terça-feira, agosto 31, 2004

Errei...

A Fatinha veio de azul. Peço desculpa pelo meu estrondoso falhanço. Só um pequeno comentário: Mandar para o ar números e valores sem qualquer base estatística é desonesto. Mas outra coisa não seria de esperar de gente que usa questões tão delicadas e trágicas como o aborto para o seu próprio protagonismo, ou como terapia de problemas mal resolvidos...

Patologias

Ninguém me contou, eu ouvi. E, a ser verdade o que ouvi, concordo com V.P.Valente quando ele diz que o mundo está perigoso. A Drª juíz Macedo estava de turno e resolveu mandar prender os arguidos do processo Casa Pia, que aguardam julgamento. Como razões invocou o facto de eles sofrerem de "compulsividade patológica" e, por ser Verão, os jovens terem a tez bronzeada e penteados estivais...digam-me que o que ouvi é mentira. Porque se for verdade, não há ninguém que leve a Meretíssima ao médico?

A Fatinha, os outros e o programa dela

Acordei com a Tv a anunciar o nome dela... há quanto tempo o não ouvia e que saudades, Deus meu! Eu estava atónito pelo facto de o barco ainda não ter merecido debate. Mas aí está ele. De um lado os bons, de outro os maus, uma claque FêQuêPê sort of thing (aceitam-se apostas sobre a tendência da claque) e, no cerne, no centrinho mesmo, ela. A Fatinha. Aposto que vai aparecer de branco... é um feeling. Depois, começará a ralhar com toda a gente, o José Manuel Fernandes falará de catédra e no finzinho... xixi cama , com a noção do dever "comprido". É logo, no Canal 1.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Deixende-os falar, que eles lixarão-se-ão

Começo a alinhar no coro dos que acham que este governo é incapaz e que Paulo Portas faz o que quer, o que lhe apetece e sobra-lhe tempo. À margem de questões maiores que geraram em mim a ideia de que o PS era um bando de demagogos, incompetentes e desonestos que conduziram este país alegremente e em diálogo para vergonhosos índices de desenvolvimento, havia as questões “menores”... as que me faziam pensar que o PS era maioritariamente composto por gente inculta. Comecei a reparar na coisa quando ouvi o Jorge Coelho afiançar que “ha-dem” ver que... qualquer coisa que já nem me lembro e que, noutro registo,... “fáçamos” o que temos que fazer. Se outras razões não houvesse, os pontapés na gramática por parte de gente com responsabilidades públicas consolidaram em mim a ideia de que o PSD dispunha de pessoas melhores. Assim mesmo – melhores. Ora, o que acontece agora é que o PSD está co-ligado e a ideia é que tudo o que acontece de mau é por causa do PP. Pode ser... mas eu acho que não. Pela liminar razão de que se eu estivesse no poder e fosse PSD não permitiria o verdadeiro circo que se observa com o tal barco do aborto (cujo enquadramento nem sequer discuto, apesar de ter a minha opinião sobre o assunto). Pois, porque carga de água andam 2 (dois) barcos de guerra a vigiar o tal barco? Se o barco Holandês transgredir, o que acontece? Os barcos de guerra abatem-no? (...tiro no barco do aborto ou, barco do aborto ao fundo, se a pontaria for mais certeira). Eu vejo, leio e não acredito. Mas esta gente perdeu a cabeça? E o dinheiro? Quanto custa esta cena de ter barcos de guerra a patrulhar um barco cujo material mais perigoso parece ser seringas e pílulas abortivas? Mas... há uma outra questão. Tem-se lido muito, ultimamente, sobre os tais assessores de imagem do Governo. Ora, com tantos assessores, como é possível que apareça um Secretário de Estado impreparado, titubeante, papagaio de lição estudada a justificar a acção do governo e, ainda por cima, com erros de palmatória como “iria-se” gastar umas pílulas que não sei quê... ou “estaria-se”... qualquer coisa que nem me ocorre? Uma pessoa sem presença, tímido, que fala mal Português e a debitar argumentos idiotas.Donde eu penso (pensarei mal?) que os tais assessores de imagem estão especialmente treinados para escolher gravatas e cortes de cabelo... porque se assim não fosse, certamente que teria havido a preocupação de, pelo menos, mandar alguém que soubesse falar Português e tivesse uma dicção minimamente aceitável. E até o nó da gravata estava parolo, valha-me deus, o que me leva a pensar que os assessores de gravatas nem para as gravatas servem... É preciso que “tênhamos” fé no destino. E para que “consígamos” um dia destes ter um melhor governo, aguardemos serenamente. “Deixende-os falar, que eles lixarão-se-ão”.

sexta-feira, agosto 27, 2004

O "efeito blog"

Existe uma casa de banho em Peso da Régua como não deve haver outra no mundo. E digo isto porque a usei, numa daquelas alturas em que somos todos iguais e temos de dar livre curso às funções fisiológicas que Deus achou que devíamos ter. A dita casa de banho, de interior modesto mas muito cuidado, situa-se numas instalações na falda da margem direita do rio Douro e, provavelmente por isso mesmo e pela ausência de vizinhos, a janela é uma extensa vidraça desde o tecto até ao chão. Daí que quando nos sentamos na sanita ( e vão perdoar-me estes pormenores, mas é indispensável que o refira), tenhamos a mais estranha sensação. É que não é todos os dias que nos sentamos numa sanita e, simultaneamente, contemplamos aquela beleza indescritível do rio, correndo sereno lá em baixo, entre uma paisagem que muitos de nós só conhecemos pelos folhetos turísticos. “Aquilo” é mesmo assim. O Douro é mesmo assim. Duma beleza esmagadora. E o cenário é de tal maneira belo que nos esquecemos do que estamos a fazer (afinal, se nos sentamos numa sanita é porque tínhamos uma estimável razão para isso). E ali ficamos, olhando, bebendo aquela magnífica vista e experimentando uma particular sensação de estarmos entregues a uma operação tão íntima, escancarados numa vidraça, com a certeza de que ninguém nos vê, estamos sozinhos, nós, a beleza das margens, a serenidade do rio. E é por isso que é com justificado sobressalto que ouvimos um “blog” (que, naturalmente ressalta do silêncio em que estamos envolvidos, salvo casos comprovados de irrepremível flatulência, que não era o caso, para meu descanso e de muita gente...). Um “blog” isolado, único, quase assustador por nos quebrar o silêncio e o deleite de tudo o que se estava a passar - a vista e o facto não despiciendo de nos estarmos a aliviar do que não nos faz falta. O “blog”, em si, não seria grave... o ruído até acaba por ser agradável, apesar de inesperado. Se repararmos bem, “blog” até tem uma sonoridade aprazível. Imaginemo-nos num parque bucólico duma cidade, a contemplarmos uns simpáticos cisnes nadando num pequeno lago e, ao atirarmos, por exemplo, um pedaço de pão aos cisnes, ouvirmos... “blog” quando o pedaço de pão bate na água. Convenhamos que não é coisa que mova um poeta a ir para casa a correr fazer versos, mas que até é um som simpático, é: - “Blog”... Só que eu não estava num parque a ver cisnes a nadar num lago. Estava sentado, com deleite, admito, pelas razões expostas, numa sanita. E o “blog” não foi só ruído. Torna-se-me claro que ao “blog” sonoro se sucedeu um respingo, mudo, de água que molhou (e agora vou apelar para aqueles que tenham um mínimo de conhecimentos de anatomia topográfica) toda a “região autónoma glúteo- períneo- escrotal” . E mais não digo, que isto já raia a escatologia. Apenas porque, se um respingo de água em semelhante região pode ser até agradável, assim que pensamos donde vem essa água, imediatamente sentimos alguma repulsa, já que os pingos se elevam dum meio prenhe daquilo a que os analistas chamam coliformes fecais (eu explico: fezes em forma coloidal e coloidal, se não sabem, comprem um compêndio de química). Foi aquilo a que chamei o “efeito blog”. Passada a surpresa olhei para baixo. E se olhar para baixo pode constituir razão para que “gostemos do que vemos”, desta vez, não gostei. Então não é que a sanita era daquela antigas, sem aquele design estudado ao milímetro, com uma convexidade que faz com que os .... pois, isso... sejam amortecidos antes de entrar na água? E que o percurso dos... hummm, claro, “isso” outra vez, se faz numa etapa directa, mergulhando que nem um fuso na água e provocando um sonoro e respingante “blog”? Bom... não havia nada a fazer senão enxaguar a “região autónoma” e gerar subconscientemente uma aversão aos “efeitos blog”. E concluír que por mais lírico que o enquadramento seja, um “blog” é um blog” e, como qualquer blog digno desse nome, respinga... Desde aí passei a andar sempre com toalhetes. Prontos para me secar de imprevistos “efeitos blog”. Ou, plano “B”, limito-me a ignorar o “efeito blog” e continuar a manter uma atitude despreocupada e indiferente, sempre que tenho de me sentar. Numa sanita, ou ao computador.

