quarta-feira, abril 29, 2015

Resultados do «depois logo se vê»


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Estamos a horas de uma das mais devastadoras greves que nos trará (já está a trazer) uma monstruosa perda de muitos milhões de euros. Para além desta perda directa, há indícios de que os portugueses procuram nas agências de viagens transportadoras aéreas como opção às caravelas portuguesas com asas, cansados de tanta confusão e desconfiados do que possa vir a seguir.

A minha reflexão vai no sentido de que se em 1999 em vez do sorridente e do «depois logo se vê» Guterres e do moralista pedagogo Cravinho tivessem sido, por exemplo, Passos Coelho a estar no Governo e Portas a negociar o acordo com os pilotos, as nossas folgazãs repórteres de directos e os nossos concisos comentaristas/tudólogos/paineleiros não dariam  um minuto de tréguas a Passos e Portas e crivavam-nos permanentemente de perguntas e a CGTP já tinha de há muito revitalizado os seus arruaceiros encartados para insultarem os membros do governo de cada vez que fossem a qualquer lado.

Mas é o que se vê. Um silêncio (cúmplice?), uma bonomia exasperante perante um dos mais gravosos cometimentos socialistas que, para calar os pilotos, lhes «atirou» com 20% do capital da TAP. Este é um dos muitos exemplos que devemos aos socialistas como causa próxima do estado calamitoso em que nossa situação económica e atmosfera social se encontram. E quando os jornalistas, repórteres e comentaristas agem desta forma, quase num regime de concubinato político com um Partido que já nos deu três bancarrotas e nos legou problemas desta estirpe, há que os acusar também. Porque se os portugueses estivessem devidamente informados sobre o trambique, incompetência e ligeireza das manobras dos socialistas durante as suas legislaturas muito provavelmente não continuariam a dar-lhes mais de 30% dos votos.

José Manuel Fernandes, no Observador, é uma das poucas excepções ao silêncio dos jornais e das televisões por esta «Guterrice».


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terça-feira, abril 28, 2015

O Honório Bar


O «Honório Bar», no canto inferior direito da foto (Clicar na foto)

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O Honório era um colega meu, mais velho talvez uma dezena de anos e com quem eu não tinha um conhecimento chegado, até pela diferença de idade. Mas conhecia em detalhe as suas invejáveis capacidades, a cultura, a sua inteligência, a oratória fantástica, a capacidade de argumentação e, sobretudo o seu extraordinário sentido de humor, a par de uma incontrolável tendência para as situações mais bizarras. Ficou célebre (eu não vi, contaram-me) a sua oferta para comer, perdoe-se-me a rudeza, mas não há outra maneira de contar, uma sanduíche de merda. Até aqui nada de muito difícil, dizia ele, se a dita cuja não proviesse das tripas do colega que eventualmente seria o mais mal cheiroso do burgo, com os seus muito prováveis 100 quilos.

Parece que a cena congregou dezenas de estudantes, o «cagão» defecou à vista de todos, o Honório abriu uma carcaça e, com esmero e respeito, recheou-a com as fezes frescas, acabadas de produzir. Se ainda estiverem a ler este post e se ainda não vomitaram, saibam que ninguém se adiantou com os 100$00 que o Honório exigia como contrapartida, apesar do desafio, de sanduíche na mão, perguntando quem pagaria 100$00 para que ele a comesse. Como parece não ter havido pagantes, provavelmente estaria tudo teso, o Honório fez uma pequena demonstração grátis que consistiu… numa lambidela da sanduíche, após o que a deitou fora.

Outra história conhecida, foi a de como ele conseguiu convencer um comerciante do mato na Guiné Bissau, onde ele cumpria serviço militar, que deveria comprar uma autometralhadora, um veículo militar ligeiro equipado de uma metralhadora no topo, por causa dos terroristas. O comerciante pagou e o Honório pegou numa das autometralhadoras no quartel e entregou-lha. Parece que a história só acabou quando viram o comerciante passeando-se alegremente em Bissau de autometralhadora, que foi imediatamente apreendida. Não sei o que aconteceu ao Honório, mas tenho a certeza que ele conseguiu resolver a coisa e acabou a beber um copo com o capitão. E tenho a certeza que terá sido o único alferes miliciano, em todo o mundo, que terá vendido um veículo militar a um civil.

