quarta-feira, dezembro 31, 2008

Feliz Ano Novo


[2858]

E a rolha do Espumante salta uma vez mais, como habitualmente, levando a todos os confrades, vizinhos e amigos os votos do maior sucesso, saúde e bem estar para 2009


Feliz 2009


Hip Hip Hurray

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Orgasminhos


[2857]

O gozo, genuíno, que estas coisas dão ao Daniel de Oliveira...
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terça-feira, dezembro 30, 2008

O costume


[2856]

António Vilarigues é comunista (deduzo eu pelo que escreve no seu blogue e no Público) e não tenho nada com isso. Já tive com isso com outras gentes, outras latitudes e outras circunstâncias mas isso não vem agora ao caso.

Mas lendo o que Vilarigues escreve neste post, a propósito daquilo que ele chama a "derrota da Colômbia" não consigo evitar um sorriso. Ouvir um comunista falar de purgas, de pobreza, atentados à vida, à liberdade e integridade física, populações deslocadas à força só pode ser um exercício de mau gosto e humor duvidoso. Ou Vilarigues não sabe do que fala ou pensa que está a escrever para tolos.

Vale a pena ir ao Castendo. Por entre transcrições do Avante, fotos do Che, declarações de Cunhal, referências ao Médio Oriente e onde não falta mesmo o toque intelectual com uma referência a H. Pinter encontrará este post. Se, como eu, tiver uma noção mínima dos comunismos recentes em países de relativa proximidade a Portugal, acabará por sorrir. Outra opção é deixar a náusea vir ao de cima e desligar o blogue

Nota: Há transcrições avulso de Vilarigues aí pela Blogos e há comentários deliciosos. Atente-se neste comentário a um post que cita Vilarigues: "Pena… que a grande maioria dos cidadãos seja embalada na novela da tonta da Ingrid Bettancourt e não leia isto".

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Oportunidade perdida


[2855]

Tudo combinado, reservas feitas no Kais e a alegria antecipada de rever caras amigas num informal jantar de bloggers.

Por volta das quatro da tarde, de pernas a abanar e cabeça tipo melancia prestes a rebentar descobri que estava com 38,5 de febre e não pude ir. Disso mesmo dei conta ao “serviço de reservas e organização” do jantar e agora resta-me chorar a oportunidade perdida para um mais que esperado “updating” sobre os “gadgets” disponíveis no mercado em Bruxelas e apresentar desculpas aos convivas.

Tenho a certeza que foi um momento agradável, dada a qualidade dos convivas e fica para uma próxima. Sem gripes, sem pernas a abanar e com a cabeça sem estalar.
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segunda-feira, dezembro 29, 2008

Os blogues maus

[2854]

Sem embargo da reconhecida craveira de Pacheco Pereira como intelectual, escritor, historiador e comentador, acho que ele terá sido muito deselegante na forma como resolveu parametrizar a blogoesfera segundo os seus próprios padrões. O resultado, como não podia deixar de ser, é péssimo para a esmagadora maioria dos blogues, com raras excepções que ele, aliás, indica.

Também não me custa admitir que entre muitos milhares de blogues haja muita palha mas hoje por hoje parece-me ser consensual existir aquilo que eu chamaria de núcleo duro da blogoesfera portuguesa, um grupo mais ou menos delineado de blogues que se lêem mutuamente, com mais ou menos regularidade e que, afinal, justificam que muitos deles se mantenham por alguns anos já. Se virmos bem as coisas não serão tantos como isso, basta consultar a lista dos "links". E esses apresentam, felizmente, uma grande diversidade de formas, estilos e conteúdos.

No fundo, o que Pacheco Pereira faz é uma análise subjectiva na estrita rigidez dos seus critérios, observados certos pressupostos que ele acha que são os correctos. E, segundo esses critérios, ele acha que a maioria dos blogues são péssimos.

Por mim, também acho que há blogues péssimos. Não me incomodam e não os leio. Basicamente, é aqui que discordo de Pacheco Pereira.
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A vítima


[2853]

Carlos Queirós assumiu a sua condição de vítima. Afirma que se falasse com sotaque não seria tão atacado e que daqui para a frente espera que o julguem apenas pelos resultados.

Salvo erro ou omissão é isso mesmo que tem acontecido. Ao contrário, estou convencido que se ele falasse com sotaque e com os resultados que tem apresentado, há muito que já teria sido despachado em grande velocidade.