Alguns comentários que tenho de referir

- De A. A (Lisboa)

“...vou oscilando. Ora te acho divinal, ora acho que alguns dos que escreves nunca deveriam ter saído da tua cabeça...”

M/comentário: oscilo entre corar como um menino e ir buscar um babete ou passar a dizer à cabeça que só deixe sair o que for consensual. Um beijinho para ti.

- De I.M.C. (Sintra)

“... e porque defende tanto Santana Lopes, um político de mero acaso e sem qualquer estofo de Estado? Mesmo quando se refere a ele com ironia fica sempre bem patente a sua cor...”

M/comentário: Procurei, procurei e não vislumbro, nem com boa vontade, essa tal defesa da criatura em causa. Quanto à cor...Caucasian.

- De I.L. (Lisboa)

“...escreve mais sobre África. Se possível sobre mar, peixes e pesca...”

M/comentário: Se escrever muito mais sobre África, sou capaz de tomar tanta embalagem que corro o risco de me tornar chato. E depois... a maioria dos meus actuais amigos não conhece África. África é um bocadinho como Coimbra, “tem mais encanto, na hora da despedida”. E eu já me despedi dela há quase oito anos, ficaram algumas feridas, que hoje são equimoses e, em breve, vulgares e quase imperceptíveis cicatrizes...

- De C.V. (Lisboa)

“... cavalas assadas, em África, tem alguma comparação com sardinhas assadas na Alfama?...”

M/comentário: Não.

- De R. Q. de M. (Porto)

“... não pares. Os blogs estão-se a tornar parecidos com os jornais,. Não pares...”

quinta-feira, agosto 26, 2004

Já me rrrrio, carrrrraças

Hoje cheguei ao escritório bem disposto. Começo a verificar que as tripas se revoltam menos com os dislates que oiço todos os dias há anos. O que ouvi hoje no noticiário das 10 da manhã da TSF foi uma autêntica terapia de fígado e um bálsamo para os neurónios. É que dou comigo a rir com o que oiço, ao contrário de há alguns tempos atrás, em que coisas como as que ouvi hoje me davam direito, no mínimo, a dois konpensans, três cigarros furiosamente esmagados no cinzeiro e um palavrão (ou mais) a ecoar no sótão das ideias. Verifico, contente que nem um puto a quem a namorada disse que lhe dava um beijinho, que rio, o que é um assinalável progresso. Mas contemos: - A locutora de serviço (bem conhecida e que compete dignamente com Francisco Louçã naqueles tais “erres” tipo motorizada, se bem que esta senhora é mais tipo Zundapp, Louça é mais português, Famel Foguete) anunciou que “... Leonorrrrrrrrrrrr Coutinho, ex-secrrrrrrrrrrrrretárrrrrrrrrria de Estado de Habitação do goverrrrrrrrno de Guterrrrrrrrrrrrres disse à TSF que o prrrrrrrrrojecto de lei do arrrrrrendamento errrrrrrra uma “não lei” porrrrrrrrque...” e debitou umas quantas banalidades que a senhora terá dito a propósito. Ora, independentemente da bondade da lei em questão, do que me lembro de Leonor Coutinho é que era uma senhora com um nariz grande e que tinha um namorado a quem emprestava o BMW preto do estado para o piqueno dar umas voltas enquanto ela se ocupava a não fazer leis de arrendamento coisa nenhuma (este “coisa nenhuma” é benévolo, ia-me a saír “porra nehuma”, mas contive-me). Não me lembro de mais nada que ela tenha feito e o que me ficou foi um par de reportagens sobre o tal namorado que gostava de BMW. Tive de me rir, claro. Por que carga de água teria de ser Leonor Coutinho a dar o douto parecer sobre este projecto de lei do actual governo? Já agora, porque não me pediram a mim uma opinião sobre a lei? Não vendo? Mas olhem que eu era capaz de arranjar um currículozinho jeitoso. Tambem já emprestei carro a namoradas do estado (os carros, não as namoradas), há muito tempo atrás, não era bem um BMW, era um Land Rover e foi em condições especiais que não vêm ao caso, mas que emprestei, emprestei. Eu sei que nunca fiz nenhum projecto de lei de arrendamento, mas Leonor Coutinho, tambem não. Por isso, porque não eu? Mas a coisa não parou aqui. Logo na peça seguinte (acho que é assim que se diz), fico a saber que Vítor Baía ia receber um prémio no Mónaco, como o melhor guarda-redes europeu de 2003/2004 e que o enviado especial lhe ia fazer uma pergunta. E a pergunta era... um doce a quem adivinhar... “...Vítor Baía, como se sente por ter sido considerado o melhor guarda-redes europeu?...”. Excitei-me... fui invadido por uma orgásmica sensação e pensei: - É agora. É agora que Vítor Baía vai dizer que “...olhe, uma chatice, estou profundamente triste com a situação, esta coisa de ser o melhor guarda-redes europeu alem de ser uma seca tremenda vai prejudicar o meu propósito de low profile que assumi desde que Scolari achou que o Ricardo e o Quim eram melhores, e depois é uma trabalheira, sabe... a cerimónia, a medalha, o discurso, mas enfim, nem sempre as coisas nos correm como queremos e lá terei que ir receber o prémio...” Desilusão – Vítor Baía afinal só disse que estava muito feliz, que era uma honra para ele e para o futebol português e... o resto passou-me.
Já não ouvi bem o resto do noticiário... a senhora continuava a acelerar os erres e a fazer-me mesmo virar a cabeça com medo duma ultrapassagem ousada duma motorizada mais acelera numa altura em que me pareceu depois ela ter dito “rrrrrrrrrrrrrregrrrrrrrrrrrrressarrrrrrrrr”. Louçã... cuida-te. Ahhh, esta locutora é a tal que anda pelo menos há seis anos a dizer “ilecópterrrrrro”. E ainda não houve um chefe, um director ou mesmo uma mulher da limpeza, em seis anos, que lhe dissesse que “ilecóptero” se diz helicóptero. Já acabei de rir e o telefone já vai tocando furiosamente. Vou trabalhar...

quarta-feira, agosto 25, 2004

Rats...

Assim não brinco. O telefone não tocou toda a manhã. Nem um "callmezinho" da miuda... almocei sozinho, o restaurante estava quase vazio e era tudo homens. A única coisa que mexia era o 25 dos Prazeres a arrancar da Basílica para mais uma ronda ronceira por Lisboa e, lá dentro, duas pessoas. Homens. Na rua, umas dezenas de pessoas a andar sem pressa. Homens, claro. O escritório está às moscas (moscos??) e as coisas que eu tinha que fazer hoje vão ficar para amanhã. Até a posta que era para escrever hoje vai ficar para amanhã. É que não há condições - o Santana Lopes não há meio de dizer nada, mudo e quedo, presume-se amarrado a uma cadeira e amordaçado. Sampaio... cadê ele? As cassetes, acho que foram destruídas, dizem eles e o CM não confirma nem desmente. Uma brilhante blogger diz que o melhor que pode arranjar para a posta de hoje é uma história em que o Santana Lopes faz de tartaruga em cima dum poste e mais não sei quê, outros blogues "de referência" também não passam hoje dumas lambidelas de interesse mútuo com uns comments "à la carte" e uma ou outra polemicazinha de polichinelo (repararam que tirei o acento do polémica??). Ná... fica mesmo para amanhã.

terça-feira, agosto 24, 2004

Vá... não se alambazem

Que fique claro que a vitória de F. Obikwelu foi dedicada àqueles que, por circunstãncias trágicas da vida, se viram privados de capacidades motoras ou mentais. Para eles, os "deficientes portugueses" na palavra do atleta, a prata dos 100 metros. Défices de vergonha, competência, rigor e honestidade não são considerados pela dedicatória, pelo que, por favor, os "suspeitos" do costume não deverão começar a preparar-se para as loas ao nosso campeão. A dedicatória não é para eles.

