segunda-feira, outubro 31, 2005

Já venho...



Flawless Nurse...

The awareness that health is dependent upon habits that we control makes us the first generation in history that to a large extent determines its own destiny - Jimmy Carter, US President.

[618]

Conheci uma enfermeira. Cabelos carregadinhos de água oxigenada, nariz fino e comprido como uma pinça cirúrgica, unhas afiadas como um bisturi, tom de pele de Bétadyne desmaiado, pernas musculadas sem distensões nem roturas, joelhos sem menisco (já operada, mas ainda é nova…), joanetes operados, canal cárpico desobstruído, dedos longos e finos como um cateter, sem polipos nasais inflamados, colesterol e ácido úrico nos níveis desejáveis, ausência de hérnias discais numa coluna bem desenhada, sem esculeose, a terminar em bem torneados corpos lúteos (totalmente isentos de pelos, o que pressupõe um exemplar funcionamento das supra-renais) e olhos cor de óleo de amêndoas doces com a curvatura exacta de córnea (sem miopia, portanto), enfim. Ou é um modelo de mulher ou tem tirado, naturalmente, proveito, do seu local de trabalho. Daí a sua "flawless condition", se é que alguma vez alguma mulher poderá ser classificada de "flawless" e ainda bem porque this is what women are for – to have flaws a que os homens acham uma graça danada.

Como estou na "Idade Média", que é o que acontece a todos os homens que ameaçam ficar fora de prazo de um momento para o outro, deixei-me ficar basbaque a olhar para a enfermeira e, num ápice, convidei-a para sair comigo.

Surpreendemente, ela recusou… mas apenas porque estava assoberbada de trabalho e não podia largar o hospital. E é assim que, a convite dela e em nome da total impossibilidade em resistir a uma mulher com os atributos acima descritos, me dispus a ir passar uma noite ao hospital. Se isto não é amor, não sei o que seja.

Já agora e como quem vai de caminho, aproveito e faço uma limpeza à canalização. Já agora…se, em casa, precisamos de um canalizador de vez em quando, porque carga de água não precisará o corpo humano de fazer o mesmo?

Posto isto, aproveito para informar que este vosso servo estará ausente da blogoesfera até sexta feira. Isto se, entretanto, não fugir com a enfermeira.

Uma boa semana para todos.

Chuinga



[617]

Uma coisa é discordarmos das pessoas outra é nem ter paciência para as ouvir, ler ou entreter.

Eu discordo muito (quase sempre) da
IO e também não é de paciência que quero falar, porque ninguém precisa de paciência quando se gosta de alguém. E eu gosto da Isabella, gosto do Chuinga pela inteligência da dona, pela beleza do que escreve, pela elevação da forma como aborda as questões que para ela são fundamentais – mesmo que não sejam fundamentais para mais ninguém.

Gosto ainda da
Isabella (muito) porque ela respeita o pensamento de outrem, não é truculenta não é "one sided" e é senhora de uma apreciável cultura geral que usa e abusa para manifestar a sua opinião, mas sem jamais assumir aquela posição de segundo andar de onde a esquerda normalmente olha para a direita que é suposta não passar do rés do chão, muitas vezes nem da cave.

Sim – a
IO é de esquerda. Habituado que estou a formas e conteúdos da esquerda, foi com muito gosto que encontrei uma "canhota" (no offense, é apenas, neste caso, um carinho) que gosto de ler e com quem não desdenharia (gostaria, até) de debater algumas questões em que discordamos profundamente.

Enquanto essa oportunidade não chega (nem sei se alguma vez chegará…), continuarei a ler o
Chuinga2 com o mesmo gosto de sempre.

E é com muita sinceridade e carinho que daqui lhe mando um beijinho muito sentido pelo aniversário de hoje, porque sei bem, também, a trabalheira que é alimentar um blogue durante um ano.

Long live
Chuinga e um beijo muito amigo do

Espumante

domingo, outubro 30, 2005

Gente Gira é Outra Coisa



Designer do carro do Espumante

[616]

No louvável desejo e na estricta obediência aos mais nobres desígnios da Blogosfera em geral e da inteligente em especial, reuniram-se os lídimos representantes do
Formiga Rabiga, Ideafix, Mindshelves, Na Senda das Beiras, Chora que Logo Bebes, No Cinzento de Bruxelas e este vosso atento e venerador criado.

Alguns dos bloggers fizeram-se acompanhar pelos respectivos mandatários que, aliás, foram bastante interventivos e surpreendentemente persuasivos, como foi o caso particular da
Madalena, cujo mandatário ganhou, à distância, o saudável debate (?) que se instalou, à medida que a refeição fluía, apesar da viva oposição do Ideafix e deste vosso criado que concluíram, em tempo útil, ter mais fracas cordas vocais e dizer menos vezes "é assim".

O repasto variou entre o bom gosto dos que pediram espadarte com manjerona e amêndoas, o apetite voraz de quem pediu um tornedó "rare", a balanceada dieta de uma dourada grelhada, a trivialidade de um pizza e a decisão minimalista de uma salada de salmão (acho...). Já nas bebidas se reparou que ninguém bebeu vinho. Ou porque gostavam mais de cerveja e água tónica, ou porque não houve tempo para se fazer um crédito pessoal para se mandar vir um bom vinho alentejano. As sobremesas foram da tropical manga a uma frugal bolinha de sorvete e os cigarros confinaram-se à Formiga, Ideafix e Espumante (os links estão lá trás, que isto dá uma trabalheira...), que ainda não aprenderam que o cigarro faz mal.

A discussão versou os mais candentes problemas do momento actual, desde as condições meteorológicas da Europa Continental ao novo treinador do Sporting, passando pela pesadíssima carga horária dos professores, medicina privada e pública, juristas e magistrados, qualidade das pomóideas na Cova da Beira, centímetros a menos nas coxas do gineceu, centímetros a mais nos saltos dos sapatos ( do mesmo género, claro...), surf, férias, Mário Soares e Cavaco Silva e duas anedotas pífias pelo meio.

No fim não se chegou a conclusão nenhuma para além do facto incontestado que os carros japoneses, coreanos "ou lá o que é isso" terem os faróis em bico, a Madalena (link lá atrás...) ter uns olhos lindíssimos (todas tinham mas os dela são verdes e dão mais nas vistas, claro...) e que é giro e saudável juntar gente gira e saudável.

Há que repetir o evento, preferencialmente depois das presidenciais para alguns fazerem "nham nham nham nham nham" e outros ficarem com uma grande carapuça.

E como nota final, aqui fica a expressão de reconhecimento deste vosso criado pelo agradável convívio num almoço que, mais um bocadinho, tinha atirado para o jantar.
Obrigado a todos os presentes e pela amabilidade do convite.

NOTA: O almoço foi no Piazza di Mare e o Tejo estava lindo.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Negociar. Já.



