quinta-feira, maio 31, 2012

Em Junho é que é

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Com a devia vénia. Desculpa, Hipatia, mas não resisti!
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quarta-feira, maio 30, 2012

Sonhos

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Sempre gostei mais de voar de dia. O avião descola e é tiro e queda. Ainda o pássaro não se nivelou com o terreno e eu percorro já a vereda dos sonhos.

Foi no trajecto Joanesburgo - Luanda. Puxei a cortina para baixo e deixei-me roubar do mundo dos despertos. E um sonho começa. Pressinto-me num lugar elevado, dificilmente descritível, olhando para baixo, na vertical, e vejo-me a mim próprio caminhando numa praia extensa. Alguém me acompanha, em silêncio, amparando-se em mim, caminhando a meu lado. Eu sei que falávamos ambos em silêncio. Olhávamos em frente e, ao fundo, o mar murmurava uma melodia suave e envolvente e nós continuávamos caminhando. O sonho dá-me então a sensação estranha de saber e não saber quem ia comigo no areal e gera em mim uma vontade estranha de dizer-me a mim próprio quem era. Mais precisamente, apetece-me gritar, chamar o mundo e explicar quem éramos e a razão porque caminhávamos o areal extenso e morno na direcção do mar que, à medida que andávamos, parecia cada vez mais distante. E é na turbulência do desejo reprimido de gritar ao mundo quem éramos que a figura que me acompanhava pega a minha mão, vira-se para mim e me envolve num abraço terno, muito suave, mas firme. Suspendemos a caminhada e mantivemos o abraço por um momento sem fim. Sem falar, apenas sentíamos o corpo estremecer pela indizível sensação de pertença e protecção mútua que nos aconchegava.

De repente, abri os olhos. Sem saber porquê, percebi que tinha acordado. Olhei distraidamente para o computador de bordo, reparei na linha verde que representava a trajectória do avião e percebi que estava à vertical do Kuito, antiga Silva Porto. Tínhamos deixado Menongue para trás, Luanda aparecia mais acima e lá estava o Kuito, rigorosamente por debaixo de nós. E se dúvidas houvesse, o comandante fez uma pequena alocução aos passageiros, informando que dentro de cerca de uma hora aterraríamos no aeroporto 4 de Fevereiro e que naquele momento sobrevoávamos a cidade do Kuito.

Semi-desperto e intrigado, tirei até uma foto. Que saiu medíocre por causa do flash ter disparado e tornado quase ilegível o nome da cidade. Tudo por causa daquela luz difusa, quase tão difusa como o sonho que tinha terminado ali, no coração de Angola, mas ainda assim suficientemente nítido para dele me poder lembrar em cada pormenor e de, à minha maneira, achar que tudo na vida tem um fio condutor de uma lógica irrecusável. Em breve estaria a aterrar.
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E lembrando-me da esmerada educação que recebi na Suiça, retiro o... isso... e digo xiça

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«...O mesmo tipo de imprudência com as leituras revela-se em José Sócrates sempre que quer mostrar que lê, o que faz mais amiúde do que devia. Na campanha eleitoral meteu os pés pelas mãos a falar de Pessoa num registo pseudo-intimista e agora, há dias, numa entrevista da Visão, diz, numa frase displicente, que já não lhe interessa ler Marx, agora vai ler é Keynes. Já esta maneira de falar denota o escasso convívio com os autores que cita como se fossem seus familiares, porque conhecer Marx é tão importante, senão mais, do que conhecer Keynes...»

Isto escreveu Pacheco Pereira na Sábado, salvo erro aí por 2009. Nada que espante muito, sobretudo para quem se lembra da formatação deste primeiro-ministro de má memória. O que espantava era a bonomia com que este homem era tratado pela comunicação social e pelos seus acólitos. Lembro-me até de quando Sócrates espreitou pelos meandros de Sartre e soltou um chorrilho à medida do que acima transcrevi. Mas a paróquia não só achava graça como gostava do estilo porreiro pá.