África deles

Quando ontem vi Francis Obikwelu a “voar” para a meta dos 100 metros dos JO de Atenas, fui sacudido por um ligeiro frémito de emoção. Aquele jovem ia ganhar uma medalha e, à noite, ia dormir com a bandeira nacional. Olhando para os outros corredores , reparei que todos eles eram negros, o que me fez pensar e recordar o continente africano. Conheço vários países africanos e vivi mesmo em alguns deles. E, sem querer, o rosto de Francis, o sorriso estampado naquele jovem de dentes muito brancos, remeteu-me de imediato para a visão que mantenho incólume dos bandos de miúdos que, seja nas grandes cidades seja no mato profundo daqueles países, vivem a correr e a rir. Muito. Nas cidades, quando estacionamos os carros e somos rodeados por revoadas de putos a pedir para “guardar o carro”, no mato, quando lhes pedimos uma informação sonbre um local, uma loja, qualquer coisa e eles, com a própria inocência a rir, nos dizem “é ali” e voam para “ali”. Às vezes, perguntamos se é longe e eles dizem, a rir, “é longe, mas é perto”. E continuam a correr e a rir. Em relação aos negros americanos a coisa é diferente. São, regra geral, de raíz urbana e estão perfeitamente ajustados a uma realidade e cultura diferentes. Mas o Francis... Nigeriano que fugiu da Nigéria e descobriu uns pais em Portugal, tinha estampado no rosto a tal alegria de correr e tenho a certeza que quando dedicou a vitória aos deficientes portugueses, ninguem lhe encomendou o sermão. Porque também ele, na sua Nigéria, país que também conheço e onde não encontro razões muito válidas para nos rirmos, também ele correu, também ele riu, nem sonhando que um dia a sua corrida haveria de servir para uma medalha para Portugal e que este País tinha uma bandeira em que ele se haveria de enroscar para dormir. E hoje, quando me desloco a Angola e Moçambique e revejo aqueles bandos de crianças a rir e a correr, vem-me à ideia que Deus, quando era pequenino e há muitos mundos atrás, (vamos esquecer o big-bang e Darwin, por um momento...) devia brincar à apanhada, a correr e a rir, nas florestas e savanas do mais místico, mágico e estonteantemente belo mundo, dos mundos que Ele fez... e devia estar a rir-se, com certeza.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Mau pr'á "ingrícola"

A agricultura é, para muitos de nós, algo que nos passa ao lado. Qualquer coisa de que o cidadão comum sabe que “vai mal”, que “os espanhóis nos vêm vender fruta mais barata”, que as nossas cerejas, melões e laranjas é que são saborosos e pouco mais. Todavia, a agricultura representa para a maioria dos países europeus uma percentagem elevada do produto e do emprego. Numa altura em que a União Europeia tem dez novos Estados-membros (Chipre, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, República Checa e República Eslovaca) é imperativo que Portugal “perceba” o que isso pode representar a nível de fundos estruturais europeus. Há previsões que esses fundos possam ser reduzidos em 10%. E a razão é simples. Portugal beneficiou de programas de convergência na agricultura europeia e há, agora, dez novos Estados que viram chegar a sua vez. E o problema não é de somenos. Determinados produtos agrícolas e pecuários têm hoje um peso considerável na percentagem do produto de alguns dos novos Estados-membros, o que obrigará a elaborados estudos de proporcionalidade. A batata, por ex., representa 9% da produção agrícola da Letónia e Malta e 10,4% da Lituânia. Mais de 19% da produção agrícola de Malta refere-se a frutas e os cereais atingem valores como 15,6% na Eslováquia, 17,6% na Hungria, 18% na Polónia e uns surprendentes 20,1% na Rep. Checa. Não é preciso estar-se muito por dentro das grandes questões agró-pecuárias para se perceber a importância de valores percentuais tão elevados e do reflexo que eles terão na análise de distribuição de fundos estruturais. Sabendo ainda que a entrada destes novos países vai representar um crescimento da superfície agrícola em 30%, bem assim como da produção agrícola com os mesmos 30% e que 17% da população daqueles países trabalha na agricultura, receio o pior. E o pior será que passados os tempos das vacas gordas em que poderíamos ter impulsionado o nosso sector agró-pecuário, não vejo que o nosso governo (este, o anterior, o anterior ao anterior) esteja minimamente posicionado e preparado para encarar os problemas que se avizinham. Afinal, esta e outras grandes questões que deveriam preocupar os cidadãos e, sobretudo, o governo. Eu sei que há outras prioridades... as cassetes, o Souto Moura, o Pinto da Costa, a campanha do PS, as namoradas de Santana Lopes, os comentários do professsor Marcelo (Uff, finalmente vejo que o professor Marcelo reparou ontem que as milícias árabes andam a matar pretos no Sudão... fiquei bastante mais sossegado), o Zé Maria que pirou e o outro que anda passar jóias no aeroporto. Mas que diabo, por uma vez, bem que poderia aparecer alguém que conseguisse transmitir aos portugueses a ideia de que há questões relevantes para além da magna cuscovilhice nacional. Mas com cuidado, claro, para o caldo não entornar. A título de exemplo, e já que estamos a falar de agricultura, recordo-me ter ouvido uma observação recente do ex-ministro de agricultura Sevinate Pinto sobre a impreparação dos bombeiros para o ataque aos fogos florestais, o que era óbvio e não tinha nada de desprestigiante - é um dado adquirido que os bombeiros, até há bem pouco tempo, eram treinados para apagar fogos urbanos, com as tais escadas Magirus e mangueiradas de água. Aqui d’el Rei que o homem é louco e está a insultar os bombeiros. Era bom que conseguíssemos ultrapassar esta nossa atávica capacidade reactiva e conseguíssemos um melhor enquadramento com os verdadeiros problemas que nos afligem. Quando eu tinha 20 anos, achava que alguns anos depois nos tornaríamos mais eficazes, modernos e menos provincianos. Hoje, na sei...

NOTA: Os dados percentuais referidos são citados, com a devida vénia, de um trabalho da engª Isabel Martins.

Botar figura

Curto e grosso. Depois de um 11º lugar (salvo erro) numa prova de atletismo, Manuel Silva disse, num inflamado directo para a televisão, mais palavra menos queixume e procurando respeitar a fonética “...que estaba em Atenas às custas dele, que as sapatilhas estábam rotas, se quiserem eu lebo para Portugal e mostro, que num tinha apoios, cumo é que querem que uma pessoa bote figura, a única ajuda que recebi foi da Câmara de Mátozinhos ...” e etc., etc., que este palavreado acaba por conduzir à náusea. Habituado como estou a episódios edificantes deste género em que as nossas instituições são férteis, confesso que acreditei. Afinal, pouco tempo volvido, o presidente do Comité Olímpico Nacional desmentia o Manuel, disse que eram declarações delirantes e que ele, o Silva, estava em Atenas integrado na comitiva Olímpica com as respectivas despesas pagas. Mais tarde, Manuel Silva desmentia-se a si próprio, assim com cara de quem foi apanhado pelo chefe a roubar os tinteiros do computador para levar para casa, dizia que as coisas não eram bem assim, que ele tinha poucos apoios mas isso era porque ele próprio não os tinha pedido, que pedia desculpa pelo que tinha dito e agradeceu a atenção dispensada. Estes episódios, de tão tristes, poderiam ficar por aqui, não fora o facto de eles representarem fielmente o pior que transportamos em nós, seja por índole própria, seja pela cultura de desgraçadinhos e subsídio-dependentes que nos foi instilada durante gerações. O que fica neste caso é a nossa habitual bonomia e irresponsabilidade. Até por uma questão pedagógica, o senhor Manuel Silva devia ser punido. Quanto mais não fosse por uma questão de dignidade e pelo respeito que deve aos contribuintes que ajudaram a que ele comesse “uma bucha” enquanto, de sapatilhas rotas, andou por Atenas. Por extensão, ocorre-me a nossa fraca prestação nos JO de Atenas. Mas isso remete para uma reflexão mais apurada. Enquanto o País não se convencer que o desporto começa na escola, instilando nos jovens não só o espírito de competição mas, também e sobretudo, que ele deveria fazer parte do currículo escolar, não há subsídios que levem a parte alguma, relevando figuras de excepção que, pelas suas naturais aptidões, ressaltam da mediocridade, como Carlos Lopes, Mamede, Fernanda Ribeiro, Rosa Mota, Carla Sacramento e poucos mais... A Holanda, com metade do nosso território e uma população pouco maior que a nossa tem tido nos JO um comportamento e resultados notáveis. Por isso, a existência de valores não tem a ver com a quantidade de “matéria prima” disponível, mas sim com a existência de alfobres, onde a competição, brio, rigor de treinamento e cultura desportiva sejam desde sempre valores a instilar e cultivar nas nossas crianças. Uma questão de cultura, afinal.

domingo, agosto 22, 2004

Ameaça

Palavra de honra que, depois de tantas promessas, senão aparece alguém iluminado que me ensine a acabar o blog, com os links e aquelas mariquices todas, nas próximas 48 horas, inicio uma recolha de assinaturas para que Souto Moura não seja demitido. Com Sampaio e Santana Lopes, já somos três...

sábado, agosto 21, 2004

Um leitor

De A. F. Ferrão, o seguinte comentário sobre o post “The Importance of being Sócrates”:


...tentei o “post a comment” no espumadamente, mas recuei face ao pedido de password, “sign in”, etc.
Se Euclides fosse vivo, certamente apreciaria a criatura em epígrafe, esta perfeita encarnação de um conceito deveras importante, qual seja o de mediatriz de um ângulo. Face a linhas divergentes que pedem uma opção, o Sócrates José ( e era escusado lembrar – a toda a gente – que é engenheiro, mesmo que apenas em título) tem o condão de seguir magnanimamente em frente, espairando apenas o discurso para ir acompanhando os contornos das linhas. Habilidade que herdou do seu grande mestre Guterres (terá ele reparado no estrondo da queda? – até me doeu só de ouvir).. Para todos, a vida saca consequências inexoráveis das acções ou da sua falta. Convencido da condição etérea da arte de governação – “sou candidato a Primeiro” – Sócrates vai sacudindo as vicissitudes de uma gestão penosa de hostes malcriadas e ingratas. Em época de citações, toma esta: “Todas as figuras históricas se repetem: da primeira vez, como tragédia, na segunda como farsa”. Sócrates é a farsa de Guterres e, como tal, apenas conta com o efeito narcótico dos meios de comunicação e do próprio aparelho do partido. Se o corpo social em que intervém está em processo moribundo ou, pelo contrário, ainda tem uma réstia de vitalidade, é o que veremos em breve.
A opinião seguinte não me foi pedida, mas que se lixe:
Fora de propósito, vi hoje a directora do Independente, enebriada com as possíveis consequências políticas das revelações que tem na gaveta, embora declare que apenas defende a verdade e que as decisões são “para cumprir”. Sabes que nunca votei no Partido Socialista, e mais, que o considero uma associação objectivamente mais favorável à direita que à esquerda. Mas não embarco nesta algazarra de alcova e lamento que em Portugal não surja uma direita mais decente, porra. Mesmo filocomunista e meio pária, tenho direitos, c’os diabos.

sexta-feira, agosto 20, 2004

Excelência

Hoje não sai nada. Aproveito para ir comprar a obra completa de Camilo Castelo Branco, lê-la toda, toda, toda e cultivar a excelência da interlocução.