[615]

O presidente iraniano disse que Israel devia ser varrido do mapa. Ocorre-me duas coisas:

Uma é a minha surpresa pela aparente surpresa que a afirmação suscitou. Outra é interrogar-me por que carga de água a ONU não pede a Mário Soares para lá ir negociar com o homem. Com sorte, podia ser que Israel fosse varrido só para debaixo do tapete, depois Mário Soares ia lá outra vez, tirava umas fotos e conseguia autorização para Israel sair de debaixo do tapete. De caminho fazia uma conferência para dizer aos iranianos que poderiam dormir mais tranquilos.

Agora assim, lá temos de ouvir a dialéctica habitual de Blair e "vai-se a ver" qualquer dia temos o Bush a mandar umas bocas também.

É o que eu digo. Se seguíssemos os conselhos que Jorge Sampaio anda a pregar há dez anos, talvez tivéssemos uma inserção e respeito internacionais mais vincados e Mário Soares estaria já a caminho de Teerão. E vivíamos (?) todos muito felizes.

Bless the rain...



[614]

Vai continuar a chover até Domingo, pelo menos. Só falta mesmo um bocadinho mais de frio.

Tenho a certeza que
a vida dos dias de alguém corre de mais risonha feição...

Ir à boleia


[613]

O PSD, de tanto e tanto insistir que a candidatura de Cavaco Silva decorre à margem da lógica partidária, ainda lhe rouba uns pontos percentuais, de tanto querer partidarizar a questão.
É falta de jeito, mesmo...

quinta-feira, outubro 27, 2005

Vou nada...


[612]

- Ok, então está combinado, apareço no restaurante aí pela uma, comemos qualquer coisa e discutimos o assunto.
- Vá…


- Então olhe, hoje cheguei tarde ao escritório, portanto o melhor é deixar o carro amanhã e fazem então uma lavagem completa, aspiração, etc., ok?
- Vááááááá…


- Olha, não te preocupes com o assunto, eu passo em casa da mãe e fico por lá um bocado até chegares, está bem assim?
- Óptimo, fixe… então vá!

- Faça-me duas fotocópias de cada, guarde o original e mande as cópias para Luanda, ok?
- Claro, mando já. Mais alguma coisa?
- Mais nada, obrigado.
- Então, vá...


E é isto! Agora, qualquer coisa que eu diga, seja qual for a razão ou o objectivo, mandam-me ir. Não sei bem aonde, nem porquê, mas mandam. E eu, idiota e cordato, vou.
Um dia destes deixo aflorar o meu cromossoma de rebeldia que reservo para certas situações e não vou coisa nenhuma.


E gostaram deste post?
Boa, então vá…

A Trágica Comédia da Chuva Lusitana



[611]

Chover copiosamente é uma expressão magnífica e reconfortante, sobretudo quando se atravessa um longo período de seca. Independentemente dos prejuízos económicos, havia ainda aquele ar crestado dos jardins, ruas e prédios surrados e o próprio ar pareceu, frequentemente, irrespirável.

Mas entre nós, chover copiosamente não é magnífico nem reconfortante. É, antes, uma chatice e descobre esta forma atávica e piegas, trágica mesmo, com que lidamos com a chuva. Já agora, com o frio. Frio e chuva, então, é o apocalipse. E a tragédia abateu-se hoje sobre Lisboa. Chove a cântaros, ainda que sem a torrencialidade dos trópicos, mas uma chuva contínua, abundante e benfazeja e foi o suficiente para o lisboeta desengavetar casacos e gabardinas para enfrentar os frígidos 20 graus que nos eriçam a pele e puxar pelas sombrinhas, esquecidas há mais de uma ano nos algures das casas de cada um. E era ver hoje a expressão verdadeiramente trágica das pessoas a entrar nos restaurantes, a circularem apressadamente nas ruas ou mesmo nos locais de trabalho a comentarem esta "chuva horrorosa", "que horror não se pode andar na rua", "credo e o frio?" que, de repente fez esquecer a tragédia, a outra, de termos estado mais de um ano sem chuva, com as albufeiras à míngua, aldeias a ser abastecidas por carros cisterna, culturas queimadas e solos exauridos pela canícula dos longos meses de seca.

Esta trágica mariquice nacional da chuva e do frio dos 20 graus é talvez um dos fenómenos que melhor nos definem. Assumimos de imediato uma expressão de hecatombe, olhares cúmplices de pandemia assassina e esgares de apocalipse perante a realidade da chuva a cair e a temperatura a descer para nos colocar na faixa dos 15 a 20 graus que, como se sabe, é perigosíssima e nos faz contrair gripes, resfriados, dores nas costas e acicata as artroses (todos os portugueses têm artroses e/ou hérnias discais…).

Entretanto, as ruas aqui da minha zona ficaram saudavelmente lavadas à força da enxurrada que arrastou beatas, papeis, cocós de cão, pó (muito pó), escarros secos e folhas para as sarjetas que, com sorte, serão desentupidas quando houver por aí uma inundaçãozita. Mas isso que importa, se estamos em risco eminente de chegar a casa com um resfriado? O melhor, mesmo, assim que chegarmos a casa, é tomarmos um chá de limão com mel e dois benurons, pormos um casaquinho e mais um cobertor na cama. Não vá a chuva manter-se e a temperatura baixar para uns frígidos 19 graus…

quarta-feira, outubro 26, 2005

Políticos "E" Incompetentes



Resultado de busca de "incompetente" no Google

[610]

Eu já tinha reparado
nisto. Mas como não sou juiz NEM magistrado (eu é mais cochonilhas...), não disse nada, não fosse haver por ali alguma nuance que me escapasse. A Vieira, atenta, refere o assunto e ainda bem.

Mas, vistas bem as coisas, qual é a surpresa?

terça-feira, outubro 25, 2005

Há coisas que não mudam...



Foto DN

[609]

A forma chocarreira, deselegante, árida de ideias e de substância com que os "blogues não oficiais" apoiantes de Mário Soares, mandatários, simpatizantes e correlativos têm tratado a candidatura de Cavaco Silva tem prestado um valioso contributo ao "professor de Boliqueime", ao "candidato do bolo-rei" e outras preciosidades em curso e para usar a terminologia reinante. Deles.

Se de
Joana Amaral Dias se poderia contar com este tipo de comportamento, já de Medeiros Ferreira esperaríamos argumentação mais sólida e uma matriz de intervenção mais consentânea com a sua experiência e estatuto politico.

Outro pormenor interessante é a forma como a comunicação social vai descobrindo que, afinal,
Mário Soares também é a favor da estabilidade política, da estricta observância das atribuições de um Presidente da República consagradas na Constituição, etc., etc.

Chega a ser risível. Se eu fosse Mário Soares, zangava-me...

