Cartões vermelhos
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O Paulo passou-me a corrente dos dez cartões vermelhos. Pensei, pensei, e achei que esta coisa dos cartões vermelhos é um bocado como os tumores. Os benignos e os malignos. Como os malignos dariam quase todos para o universo político, optei pelos benignos. E como nos benignos o Paulo esgotou já a matéria sobre o gineceu, decidi por me ater a questões mais ou menos anódinas mas, mesmo assim, suficientemente irritantes para levarem um cartão vermelho. Aqui ficam, assim, dez cartões vermelhos para:
1 – Aquela gente que arruma os carros por cima dos traços que delimitam o espaço «parkável». Circunstância agravada pelo facto de eu achar que não o fazem de propósito. É gente que vive à bolina de uma dinâmica muito própria e, essencialmente, muito portuguesa. E reveladora de uma absoluta ausência de espírito de cidadania. Daí que o grave mesmo não é o carro mal estacionado mas o fenómeno que lhe está subjacente;
2 – A absoluta impossibilidade de se manter uma conversação normal numa mesa em que estejam mais de três pessoas. Os portugueses sabem tudo, discutem tudo e têm opinião sobre tudo. Esta, a opinião, tem de ser dada seja em que altura for, mesmo que venha a propósito de nada e careça de oportunidade, pelo que se interrompe tudo e todos em função daquilo que achamos que temos de dizer here and now, no matter what. Neste caos cabem ainda aquelas alturas em que pensamos que o nosso interlocutor já acabou a frase, por força do silêncio a que se remeteu e começamos a falar de outra coisa qualquer. Apenas para sermos interrompidos por uma extensão do tema anterior – qualquer coisa em que o «outro» ficou a mastigar, não reparando sequer que, entretanto, já estávamos a falar de outra coisa. Exemplo simples.
Indivíduos A, B. C. D., E e F à volta de uma mesa.
A para B : Gosto imenso do Algarve para passar férias. B para A: Eu não, gosto mais do Minho. C para B e D para todos (em simultâneo): Nem pensar, a praia é a praia e não há nada que…B para todos… desculpem lá mas a praia…C para E: a tua mulher está melhor? E para C: Nem por isso, mas entretanto… A para F: não concordas comigo? F para A: quer dizer…C para E: bom mas já lhe passou a febre, não é? B para todos… desculpem lá, mas a praia… desculpem lá mas a praia…desculpem lá mas a praia… desculpem lá mas a praia… Empregado de mesa para A: Mais uma imperial? D para empregado: Eu também quero. A para todos: ouviram o debate do…com quem joga o Benfica este Sábado? perguntou C para todos quando o A ia dizer entre quem tinha sido o debate. È mais ou menos isto. Cartão vermelho e bem vermelho para esta lusa e indisciplinada verborreia;
3 – O energúmeno que nos dá uma traseirada na viatura e sai do carro com cara de quem nos quer bater, porque não tínhamos nada que parar no semáforo porque o sinal ainda estava laranja;
4 – O mastigante impaciente que não suporta, de todo, esperar pela comida sem nos ir «picando batatas fritas» do prato, apenas porque tivemos o azar de chegar primeiro que ele à mesa e, entretanto, mandámos vir o almoço;
5 – A mulher que diz não com a boca, sim com os olhos, depois se baralha e já não sabe se foi assim ou se foi ao contrário e acaba por criar a maior confusão mas acaba por, três horas mais tarde e uma prelecção sobre as relações a tracejado, dizer sim com tudo o que tem à mão, preparada para uma contrição desnecessária e absolutamente desajustada para mais tarde, um nadinha antes de recomeçar o ciclo do sim, não, não só, mas também...
O Paulo passou-me a corrente dos dez cartões vermelhos. Pensei, pensei, e achei que esta coisa dos cartões vermelhos é um bocado como os tumores. Os benignos e os malignos. Como os malignos dariam quase todos para o universo político, optei pelos benignos. E como nos benignos o Paulo esgotou já a matéria sobre o gineceu, decidi por me ater a questões mais ou menos anódinas mas, mesmo assim, suficientemente irritantes para levarem um cartão vermelho. Aqui ficam, assim, dez cartões vermelhos para:
1 – Aquela gente que arruma os carros por cima dos traços que delimitam o espaço «parkável». Circunstância agravada pelo facto de eu achar que não o fazem de propósito. É gente que vive à bolina de uma dinâmica muito própria e, essencialmente, muito portuguesa. E reveladora de uma absoluta ausência de espírito de cidadania. Daí que o grave mesmo não é o carro mal estacionado mas o fenómeno que lhe está subjacente;
2 – A absoluta impossibilidade de se manter uma conversação normal numa mesa em que estejam mais de três pessoas. Os portugueses sabem tudo, discutem tudo e têm opinião sobre tudo. Esta, a opinião, tem de ser dada seja em que altura for, mesmo que venha a propósito de nada e careça de oportunidade, pelo que se interrompe tudo e todos em função daquilo que achamos que temos de dizer here and now, no matter what. Neste caos cabem ainda aquelas alturas em que pensamos que o nosso interlocutor já acabou a frase, por força do silêncio a que se remeteu e começamos a falar de outra coisa qualquer. Apenas para sermos interrompidos por uma extensão do tema anterior – qualquer coisa em que o «outro» ficou a mastigar, não reparando sequer que, entretanto, já estávamos a falar de outra coisa. Exemplo simples.
Indivíduos A, B. C. D., E e F à volta de uma mesa.