The Thing

Não. Não é a “coisa “ de Carpenter. Para quem não conheça o filme, imagine-se uma vila escura e húmida, de habitantes mais ou menos idosos, barbudos, bonacheirões e fumadores de cachimbo (eles). A vila é costeira... há um permanente mar revolto, de espumas muito brancas, um farol, a humidade escorrega nas ruas, nas paredes das casas térreas. Mas é tudo boa gente! O problema é que há uma “coisa”... uma coisa que invade a vila em forma de nevoeiro espesso, implacável, no meio do qual e por causa dele se passam coisas terríveis e assombrosas. Para quem gosta do género, o filme é um clássico. Ora, vem isto a propósito de que no meu post de ontem, o “Gastador”, me esqueci de incluir na minha lista de compras uma “coisa” que acabei também por comprar. A coisa é pirosa... não tem nada a ver com nevoeiros, ruas húmidas nem cemitérios antigos. É uma coisa... bem mais terrena. Mas é uma “coisa” Barata, claro.. Uma simples embalagem de margarina, mais barata e, julgava eu, inofensiva, já que não me constava que houvesse margarinas malfeitoras, assombradas, possessas do demo ou cuja fábrica tivesse sido construída nos terrenos de algum cemitério do século XVIII. Mas há. E senão vejamos. Coloquei uma pequena porção da dita margarina numa frigideira (boa, daquelas que não pegam e não sei que mais...) e preparava-me para fazer dois ovos mexidos. Cerca de dois minutos depois, a margarina ia-se derretendo e quando começo a verter os ovos na frigideira, eleva-se uma formidável labareda que me ia queimando as pestanas e queimou mesmo todos os pelos que tinha nos dedos (não tenho muitos... assim pr’ó normalzinho, como as pessoas...). Claro que os ovos vieram parar ao chão, as gatas fizeram um miau que se ouviu a quilómetros e na frigideira ia-se consumindo a margarina em estrondosas labaredas. Ainda pensando que teria feito alguma coisa mal feita, repeti a cena. Já sem ovos e só com a margarina... e o resultado foi rigorosamente mesmo. Lá estava ela... “the thing”. Perigosa, malfeitora e possessa de lípidos ferventes que à mais pequena contrariedade desatam a arder e a fazer maldades aos incautos...

GENÉRICO:

TÍTULO : The Thing
TRADUÇAO PARA PORTUGUÊS: Margarina Ómega 3
ORIGEM: União Europeia, rodado em Carretera de Andalucia, Km 12 – Getafe – Madrid – España
INTÉRPRETES: Aceites e grasas vegetales, água, sal, emulgente, ácidos lácteos e acidulantes
AVISO IMPORTANTE: Não deve ser manuseada por menores nem mesmo maiores, sem que sejam devidamente avisados de que “A COISA” arde... sem avisar.
EM EXIBIÇÃO: Num MiniPreço perto de si

Nada de (muito) novo

Miguel Portas prestou hoje um inestimável contributo ao aumento da minha cultura geral. E não só... também à possibilidade de eu passar a perceber melhor o sentido da sociedade justa que todos devíamos procurar construír... Disse ele na sua crónica do DN “Nada de novo” de hoje que, e cito “... a corrida de quadrigas de Ben Hur explicava como era. Que os atletas de então eram profissionais, e se esgadanhavam e esgadanhavam as regras para vencer e, vencendo, adquiriam um estatuto de semideuses na cidade onde viviam...” fim de citação. Imaginem que há 2000 anos já era assim... e ainda não aprendemos nada. Percebo agora um pouco melhor a sarrafada do nosso futebol. Percebo um pouco pior como é que 2000 anos depois ainda há quem digas destas coisas, como se tivessem descoberto a cana para o foguete. E lhes paguem por cima. Não há pachorra !...