Saudades



[608]

Saudades de Ireneia

Ainda tens os cabelos loiros Ireneia? Ainda moras na rua da escola? Ainda pões aquela saiazinha verde muito curta e os patins de botas brancas, ainda giras à roda à roda à roda no ringue de patinagem do Académico, de braços no ar por cima da cabeça, sem olhar para mim, sem olhar para ninguém? Ainda fazes uma vénia quando a música acaba, mesmo que não haja ninguém para aplaudir?Lembro-me de saíres da rua da escola com os patins às costas e me espantar por andares como as outras pessoas, por andares como eu porque me era difícil imaginar-te fora do ringue, a girar à roda à roda à roda, de braços no ar por cima da cabeça, por que me era difícil imaginar-te com uma vida como a nossa, emprego, casa, jantar, dores de dentes, gripes, conta do gás, era-me difícil imaginar-te no meio de torneiras que não vedavam bem, de tectos que pingavam no inverno, de discussões, de borbulhas, de pontos pretos, de rafeiros que nos esquecemos de levar às árvores e se descuidam na esteira.Ainda pões aquela saiazinha verde, Ireneia, ainda ficas muito séria quando a música acaba, dobrada numa vénia sem olhar para ninguém?O teu pai era empregado na Carris, picou-me bilhetes vezes sem conta, chamava-se senhor Geraldo e era careca, a tua mãe deixou o lugar na praça por causa das artérias que eu bem a ouvia queixar-se à minha tia- o meu ponto fraco são as artérias dona Lúciae eu achava esquisito, achava impossível teres nascido deles e morares numa cave da rua da escola de duas divisões se tanto, janelas à altura do passeio e uma cadelita com uma capa de lã sempre a ladrar lá dentro, achava esquisito viveres com o senhor Geraldo e a senhora das artérias- o médico não há maneira de me atinar com os comprimidos dona Lúciaque puxava o corpo com uma bengala e se lamentava de o senhor Geraldo se tornar violento com a cerveja- Até um pontapé deu na Menina, dona Lúcia, que ficou a ganir a tarde todaachava de tal maneira esquisito, de tal maneira impossível que para mim tu não existias na rua da escola, Ireneia, existias no ringue do Académico, a girar à roda à roda à roda com aquela saiazinha verde muito curta e os patins de botas brancas, livre de artérias, cadelas e cervejas a agradecer as palmas que ninguém batia, existias sozinha, acima de nós, etérea, inalcançável, diferente, livre das nossas maçadas e da nossa falta de dinheiro, vogando de cabelo preso num laçoo teu cabelo loiro Ireneianum bairro onde não existiam lojas de penhores nem obras no alcatrão nem desempregados a jogarem sueca sentados nos tijolos de uma obra no largo que não acabava nunca, que os operários abandonaram a meio deixando poeira e sacos e andaimes a atravancarem a passagem para a igreja e a obrigarem-nos a dar a volta pelo acampamento dos ciganos ou pelo terreiro do circo que era só um palhaço e um leão tinhoso à espera, à entrada de uma rulote, do público que não havia.

Que é feito de ti Ireneia? Dizem-me que engordaste mas não acredito, que o senhor Geraldo morreu, que a tua mãe morreu, que habitas a cave na rua da escola casada com um empregado dos telefones, que também sofres das artérias, que nunca mais patinaste no Académico mas não pode ser. Amanhã à tarde vou lá ao ringue ver-te porque tenho a certeza que mesmo passados trinta anos ainda tens os cabelos loiros, ainda tens aquela saiazinha verde muito curta, ainda giras à roda à roda à roda de braços no ar por cima da cabeça e quando a música acabar e te dobrares numa vénia sem olhar para ninguém, se por acaso deres conta de uma criatura na bancada a aplaudir-te sou eu.

Não mudei muito. Claro que estou mais velho mas sou eu. Aquele rapaz gago com uma falhazita no lábio, que nunca teve coragem de sorrir-te, nunca teve coragem de te dizer olá. O sobrinho da dona Lúcia, que a dona Lúcia garantia não passar da cepa torta derivado ao pé boto e àquele defeito na fala. Realmente não passei da cepa torta mas continuo a ir ao ringue de patinagem aos domingos na esperança de te ver girar à roda à roda à roda e sentir-me feliz.

Gostava que aparecesses um dia Ireneia: é que às vezes é um bocadinho triste bater palmas para um ringue vazio.

(António Lobo Antunes)

segunda-feira, outubro 24, 2005

500.000 x 150



[607]

Há pouco tempo atrás, Paulo Portas atribuiu um suplemento de reforma de 150 Euros aos ex-combatentes do ultramar. Pouco tempo depois, Bagão Félix disse que estavam reunidas todas a condições orçamentais para que esse suplemento se tornasse exequível.

Agora, o actual ministro da defesa diz que tem de estudar melhor o assunto porque não está certo de que possa dispor de verbas para esse fim. O Forum da TSF abordou a questão e as opiniões dividiam-se entre aqueles que cantaram a "glória pátria e os grandiosos serviços prestados à nação" e os que disseram, preto no branco, que "os nossos soldados iam para África bater nos pretos e dar pontapés nas caixas dos engraxadores pretos" (sic).

Pondo de parte a elevação de processos e de verbo (tanto dos governantes como dos opinadores do Forum), parece-me curial classificar a atitude do ministro como inadmissível. Se a informação não me falha (e apoio-me apenas no que ouvi na comunicação social) há 500.000 recenseados para a atribuição do tal suplemento, num valor médio de 150 Euros/ano. Ora, como dizia o Guterres, "é uma questão de fazer as contas" para se concluir que são precisos 75.000.000 Euros para honrar o compromisso assumido. Se nos lembrarmos que as SCUT em 2007 irão representar um encargo de 780.000.000 Euros, apenas porque João Cravinho e sus muchachos acharam que assim é que estava bem, parece-me da mais elementar justiça que não se equacione sequer o pagamento do suplemento e se institua desde já as portagens nas SCUT, ainda que de uma forma faseada, como já ouvi dizer.

O problema é que os combatentes do Ultramar não devem constituir contestação por aí além e muitos deles morrerão daqui por uma dúzia de anos. Já com as SCUT a coisa é diferente, a constestação será muita e rouba muitos votos.

A isto se chama governar à portuguesa – leia-se, sem vergonha.

sexta-feira, outubro 21, 2005

George W. strikes again



[606]

Esta é para o fim de semana, para aqueles que gostam de chuva, como eu, e mesmo para os que não gostam. Porque é fim de semana e nada como iniciá-lo com uma brejeirice e um sorriso gostoso – já agora, também para aqueles que acham que eu não sei ou não conto piadas sobre o Bush.

Acabadinha de receber por e-mail de uma boa amiga em Washington:

"Donald Rumsfeld is giving the president his daily briefing. He concludes by saying:

- Yesterday, 3 Brazilian soldiers were killed in an accident'

- "OH NO!" the President exclaims. "That's terrible!"

His staff sits stunned at this display of emotion, nervously watching as the president sits, head in hands. Finally, the President looks up and asks:

"How many is a brazillion?"


Cai o pano e bom fim de semana para todos.

A Esquerdopatia



[605]

Por estas e por outras é que eu nunca conseguirei escrever um livro ou uma simples crónica de jeito.

Há gente que escreve como respira. Inspiram as ideias e expiram o verbo com clareza e objectividade. Em duas penadas dizem aquilo que, provavelmente, me levaria duas páginas a tentar explicar.

