a propósito de um amigo me ter mandado um lamiré, a partir de Moçambique, perguntando o que se passa comigo. Para além de me sentir honrado com a preocupação dele, percorreu-me um estremecimento de algum pudor. Aguardo que seja possível libertar-me deste anunciado torpor e regresse, com alegria, ao mote desde sempre anunciado, no cabeçalho deste blogue, de auto-entretenimento. Porque só assim será possível que, aqui e ali, eu coloque algum post de algum gozo para mim e de interesse para outros.




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Canhão abaixo

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Sempre achei que na Nazaré o perigo não é tanto irmos pela onda acima mas um dia, quem sabe, irmos pelo canhão abaixo.


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segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Mas o que é que eu tenho a ver com isto?


[5086]

Quando um cantor sofrível emigra porque diz que não está para ser governado por um bando de incompetentes em quem não votou e faz disso um facto político, com a benévola complacência e cumplicidade da comunicação social, está a ofender, literalmente, aqueles que há cerca de trinta e tal anos emigraram, mas à força. Por estarem a ser manipulados, peças de entretém nas mãos de um punhado de loucos encartados que acharam que toda a gente devia achar como eles. E, assim sendo, não tiveram outra alternativa se não pegar nas bikuatas (FT não deve saber o significado de bikuatas mas não me apetece explicar-lhe), nos filhos e no papagaio e rumar para um sítio qualquer onde não os roubassem ou matassem.

Parece que as notícias dos últimos dias giraram à volta do restaurante de um homem de barbas (parece que se chama Barbas, também), que o mar danificou, e que aparece imenso na televisão a zangar-se com toda a gente, e com a emigração de um cantor que não gosta das pessoas em que os outros votam mas ele não vota. Uma maçada. Sinal dos tempos.

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quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Vulvas, vaginas, escrotos, pénis, prepúcios and the like


[5085]

Estou ao computador e atrás de mim tenho o Manuel Goucha e aquela loura (que não me ocorre o nome) a fazer perguntas a uma plateia exuberante, num programa de televisão. A primeira foi sobre o tamanho do pénis: o que era um pénis grande, um pequeno, quantos centímetros, se um pequeno pode ser grosso e um grande pode ser fino, quantas vezes aumenta de tamanho… fiquei a saber que, na erecção, os pequenos podem aumentar quatro vezes e os grandes aumentam só para o dobro. Mas, em compensação, os grossos aumentam bem mais em diâmetro do que os finos, que aumentam assim mais para o comprido. A assistência, maioritariamente sem pénis, ria imenso e concordava ou discordava das várias versões científicas vindas a lume, soltando risadas entre o alarve e o excitado. Fiquei a saber ainda o que é um micro-pénis, que é todo o pénis com menos de sete centímetros. Ficou por esclarecer se erecto se em flacidez.

Já a pergunta seguinte era sobre vaginas. Goucha, estridente, perguntava sobre que mulheres tinham vaginas maiores, se as gordas se as magras. As opiniões foram mais ou menos consensuais. Unânimes de todos, como ouvi, ontem, num programa desportivo. Veredicto: As mulheres, gordas ou magras, têm as vaginas iguais (o que, à partida, me parece uma sensaboria, ninguém foi capaz de aduzir umas diferençazitas, para desenjoar), é tudo igual… Ouvi ainda uma científica prelecção sobre vulvas e a diferença entre vulvas e vaginas.

Não sei como isto vai acabar, porque interrompi o que estava a fazer para postar este arrazoado. Sobre vulvas e pénis, uma coisa que, acho, nunca postei em quase dez anos deste blogue. Mas há sempre uma primeira vez. Os guinchos de Goucha e as risadas da loura continuam a dar fundo ruidoso à coisa (às «coisas», literalmente), em fartos decibéis. E agora vou mesmo desligar o som porque trabalhar com as vaginas no ouvido (quem sabe????) e os pénis em vaga de fundo, ainda acabo a escrever o que não quero.

Eu não sei bem se há algum significado especial para o facto de cada vez mais se notar esta tendência das televisões para puxar a brasa à sardinha, ficando por saber, como neste caso, qual é a brasa e qual é a sardinha. Basicamente a coisa parece-me é que é tão pueril e idiota, como se se puxasse a público entretenimento uma versão revista e extrapolada das sessões de mexer na pilinha, como quando as crianças são ainda bem pequeninas e começam a descobrir prazeres ainda ignotos.

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terça-feira, fevereiro 11, 2014

E não há quem lhe mostre o cartão vermelho


[5084]

O «Zé faz falta» não faz falta nenhuma. Sobretudo, sai caro. Mas há quem goste, como um tal José Caetano que é presidente da Federação Portuguesa do Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, um organismo que me faz tanta falta como o Zé.