quinta-feira, agosto 19, 2004

Gastador

Já sou crescidinho, mas tenho uma família que me acha gastador, mau gestor de assuntos domésticos e absolutamente insensível a preços. É uma perfeita injustiça... sempre considerei o preço um dos factores que, com a qualidade e outros pormenores, me levam a adquirir ou não o produto. Acontece que por circunstancialismo extrínseco me tenho visto obrigado a comprar coisas a que não estava habituado, como sejam as groceries (desculpem a “inglesice”, mas não conheço sinónimo português tão abrangente). E é assim que sou, frequentemente, acusado, vilipendiado e quase assado em fogueira de inquisição por verdadeiras “barbaridades” que faço, quando menciono, ao acaso, o preço de algum item que tenha comprado em vulgares supermercados. Então tu não conheces o Lidl ? Nunca foste ao MiniPreço ? E porque vais ao PingoDoce? Ainda não leste os estudos de mercado que referem o PingoDoce como o mais caro dos supermercados? Pessoa cordata e cheio de espírito de família, oiço as críticas e lá vou pensando com os meus botões que se calhar são capazes de ter razão. E que, provavelmente, escolher entre uma manteiga Mimosa ou Ucal, um azeite Gallo ou Oliveira da Serra, (que diabo, não me lembro de mais marcas, mas concedam-me o mérito de ter citado já três delas o que há algum tempo atrás seria impensável.) mas, dizia eu, escolher marcas entre produtos tão semelhantes, era capaz de ser preciosismo, apesar de eu me ter vindo a habituar a algumas delas. Até que um dia, numa deambulação ociosa de um Sábado à tarde, deparo com um estabelecimento ostentando o apelativo nome de “MiniPreço”. É hoje, pensei eu! É hoje que eu começo a “educar-me” na difícil arte de comprar bom e barato. E meti-me à tarefa. Meti o carro por aquilo que me parecia ser o parque de estacionamento, apesar dos tapumes, montinhos de pedras de “calçada à portuguesa” à espera de serem aplicadas, bandeirinhas triangulares vermelhas e brancas (que eu julgo significarem obras, não era preciso o esforço, tal era a barafunda de pedras, lixo, betoneiras, carrinhas de empreiteiro estacionadas a esmo, tubos de plástico enrolado e outras delícias, que as bandeirinhas eram dispensáveis, apesar de “irem bem” com as cores do tal supermercado) até conseguir uma nesga para o carro. Entro no “MiniPreço”. A multidão movimenta-se para lá e para cá, para cima e para baixo, de lado, aos encontrões, suada, ruidosa e apressada e, mesmo assim, rindo-se, Quase toda a gente se ria, o que me faz pensar que quando alguém me disser que os portugueses são um povo sorumbático, eu mando-o ir ver portugueses ao “MiniPreço” Claro que tive alguma dificuldade em perceber por onde é que se entrava...mas consegui e entrei. Percorro os corredores das prateleiras... havia caixas de papel higiénico abertas, espalhadas pelo chão (admito que o papel higiénico não fosse em segunda mão...), toalhas, toalhinhas e toalhetes, detergentes, sabões, ovos e sabonetes. Leite, muito leite. Massas e latas de comida para animais, bolachas, artigos de plástico, farinhas e... tudo. Havia tudo. Preços, era mais difícil. Eu, que me tinha pressurosamente disposto a educar os meus desvarios de compras de supermercado, bem me esforçava para ver os preços e ver preços, via... mas precisava de longos momentos para “acasalar” as etiquetas com os artigos “expostos”. Esforçadamente, fui martelando a inteligência com a tal teoria familiar de que eu não ligava a preços e fui vagueando entre as (centenas) de caixas de leite, rolos de papel higiénico, até me aperceber de que não só precisava nada daquilo como me era extremamente difícil distinguir preços. De repente, o sol brilhou. Vejo um pacote de plástico com três salsichas ostentando a palavra “Baviera”. Desconfiado, peguei no pacote e li: “Made in Germany”, importado e embalado (este “embalado” fez-me franzir o nariz...) por não sei quem, Rua não sei das quantas, Amadora. Investi pelas dezenas de etiquetas de preços coladas com fita adesiva nas prateleira, até que vejo: Salsichas Baviera, 1,08 Euros. Rejubilei... três salsichas alemãs (ainda que “embaladas" na Amadora) por um Euro. Lembrei-me que costumo comprar umas salsichas deliciosas, alemãs, num minimercado perto de casa, em saquinhos de quatro unidades a 5 Euros. Ora aí estava... eu andava mesmo a ser levado. Peguei logo nas Bavieras, tipo trofeu de safari e continuei. Passados uns bons 10 minutos sem mais nada que me chamasse a atenção, acabei por comprar um cartão com 6 ovos (Tipo G, seja lá o que isso signifique, “frescos”, prazo de validade tudo em ordem...), mesmo não tendo conseguido descortinar o preço. Mas a avaliar pela amostra das salsichas, devia ser barato. Continuo a viagem entre a algazarra de “portugueses sorumbáticos” que me transmitiam a ideia de que tinham ido todos para ali contar anedotas, passei por melões... vi gente (homens, claro) apalpando e sopesando melões, carregando desalmadamente com os polegares nas extremidades dos ditos, tudo isto com aquele olhar sábio e científico que só os portugueses sabem fazer quando se dedicam à sofisticada operação de examinar melões... ainda dei uma vista de olhos... mas o melão agora é sempre branco, é todo branco, tenho saudade do melão verde “pele de sapo” e desisti. As risadas continuavam, uma ou outra estalada em putos simpáticos que iam mexendo em tudo e deparo com as instalações frigoríficas. Como gosto de chouriços, olhei para um milhão de chouriços expostos, pensando que teria ali farta escolha... o chouriço dizia “chouriço corrente” da Nobre. Vi tantos, mesmo todos correntes, que acabei por comprar um. Isto em obediência estrita às “tareias” que tinha levado da família... eu tinha que comprar coisas no MiniPreço. Ao fim de uma boa meia hora, eu tinha três salsichas Baviera, um chouriço e seis ovos... e palavra de honra que não sabia bem o que é que havia de comprar mais. “Bichei” (palavra moçambicana que significa fazer bichas, sem complexos de que estejamos a chamar maricas a alguém e que faz todo o sentido quando nos colocamos numa bicha) para pagar. Muitos pagamentos depois (as pessoas nem eram muitas, mas havia coisas esquisitas, pessoas que queriam mais que uma conta, que tinham cartão MiniPreço para umas compras mas que não davam para outras, descontos, promoções, senhas e toda uma parafernália que não consegui entender mas que os portugueses devem gostar porque continuavam a rir... no que eram acompanhadas pelas meninas das caixas, nos intervalos em que estas iam falando umas com as outras sobre se iam a PuntaCana, Ibiza ou Maiorca nas férias, ao mesmo tempo que iam passando os códigos de barra pelas máquinas) e, entre “plins” das máquinas, cartões de desconto, senhas e férias em PuntaCana lá chegou a minha vez. Paguei, perante um olhar de uma menina com cara de “este gajo deve ser parvo, vem aqui para levar seis ovos, um chouriço e três salsichas”, e fugi. Literalmente. Em casa tive dissabores... um dia depois de ter aberto o pacote das Bavieras, refilei com a miúda no género “filha, quantas vezes te disse para não deixares a lata da comida das gatas no frigorífico ?” – (pai... eu...? mas alguma vez deixei latas abertas da comida das gatas no frigorífico?), abri dois ovos para estrelar que “alastraram” pela frigideira e ficaram assim tipo bolacha Maria e deitei o chouriço fora que nem as gatas lhe tocaram. Concluí que uma coisa é ser poupado... outra é manter este nosso espiritozinho de português poupado que é incessantemente levado na curva (sem dolo, porque os portugueses riem...), numa mistura interessante de poupança com miserabilismo, que nos fica bem e permite que gente como a IKEA nos venda itens a “preço único europeu”, excepto para Portugal, claro, onde uma cama de bebé, da mesma marca, da mesma referência, custa EXACTAMENTE o mesmo em todos os países da União Europeia, e custa aqui mais 100 Euros. Se duvidarem é só consultar o site na net... e quando a minha mãezinha me disser que não sou poupado, vou ao sítio do costume, compro duas “Schlessias" fresquinhas e deliciosas, frito dois ovos redondinhos e como uma sanduíche de bom chouriço. Fica-me 10 ou 15 % mais caro, mas fico feliz e poupo em remédios para o stress.

Mudar de sexo, na desportiva

Cerca das 11 da manhã, reportagem de provas de canoagem, masculinos e femininos dos Jogos OLímpicos... repórter a reportar os “huhhs”, intercalados com a matéria em causa... sintonizo a estação oficial e, de rajada, sem me deixarem respirar, oiço ( e cito): “... e esta... huhh... equipa ...huhh... assume claramente o “favoratirismo”... huhh... huhh. E agora... huhh... mudemos de sexo. Passemos das senhoras aos homens...” fim de citação. Não creio que haja alguem que, como nós, consiga dizer tantas asneiras em tão pouco tempo. No caso particular da mudança de sexo, a coisa tocou-me. Já passei por algumas rebaldarias... mas mudar de senhoras para homens, confesso que não. E vos garanto que se isso alguma vez me acontecer farei sempre o contrário. Ou seja, mudarei de homens para senhoras. Sempre faz mais o meu género deixar para o fim do repasto o que melhor nos sabe...

quarta-feira, agosto 18, 2004

Dúvidas

Há coisas neste país (talvez noutros, mas é neste que vivo) que, muito sinceramente, ainda não pecebi:

1) Como é que ainda há gente que compra “time-sharing”?

2) Como é que ainda há pessoas, mesmo que não gostem do PSD, que acham que o Bloco de Esquerda faz falta à democracia e Louçã é inteligente e um bom tribuno, mau grado aqueles “erres” prolongados que usa nas suas prelecções e que fazem com que ele pareça uma daquelas antigas motorizadas a dois tempos da “Famel foguete” ?

3) Como é que ainda há pessoas que recebem um telefonema em casa a dizer que “foram seleccionadas” para receber um prémio, se deslocam horas em transportas públicos e depois ficam muito zangadas porque não lhes deram nada e ainda lhes queriam vender um colchão?

4) Como é que a TVI ainda consegue que lhe dêem publicidade?

5) Como é que ainda há pessoas que voam na “Yes”?

6) Como é que há pessoas que ainda compram pacotes de férias na Turquia (no Mar Cáspio...) a 1 Euro por dia?

terça-feira, agosto 17, 2004

The importance of being Sócrates

Clara Ferreira Alves (CFA) excedeu-se na sua última crónica do Expresso. Foi tão mordaz quanto brilhante e “made my day”, numa altura em que cada vez é mais difícil “fazer o dia” de muita gente. A forma como ela arrasou Sócrates (o engenheiro, claro, o José...) a propósito da ligeireza das suas citações, objectivamente tentando projectar a sua suposta componente cultural, remete de imediato para a noção de que o mal da nossa sociedade não são os Sócrates do nosso descontentamento, mas sim a receptividade que este tipo de inserção mediática dos nossos políticos (?) continua a grassar, num povo tragicamente arrastado ao longo de gerações pelo atavismo (de uns) e do chico-espertismo (de outros). É evidente que a utopia de sonhar uma sociedade de “Clarinhas” (ela que me desculpe este tratamento familiar, mas é assim que me refiro a ela junto dos meus amigos e é no bom sentido, como diria o Zé Maria...) seria o desastre... imagino uma sociedade que lesse uma tonelada de livros e soubesse “ler”, sempre que um político falasse de violinos de Chopin ou “citasse” à saciedade escritores, poetas, filósofos e pensadores. Era complicado, convenhamos. Depois, quem é que votava? Daí que a eripsela de CFA, perante o despudor dos políticos da nossa praça em citar gente de que leram frases ou máximas disponíveis nas tertúlias dos leitores de títulos de jornais de referência, tem alguma razão de ser. O exagero (dela) é que uma sociedade não é nem pode ser constituída exclusivamente de Clarinhas ( e ainda bem, não é?) e tem de ter a heterogeneidade saudável do grupo plural, multifacetado, pluricultural e morfologicamente diverso. O que não significa que necessariamente tenhamos de ser estúpidos. Daí que se aceite que a comunicação social deva conter uma fatia considerável de matéria apelativa. Não devia era faltar o pudor. Muito menos será de tolerar uma amostra tão falsa quanto mental e culturalmente pelintra da formação e estrutura dos homens e das mulheres que potencialmente nos podem vir a comandar os destinos. Mas isso... como é que se faz? Aceito opiniões...

segunda-feira, agosto 16, 2004

Desis-tu...

“Informa-mos aos nossos presados cliente que fecha-mos para férias volta-mos a riabrir no proximo dia 1 de Setembro”


Este aviso está afixado numa folha A4 com umas tiras de fita adesiva na porta do restaurante onde costumo almoçar. Ali para os lados da Basílica da Estrela.