Ora reparem nisto:


Ubiratan Iorio, "A Esquerdopatia"

"Fruto do cruzamento incestuoso da mentalidade excessivamente centralizadora e patrimonialista herdada da tradição ibérica com a estratégia de ocupação dos espaços de Antonio Gramsci e do encontro adulterino de um tremendo complexo de inferioridade com uma dose desavergonhada do vício da inveja, a doença contaminou as universidades, os meios de comunicação, a cultura, a economia, a política, a linguagem e as próprias definições de moral e ética."

Via O Insurgente, com a devida vénia.

O Candidato



[604]

Da apresentação formal da candidatura de Cavaco Silva e sequelas imediatas, ficou-me o seguinte.

1 - Cavaco Silva foi igual a si próprio. Rigoroso, sério e substantivo. Foi o único que até agora disse exactamente ao que ia e para o que ia. O manifesto explicará os pormenores que ali, na circunstância, não interessavam. Eu acho que Cavaco Silva seria sempre um melhor primeiro ministro que Presidente da República. Todavia, tenho de me render à eficácia e seriedade da sua apresentação, num contraste gritante com as outras apresentações em que o mote como objectivo principal era derrotar a direita, seja lá o que for que isso signifique;

2 - No ataque cerrado que se seguiu no Canal 1 e em que Judite de Sousa pareceu divertida com a alacridade de Medeiros Ferreira, pareceu-me desonesta a utilização do pseudo tabu. Afinal… que tabu existiu? Cavaco não tem que ajustar a agenda à comunicação social e, muito menos, aos seus opositores. Independentemente do facto de pessoalmente me parecer muito bem que falasse apenas depois de passadas as autárquicas. Mas o termo tabu rende e nem mesmo Helena Roseta a ele se conseguiu furtar;

3 - A alacridade (já usei este termo acima) de Medeiros Ferreira que aos costumes disse nada e se limitou àquela velha e relha estratégia da esquerda de não deixar ninguém falar. Ainda por cima, não deixando falar dizendo nada. Pior ainda (e aqui sou levado a pensar que este homem, ao contrário da opinião geral, é pouco inteligente, já que interrompia com argumentos que acabavam por servir a bondade da candidatura de Cavaco), falando sem nexo, sem fio e sem substância.

4 - A surpresa de ouvir a jovem Ana Drago com uma argumentação bem estruturada. Concorde-se ou não com ela, tenho de me render à sua eficácia e fio de debate. Foi, sobretudo, uma banhada para Medeiros Ferreira, mais velho e, presumivelmente, com mais traquejo político;

5 - Helena Roseta é uma mulher de fina argúcia e muita capacidade e cultura. Jogou no cavalo romântico e pode ser valiosíssima na lição que Mário Soares anda a pedir.

quinta-feira, outubro 20, 2005

É hoje, é hoje...



[603]

É hoje, é hoje, é hoje, é hoje, é hoje, é hoje...

Não, não vou contar a anedota do Juca Chaves. Apenas que é hoje que a "blogos" vai ser inundada de posts sobre bolo rei, cuspo ao canto da boca, autoritarismo, portagens da 25 de Abril (onde Armando Vara iniciou o seu estágio para administrador da CGD), a "desimportância" de se ser filho de um “gasolineiro” de Boliqueime, marido de uma simplesmente Maria, derivas autoritárias e a roçar o fascismo, rodagens de Citroën BX e muito, muito mais do que a sólida memória e fértil imaginação lusas poderão fazer imaginar.

Conto, sinceramente, com a impermeabilização de alguns bloggers ao fenómeno mediático de lá mais para a tardinha (rigorosamente ajustado aos telejornais, já ouvi dizer hoje de manhã, imaginem, só mesmo o filho do gasolineiro se ia lembrar de fazer coincidir a declaração com os telejornais!), para poder aqui ali, ler alguma coisa com graça.

Há sempre o recurso a um poema do Torquato da Luz, claro, ou a uma série de fotos do Cidade Surpreendente. Valha-nos isso...

quarta-feira, outubro 19, 2005

Seis Menos Um Quarto



[602]

É disto que eu gosto. O meu restaurante habitual é um comedouro escuro, de gosto duvidosos mas onde se come bem e com um toldo redondo no exterior onde, com esforço, conseguimos reconhecer o nome do mesmo e que não deve ser lavado desde o regicídio. À porta, há invariavelmente um montinho de pedras de calçada à portuguesa pelo menos há nove anos, de buracos feitos e nunca tapados, e que me faz lembrar o relógio da torre do quartel de bombeiros da Encarnação que marca seis menos um quarto desde as seis menos um quarto de um qualquer dia dos anos sessenta, ainda eu andava a apanhar caracois pelos campos daquilo que hoje dizem ser Olivais-Sul.

Os montinhos de pedras da calçada não devem ser tão antigas como o tal relógio, mas para lá caminham. Uma das razões que me levariam a votar Maria José Nogueira Pinto, foi ela ter dito que acabaria de imediato com a tal calçada, um ninho de porcaria, areia, poeira, incómodos e saltos partidos dos sapatos de senhora. Mas, ganhou o Carmona e ele lá terá outras prioridades. Voltando ao restaurante… lá dentro, aquilo é igual a uma centena de restaurantes da zona. Empregado brasileiro a precisar de legendas de cada vez que ele me diz qual é o prato do dia, menu com caligrafia ( e ortografia) de 4ª classe da tropa, um ar condicionado que em nove anos deve ter trabalhado aí umas cinco vezes (há sempre uma dama friorenta e um cavalheiro com rinite e ácaros, muitos ácaros), as inevitáveis televisões em "mute" ( a gente vai vendo as imagens e deduz o resto, aliás nada difícil) e os mastigantes, como diria o Zé Quitério no Expresso.

Os mastigantes são sempre diferentes e quase sempre os mesmos. O homem da UGT (que come sempre de guardanapo preso ao colarinho), um arguido do processo Casa Pia, um grupinho de "iúpis" lusitanos com aqueles nós de gravata da grossura de um canhão sem recuo, gel versão 2005 do antigo "fixador de barbeiro" e dois ou três patos bravos, daqueles que se entretêm a encher as ruas da Lapa com uns contentores de entulho e onde, com propriedade, alguém os devia meter a eles próprios. Desde que lhes tirassem primeiro os anéis e os fios de ouro. Há também algumas mulheres. Umas bonitas, outras menos bonitas (não há mulheres feias) e todas elas com aquele ar de quem paira, sobranceiramente, num mundo de homens. Aliás este "ar" tem vindo reconhecidamente a generalizar-se. Por mim, embirro com este "ar", aliás embirro mesmo com o termo pairar, lembra-me o açor, a águia real, o falcão e o milhafre, rapina, enfim, e eu acho injusto (pelo menos, redutor...) colocarmos as mulheres nesta classe da taxonomia ornitológica (não acredito que disse isto…).