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A crise da crise


[2852]

O miserabilismo nacional não perdoa e este ano a crise económica parecia ser o caldo ideal para a cultura do choradinho, durante a época natalícia. É assim que tem havido um verdadeiro assalto pelos jornalistas a comerciantes e clientes, com uma barragem de perguntas de resposta óbvia, quais sendo se o negócio se ressentiu na quadra de Natal da crise que atravessamos. Surpreendentemente, a tónica geral é a de que o negócio se manteve e, em alguns casos, até melhorou. Ao mesmo tempo, os indicadores estatísticos demonstram que há mais dinheiro gasto, mais dinheiro levantado em multibanco e maior uso de cartões de débito e de crédito. Mas os repórteres não desarmam e por cada resposta positiva lançam-se numa ávida insistência, na esperança, muitas vezes vã, de ouvir o comerciante dizer que este ano foi uma desgraça. Um ou outro faz-lhes a vontade mas, surpreendentemente, repito, as voltas dos repórteres têm sido trocadas.

Dando de barato que a crise existe mesmo, tem sido flagrante o desconsolo dos profissionais do microfone que este ano, vá-se lá saber porquê, não têm tido o choradinho do costume.
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domingo, dezembro 28, 2008

Ainda a hipocondria nacional


[2851]

Sobre o tema do meu post abaixo, a Cristina acrescenta alguma coisa, com a riqueza de pormenores habitual, neste comentário/resposta a um outro comentário sobre este post:

"...estamos a falar de idas à urgência completamente desnecessárias. As pessoas tossem, vão pra urgência. Têm febre há 24 horas, vão pra urgência. Têm uma diarreia vão pra urgência. Ficam mal dispostas depois de se empanturrarem com a ceia de Natal (na minha noite, destes, foram dezenas) vão prá urgência. Não conseguem dormir, vão pra urgência. Têm uma tontura, vão pra urgência. Zangam-se com a familia vão pra urgência porque estão nervosos. Têm um calo que doi mais naquele dia, vão pra urgência. Embebedam-se (estes tb são dezenas), vão pra urgência. Não têm familia, vão pra urgência queixar-se da dor nas costas de há 1 mês porque sempre têm "cinema" à volta. Agora veja isto num universo de 700 000 habitantes. 500 estiveram lá na noite de natal. sabe quantos internei? uns 20, talvez. Portanto, veja a gravidade das situações. É disso que estamos a falar e nada mais. Parece que ficou tudo histérico..."

"...uma pessoa com gripe não precisa de ir para a urgência dos hospitais. A não ser que seja velho, ou tenha falta de ar ou tenha alguma outra doença que possa ser agravada. O curioso é que antigamente as pessoas tinham mais noção disso que agora. Tomavam umas aspirinas e coisas quentes, agasalhavam-se, e esperavam que passasse. Agora não, entra tudo em histeria. Que coisa..."

Deprimente!
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sábado, dezembro 27, 2008

Dietas conventuais


[2850]

É verdade que em Trás-os-Montes se come "orelhas de abade"?
Façam-me luz sobre esta angustiante questão…

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Alguém que trate de mim


[2849]

É do conhecimento geral o entupimento das urgências dos hospitais nos últimos dias, por força de um aparente surto de gripe, coisa que não deveria surpreender ninguém nesta altura do ano.

Dando de barato que os portugueses lidam mal com a doença, muitas vezes por ignorância e por índole – há notícia que muitas das urgências se resolvem com batom para o cieiro, pingos para o nariz e sobram as dores nas costas, nos joanetes e aqueles que "sofrem dos ossos "– é preciso, por outro lado, perceber que muita culpa da situação se deve assacar às políticas eleitoralistas dos vários governos, com especial relevância para o Partido Socialista, que nas mais pequenas intervenções deixa o vinco claro de que o cidadão pode e deve entregar-se ao Estado como mentor das suas necessidades e desgraças. Basta respigar declarações avulsas de campanha ou mesmo declarações correntes (Sócrates é um bom exemplo) para se perceber o fenómeno. Resultado: O cidadão dá um espirro e vai às urgências. Espera, muitas vezes, dez horas para ser auscultado, tirarem-lhe a temperatura e receber uma receita para ir à farmácia aviar uns pingos para uma trivial coriza .