A para B : Gosto imenso do Algarve para passar férias. B para A: Eu não, gosto mais do Minho. C para B e D para todos (em simultâneo): Nem pensar, a praia é a praia e não há nada que…B para todos… desculpem lá mas a praia…C para E: a tua mulher está melhor? E para C: Nem por isso, mas entretanto… A para F: não concordas comigo? F para A: quer dizer…C para E: bom mas já lhe passou a febre, não é? B para todos… desculpem lá, mas a praia… desculpem lá mas a praia…desculpem lá mas a praia… desculpem lá mas a praia… Empregado de mesa para A: Mais uma imperial? D para empregado: Eu também quero. A para todos: ouviram o debate do…com quem joga o Benfica este Sábado? perguntou C para todos quando o A ia dizer entre quem tinha sido o debate. È mais ou menos isto. Cartão vermelho e bem vermelho para esta lusa e indisciplinada verborreia;
3 – O energúmeno que nos dá uma traseirada na viatura e sai do carro com cara de quem nos quer bater, porque não tínhamos nada que parar no semáforo porque o sinal ainda estava laranja;
4 – O mastigante impaciente que não suporta, de todo, esperar pela comida sem nos ir «picando batatas fritas» do prato, apenas porque tivemos o azar de chegar primeiro que ele à mesa e, entretanto, mandámos vir o almoço;
5 – A mulher que diz não com a boca, sim com os olhos, depois se baralha e já não sabe se foi assim ou se foi ao contrário e acaba por criar a maior confusão mas acaba por, três horas mais tarde e uma prelecção sobre as relações a tracejado, dizer sim com tudo o que tem à mão, preparada para uma contrição desnecessária e absolutamente desajustada para mais tarde, um nadinha antes de recomeçar o ciclo do sim, não, não só, mas também...
6 – Aquela gente que a partir de Junho de cada ano começa a pedir nos restaurantes que desliguem o ar condicionado porque o frio lhes está mesmo a bater nas costas, sobretudo aquela que vai-se a ver e está de costas para uma parede sem ar condicionado nenhum;
7 – O conflito nacional com o clima, mesmo dando de barato que Portugal tem um dos melhores climas do mundo. Tipo, estarmos um mês seguido com sol e calor e duas horas depois de começar a chover se queixa que isto está tudo mudado, já não é como era dantes, já não há estações, é o aquecimento global, os americanos são umas bestas e telefona para casa a perguntar se está tudo bem porque parece que também vai trovejar;
8 – Cadeias blogosféricas, sobretudo quando elas vêm de gente a que não sabemos, nem queremos dizer não;
9 – Sócrates. Porque sim. Porque me irrita. Porque tem filhos de tios a mais. Porque passa a vida a ralhar comigo na televisão. Porque se amanhã lhe pedirem para ler o boletim meteorológico na TV ele faz um comício e diz mil vezes que anda há quatro anos e meio a tornar Portugal um país próspero, moderno, tecnológico e cheio de novas oportunidades;
10 – A esquerda nacional. Porque vai contribuindo alegremente para que Portugal seja hoje o único pais da Europa com cerca de 20% de apoiantes da extrema esquerda and counting. O que, como se sabe, não abona muito a viabilidade da paróquia.
E passo a corrente:
À Dulce
À Carlota
À Cristina
À Rititi
À Ana
À Madalena
À Sinapse
Ao Joaquim
Ao Rodrigo
.
8 Comments:
Detesto a ideia de ser eu a desmancha prazeres que vou cortar a corrente...prometo que tentarei! Me dá um tempinho,:P
És um distraído! O Paulo já me tinha passado a corrente. E olha liga-me que mudei de telemovel e fiquei sem o teu número
Dulce
Fiquei sem perceber se pedes um tempinho para responder à corrente ou cortar a corrente... os insondáveis efeitos da refracção do pensamento do gineceu :))) mas acho que é para fazeres, mesmo. De resto, dou-te todo o tempo do mundo. Depois pagas com um cesto de mangas, uma rede e um banheiro à mão.
bjs
Ana
Tens razão, sou distraído! Um dia destes entro no quarto, deito o cigarro para a cama e jogo-me pela janela fora. Ah... não, não dá porque deixei de fumar, estava distraído :))))
Já agora, eu sou distraído, mas explica-me como é que eu te ligo. Mudaste de telemóvel e pedes para te ligar? Queres que te ligue para onde? para o telemóvel novo cujo número desconheço em absoluto? Tsss tsss tsss
:)
O nº é o mesmo, o aparelho em si é que é outro. Credo! onde vives? Ah! já sei em Cascais. por falar em Cascais dia 16 começa um festival de cinema e Medicina aí. Olha tu que tens mais leitores do que eu (sim continuo sem ir ao sitemeter) faz lá publicidade a isto http://www.medcinecascais.org/
Xiiihhhh, definitivamente a Ana tem razão! Olha só Espumante: se eu detesto a ideia de ser desmancha prazeres e prometo que vou tentar, com certeza que vou tentar dar continuidade, né?
Será refração do pensamento gineceu ou distração de androceu? Qto às mangas...este ano teremos uma colheita espetacular e como no meu jardim tenho três mangueiras, vou reservar um cesto de cada uma. Tá bom assim, ou queres mais? Não, não esqueci o banheiro e a rede. Esses já estão com uma plaquinha de reserva com o teu nome! Bjs
Considero-me notificada, mas o Lote 5 tem, tal como os hospitais, lista de espera para as correntes. Dá-me uns dias. :)
Adorei!!
... tardarei, mas darei seguimento!
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