Bom… mas hoje lá está uma falconídea (honni soit…). Olhar penetrante e nariz adunco, ainda que bem desenhado, garras afiadas e plumagem de gosto. Entrou esvoaçando, pairou, mirou sem olhar para ninguém e acomodou-se na cadeira com a graça e a leveza de uma garça, que não é de rapina… mas este gesto teve mais de garça do que coruja rateira. Olhou displicentemente para o menu (eu diria, até, que com enfado), fez meia dúzia de perguntas ao pobre do brasileiro enquanto segurava o menu com a pontinha das garras e acabou por encomendar "lulas à sevilhana", com ar de quem tinha andado em aulas de piano com a Virgem de Marcarena. As lulas vieram e a falconídea comeu sem levantar os olhos do prato, ainda que, naturalmente, nada lhe escapasse em redor. De repente, sem que nada o fizesse esperar, virou-se para mim e perguntou-me as horas: - Seis menos um quarto, disse eu!

Fulminou-me com o olhar, género "este tipo deve pensar que tem graça" e eu fiquei sem jeito a olhar para ela. E eis que se me faz luz no espírito e lá lhe expliquei que no momento exacto em que ela me perguntou as horas eu estava a conversar com dois colegas sobre o facto de o tal relógio dos bombeiros da Encarnação marcar seis menos um quarto há mais de quarenta anos. Não sei se ela acreditou… mas também não interessa muito. Interessa tanto como esta historieta idiota que resolvi trazer para o blog, porque não me apetece escrever sobre coisas sérias. Se é que alguma vez escrevi alguma coisa séria no "Espumadamente"…

terça-feira, outubro 18, 2005

Bull... frog



[601]

If Teddy Bears Ruled The World
If teddy bears ruled the world,
Oh My, what a freak nightmare
Everyone would be scared
With no going place to dare
There would be fear in every face
We wouldn’t picnic every Sunday
'Cause if we lend a hand, ready with a bear hug
We might end up in a mug
Mixed with honey and bees,
Being eaten under the trees.
So, we rather be ruled by men
And before you count up to ten
You'll find Mr. Right
Who'll hold you so tight
That you'll never sing again
"If Teddy Bears Ruled the world"…


(apologies are made to Janis Miner, but this is an emergency…)

Abrenúncio, Saramago, Pé de cabra...



[600]

1º Acto

Seis e meia da manhã, escuro como breu, Terça feira, dia de horário violento da Júnior:

- Bom dia, filha!
- Humpffttt !…

2º Acto

Lâmpada da sala fundida, passadas largas para abrir os cortinados da sala:
- Filha, despacha-te….
- Miaaaaaaaauuuuuuuuuffffffffffffffffff!…
(Estou farto de dizer à estúpida da gata que não se deixe pisar!

3º Acto

Inspecção anual de viatura, marcação para as oito e meia da manhã, antes de seguir para o trabalho:

- Tem aqui o selo provisório, válido por um mês…
- Provisório?
- Sim, o depósito do limpa vidros está vazio e os faróis de nevoeiro da frente estão muito levantados.
- #&’*#&+ f...

4ºActo

Almoço no sítio do costume:

- Traga-me então o cherne no forno com batatinhas assadas.
- Com certeza.
- (Sorriso de quem ganhou uma estrela no Guia Michelin) Ooooora aqui tem o lombo de porco com castanhas…
- #&’*#&+f...

Vou ficar aqui quietinho para o resto da tarde, no escritório, calado e conformado, antes que bata na gata, esvazie o depósito de limpa-vidros do rapazola da inspecção e asse o empregado do restaurante com castanhas
!

domingo, outubro 16, 2005

Caminhos da Bruma



[599]

Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasma do meu navio
Não corras, vai devagar!

Vais por caminhos de bruma
Que são caminhos de olvido.
Não queiras, ó meu navio,
Ser um navio perdido.

Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?

Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?

Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe


(Natália Correia)

Descalabro



[598]

Isto de espumar só quando o Sporting ganha é parcial e condenável. Há que dar a cara também quando o Sporting joga mal. Ou quando nem mal joga e é um espelho vivo do descalabro, como há pouco contra a Académica.

Parabéns à Briosa e que goze bem os três pontinhos que lhe farão muita falta lá mais para diante.

sábado, outubro 15, 2005

Culpas



[597]

Tem havido profusa referência aos imigrantes que pretendem entrar em Melilla. Levantam-se as vozes, agitam-se as consciências, segue-se o caudal politicamente correcto, provavelmente provindo de muita gente que talvez nunca tenha passado da Ponta de Sagres ou de Quarteira. É o costume.

Por muito que a questão humanitária nos fira e incomode e por muito que ela se compagine com políticas europeias aplicadas ao arrepio dos mais elementares direitos humanos, conviria lembrar que em matéria de culpas, elas residem primeiro e principalmente nos próprios países de onde jorram estas torrentes de desgraçados que mais não querem senão sobreviver. Numa meia dúzia de países sub-sasarianos, sei exactamente do que estou a falar. São países naturalmente ricos (sim, ricos) e não fora a inépcia e despudorada corrupção dos seus mentores, talvez os imigrantes fossem bem menos.

Era bom que este pormenor, não despiciendo, não passasse despercebido a muitas das consciências elevadas e angelicalmente preocupadas que se apressam a debitar a retórica do costume, de cada vez que a Europa se vê forçada a tomar medidas extremas para evitar estes fluxos humanos que, periodicamente, fazem as delícias de alguns bloggers, jornalistas, comentadores e patatipatatá...

Segurem-me senão belis(cu)-a...



[596]

Segundo o Expresso, dois diplomatas portugueses chegaram a vias de facto e o facto das vias de facto foi até noticiado pelo principal jornal de Estrasburgo.

As razões não são divulgadas, mas o Pedro e a Suzana, assim se chamam os diplomatas contendores, envolveram-se numa cena de "unhadas e beliscões" (sic).

Espero bem que as unhadas tenham sido da Suzana e os beliscões tenham sido do Pedro. Ou então, a diplomacia já não é o que era...

sexta-feira, outubro 14, 2005

Os Blogues delas



[595]

Esta semana que está a findar foi vencida com alguma correria e uns quantos assuntos a cairem-me em cima, assim estilo trânsito da segunda circular. Mesmo assim não deixei de ir ao Atrium Saldanha ouvir falar de blogues. Femininos. Delas.

A
Charlotte e a Miss Pearls fizeram as honras da casa e fizeram-no com a graça do costume. Como não as conheço pessoalmente tive a sensação curiosa de estar a ler os respectivos blogues. A "marca" estava lá.

Na audiência estavam certamente bloggers que já li mas que não consegui identificar.

Tive, mesmo assim, o privilégio de conhecer e conversar um pouquinho com duas mulheres lindíssimas, cuja veterania "úrlica" não tem nada a ver com a frescura da sua presença física. E, afinal, têm exactamente a mesma classe ao vivo que têm quando escrevem.

Se lerem este pequeno apontamento quero que saibam que tive muito gosto em vos conhecer. Eu já o dissera ontem, mas já agora fica aqui registado em acta.