Já Merkel, há dias, num mapa da Europa do tamanho de uma parede e sem delimitações fronteiriças errou a localização de Berlim aí por um palmo. Aqui d’El Rei que a senhora é uma inculta. E a pernada culta da paróquia estremeceu e glosou o erro de Merkel à saciedade. E enxameou os blogues, jornais, televisões e rádios com a notícia da ignorância da senhora. Foi confrangedor, mas andámos uns dias contentes que nem meninos de escola.
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terça-feira, maio 29, 2012

Conferência de imprensa hoje - As grandes questões nacionais

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Boa tarde senhores jornalistas. No âmbito da constante preocupação deste governo em implementar e manter uma dinâmica de progresso e bem-estar para o povo português e ainda por mor do reconhecimento da necessidade de se corrigir erros graves de governos passados e que afectaram drasticamente a qualidade dos vida dos portugueses; tendo ainda em conta a vulnerabilidade do nosso país em face da crise europeia e da imperiosa necessidade de aumentar as receitas, decidiu este governo a aplicação de algumas medidas extraordinárias que passo a enunciar:

- Destruição imediata da ponte 25 de Abril, através da dinamitação da sua base estrutural, a fim de diminuir o fluxo de automóveis para a capital. A ponte Vasco da Gama passará a ter uma ciclovia, o que permitirá eleger a bicicleta como meio de locomoção do lisboeta moderno, ecológico e consciente.

- Anunciar a demissão da senhora ministra de agricultura Assunção Cristas, por estar grávida de gémeos. Em sua substituição anuncia-se o convite endereçado a Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins para preencher a vaga;

- Desmoronamento da Sé de Lisboa. Não há feridos. O desmoronamento parece dever-se à explosão de uma botija de gás de uma vizinha. Este governo decidiu a formação imediata de uma comissão para estudo da construção de um edifício destinado à futura fundação Manuel Alegre.

Dito isto estou à disposição dos senhores jornalistas para quaisquer perguntas que julguem pertinentes.


- Senhor deputado, acha que o caso Miguel Relvas enfraqueceu este executivo?

- Não, acho que não, mas falando da destruição da ponte…

- Mas como é que comenta a troca de sms entre Miguel Relvas e o ex-espião?

- Bom, deixe-me antes explicar que o desmoronamento…

- Mas o senhor não acha que esta recente descoberta de que o jornalista Ricardo Costa andava a ser espiado pode fragilizar ainda mais este governo?

- Não, isto é, o importante é que a gravidez de Cristas…

- Mas não se discutiu a provável demissão de Miguel Relvas na última reunião do Partido do Governo?
... ... ... ... ...
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sábado, maio 26, 2012

Mas será que ninguém repara?

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Foi o tempo do «picareta falante». Hoje a água mole vai furando a pedra cada vez menos dura, através de meios mais sofisticados e reconhecidamente mais eficazes.


É extraordinário como uma criatura (alegadamente) pouco recomendável como Pinto da Costa conseguiu fazer com que eu não gostasse do «FêQuêPê». Agora é a SIC Notícias que está quase a conseguir que eu goste de Miguel Relvas. Pelo menos com a cadência, parcialidade e activismo com que fala no homem, está prestes a consegui-lo.
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sexta-feira, maio 25, 2012

As públicas virtudes

Sem clicar na foto não dá para perceber a matrícula

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Até aqui há uns anos atrás não havia 69 em Moçambique. Quer-se dizer… pelo menos na rua. Havia o 11, que era Portugal, o 01 da Tanzania e o 34 da França, mas 69, que se visse ou desse por ele, népia.

A globalização, quiçá um certo laxismo dos bons costumes, permitiu que eu lobrigasse (como é que me ocorreu esta do lobrigar…) um reluzente 69 na Rua do Kassuende, mesmo à esquina da Julius Nyerere.

Ainda perguntei a alguns transeuntes se sabiam a nacionalidade do 69. Ninguém me soube responder. Salvou-se um rapazola que ouviu a minha pergunta e me respondeu:

- É internacionare. Das embaixada!

Uma resposta sucinta e com a sabedoria própria dos adolescentes. Por mim, regozijei-me em saber que não havia excepções, lacunas estratégicas nem números-A. É tudo a eito e, ao contrário de outros países que eu cá sei, acho que assim é que é.
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quinta-feira, maio 24, 2012

Onde estão aquela senhoras que, na altura, «acharam» imenso o que os juízes e a polícia deviam fazer?

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Espero que o défice não se agrave por via destes €15.000 que o Estado vai ter de pagar ao pai da pequenita Esmeralda.

Este caso é fedorento em tudo o que contém de amiguismo, seguidismo, politicamente correcto e reverência pelas figuras gradas da paróquia - lembro-me bem das vozes e presenças de estimáveis senhoras, incluindo ex-primeiras damas, que, de imediato «acharam» que a criança devia ser entregue ao sargento e mulher, em vez de ao legítimo pai que desde que os testes de paternidade provaram a sua condição de pai, de imediato quis assumir as suas responsabilidades.