Convenhamos que é demais. Ele é o túnel do Marquês (custou-nos milhões A MAIS) ele é searas em Sete Rios, ele é pavimentos especiais de corrida no Príncipe Real ele é, claramente, um subproduto da nossa atávica propensão para o disparate e emulação. Uma espécie de bolo daqueles em que vamos dispondo os ingredientes em camadas. No nosso caso, uma camada de gente, uma camada de iluminados que acham que vieram ai mundo para nos ensinar a viver como deve ser, outra camada de dirigentes probos e vanguardistas, que acham que o que faz falta à malta são os Zés que fazem falta. E por aí fora. Normalmente sai um bolo chocho, mal cozido, mal parido. E caro.

E com tanta falta que o Zé faz, não há quem lhe mostre o cartão vermelho!

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domingo, fevereiro 09, 2014

Seguro seguramente pouco sério

[5083]

Uma coisa é populismo, inflamação de discurso eleitoral, outra, seguramente, é ser-se pouco sério na maneira de lidar com a coisa pública e na inescrupulosa manipulação do eleitorado.

Ao dizer que reabrirá os tribunais que o governo vai fechar, Seguro estilhaça qualquer réstia de respeito que pudesse ainda merecer como líder partidário. E arrisca-se, antes de ser considerado mentiroso, a acharem que ele é rotundamente pateta ou mal informado. Com efeito, o líder de um Partido que afirmara ir fechar mais de quarenta tribunais não pode vir agora fazer o estardalhaço que faz com os vinte e sete que o governo fechará.


O detalhe de prometer um tribunal especial de corrida para investidores estrangeiros releva de um estado espírito muito inseguro que Seguro, seguramente, demonstra. É mais ou menos o mesmo que declarar solenemente que a costa portuguesa precisa de uma gestão global e consolidada, seja o que for que lhe vai pela cabeça. Em todo o caso, se há coisa que o PS tem tido é tempo para gerir global e «consolidadamente» a costa portuguesa. Deve ter-lhes faltado Seguro para pôr o plano a rolar. Seguramente.

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sexta-feira, fevereiro 07, 2014

O «desvairo»


[5082]

Ainda não estou refeito... em menos de 12 horas, Pacheco Pereira, ontem à noite, meteu os Mirós e os Jerónimos no mesmo saco. O escolástico Costa disse, muito sério, que em 74 havia 70% de analfabetos em Portugal (Pacheco Pereira murmurou qualquer coisa baixinho e Costa disse, também baixinho: eram menos não eram? – um execrável momento da televisão que temos…). A PGR diz que aqui quem manda sou eu (ela) e que os Mirós não saem porra nenhuma. Ainda os Mirós não acabaram e já começou nova saga: Os autarcas de Boticas e Murça, entre outros, mostram-se incrédulos e estupefactos e vão pedir providências cautelares sobre o fecho dos tribunais (aqueles que o PS se comprometeu a fechar quarenta no memorando de entendimento e o governo agora fechou vinte e não sei quantos e sobre o que apareceu Seguro a dizer uma série de disparates sobre proximidade e assim),enquanto os advogados dizem que vão lutar até ao fim. Resumindo, os portugueses entraram, em bom «pedromarqueslopês» num perfeito «desvairo».

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terça-feira, fevereiro 04, 2014

E é isto...


[5081]

Já nem falo nos cinco milhões com que temos de ressarcir a Christie’s. É já uma sensação de vergonha, de embaraço… uma leiloeira acaba por cancelar um leilão porque não confia em nós. E tem toda a razão. De resto, a linguagem meridiana e civilizada da Christie’s explica isso mesmo. Somos demasiadamente complicados e irresponsáveis para nos levarem a sério.

Fica o embaraço… e vão-se €5 Mio, fora o valor dos quadros. Tudo isto por causa das Canavilhas felicíssimas e correlativos.

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segunda-feira, fevereiro 03, 2014

A felicidade, essa conhecida...


Canavilhas não cabe nela de feliz...

[5080]

Acho que é tempo de explicar a esta gente semi-estupidificada por uma espécie de coquetterie de esquerda, que não tem o direito de atrapalhar. Muito menos de dispor do dinheiro dos outros.

Gabriela Canavilhas está felicíssima por termos instituições que funcionam neste país. Para além de me começar a incomodar esta nova mania dos socialistas nos pôrem a ser governados por um grupo de juízes por dá cá aquela palha, desde o fecho de maternidades ao traçado de estradas, passando pela venda de quadros, quero convencer-me que Canavilhas terá os meios suficientes para pagar ao Estado os tais quarenta milhões de Euros dos quadros de Miró. E depois poderá alugar umas instalações condignas ou, quem sabe, pedir uma Casa dos Bicos qualquer a António Costa ou, porque não, o Cinema Londres, e expor a colecção, gratuitamente, espero, ao admiradores de Miró.