Dia 7 de Dezembro será o Pacheco Pereira. Também na Almedina.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Jornais e Jornalistas



[594]

Isto de jornais é giro. De jornais e jornalistas…

Faz-me lembrar um bocadinho aquelas esposas empertigadas, muito independentes muito autosuficientes, muito muitas coisas e depois pautam a sua conduta segundo uma matriz meticulosamente elaborada para agradar ao cônjuge (ei, calma, ainda não acabei…) e aqueles esposos muito homens, muito seguros, dinâmicos, dominadores coisa e tal e acabam por fazer tudo o que a mulher quer, não vá ela ir a uma reunião de bloggers, esses "apócrifos exemplos da imbecilidade provinda da solidão que não tiveram arte nem engenho para mitigar".

Mas voltando aos jornais… eu leio o DN. Entre outras coisas escrevem lá o Vasco Graça Moura, o Luciano Amaral, o Luis Gaspar dá-me do melhor que há em crítica de televisão, a paginação é-me familiar e há mais um par de coisas que me fazem esportular os oitenta cêntimos dos dias úteis com excepção das sextas, em que já custa um Euro e dos dias inúteis, em que vai para um Euro e qualquer coisa, já nem sei bem, mas o Sr. Carlos da pastelaria sabe e informa-me.

Ora o DN mudou de mãos há poucos dias e, de forma paulatina, vai mudando de miolo. Paulatina mas decididamente. Senão, reparem o que a leitura diagonal da edição de hoje me proporcionou (diagonal, a outra só mais lá para o fim do dia, que eu tenho este péssimo hábito e dolorosa necessidade de trabalhar, o que me obriga a uma criteriosa gestão do tempo para ler jornais). Mas vamos lá ver:

- A cada minuto morre uma mulher durante o parto…
- UE teme invasão de Ceuta e Mellila por trinta mil imigrantes…
- Casos de álcool nas esquadras são conhecidos desde 2000…
- Grávidas são discriminadas em Portugal… culpa da sociedade que tem demasiadas ideias feitas…
- Gravidez mata uma mulher em cada minuto…
- Uma em cada três mulheres será, durante a sua vida, espancada ou coagida a manter relações sexuais…
- Ganhar uma eleição é ter mais votos mas não é forçosamente, só por isso, passar a ter, em tudo, toda a razão… (citando o Público)
- 30.000 pediram e só 13.476 têm visto de trabalho (emigrantes)…
- Schroeder diz que que alemães recusam mudanças radicais…
- Lei da nacionalidade revela "falta de coragem"…

Ficam 10 leituras diagonais, mas há mais. Mas também, se abuso da enumeração corro o risco do DN – deixar de ser lido ou ser levado a sério.

Tranquilamente



[593]

Aos meus co-munícipes mais distraídos, relembro que António Capucho permanece à frente dos destinos de Cascais. Posso estar enganado mas não ouvi uma palavra sobre as eleições no espaço mais habitável de Portugal. Pudera... não havia escândalos, felgueirices nem gritaria e a comunicação social passou ao lado.



Cascais está bem e recomenda-se e, quando assim é, está tudo bem.

NOTA: Ó presidente, veja lá é as faltas de luz com relativa frequência e deite lá o Estoril-Sol abaixo que aquilo já fede e já a minha avozinha dizia que o que é demais é moléstia...

quarta-feira, outubro 12, 2005

Derrotar a Direita



[592]

Pergunto ao vento que passa
Se há projectos para o país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz

Só diz que o país enferma
Duma terrível maleita
Que é o projecto comum
De derrotar a direita


Manuel Alegre, também ele, referiu que o seu projecto de candidatura para a Presidência da República é derrotar a direita. E vão quatro. Soares, Louçã, Jerónimo e, agora, Alegre.

Com esta cruzada de derrote da direita (nenhum deles explicou porquê, presume-se que é uma coisa que todo o português deve intuir – derrotar a direita, ponto final parágrafo), de duas uma: ou a direita é derrotada e não se fala mais nisso ou então, a direita é muito forte e deve gozar da preferência da maioria dos portugueses já que a eleição decorre de sufrágio universal. Ou, ainda, os portugueses são uma colecção de idiotas encartados que não entendem a esquerda e insistem em rejeitá-la liminarmente. Uma destas coisas irá acontecer. O que não invalida a pobreza franciscana de uma esquerda que parece ter como projecto único derrotar a execrável direita.

Se um dia a direita for derrotada, ficamos todos a aguardar para ver onde é que a esquerda vai inventar mais causas para os combates políticos. É que depois, aí sim, sem direita, terá de ter um projecto qualquer e isso, de projectos que não contemplem a derrota da direita, é que é mais complicado.

terça-feira, outubro 11, 2005

Ela voa, voa, que o patrão está em Lisboa...



[591]

Esta
Joaninha deve pensar que os gatos comem alpista. Ou que somos todos parvos. E Mário Soares não se enxerga e deixa...

segunda-feira, outubro 10, 2005

O Grau 1 da Lusitânia



[590]

Vem aí um furacão de grau 1. As autoridades, suponho, estão já a tomar, ou tomaram, as devidas providências para acautelar a segurança dos cidadãos e minimizar estragos. Um grupo de funcionários camarários foi destacado para limpar as sarjetas na Avenida de Ceuta e 24 de Julho, esperando-se que os trabalhos se iniciem na próxima 5ª Feira. O furação deve chegar na Terça, mas o piquete destacado alegou que dois dos seus homens estavam com baixa, três estavam em serviço externo e outro está em licença de parto (parto da mulher, bem entendido, que por enquanto ainda é assim...), pelo que há boas expectativas para iniciarem os trabalhos na Quinta. O furacão chega na Terça… mas depois logo se vê. Os Municípios costeiros também tomaram medidas no sentido de que as casas fossem calafetadas e as janelas reforçadas. Aparentemente, será aberto um concurso público ainda hoje para a adjudicação a uma brigada de excecução destes trabalhos, mas como o furacão é já amanhã, o primeiro ministro deixou entender que poderá autorizar o ajuste directo para que os trabalhos se efectuem o mais tardar a partir de Quarta Feira. Interrogado sobre o facto de o furacão estar aí amanhã, o primeiro ministro afirmou que tudo tem de ser feito com transparência, Jorge Coelho afirmou que se o furacão se meter com o PS "leva" e António Vitorino disse "habituem-se". Francisco Louçã convocou já uma conferência de imprensa no sentido de esclarecer os cidadãos portugueses de que se Bush tivesse assinado o Tratado de Kioto, o furacão passaria mais ao largo e, quando muito, apanharia apenas a costa galega. A uma observação de um jornalista sobre o facto de, do ponto de vista humanitário, os danos da Galiza serem igualmente de temer, Louçã perguntou-lhe se ele alguma vez tinha gerado um furacão, porque se não gerou, não percebia nada do assunto e não deveria, assim, manifestar-se. Sabe-se que Jorge Sampaio se mostrou preocupado e vai convocar os líderes partidários amanhã. O furacão também é amanhã, mas pode ser que seja lá para a tardinha e Jorge Sampaio conta receber os líderes no período da manhã aí pelas onze, dependendo do trânsito e, até lá, preocupar-se. José Manuel Fernandes tem já três reportagens preparadas para o Público. Uma com muitas vítimas (acusando Bush), outra com algumas vítimas (acusando Bush e Santana Lopes) e outra com poucas vítimas (acusando Bush, Santana Lopes e o Batalhão de Sapadores Bombeiros de Lisboa). Logo se vê. Correia de Campos também já afirmou que kits de primeiros socorros estarão disponíveis para distribuição gratuita nas farmácias e grandes superfícies, mas a ANF já disse que não disponibilizará o serviço enquanto o Estado não lhe pagar as dívidas. Há uma reunião programada entre o ministro e J. Cordeiro para Quarta Feira, mas João Cordeiro já disse que Quarta estava na Polónia pelo que, em princípio, a reunião ficará para Quinta. O furacão parece que é amanhã… mas depois logo se vê. A TSF tem foruns preparados, a Fatinha (a nossa, a de Lisboa, que é do Porto, mas é como se fosse de Lisboa) já vai anunciar um "Prós e Contras", Marcelo vai antecipar as "escolhas" para Sábado e Vitorino amuou com as autárquicas, pelo que disse não saber se pode comentar na Segunda. Pinto da Costa também já afirmou que não conhece Rui Rio de lado nenhum e quando lhe perguntaram o que é que Rio tinha a ver com o furacão, ele pensou de que.