Fica a ideia de que alguns juízes actuam em função da torrente mediática ou, pior, articulam as suas decisões pela pauta do homem moderno, solidário e de sabedoria acima da média. Não sei bem. Sei que o pai da Esmeralda vai receber €15.000, sei que nunca mais se ouviu falar do caso (o que me leva a concluir que tudo vai bem com a Esmeralda e a família), sei que esta decisão praticamente simbólica do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem nos devia envergonhar, mas já nem envergonha, habituados que estamos a estas tropelias do pessoal da justiça, bem assim como ao laxismo e irresponsabilidade que continuam a ser a nossa imagem de marca.

Daqui a uma semana já ninguém fala do assunto. Outra Esmeralda surgirá por aí que congregará as voluntariosas almas do pedaço que, uma vez mais, aparecerão imenso na comunicação social a «achar» isto e a «achar» aquilo. Como lhes compete, já que não sabem fazer mais nada.
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quarta-feira, maio 23, 2012

Já cá faltava…

[4640]

Eu andava a estranhar. A verdade é que cheguei de uma viagem já há quatro dias e o habitual activismo da nossa comunicação social parecia andar esquecido da truculenta e vácua figura de Mário Soares.

Pois bem, há pouco minutos, num dos vários programas da manhã da nossa TV, alguém se lembrou de perguntar a Soares o que ele pensava sobre a vinda da troika a Portugal por estes dias. Soares respondeu com o argumentário conhecido, mas desta vez decidiu juntar um toque patriótico à coisa dizendo que quando muito a troika deveria falar com o governo e não emitir opiniões públicas, porque considerava isso uma ofensa à Pátria (SIC).

Se os argumentos de Soares sobre economia e finanças já passam ao lado de qualquer cidadão minimamente informado, já a alusão a ofensas à Pátria soam a coalhado. Porque se Soares se mete pelas veredas das ofensas à Pátria arrisca-se a tropeçar em alguém de boa memória e lhe recorde alguns episódios em que as ofensas à Pátria pareciam ter um sentido muito diverso para ele. Soares que se cale com as ofensas à Pátria. Faria, certamente, melhor figura.
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Uma dívida paga em grande estilo

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Corria o ano de 1972. E um jovem de vinte e poucos anos fazia um brilharete no circuito da Restinga do Lobito, obtendo um excelente 3º lugar na prova de Grupo 1-Iniciados, uma prova organizada pela Escuderia «Tuku-Tuku». Essa classificação deu direito a taça e um prémio pecuniário de 500$00. Recebida a taça, nunca o dinheiro chegou ao destino, apesar das várias cartas reclamando o pagamento. O jovem era eu e o carro era este.

Em 2012, o mesmo jovem, ocasionalmente em Benguela, recordava o facto com saudade, junto de um grupo de pessoas entusiastas do automobilismo. Contado o episódio, um dos presentes do grupo, um oficial general de grande presença, refinado sentido de humor e esfuziante alegria, levantou-se, pôs-me a mão no ombro e diz-me:

- Meu amigo, sou o actual presidente do «Tuku-Tuku». Nunca você poderá dizer que o Tuku-Tuku lhe ficou a dever alguma coisa.

Dito isto entregou-me uma nota de AKW2.000 (US$20) e fez questão que a guardasse.

Não só a guardei como a fotografei, com a promessa de que jamais a gastarei. Há coisas que têm um valor simbólico muito para além do seu valor intrínseco. Ao receber a nota, pareceu-me rever cada curva do circuito, uma temerária e competente ultrapassagem que consegui efectuar no fim da recta principal a um «Ford Capri 2600» e uma quase saída de pista na rotunda Norte. Emoções acrescidas pela sensação gratificante de ter conhecido o actual presidente de uma conhecida escuderia de desportos motorizados que eu não sabia que ainda existia e que não hesitou em pagar um dívida de quase 40 anos, honrando o nome do clube e concedendo um momento de elevado espírito de confraternização ao momento.