Às vezes penso se sou eu que sou esquisito, se as coisas não deviam ser mesmo assim... há quem estude, quem não o possa ter feito e o melhor seria não pensar muito no assunto. Mas acho que muitas vezes os erros de ortografia têm menos a ver com ignorância ou iliteracia do que com desleixo, falta de rigor e puro alheamento. Este tipo de erro gramatical é dos mais frequentes e é praticado por muita gente de insuspeita escolaridade. Sendo que o tempo dos verbos e os pronomes são estudados ainda na primária, cada vez me convenço mais que escrever mal tem mais a ver com a forma como nos posicionamos perante um plano minimo de rigor, que também nos devia ser ensinado e exigido na escola, do que propriamente com ignorância.

domingo, agosto 15, 2004

Sexo à sorrelfa, com palmas

O Sr Serzedelo, presidente da Opus Gay, achou que ir fazer sexo para Fátima é que é bom. Diz que é um local de grande afluência e onde é fácil manter o anonimato (!...). Não tenho, nunca tive, preconceitos sobre a homossexualidade mas, com tanto esforço, um dia conseguem fazer com que o tenha.

sábado, agosto 14, 2004

Tribute to Francisca

A close friend of mine has been of tremendous help by teaching me how to correct typing errors, when posting... I’m only too glad to see that it’s never too late to learn. And I must say it was easy. After two hours and 34 phone calls, there we are! From now on, I promise that all my posts will be neat, clean and correct, irrespectively of its contents. The reason why this tribute is written in English is due to the fact that she’s asked me to teach her how to say tribute in English... Bless you, Francisca and get well soon!

As Cassetes - Uma opinião serena

Com alguma surpresa, sinto alguma serenidade com a divulgação de parte do conteúdo das cassetes alegadamente roubadas. Basicamente concordo em absoluto com o facto de elas virem a público. De resto, diz quem sabe que o "inner circle" já sabe e todos nós sabemos como o "inner" é enorme e como facilmente flui para o "outer". Depois, há os apóstolos e profissionais do mexerico. Portanto, quando mais cedo elas vierem à estampa, melhor.
Eu não sou jornalista, jurista, político, portanto aceito sem rebuço que possa estar a gerar uma interpretação grosseira da legalidade da coisa. Mas para mim, a divulgação das cassetes tem aspectos positivos que passo a enunciar:

1) Ajudam a entender bem a promiscuidade entre os agentes envolvidos no processo Casa Pia, seja por dinheiro, cueca ou favores a prazo. Sugere uma clara rebaldaria, mas nada que constitua surpresa por aí alem. A utilização criteriosa, com rigor e profissionalismo de fontes é uma coisa que entre nós teria que caír neste tipo de diálogos, Sara Pina sort of thing...

2) Contribuem decisivamente para a desmistificação desta coisa da cabala do PS, que já cheira mal. Legitimamente ou não, ficamos a saber o que muitos suspeitávamos - que há suspeitos que não são arguidos porque o advogado fez, o MP aconteceu e o prazo sucedeu, tudo a cheirar a moscambilha, em nome do Estado de Direito, das liberdades individuais,etc. Eu gostava de saber o que é que o Estado de Direito e as liberdades têm a ver com o mais acabado exemplo do seu próprio atropelo... e é assim que a posição de Pedrosa e Ferro se rodeia de contornos bem mais precisos, sem precisarmos de fazer tantas contas de cabeça. Há ainda aquele "gag" do Herman José ter aproveitado o "lapso" do MP nas datas que ele, claro, usou para apresentar um sólido álibi. Nem E.S. Gardner faria melhor.

Sinto, sinceramente, que posso estar a incorrer em erros grosseiros de interpretação. Mas como me lembro (há muitos anos) da transcrição duma conversa - em telefone em escuta - entre um dirigente do F.C.Porto e um árbitro em que, por entre uma cascata de palavrões e ameaças o dirigente lhe oferecia dinheiro e exigia um resultado desportivo e vejo que esse dirigente ainda hoje se senta - com alguma discrição, admito - no banco dos responsáveis e que o homem jamais foi incomodado, por falhas do processo... gostaria muito, mesmo muito que, desta vez, a força do crime seja mais forte que as falhas processuais. E talvez a transcrição do conteúdo das cassetes possa ajudar um bocadinho.

P.S. Li hoje no Expresso (e lembrei-me), que a fonte do escândalo Watergate, o célebre "Deep Throat", nome mais tarde glosado num filme "quase" tão pornográfico como este proocesso da Casa Pia, só foi conhecido depois de morrer... que diferença! Mas também, os Yankees são incultos, uns venais imperialistas que só produzem Bushes reaccionários e não têm o dom nem o fermento da nossa intelectualidade...

Ar condicionado "À Portuguesa"

A expressão "à portuguesa" engloba um sem número de equívocos. Tanto pode querer significar que é bestial como besta. Ainda que "à portuguesa curta", o bestial possa ser uma besta.Mas, de um modo abrangente, é consensual que o "à portuguesa" tanto pode ser uma coisa boa como uma coisa má. Se o trânsito em Atenas é "à portuguesa", sabemos do que estamos a falar. Se as trapalhadas dos países africanos são "à portuguesa", também nos entendemos. Se, ainda, a corrupção de um qualquer país sul americano fôr "à portuguesa", a coisa fica clara. Vistas bem as coisas, não descortino que o "à portuguesa" possa identificar-me com alguma coisa de bom. Temos as praias, eu sei, os doces conventuais, o clima, a carreira 25 dos Prazeres, a Serra de Sintra e o Covão da Ametade, mas nada disto é "à portuguesa". Porque já são portugueses. São coisa boa, apesar de, Já o contrário é farto em exemplos, como os que referi há pouco. Depois, há as coisas "à portuguesa" que são supostas ser boas mas onde, confesso, não consigo descortinar a bondade. O cozido "à portuguesa" é um exemplo acabado do que digo. Loado como uma das mais expressivas manifestações da cozinha portuguesa, não passa, no meu modesto entendimento, de um amontoado de carnes de segunda qualidade, enchidos, batatas, feijões e couves, metidos a esmo num grande panelão de alumínio e cozido em água fervente... nao vejo bem onde esteja o engenho, o toque de "chef" ou a habilidade que pudessem eleger este prato como um exemplo de "cozinha portuguesa", ainda que aceite possa reflectir um caso de gastronomia "à portuguesa". Tudo ao molho e fé em Deus. Aqui, arrisco-me a que saltem algumas iluminárias a dizer que a água que coze os enchidos é a que coze as couves, que o feijão não sei quê e o que os enchidos não sei quantos. A verdade é que quase todos os restaurantes de segunda em linha ( e não só) em Lisboa têm, pelo menos uma vez por semana, o tal cozido "à portuguesa", servido, a transbordar, num prato onde têm de caber os tais enchidos (industriais), as couves (sem gosto e a escorrer água) e umas carnes cheias de ossos e gorduras aderentes. Ponto final parárafo, antes que me mandem janela fora do Terreiro do Paço. Mas eu queria mesmo era falar do ar condicionado "à portuguesa". Sendo verdade que quase todos os restaurantes e pastelarias em Lisboa dispõem de ar condicionado, também é verdade que este é um bom exemplo do "à portuguesa". Não mentirei se disser que na grande maioria dos restaurantes e pastelarias, o ar condicionado não trabalha mais do que cinco minutos seguidos sem "saltar o quadro" (não sei bem o que isto é, mas é-me dito com um ar de que só os portugueses é que percebem de correntes fracas) e se o empregado é instado sobre o assunto, recebemos como resposta "... já chamámos o técnico há mais de três semanas, o que é que o senhor quer "quelefaça"? Eu, modestamente não quero mais nada que não seja o balsâmico ar condicionado, não quero mais "porra nenhuma" (este porra nenhuma é bem à portuguesa, mas sempre tem a sonoridade dos brasileiros...), mas apetece-me ripostar que há anos que me dizem que o técnico foi chamado há três semanas. E não digo nada ao empregado, afinal o "quéc'olhão" de fazer? Há, ainda, os ares condicionados em que o quadro não salta... mas não fazem frio. Trabalham, fazem brummm. brummm. brummm, mas frio, nada. Se interpelarmos o empregado, a resposta já é diferente, sejamos justos. A coisa fica-se por um "... os filtros estão sujos e há uma fuga de gás... já chamámos o técnico há três semanas, o que é que o senhor "querquelefaça..."? A isto eu chamo ar condicionado "à portuguesa". Tenho de ser justo e referir que há locais onde os aparelhos de ar condicionado trabalham a preceito. Mas nestes, oh! "ironias do Instituto" (acho que me enganei, desculpem, era "ironias da justiça", mas lembei-me daquela repórter da RTP que estava à espera da saída de um arguido do, segundo ela, "Domus Instituto" de Faro... e a coisa "ficou-se-me"!)há sempre uma senhora que tem frio. E um cavalheiro que espirrou. E já dou de barato os senhores com ar de analistas de 1ª classe do Ricardo Jorge, que desatam para ali a falar de ácaros, fungos, alergias, pontas de ar, correspondências, ar demasiadamente seco e supostamente impregnado de ignotos organismos unicelulares... provavelmente como o seu próprio cérebro. "À portuguesa"...