E eu acho que não sei se posto esta droga, mas depois das correcções… logo se vê.

domingo, outubro 09, 2005

Soltas - Autárquicas

[589]

1 - Mário Soares pode fazer e dizer o que lhe apetece? Vai preso, paga multa ou, simplesmente, tornou-se inimputável?

2 - O discurso de Fátima Felgueiras está a tonar-se insuportável. Uma independente que pede a demissão de um dirigente regional de um Partido devia, pura e simplesmente, ser responsabilizada. O problema é que se fosse, fugia para o Brasil.

3 - Marco de Canaveses e Amarante livraram-se de boa. E Ferreira Torres disse que a culpa da derrota foi da comunicação social, "inclusivel" a SIC que estava bendida a não sei quem...

4 - Rui Rio ganhou e julgo saber que é bom para o Porto. Sobretudo pela rábula de ontem de Pinto da Costa (vota em Assis, mas daqui a quatro anos ia ver se estava tudo bem). O Porto não merece esta gente. Nem as patetices de Miguel Sousa Tavares sobre o assunto.

5 - Tive pena que Maria José Nogueira Pinto não ganhasse mas gostei da vitoria de Carmona. É a vitória da razão e da competência contra o populismo idiota e provinciano de Carrilho.

6 - João Soares inspirava comiseração. Debitou umas banalidades e mostrava-se abatido. Ainda por cima o pai desajudou...

7 - O José Alberto Carvalho está cevado de gordo e Manuela Moura Guedes fez uma plástica. Só pode...

sábado, outubro 08, 2005

Vírgula...



[588]

Vírgula, são proibidas mijanceiras à porta do balneário. Os qui tem gravata vai no Mundial. Os que não tem gravata, também vai...

Angola lá estará, na Alemanha, a disputar um Mundial de futebol pela primeira vez na sua história. Aquele espaço de mim onde guardo a recordação de um dos mais fascinantes países que conheci está cheio de contentamento. Meu coração está cuntente e vamos lá fazer um brilharete.

Força, palancas!

sexta-feira, outubro 07, 2005

Explicação

[587]

Por razões pessoais, eliminei o post anterior [586] escrito há cerca de cinco horas atrás.

À Formiga, à Laura Lara e Crack, que entretanto haviam aposto um comentário, as minhas sinceras desculpas.

Suspeito



[585]

De repente, corro o risco de passar a ser suspeito. Não serei o suspeito do costume, mas suspeito. A forma intrusiva como Jorge Sampaio acha que o enriquecimento ilegal deve ser combatido é, no mínimo, terceiro-mundista e atenta contra as mais elementares garantias e direitos de cidadania que a Constituição me garante.

Jorge Sampaio tem toda a legitmidade para fazer accionar quaisquer mecanismos que garantam a eficácia do sistema fical português. Acho até muito bem que o faça. Não tem é o direito de me tornar suspeito de enriquecimento ilegal, pelo facto de muitos dos meus concidadãos não pagarem impostos e se passearem de helicóptero para fazer piqueniques.

Entre outras razões, gostaria de saber como é que defendo a minha inocência, no caso de o meu vizinho do outro lado da rua questionar a forma como arranjei dinheiro para comprar um par de sapatos novos, num tempo útil de sete a dez anos (a menos que, entretanto, a coisa prescreva), que é o tempo médio de resolução de um processo neste país, que se quer de bufos.

Jorge Sampaio iria muito melhor se accionasse mecanismos eficazes de controle de evasão fiscal, em vez de se deixar arrastar pela síndrome crassa da esquerda, que gosta de utilizar a seu belo prazer os valores que se arroga o direito de ter defendido em jornadas de luta que, infelizmente para ela, já pouco sentido fazem por falta de substância.

Não posso dizer que este tipo de atitudes da esquerda verdadeiramente me surpreenda. A esquerda é autoritária, securitária, ditatorial e detentora da verdade única. Coisas, afinal, que reclama como estandarte da sua luta contínua, "até á vitória final".

Está-lhe nas tripas e não há nada a fazer…

quarta-feira, outubro 05, 2005

Portugal grunho

[584]

O
Blogautárquicas está a prestar um inestimável serviço público. Com a simples publicação de um punhado de cartazes de propaganda da campanha autárquica, proporcionou-nos um retrato muito eficaz do país que somos. Vale a pena ir dar uma espreitadela e digiram bem. Deixo aqui uma pequeníssima amostra do que lá poderão encontrar.









Como nota final, um comentário sobre um candidato do Bloco, julgado e condenado a 10 anos de prisão por assalto a bancos e assassinato de GNR's. Eu já me tinha apercebido da desonestidade, truculência e descaramento de Francisco Louçã. Só não sabia que era distraído ao ponto de não incluir lá na lista dele dos "autarcas-bandidos", o seu próprio candidato. É só ler aqui.

terça-feira, outubro 04, 2005

Por de trás... e sem me avisarem!



[583]

Ontem, num zapping prenunciador de uma retirada para a cama, pouco depois da meia noite, os 4 canais generalistas da nossa televisão mostravam o seguinte:

RTP1 – Um filme francês, uma mulher deitada, um homem deitado por detrás dela e a dizer-lhe – "Deixa-me meter por trás". "Por trás"? Dizia ela... "Sim, no cu é uma forma de amor", dizia ele...

2: - Um energúmeno, de bigode sem tamanho vociferava qualquer coisa sobre autárquicas.

SIC – Uma tipa para o gordinho a dizer que era boa e que fornicar era um stand de automóveis nas Furnas e depois gritava, pulava e saracoteava-se até entrar o Marco Horácio a dizer que a seguir ia entrar um gajo qualquer a dizer "puta que o pariu"...