Muitas felicidades para o Tuku-Tuku, é o registo que aqui deixo, na expressão genuína da minha vontade.
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terça-feira, maio 22, 2012

Chupa os dedos


[4638]

Há dias aterrei em Maputo com o semblante de quem tinha acabado de descobrir a cana para o foguete. Escaldado (e recalcado, diga-se) quando, dias antes no consulado de Angola, fui submetido a uma medição dos meus dados biométricos e me foi dito, preto no branco, literalmente, que as minhas impressões digitais não estavam boas, regozijava-me com o facto de no aeroporto de Mavalane não ser necessário aquela cena do visto em Lisboa, tudo se resumindo à obtenção de um visto no próprio aeroporto. Mesmo quando reparei em cerca de cinquenta pessoas que tinham pensado como eu e bichavam pacientemente para obterem o tal visto, não desanimei. Alguns minutos ali perdidos certamente compensariam a maçada dos preliminares lisboetas. O meu sorriso foi amarelecendo à medida que reparei que o balcão dos «vistos de fronteira» tinha três pessoas, dois homens e uma mulher. Explico-me. O primeiro homem recebe €60, o segundo pede-nos o passaporte e a mulher tira-nos uma foto e recolhe as nossa impressões digitais numa maquineta com uma luz verde que é suposta saber o que faz mas que comigo, e à semelhança do que me acontecera em Lisboa no consulado de Angola, não terá sido o caso. Após tirar a foto num fundo azul e com cara de onze horas de voo, a menina diz-me:

- Põe aqui o dedo.

E eu, pus.

- É pá, os teus dedos não dão impressão.


- Põe o teu dedo outra vez.

E eu, bovinamente, pus. Apertei o indicador e o médio sobre o vidro com a luzinha verde. Até a menina dizer de novo:

- Os teus dedos não estão bons. Não dão impressão digital.

Lembrei-me do episódio de Lisboa, no consulado de Angola e introverti um legítimo receio de que alguma coisa de errado se estaria passando com os meus dedos. Olhei para os ditos, mirei, remirei e lá estavam elas, as impressões, bem definidas e, tenho a certeza, únicas, marca minha.

- Olha, eu tenho impressões digitais, talvez é a máquina que não esteja boa…

- Um momento, diz a menina. E chama o chefe. Aquele que à cabeça recebia os €60. Entretanto atrás de mim «bichavam» já seguramente umas vinte pessoas raivosas porque aparecia ali um «fabiano» sem impressões digitais, enquanto eu iniciava um processo de dúvida sobre a minha anatomia real.

O homem, gordo e simpático, veio para o pé de mim e disse:

- Coloca lá os dedos. Mas coloca bem.

Eu, que achava que já tinha colocado os dedos bem, procurarei colocá-los… bem.

- Irmão, os teus dedos não dão impressão…

- Pois, parece que não, balbuciei eu, mas deve ser a máquina, a impressão está aqui – e apontei-lhe o indicador.

- Chupa os dedos, disse o homem gordo e simpático.

Aqui, estremeci. Seria que ele estava a dizer-me mesmo para chupar os meus dedos, depois de os ter colocado mil vezes sobre aquele pedacinho de vidro onde mil dedos teriam já pousado? E isso mesmo devo ter transmitido no meu olhar, porque ele repetiu:

- Chupa os dedos, estão muito secos.

Há alturas na vida em que estamos por tudo. No meu caso, cansado, moído e já com sérias dúvidas sobre a minha regularidade anatómica achei que não havia muito por onde escolher. Esfreguei então, vigorosamente, os dedos na camisa (um mínimo de asseio…) e chupei os dedos. Já me devia estar a dar a dar para o disparate porque não só os chupei como os lambi. Tanto que me pareceu vislumbrar uma expressão de deleite na moça que me atendera de início, mas isso já devia ser eu a fazer filmes… E quando acabei de lamber e chupar os dedos e me preparava para os passar na camisa, diz-me o homem gordo e simpático:

- Nãããããão, assim mesmo, não tira o cuspo.

Daqui para a frente resta-me uma imagem meio desfocada da história. Coloquei os dedos cuspidos no vidro, pensei que tinha acabado de chupar os dedos depois de os ter colocado num vidro onde mil pessoas tinham colocado dedos cuspidos e lembro-me de ter ouvido o homem dizer que ainda não dava, lembro-me de ter dito ao homem de que ele que não se lembrasse de me pedir para meter os dedos fosse onde fosse porque o não faria… nem morto e lembro-me do homem se rir, dizer que lhe devia uma «Laurentina» e que ele ia colocar o dedo dele. E assim entrei no país com uma foto minha e um dedo de um camarada, gordo e simpático que nessa noite deve ter contado á família que tinha encontrado uma pessoa no aeroporto sem impressões. Um português.