O Honório era da Praia, capital de Cabo Verde e toda a gente o conhecia pelas suas partidas. Todas elas cheias de humor e que deixavam os «lesados» a morrer de riso. Quando ele morreu, muitos colegas e amigos foram ao velório. Parece que eram muitos os que vinham fora da igreja e não acreditavam, de todo, que o Honório tivesse morrido. Achavam, diziam eles, que aquilo era mais uma partida do Honório, ele estava apenas a fingir que tinha morrido, até porque ele se estava a sorrir no caixão.

Na semana passada fui ver o Bayern/Porto ao bar do Pestana Trópico Hotel na cidade da Praia. No fim dos 6-1, pedi a conta para assinar e qual não é o meu espanto quando vi na factura «HONÓRIO BAR». Perguntei ao empregado porque é que o bar se chamava Honório. Ele começou a contar a história que acabei de descrever e que eu, naturalmente, já conhecia. Mas eu deixei-o contar até ao fim.

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domingo, abril 26, 2015

Amandamos-lhes com o Viriato e Aljubarrota...


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«…Em suma, a austeridade é um tique evitável. O progresso e a felicidade exigem que o Estado semeie verbas avultadas em seu redor. O fornecimento das verbas é uma obrigação dos contribuintes alemães. Se os alemães rezingam, damos-lhes com o Viriato e Aljubarrota na cabeça. Se continuam a implicar com ninharias, recorremos a citações de Camões e de Pessoa, repletas de referências à saudade e ao mar salgado. Se, incrivelmente, nem isto resultar, desatamos a apelar aos formalismos: nós, que somos soberanos, exigimos viver à custa de estrangeiros hostis, que têm é de calar-se e patrocinar-nos o orgulho. Negócios, apenas com os estrangeiros amigos e falidos, tipo Venezuela…»

O Alberto Gonçalves como, habitualmente, aos domingos. Ler a crónica toda aqui.

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Sôdade


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Este magnífico peixe-serra, uma designação imprópria mas que deriva de uma fileira de dentes pequenos, triangulares e acerados como uma lâmina de barbear, é internacionalmente conhecido por spanish mackerel, provavelmente por parecer originário do Golfo do México, mas hoje abundante em todo o mundo, sob cerca de uma vintena de espécies.

Conheço bem este peixe  e apanhei vários, o maior dos quais levou o ponteiro da balança quase, quase, aos 40 kg e era atraído facilmente por rapala ou por pena. Nada disto é muito estranho de contar, apenas reflecti nos muitos pescadores que vejo quase diariamente na costa portuguesa e rejubilam com um robalo de meio quilo e na pródiga natureza que disponibiliza comida boa e farta para muitos povos que hoje se debatem com privações de vária índole, como a fome.

No meu caso, lembro-me que para apanhar um peixe destes eu tinha de navegar cerca de vinte milhas para além do Clube Naval de Maputo. Não resisti a perguntar a este homem da foto (tirada anteontem junto à residência do embaixador do Brasil em Cabo Verde) onde é que ele tinha apanhado este exemplar, que eu penso deva ter entre 22 a 25 kg.

- Ali em baixo, na praia.
- Na praia? Perguntei eu. Ali mesmo na praia, sem barco? E com que isco?
- Sim, na praia. Com choco. Respondeu o homem com simpatia e naturalidade.

Pois…

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sábado, abril 25, 2015

41 anos


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Na minha geração, muitos não perceberam que o 25 de Abril resultou de uma acção corporativa dos oficiais de carreira que viam, com desconfiança e ódio, a ascensão de alferes milicianos, passados à disponibilidade como tenentes e, se chamados de novo à carreira militar, recolocados como capitães. Pela necessidade da guerra colonial que absorvia mais oficiais na quadrícula de guerra que os disponíveis, não falando naqueles cuja incompetência limitava a acção militar no terreno. O descontentamento dos oficiais do quadro permanente criou permeabilidade à influência do Partido Comunista que através dos seus arietes conseguiu pautar a revolução e conduzi-la, mais tarde, ao desastre que se conhece. Tanto na política interna, como na criminosa política de descolonização, feita sem brio, sem honra e sem respeito pelos cidadãos portugueses e das colónias, muitos deles fuzilados após a independência por terem servido o exército português.