TVI – Uma fulana morena e magra explicava pelo telefone a uma Cláudia, de Setúbal, que um homem assexuado era um homem que não tinha apetite sexual por outra mulher ou por outro homem, isto depois de ter explicado a um fabiano qualquer do Norte que não precisava de ter medo do aparelho dos dentes da namorada e que, portanto, ela lhe podia fazer... deixa cá ver se consigo uma grafia tão aproximada quanto possível à fonética da "piquena"... feleixcio. Quando muito, "deveria evitar tocar-lhe com a ponta do pénis nas amígdalas".


Entretanto, uma assistência alarve ria...

SOS (Save Our Shirts)



[582]

Sábado passado comprei camisas. Uma colega, com a indulgência sobranceira e própria da mulher que acha que o homem jamais sobreviverá sem elas, chamou-me a atenção para o facto de o punho da camisa que eu trazia vestida estar ligeiramente "esfiapada". Foi meio caminho andado para eu chegar a casa e fazer uma inspecção cuidada e – horror! Descubro 4 (quatro!) camisas cujos punhos estavam também a "esfiapar" (eu não conhecia este termo do "esfiapada", mas se a minha colega o usou, deve estar bem usado e quem sou eu para esfiapar agora o assunto…) e, mais grave, duas delas apresentavam, os mesmos sintomas no colarinho.

De corrida ao Cascais Shopping (aproveitei e vi o "Red Eye" e gostei e aqui deixo um pedido ao meu ou minha comentador/a anónimo que foi atrás do meu conselho para o "fura casamentos" e me deu uma valente reprimenda a posteriore) lá comprei umas camisas sem fiapos.

Como era Sábado e ando cansado desta sobranceria feminina segundo a qual o homem não faz nada bem feito para além de e às vezes "nem isso", desalfinetei meticulosa e profissionalmente as camisas, retirei-lhes aquela parafernália infernal dos cartões, plásticos no colarinho, etiquetas e blá blá blá e… máquina com elas, que se há coisa que eu detesto é roupa nova acabada de saír da loja.

Hoje recebi uma chamada aqui no escritório da minha insubstituível e ucraniana Júlia a dizer-me o seguinte, que procurei transcrever com a fidelidade possível:

" Senhor Espumante, favor próximo vez não pões camisas no máquina no oitenta grados porque perigoso nos cor e também porque não pode passar o ferro. Estou a tentar mas não podo passar ferro tem muito vinco".

Não sei bem o que aconteceu, mas algo de grave deve ter sido. Cores, vincos, Julia a telefonar… hummm, cheira-me que deitei um bom bocado de dinheiro fora. E isto só porque eu achei que com a água bem quente a goma saía mais depressa. Entretanto a minha mãe, com quem me aconselhei pós desastre diz-me que as camisas agora não trazem goma nenhuma, isso era antigamente e tal e que basta molhar as camisas para lhes tirar aquele toque de roupa nova.

Mas porque é que as mulheres "às vezes" têm… grrrr… hummm… vou ter de dizer… razão
?

A Rádio "Deles"



[581]

Descobri uma rádio que emite de Sintra que não conheço, nunca vi, não sei o que é, de quem é – não sei nada. Chama-se "Rádio Nossa" e "é assim": Dá música ligeira meticulosamente seleccionada , música de sempre com predominância de arranjos de orquestra mas também música brasileira de qualidade, temas de filmes, grandes nomes de jazz e de rock. Não tem a naftalina do RCP que insiste em se circunscrever aos anos sessenta e NÃO tem publicidade. Sensivelmente de hora a hora, surge uma voz melíflua a dizer que vivemos em paz, que somos pela paz e pela virtude na graça do Senhor, mas é coisa pouca, nada que ultrapasse o minuto ou dois.

Sejam "eles" quem forem, fiquei cliente. A culpa é da Mariana Marques Vidal que todos os dias me avisa que o tempo está fantástico, que o fim de semana espera por nós no quentinho da praia e no sol redentor das almas e dos corpos, enquanto esse mesmo sol me caustica a visão todos os dias de manhã, de frente, a caminho de Lisboa e todos os fins de tarde a caminho de casa, enquanto ao meu redor tudo está seco crestado, poeirento, amarelado e opressivamente quente. Praticamente há um ano. E também da TSF que todos os dias me oferece Foruns mirabolantes e deprimentes e grunhem verdades lá muito deles com as quais , aparentemente, se autoflagelam (o que não seria muito grave se não me flagelassem a mim).

Rádio Nossa, na Paz do Senhor, boa música em Portugal, a salvo da Mariana Marques Vidal, dos Fernandos Alves, Acácios, Guerras, Helenas não sei das quantas, Marias e outras sevícias radiofónicas.

segunda-feira, outubro 03, 2005

O Sorriso...



[580]

Si non e vero...

domingo, outubro 02, 2005

...é tudo o que a nossa vista alcança!



[579]

O meu país está triste e amargurado. Está, ainda, desconfiado, truculento e agressivo. Como é basicamente impreparado, nenhum daqueles estados de espírito é minimamente mitigado por uma desejável racionalidade para os tempos difíceis. Pelo contrário - os ânimos estão exacerbados e é pela contestação (frequentemente gratuita) que a eles se dá vazão.

Acontecimentos recentes comprovam isso mesmo. Desde o ataque a tiro a uma caravana de campanha autárquica, à turbulência e à sanha dos apaniguados de alguns clubes de futebol, passando pelo assassinato de um autarca que resolveu retirar as pedras que delimitavam o espaço de parqueamento do homicida. Para não falar na onda de constestação patética que grassa um pouco por todo o país.

A crise, impreparação e o mau feitio, porém, não explicam tudo. Escamotear a irresponsabilidade da generalidade dos nossos agentes políticos na forma como objectivamente contribuíram para esta situação será sempre um mau serviço à verdade e a nós próprios enquanto sociedade. Eles cultivaram o laxismo, a mentira, a irresponsabilidade, a benesse, o arranjinho, nutriram o caciquismo e exploraram a iliteracia e a ignorância dos simples. Distribuíram prebendas e promessas irrealizáveis, promoveram e engordaram privilégios e fecharam Portugal à dinâmica gerada na Europa a que passámos a pertencer, através de um discurso retrógrado, bafiento, supostamente solidário e mentiroso.

Agora já não há revoluções, golpes de estado, salvadores da Pátria, cravos nas espingardas e amigos a cada esquina. Há, sim, uma situação que reputo de gravíssima e perigosa, ao ponto de se poder vir a questionar a verdadeira dimensão e aptidão de Portugal no seio de um conjunto de nações que partilham o espaço europeu. Tal como não acredito em soluções unipessoais ou sebastiânicas que possam reconduzir este país a uma trajectória de progresso e credibilidade internacional.

Tenho dois filhos fora e uma ainda cá dentro que, sem que eu a influencie minimamente para isso, se dispõe a rumar ao estrangeiro assim que acabar a faculdade. E eu não mexerei uma palha para a contrariar...