Este episódio, verídico em cada vírgula, demonstra duas coisas. Que não devemos ser esquisitos com os dedos, por vezes eles terão de passar pelos sítios mais inverosímeis nas condições menos esperadas. E que não vale a pena a gente chatear-se muito na vida. Afinal a minha cena dos dedos fez rir uma data de gente e eu, ao que me parece, não contraí nenhuma doença… Afinal os dedos eram meus. O que eventualmente estivesse neles é que não seria, mas a vida sem o sal destes episódios fica insonsa – sem graça nenhuma.
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SICespertices

[4637]

A SIC continua a esforçar-se imenso para nos convencer que somos um país de esquerda. Não somos, é que não somos mesmo, mas a SIC insiste. Multiplicam-se os programas plasmados na esquerda inteligente e suportados pela habitual legião de idiotas úteis. Confrangedor mesmo é o ar com que alguns apresentadores da televisão se prestam a certas perguntas a certos convidados, bem assim como àquilo que, por uma vez, alguém classificou argutamente de jornalismo interpretativo.

Ainda há pouco liguei, com displicência, a SIC Notícias e lá estava uma gentil apresentadora entrevistando José Jorge Letria. E quando eu julgava que a conversa teria a ver com a Sociedade Portuguesa de Autores e assim, eis que as perguntas versavam a troika, os efeitos da troika, a política económica do governo, o facto de Portugal ser o segundo país da Europa onde o IVA mais subiu, o facto de isso afectar o consumo (ainda não percebi bem se a esquerda enaltece ou condena o consumismo – esta é a parte em que alguém me explicaria as diferenças entre consumo e consumismo…) e provocar desemprego nos restaurantes. A estas questões, colocadas com uma excitação quase juvenil pela apresentadora, respondia com denodo José Jorge Letria, numa linha que me dispenso de comentar por se adivinhar facilmente o que poderia sair do poeta, politico, jornalista e membro dos Corpos Sociais da Fundação Paula Rego. Um currículo adequado, como se percebe. José Jorge respondia com o ar didáctico reservado aos bem pensantes e claramente não desperdiçou a oportunidade de nos ensinar que a democracia não se esgota no voto. Mas antes se complementa noutras formas de participação, como as acções de rua, por exemplo. Um modelo de liberdade, esta esquerda. Desde que pensemos e ajamos como ela.

Nota: Por uma questão de rigor e justiça tenho de referir que por entre as acirradas críticas ao nosso modelo económico, José Jorge balbuciou qualquer coisa a propósito da morte recente de Robin Gibb.
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segunda-feira, maio 21, 2012

A Porta da Loja - Serviço Público (Ou o fedor do «Público»)

[4636]

«...José Sócrates era o governante que o Público preferia. Passos Coelho não é. É simples de entender isto e o que vale um jornal em termos de isenção, independência e rigor objectivo nas notícias que publica. É essa. Aliás, a verdadeira questão de fundo que tem agora Miguel Relvas como alvo. Tudo chega para lhe "chegar". Ao outro nada chegava porque tudo lhe era permitido...»

«...Lisboa, manhã do dia 21 de Maio de 2003, dia da prisão do deputado Paulo Pedroso.

Já fiz o contacto. Vou falar com o procurador, o Guerra. O único receio que tenho é que a coisa já esteja na mão do juiz. Talvez seja altura do teu irmão procurar o Guerra.

Dr. António Costa (Ministro da Administração Interna) em conversa com o deputado Paulo Pedroso [TSF]...»

Ler tudo aqui.
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domingo, maio 20, 2012

Home, sweet home



[4635]

Becagueine. Foi uma ausência mais longa do que o costume mas de vez em quando tem de ser.

O regresso a casa fez-me reparar em duas coisas. O A-340 é sensivelmente mais confortável que o A-330, apesar da alegada superioridade técnica deste último. E fazia tempo que eu não voava um 340, como o da foto. A outra coisa é valorizar a terapia genuína de passar uns dias lendo e vendo notícias interessantes, longe dos amuos do «Público», do activismo incontornável dos jornalistas da paróquia e da triste confirmação de que soa mais alto o jornalismo interpretativo do «Público» do que a reconhecida, provada e condenável chafurdice de Sócrates e sus muchachos, quando até ao Tribunal de Contas mentiam para conseguirem os seus intentos. Mesmo que isso defraude a fazenda nacional em quase mil milhões de Euros. E depois, numa saudável ressaca, nada como ir estudar para Paris. Mas o povo gosta é das pilhérias habituais da nossa comunicação social.
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terça-feira, maio 15, 2012