As recaídas

Há tempos sofri de uma síndrome alérgica. Mais septo nasal desviado, menos polipos inflamados, habituei-me a conviver com ela. A alergia tinha coisas boas e tinha coisas más. Tão depressa fazia espirrar, o que era óptimo apesar do mau aspecto, como me obrigava a colocar umas gotas com um nome estranhíssimo, mas que me lembro acabar em naso, nasol, por aí... a meio havia um inevitável "corti" qualquer coisa, não fosse esquecermo-nos de que os corticosteroides engordam, provocam disfunção érectil e outras vilanias. Mas eu como eu não engordava por aí alem e a disfunção devia ter uma disfunção qualquer que não permitia que a disfunção funcionasse (digo eu...), lá ia pondo as gotas, no que se tornou uma verdadeira rotina matinal. Era o espreguiçamento alarve, o olhar bovino para o espelho, o beliscão analítico no "pneu" e um xixi a preceito (chamar xixi à primeira micção do dia é inelutavelmente uma liberdade poética). Seguia-se um par de operações que omito, por decoro e em obediência aos mínimos de compostura nesta coisa de blogues. Depois, era a barba... o banho (equipado com a respectiva escova e pasta de dentes, que isto de escovar os dentes só no duche com água corrente, abençoado 25 de Abril que acabou com aqueles inenarráveis copos de plástico), escorrer a água dos pelos com as palmas das mãos contra as coxas, torso e nádegas (isto está a descambar para o pornográfico, mas já acabei esta cena do banho...), apanhar o toalhão ( a Cindy Crawford devia ser parva, saía do banho num anúncio qualquer e enrolava-se a uma mini toalha, palavra de honra que ainda estou para perceber a lógica da coisa, tanto corpo para tão pouca toalha) e esfregar a derme vigorosamente. Até que lá colocava as ditas gotas... naso, cortico não sei das quantas, que me anulavam a erecção dos polipos, alinhavam o septo nasal e me desentupiam para o dia que se me perfilava. Estava a operação montada e dispenso-me dos pormenores das meias, camisa e gravata, por desisteressante, e eu pronto para ir trabalhar. Banhado, barbeado, desentupido, feliz. Ora manda a verdade que se diga que tudo, como tudo, passa. Até as alergias e respectivas terapêuticas. O que sei é que já há algum tempo que não tinha alergias,esqueci-me das gotas e a rotina mantinha-se. Sem gotas. Ao princípio, estranhei. Ao fim e ao cabo não é impunemente que se vive todos os dias com gotas, durante um par de anos, ainda que elas possam ter efeitos secundários indesejáveis. Convive-se e pronto. E eu estranhei, claro. Ao sentimento de perda sobrevindo, contrapuz algum esforço, ordenei as sinapses, exorcizei as meninges, fiz leitura, vi bué de telejornais de Casa Pia, cassetes, pulseiras do PSL, petty entertainement, afinal...passei a ir mais ao cinema (não percam o Fahrenheit, o homem é suíno de formas e de cérebro e tem, com certeza, mau hálito e é um mentiroso compulsivo mas mentiroso tambem era o Jim Carrey, suíno de formas é o Alberto João e mau hálito tem o Guterres e eu farto-me de rir com eles...) e assim acabei com as gotas. Gotas, nunca mais. As tais, As cortico rino blá blá blá . E aqui chegamos ao ponto. Não é que hoje, por qualquer razão que me escapa, dou comigo com novas erecções de polipos? Que olho para o espelho lá da casa de banho do escritório e acho que tenho o septo nasal desviado outra vez? Mas o que é isto? Uma recidiva? Todavia, é Verão... se fose Primavera, podia ser o pólen, Ná... aqui há coisa. Ou é o Bin Laden a espalhar esporos de fungos, bactérias e outras doenças criptogâmicas de destruição macissa, ou foi o Pedro Santana Lopes que mandou pulverizar o Jardim da Estrela para lá transplantar algumas árvores da residência de Monsanto, ou... sei lá porquê... que sei eu... de qualquer modo há que tomar medidas. Urgentes, drásticas e eficientes. Não quero mais alergias, não mais erecções de polipos (não me corrijam, polipos não é exdrúxulo é mesmo grave, eu diria mais, que nem o Dupont... é gravíssimo!). Eu não quero gotas. Quero viver sem gotas. Fui um dependente mas agora... estou "limpo". Tanto eu como as gotas queremos viver na paz do senhor (no meu caso, do senhor da pastelaria do meu bairro que é das mais pacíficas que conheço e onde me chamam senhor "injinheiro" e tudo). As gotas, não estou certo. Mas ia jurar que sim, sossegadas no frasco a que pertencem e certamente não deterioradas (o prazo de validade é imenso e vai lindamente com o rótulo). Mas hoje, espirrei... os polipos incharam... deu-me um "não sei quê" de extremado (entenda-se por um "não sei quê" nas extremidades...) e eu tive umas ganas tremendas de ir ao frasco e de lá trazer umas quantas. Gotas... poucas que fossem, mas que certamente chegariam para me sossegar os polipos. Malditas recaídas...

quarta-feira, agosto 11, 2004

Os "não-negócios"

Os negócios assentam numa linha simples de actuação e estratégia. Compra, venda, lucro, investimento e provisão. Se neste percurso há lucro, o negócio prospera e mantem-se. Se dá prejuízo, fecha. Mas nem tudo é assim. Portugal dispõe de um elevado número de "não negócios", ou seja dum enxame de empresas e organizações de actividades que não dão lucro, nem precisam de o dar. Qualquer cidadão atento se apercebe que existem hoje actividades que ninguem percebe como subsistem e se desenvolvem. Mesmo apoiadas nos mais detalhados relatórios de contas. Desde consultas por telefone pagas ao minuto até à miríade de servidores telefónicos e internet, é fácil peceber que muitos destes negócios são "não-negócios" pela cristalina razão de que não dão lucro, Mas então, como é possível esta situação? Elementar meu caro... cidadão. A manutenção de cliques mais ou menos entrosadas no tecido político e empresarial gera promiscuidades várias, frequentemente a roçar o ilícito e quase sempre prenunciando acções dolosas, porque delapidadoras do erário público. Para o estabelecimento de um não negócio basta um par de arietes expeditos, um escol de professores doutores (doutores não chega) a encabeçarem os órgãos sociais e voílá. O "não-negócio" está lançado, registado e em velocidade de cruzeiro. Uma campanha de divulgação aqui, uma cunha ali, um interesse acolá e não há governo, partido ou instituição pública que resista. Nestes "não-negócios" é frequente haver práticas de "comércio entre si", isto é, eu compro-te a ti, tu vendes a ele e ele aluga-me a mim (um bocadinho ao jeito de actores e apresentadores de televisão quando se juntam num talk-show e se lambem uns aos outros). Pelo meio há sempre o recurso a fundos comunitários, pareceres jurídicos, uma ou outra quezília partidária (lembram-se da netsaúde ou net médico?...)mas os "não-negócios" continuam, não geram negócio nenhum, e absorvem um número considerável de quadros, gestores, políticos e os tais professores doutores, inevitavelmente chairmen das instituições. No fundo, é um bocadinho à semelhança do que se passa com as Fundações, muitas delas recebendo financiamento do Estado, que é como quem diz, nosso. Neste caso não há esse descaramento, mas há a mais completa promiscuidade de interesses, regalias e usufruto de bens sociais e patrimoniais que acobertam um grupo de gente que se entretém a negociar sem lucro. Mas também, lucro para quê?

domingo, agosto 08, 2004

A Terapia da Chuva

Chover em Agosto tem destas coisas. Depois de três jornais (estou impossível, leio tudo...), numa abrangência que vai dos chamados "de referência" ao impagável "24 Horas", ficamos inevitavelmente mal dispostos. Mas como quem corre por gosto não cansa, passemos adiante. E é mal dispostos que podemos sempre ir a Sintra para nos lembrarmos que ela existe. Está lá... e nestes dias de chuva não se faz rogada. Dá-nos a visão salvífica do muito da excelência que este país abençoado pelos deuses e maltratado por nós tem para nos dar. E Sintra é, continua a ser, o exemplo mais vivo disso mesmo. Sobretudo quando, num dia de Verão em que a chuva resolve caír, ela se veste da neblina tipo roupão e chinelos e do romantismo que todos nós teimamos em jogar para canto, mas que se mantem, perene, dentro de nós. E é ao circular por essa neblina, pelo verde húmido das matas e pela arquitectura sui-generis da vila que até nos lembramos dos travesseiros da Periquita, das queijadas do Preto, do leitão de Negrais do fabuloso vinho de Colares (porque será que tão pouca gente o conhece?)das casas de chá que salpicam a estrada. Porque será que nos esquecemos de tudo isto? Porque é que temos de ler tantos jornais e nos interessarmos pelas cassetes roubadas na redacção do Correio da Manhã, da pulseira da sorte de Santana Lopes ou das colisões automóveis da Pipinha Jardim (acidente...), saíndo ela sem um arranhãozinho que se veja (desastre...) Porque é que nos esquecemos de que Sintra está aqui ao lado? Mas eis que a realidade me acorda. Se toda a gente se lembrasse de Sintra, como eu me lembrei hoje, o trânsito deixava de ser caótico para ser... estado terminal da nossa compreensão e capacidade de tolerância. Ainda por cima parece que hoje vai lá desaguar a Volta a portugal. Os carros amontoados pelos passeios e pelas nesgas passaram a estar, eles próprios, bloqueados por viaturas circundantes. Senti o perigo...reagi a tempo. Entre gritaria, algazarra, peitos de pelos ao vento e marialvismos avulso, consegui descobrir uma nesga para poder regressar a casa e fugir da turba-multa. E ler mais jornais. Até que me lembre, de novo, que Sintra é um dos mais nobres e belos locais do mundo. Que pena...