Não temos, assim, que nos queixar. Nada do que se passa é fruto do acaso. Tem a ver com a mariquice nacional e com a política do borracho que acha que Deus e o Estado têm a obrigação de lhe pôr a mão por baixo.
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sexta-feira, dezembro 26, 2008

Repulsa


[2848]

Ainda falando de educação, Mário Nogueira está a tornar-se numa figura a roçar o repulsivo. Teve o topete de aproveitar a homilia de D. Policarpo para mais uma das suas batalhas, ainda por cima, usando conclusões que só ele é que tirou. Nunca D. Policarpo se colou à Plataforma Sindical dos Professores nem ao Governo, limitou-se a desferir uma crítica contundente a ambas as partes e a urgir um entendimento rápido no interesse dos jovens estudantes. Foi isto que D. Policarpo disse mas Mário Nogueira, à boa maneira leninista, joga com as palavras e lança-as no éter como se fossem papas e bolos e todos nós fôssemos tolos.

D. Policarpo é uma insigne figura e não merecia o polé com que este sindicalista de pacotilha o trata. Os professores, por seu lado, teriam a estrita obrigação de se demarcarem desta atitude desonesta e mentirosa de Nogueira. Não vi nenhum fazê-lo. Foi pena.

Adenda (15:42):
Já depois de ter publicado este post, cheguei a um outro do Paulo Ferreira do Câmara de Comuns. Confesso que não sabia dos pormenores que o Paulo refere. E pergunto-me, uma vez mais, mas não há um grupo de professores que se oponha à criatura? Que publicamente se demarque de um trauliteiro que, sem qualquer respeito pelos interesses dos estudantes, continua a fazer a sua guerra política? E os professores não dizem nada? Não fazem nada? Ou terei de concluir que os tais cento e vinte mil estão todos de acordo com o senhor Nogueira
?

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Deprimente


[2847]

Há um senhor que vive no Porto, chama-se Manuel Valente e pertence a uma coisa que se chama Federação das Associações dos Pais do Porto. Vai daí, o senhor Valente soube do incidente recente numa escola do Cerco, em que um aluno apontou uma pistola de brincar à cabeça da professora e lhe exigiu que a mesma lhe desse positiva. A professora zangou-se um bocadinho e disse que ia marcar falta disciplinar, a DREN já disse que foi tudo uma brincadeira, apesar de um bocadinho de mau gosto, aquilo é tudo alunos "pacholas" e só um é que tinha negativa e mesmo essa negativa era uma negativa porreira, apenas um nove e até o sindicalista Nogueira já veio dizer que não foi ele que instigou os alunos a fazer o vídeo e a pô-lo na Net.

Mas o senhor Valente é que não se ficou nas covas e disse que era absolutamente necessário acabar com os telemóveis ligados nas salas de aula (gosto deste pormenor do "ligados"). E afirmou ainda que já denunciámos isso em Março, ao nível do Conselho de Educação (é espantoso o número de órgãos, conselhos, directórios e etecaeteras que existem na Educação em Portugal), mas infelizmente ninguém quis ouvir (feitios, diria eu…) e agora lá temos outro vídeo a circular na net, que é o que o Público diz hoje, só para os assinantes.

A mim o que surpreende mesmo (surpreende?) é o senhor Valente achar que os professores têm a obrigação estrita de forçar uma educação que as criancinhas deveriam, supostamente, receber em casa, por outras palavras, já que os pais não conseguem impedir os filhos de levar os telemóveis para as aulas (ligados, ainda por cima) então os professores que o façam. Que para isso é que há conselhos, directórios, comissões, plataformas e associações para se debater estes problemas e, com sorte, vir no telejornal do dia seguinte…

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O "good provider"


[2846]

O conceito de homem da casa, o maridão, o paisão, o chefe, ou, na expressão mais conservadora dos anglo-saxónicos, o provider, falou. Não disse nada, limitou-se a dar passagem àquele fluxo torrencial de propaganda, aquele ”pentes prós carecas, elásticos prás cuecas, comprem meninas comprem, meias da marca corona”, nada que Sócrates não martele insistentemente e que põe os nervos em franja àqueles que acham que uma mensagem de Natal poderia e deveria ser tudo menos uma pretensa pérola de mercado, uma peça digna de carpet seller do Egipto ou democrata sul americano, como este primeiro ministro insiste em usar para lidar connosco. A todos (todos foi uma das palavras que Sócrates mais usou na mensagem, li por aí, algures), sobretudo aos que acham que uma mensagem de Natal num país civilizado é uma mensagem apropriada de votos de bem estar e conforto no seio de família, numa quadra querida aos portugueses e aos povos ocidentais em geral.