O fado dos martrindindes





[4634]

Acabei de entrar num café em Benguela, com um colega. Entrámos num recinto limpinho e bem ataviado com garrafas de Bols, Licor Beirão e outros licores portugueses, bem assim como várias garrafas de uísque. Nas prateleiras, uma tabuleta dizendo: «Bebidas expostas só para consumo da casa». Na orla da sala espraiavam-se meia dúzia de mesas redondas servida por umas cadeiras maneirinhas de tampos obviamente desproporcionadas para as «bundas» em uso corrente pelas moças bonitas, «jinguçadas» e «natural born adiantadas». Ao meio, umas quantas mesinhas redondas, sem bancos, do tipo em que nos quedamos de pé, tomando um café, de resto o que fizemos, sendo que me obriguei a tomar um café Delta que os portugueses insistem em considerar um bom café. Um familiar balcão de vidro expunha… veja-se… pastéis de feijão, pastéis de nata, bolas de Berlim, palmiers e outros notáveis da fidalguia pasteleira portuguesa, em tudo semelhantes aos que vemos em Lisboa, descontados o ENORME tamanho das bolas de Berlim e alguma palidez dos pastéis de nata. Em cima, alguns letreiros avisando que se servia «pizzas», café e bolos, sandes (escrito assim mesmo), refrigerantes e cerveja. Nas prateleiras abaixo dos olhos, alinhavavam-se garbosas garrafinhas de Compal, Sumol, água do Caramulo, cerveja Sagres, néctar, garrafinhas de água do luso e Caramulo.

Olhei através da vidraça e um olhar atento confirmou-me que estava numa rua duma cidade africana, a avaliar pelo caos do trânsito, motos, motinhas e motoretas, carrocinhas vendendo banana, mamão, banana-macaco, batata-doce e ginguba, tudo no meio de reluzentes jipões de alto luxo e numa moldura de pujantes acácias que lá para Novembro se vão vestir do fogo das suas enormes flores.

Regressei ao cenário «tuga» do café. E pensei que podemos ter sido muito maus em muitas coisas. Mas que de uma deficiente transmissão de hábitos a povos culturalmente tão diversos de nós como os africanos nunca sejamos acusados. Africanos simpáticos e sorridentes, jingões, falando português e comendo pasteís de nata e de feijão, bebendo café delta… só nós mesmos, tugas ajuramentados que devemos ter um não-sei-quê que, apesar de tudo, nos torna apelativos.
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terça-feira, maio 08, 2012

Nem longe...

[4633]

Nem ah distancia de 11 horas de voo da paroquia escapo da criatura, que continua a arrastar o impulso pueril da nossa comunicac,ao social, que se baba sempre que Soares decide debitar os seus palpites, a partir do jah grotesco cenahrio que lhe enfeita e embota o raciocinio. Ele agora acha que devemos romper com a troika. Porque esse eh o caminho, porque a austeridade jah chegou ao fim (diz ele, ele lah saberah porqueh) e cortar com a troika eh o unico caminho para o socialismo europeu. Dando de barato que o socialismo europeu deve ter qualquer coisa que o distingue dos socialismos dos outros (ai estes socialistas pohs modernos, sempre classistas…), era bom que os pressurosos jornalistas que cobrem, divulgam, promovem e apadrinham os disparates de Soares se lembrassem de lhe perguntar o que eh que o socialismo europeu tem hoje que o distinga do socialismo que ele, Soares, engavetou, por nao saber o que fazer com o mesmo perante a realidade, ou se ele tem consciencia da consistente e perniciosa accao desse socialismo, sempre que os socialistas ganham o Poder e se entreteem a escaqueirar o que os outros fazem, ateh nao haver outro remedio senao chamar “os outros” de novo e pedir-lhes que ponham meias solas no calc,ado puido e cambado pela histeria socialista.


Soares eh uma figura grotesca e a comunicacao social insiste em achar-lhe grac,a. Nem abaixo do paralelo 27 Sul lhe escapo…
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segunda-feira, maio 07, 2012

Iuupiiiiiiiiiii!



[4632]
Ha qualquer coisa no frenetico entusiasmo dos socialistas pela vitoria dos socialistas (?????) em Franc,a, que me faz lembrar os sportinguistas a correrem de madrugada para Alvalade para comemorarem uma derrota!
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E eu diria mais: Vao chatear o Camoes



[4631]


Que bom estar longe da paroquia , aceder ao Blogger e ler isto da Helena.

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