sexta-feira, agosto 06, 2004

1, 2, 3, experiência

...isto de usar o pc do serviço tem destas coisas. Ou muito me engano, ou está tudo faralhado... vejamos o que sai.

quarta-feira, agosto 04, 2004

dedos trôpegos

Palavra de honra que ainda um dia hei-de conseguir aprender como é que se corrige erros dactilográficos nos posts. Já tentei... mas as operações são tantas e tão diversas que aprendo TUDO menos a corrigir os erros que cometo. E cometo-os por distracção, taralhoquice ou porque os dedos se vão tornando inexoravelmente trôpegos. E eu tenho para mim que os dedos têm uma função estimável que não devemos subestimar. Que seja a última coisa a ficar trôpega. Em nome dos equilíbrios necessários ao desenrolar duma fase odienta a que vamos chamando de meia idade...
Assim, o meu último post saíu gralhado, mesmo depois de eu ter feito seguramente três revisões. Porque alguns deles são graves, aqui fica uma errata que espero desvaneça dúvidas e reponha as coisas nos seus devidos lugares. Até porque o post em questão se presta a coisas em lugares indevidos e não quero alimentar mais essa ideia. Vejamos:

4ª linha - onde se lê Bob Reiner, deve ler-se, claro, Rob Reiner;

5ª linha - onde se lê dekliciosos, deve ler-se deliciosos;

6ª linha - onde se lê deivertido, deve ler-se divertido;

"lá mais para baixo" - onde se lê comno fermento, deve ler-se como fermento;

"ainda lá mais para baixo" - onde se lê Piorque, deve ler-se Porque;

"continuando a descer" - onde se lê imutabilidade, deve ler-se... esta palavra existe???;

Finalmente, na linha seguinte à antepenúltima linha, ou seja, penúltima (isto fica-me da mania de quando queria saber quantas vacas tinha uma manada, contar as patas e dividir por quatro...) - onde se lê Bob Reiner, deve ler-se, naturalmente, Rob Reiner.

E "prontus", estou "parvum" de tanto erra num texctio tãmo pequweno, proimeto que pra a p'roxíma terei mais cuidado e vou terminair antes que coimecde a dasr erros ouitra vez, lendo com mais atenç já comeceri e ... carças, pois... não há cindiçpoues,, parro, roppa....... chiça: PORRA

terça-feira, agosto 03, 2004

When Harry met Sally

Lisboa transforma-se num meeting point de eleição. Harry e Sally, clonados em milhares de lisboetas, vagueiam por aí e contribuem decisivamente para a saúde económica de hotéis com mais ou menos estrelas, que acolhem os sonhos, a alegria e as ilusões que Bob Reiner consubstanciou, de forma deliciosa, através dos não menos deklciosos Billy Crystal e Meg Ryan há uns bons anos atrás num deivertido filme... mas existem algumas diferenças. Harry e Sally mantêm-se inalterados na essência do que querem, do que quereriam, da ilusão do amor, do prazer, do bem estar, do carinho, do colo e da confidência. Mas há diferenças. Não há Harry que se não canse nem Sally que não descanse. O ritmo vertiginoso dos dias, a corrida fugaz dos momentos oníricos contribuem para uma desmistificação deles próprios, naquilo em que eles pensam se mantém comno fermento da massa de que são feitos. Hoje, Harry meets Sally de fugida, em regime clandestino e a termo certo. Nada altera a sua forma de relacionamento, que mais não faz que mitigar o vazio, o enfado e o fastio de relações esgotadas frustres e sem sentido. E por algum tempo, apenas. Piorque quando Harry persiste na militância de um encontro amoroso que não devia ultrapassar o regime de uma vivência a tracejado, já Sally se empertiga e receia pela defesa de direitos adquiridos. Porque quando Sally se entusiasma e pensa que Harry é "the Harry", já este se recolhe na concha protectora da desconfiança ou do receio de (re) penetrar em regimes institucionais de má memória. Bem vão as coisas quando Harry e Sally permanecem imutáveis na sua idiossincrasia de formas e de formatos e se entregam à volúptia de um amor só possível nas horas livres duma vida presa por cometimentos não desejados. A questão é que quando as coisas vão bem por isso mesmo, pela imutabilidade de gestos e de atitudes, começam a ir tão bem que Harry se sente Harry e Sally cada vez mais Sally. E o resultado, inevitavelmente, remete para a repetição do vazio das relações frustres. Que fazer? Talvez... pois, tal qual como cantava Pedro Abrunhosa. "Isso" e nada mais que isso, ainda que aqui e ali com o colorido de um gesto brejeiro, dum diálogo carinhoso, duma ponta de humor. Mas nada mais do que "isso". Os Harrys e as Sallys já não são o que eram, quando Bob Reiner se lembrou deles...

Tragédia fora do Sudão

Sobre a tragédia que neste preciso momento ocorre no Sudão já se vai sabendo alguma coisa. Vagamente, mas sabe-se... sabe-se que há uns milhares de vítimas a serem chacinadas, queimadas, degoladas, esburacadas a golpes de lança e de balas, mais milhares a fugir, sem saber para onde, provavelmente nem porquê. Quem conhece África e quem sabe minimamente como funcionam os ódios por lá, aperceber-se-á um pouco melhor da verdadeira dimensão da tragédia e das suas raízes. Mas a tragédia de que falo é fora de África, é fora do Sudão e, sobretudo, na Europa. É a tragédia das consciências inquietas, correctas e iluminadas que, de repente, se interrogam porque "ninguem" faz nada, para alem de umas quantas posições retóricas da ONU. O que essas consciências não dizem bem é o que é que esse "nada" significa e "quem" é que o deveria fazer. Porque não os americanos? Hoje por hoje serão a única nação capaz de o fazer... e, de caminho, abririam caminho para mais um período de acesa crítica sobre o imperialismo americano, preços do petróleo, incultura, teocracias avançadas e a uma forma não litigiosa e sem mitigância de cada um de nós poder perorar à vontade sobre a desgraça de contarmos na terra com uma país como os USA e um povo ignóbil como o americano...

Sou eu, Lisboa

É o que ela diz. Mas não é ela. Nem sequer é de Lisboa. Aliás, ser de Lisboa, hoje, é não ser . É detestá-la por não ter a sama dos pinheiros de Leiria ou da Batalha, é amá-la porque sim. Tal como ser e não ser, ser "eu" é ser ela, a outra, a que não é, mas diz que é, provavelmente porque gostava de sê-lo. Ou, ainda, porque é, mas não pode sê-lo, porque a não deixam. Tal como ser de Lisboa, um aforismo que sai caro, por cada vez que se respira o ar fresco da costa oeste. Mas ela diz que é ela e diz que é de Lisboa. É a forma apoucopada de se dizer o que não é, é o covil de nós próprios, é a toca onde hibernamos em regime permanente dos invernos de que não gostamos. E,também, porque para ela dizer quem é, teria de usar mil folhas de um papel que não tem. Por isso é bem mais cómodo dizer que sim, que é ela e, ainda por cima, de Lisboa. Há um fenómeno subjacente a este ser e não ser, há o facto subjectivo de sermos o que não somos e vivermos onde não vivemos. Só nós saberemos porquê. E não o dizemos a ninguem. Frequentemente, nem a nós próprios. Deixamos, assim, uma forma testamentária de identidade para que nunca ninguem saiba quem somos e todos saibam que não somos. Nada de novo, afinal.. é o mistério e o fascínio de podermos deixar caminho aberto a mil coisas que somos ou poderíamos ser e de sermos de mil sítios de onde poderíamos ser. Só eu e ela saberemos do que estou para aqui a dizer. Provavelmente, nem nós. Porque o que estou a dizer tanto pode ser sobre ela como de outra pessoa qualquer...e tanto posso ser eu a escrever como um qualquer ser imaginário que diz que sou eu, de Lisboa.