Na minha geração havia também os que percebiam tudo isto, mas gostavam e rejubilavam com a treta do amigo em cada esquina, dos amanhãs a cantar, dos pioneiros, dos continuadores, das emulações socialistas, das palmas organizadas, da gaivota a voar, a luta a continuar e o povo a ordenar e toda aquela parafernália que servia para sujeitar os cidadãos incautos a um tipo de influência, junto da qual a mocidade portuguesa era uma brincadeirinha de crianças. E havia os fundamentalmente estúpidos que não percebiam sequer o que se estava a passar, mas que viam, de repente, uma forma de se projectarem no universo mediático e, até, na partilha de poder. E, sim, havia aqueles que genuinamente, percebiam o gosto da liberdade e da libertação.

Feliz e infelizmente, a geração actual está muito longe já deste fenómeno e cada vez menos cometida a uma celebração que já pouco lhes diz, ressalvando os jovens, como hoje vi na televisão, que vão recebendo o espírito de Abril por injecção dos paizinhos zelosos e progressistas.

Que ninguém levante uma voz sequer ao meu sentimento pessoal sobre a suprema sensação de liberdade, que devo ao 25 de Abril. Cada um reagiu como pôde, ou como soube, à ditadura do Estado Novo e eu reagi à minha. Mas não sou sectário nem estúpido e se louvo a liberdade, o desenvolvimento interno, a melhoria insofismável de vários índices da nossa cidadania como a saúde, a educação, as infra-estruturas internas e o rendimento de família, da mesma forma tenho de vituperar o aproveitamento espúrio do 25 de Abril para fins meramente políticos e a manipulação de grupos políticos claramente impreparados (ou idiotas, ou venais) para derrubarem ciclicamente a nossa economia e nos colocarem na lista da sopa dos pobres da Europa. E, neste particular, receio que a saga continue.

Mantenhamos a esperança, um vocábulo que os portugueses conhecem e apreciam tanto como a fadista saudade. E sonhemos que a geração actual, eventualmente mais preparada, mais sábia e mais honesta, consiga de uma vez por todas guindar Portugal a um lugar onde o respeito pelos outros se misture com o respeito que nos é devido a nós próprios. Assim o saibamos merecer. E que o 25 de Abril passe a um feriado de guarda, sim, mas isento das «terceiro-mundices» bafientas do costume.

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sexta-feira, abril 24, 2015

Home sweet home


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Uma pessoa anda circunstancialmente retirada da intriga política paroquial, regressa a casa e esbarra num círculo para o qual não há quadratura que chegue. Ainda que o quadrado tente avidamente uma geometria impossível, percorrendo os círculos possíveis que, apesar de possíveis, acabam sempre por não ter arestas, vértices e por ter os 360 graus que lhes caíram em sorte.

E foi embrenhado nesses círculos que voltei, com algum deleite, a ouvir a argumentação de Pacheco Pereira, hoje resumida a pouco mais que a imagem de um garoto a quem lhe roubaram o arco. E ela continha um novo conceito filosófico que vou gravar a ouro na minha memorabilia televisiva: - A realidade é um fenómeno meramente interpretativo, disse Pacheco Pereira. Em português de pastelaria às nove da manhã a coisa significa que eu empresto quinhentos euros a um amigo e ele depois interpreta essa dívida da forma que achar mais conveniente, em nome da tagarelice do costume à volta da dignidade, da fome, das penhoras e do mais que os sábios da paróquia usam e abusam para envergonhar uma direita que só acredita em mercados.

Houve mais, houve outras tiradas de estirpe, tudo à volta das linhas programáticas de um exercício que não é programa, muito menos a Bíblia, em que Centeno, Galamba e comandita emitem as epístolas, mesmo não sendo os apóstolos. Mas o que me ficou gravado foi mesmo a realidade levada à potência de fenómeno interpretável, longe da figura imutável do espectro político que a actual maioria nos proporcionou com o cortejo de constrangimentos que se conhece, com o aval da tróica versão António Costa, qual seja a formada por Passos Coelho, Portas e Cavaco. O que realmente me tolhe a paciência é não haver alguém que peça a Pacheco Pereira, desejavelmente até o moderador do programa, que «se explique» e que interprete a realidade lá à maneira dele para nós percebermos bem o que ele pretende. Ou, quem sabe desvende o segredo de Polichinelo que ele parece ter engasgado e que, por razões que me escapam, ele não consegue consubstanciar e detalhe, por fim, a unidade dos contrários de Polichinelo que ele parece defender com uma reserva assaz irritante, todavia teoricamente aceitável e própria dos eleitos.

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