Se não tiver… era bom que Canavilhas se fosse sentir felicíssima para outra freguesia e não maçasse quem está.

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domingo, fevereiro 02, 2014

Um pé de feijão


[5079]

Um dia, com doze anos, estava eu de férias num remoto local do Niassa, Moçambique. Era onde moravam meus pais, no tempo em que não dava jeito ir para a rua com cartazes reclamando pelo facto de o Estado não nos arranjar emprego, depois de sairmos da faculdade.

Quis o meu rosário de fados que nessas férias eu me lembrasse de plantar um feijoeiro. Peguei com displicência e, sobretudo, com o ar de quem está no mato passando férias escolares com os pais e tem de se entreter com qualquer coisa, num feijão e enterrei-o junto a uma nascente. Para surpresa minha, muito poucos dias depois nasceu uma plantinha que eu desconfiei ser um pé de feijão (em África, cuspimos um caroço de qualquer coisa e nasce uma planta…). Divertido, levei a plantinha para casa, ainda com o feijão agarrado às raízes e mostrei aos meus pais. O meu destino estava traçado. O meu pai, homem diligentemente habilitado com o antigo curso comercial, porque o meu avô era fiscal de finanças e seguiu a mesma trilha vocacional, achando que o filho seria um excelente contabilista, não hesitou. Se eu tinha plantado um feijão e se ele, meu pai, gostava tanto da natureza e de agricultura, ali mesmo decretou mentalmente que eu deveria seguir um curso de agricultura, agronomia, ciências agrárias, qualquer coisa que metesse espaços livres e natureza vegetal crescendo e cumprindo a nobre missão de dar de comer à humanidade.

Cumpriu-se o seu, de meu pai, desígnio. Levou-me bastante tempo, mesmo depois de habilitado com um diploma, até eu perceber que a agricultura pouco mais me dizia que umas saladas frescas no Verão, de preferência num almoço entre amigos onde se discutisse qualquer coisa, desde que se discutisse e comunicasse.

E foi assim que obrigado a identificar-me como um qualified agronomist (trabalhei sempre em empresas estrangeiras até há apenas pouco mais de uma década) tive de procurar caminhos que me trouxessem alguma alegria e realização, no seio de um claro erro de casting do meu bem intencionado pai. Claro que podia, ainda, ter tirado outro curso qualquer. Mas, aqui há uns anos atrás, a gente casava primeiro e pensava depois. E, de caminho, tínhamos filhos. Ainda por cima, ainda jovem inexperiente e sem perceber bem o que se passava, dou comigo a ouvir um gritaria vinda do «puto» dizendo que eu tinha perdido uma guerra qualquer, que íamos ter uma data de amigos à esquina e sermos solidários, internacionalistas e banhados por um sol qualquer e diferente daquele que eu estava habituado a contemplar todas as manhãs.

Não dava, assim, para tirar outro curso. Havia apenas que o adaptar as minhas aptidões. Estudar mais, sim, mas aproveitando a dinâmica de uma vilipendiada multinacional (para a qual eu trabalhava) que achou que eu era um mocinho jeitoso e podia ir longe e alargou consideravelmente a minha estrutura de conhecimentos e o meu grau académico. Manias das multinacionais…

Segui o meu caminho e encontrei, felizmente, meios para me movimentar com agrado num ramo em que me sentia tão confortável como numa reunião de políticos (acho esta designação absolutamente execrável, políticos para mim só mesmo numa forma adjectiva, mas quis o destino que o termo se substantivasse), ou seja, com total desinteresse. E consegui. Sobretudo porque me foi dado o ensejo de eu conjugar características que considerei inatas com a preparação académica que me foi dada, a partir do momento em que semeei um feijão (mais tarde aprendi que era uma dicotiledónea, que dava origem a uma planta leguminosa, que são as plantas que têm a capacidade de fixar o azoto atmosférico, cujo símbolo é o N, de Natrium e que, juntamente com o P (fósforo) e  K (potássio) são os nutrientes básicos das plantas, ainda que não dispensando os oligoelementos . Ah! E que entra em rotação, a seguir a uma «sachada» – as coisas que a gente aprende…) e fui mostrar ao meu pai.

Isto não é uma história, é uma simples reflexão de domingo matinal, preguicento mas gostoso (*), por ter tropeçado nesta foto (Angola, Novembro, 2013) e me deitar a pensar como é que, mesmo tendo passado por tanto lugar, tendo «floreado» o tema de acordo com as minhas aptidões naturais, no fundo acabo sempre por estar ligado a um implemento agrícola. Simbolicamente uma charrua de tracção animal, numa loja recôndita de um lugar remoto de um país africano. Mas, vendo bem as coisas, eu gosto.

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