Nem a dinâmica de Natal consegue quebrar o azedume da referência obrigatória a uma mensagem de natal pelo mais irritante dos primeiro ministros, logo a seguir a Guterres. Peço desculpa. Logo agora que andava tão “carols”, “jingles” and the like…

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quinta-feira, dezembro 25, 2008

Jingle bombs para os infidel

[2845]

Através do António de Almeida reencontrei o Ahmed. Hilariante como sempre. Sshhhhiiuuuuu…silence! Night. Ou ainda,

I use to be a nun
But every time I caugh
Thanks to uncle Sam
My nuts keep falling off


Bom Natal!

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terça-feira, dezembro 23, 2008

Jingle cats

[2844]

Prometi-me manter a dinâmica da quadra e não falar em barbaridades. Não quero saber, portanto, se andam a apedrejar autocarros no Porto, se o Daniel de Oliveira não consegue conter a excitação e publica no Arrastão sapatos como a nova arma de arremesso ou se a segunda circular continua a ser espoliada descaradamente de cada vez que o FêquêPê perde pontos no campeonato. Não quero saber disso para nada, é Natal, e há mais é que preparar o duodeno para as rabanadas, filhós e coscorões, muita alegria e muita condescendência (mas não abusem nessa de invalidar golos à segunda circular, de empreitada, o ambiente está tenso e nunca se sabe quando os jovens atenienses irrompem por aí , para gáudio de muita boa gente).

Fiquemos, assim, com este felino White Christmas. Não muito recente, é certo mas nem por isso menos interessante.

Boas Festas para todos.

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segunda-feira, dezembro 22, 2008

Solstício de Inverno


[2843]

Os dias começaram ontem a crescer. Todos os anos é assim e este não teria de ser diferente. Homem de frios, neblinas, aquecimento do carro ligado e noites precoces, todos os anos reparo na data a partir da qual os dias passarão a ser maiores. Uma mania como outra qualquer, nada de grave, uma mera disfunção social num país onde se venera o sol, o calor, o odor corporal no “metro” e os ambientes insuportáveis dos restaurantes que têm aparelhos de ar condicionado, mas nunca os ligam porque há sempre alguém que se queixa de estar a apanhar frio. E sabe-se com o frio provoca pontas de ar, reumáticos avulso e dores lombares. Para além de gripes letais, está bem de ver.

A parte boa, porém, é que entrámos oficialmente no Natal. Na modorra dos dias em que pouco ou nada se rende e o tempo sobra para que nos encontremos um pouco mais connosco próprios e façamos o ponto de algumas coisas que ao longo do ano vão sendo engolidas na voragem dos dias. Gosto deste dias. Tempo de preguiça compulsiva e de vagares e lazeres. Tempo, ainda, para nos lembrarmos dos ausentes e de nos chegarmos mais aos presentes, antes que eles se ausentem também. É, estranhamente, o único tempo em que nos sentimos confortáveis com a tristeza. E, também, quando a alegria faz questão de se manifestar com moderação e serenidade.

E é um tempo, sobretudo, de harmonia, sem que ela se vista de mera figura retórica. De amor. De família. Dos que a têm e mesmo daqueles que nem por isso. E um tempo em que invariavelmente me lembro dos presos, dos doentes e indigentes. Uma condição de vida tão velha como o mundo e que, provavelmente, nunca desaparecerá. Por todas as razões.

Bom Natal para todos.

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domingo, dezembro 21, 2008

Feliz Natal

[2842]

É Natal outra vez. O fascínio da quadra é ela nunca acabar. Batem-lhe, tentam deformá-la, chamam-lhe nomes, consideram-na aviltada pelo consumismo e outras malfeitorias inventadas pelo homem mas ela renova-se todos os anos, para uns perpetuada pela fé, para todos simbolizando o valor mais prezado pelo homem – a família.

A “blogosfera” tem a sua própria família também. E neste local específico, neste espaço que existe há mais de quatro anos e a que, sem saber bem porquê, chamei de Espumadamente, quero deixar bem expresso o meu desejo de uma quadra muito feliz a todos os meus confrades, sem excepção, no desfrute pleno da família, ora particularmente impregnada pelo amor e pela cumplicidade.

Um Bom Natal para todos.

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sexta-feira, dezembro 19, 2008

Orgasmos


[2841]

Múltiplos.

Convenhamos que ler este post depois de ouvir um advogado do Porto dizer na TSF que (e cito de cor) o mérito do F.C.Porto residia no facto de o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa ter conseguido levar de vencida os tribunais, a justiça, a senhora Maria José Morgado, o Ministério Público, a Liga, o dr. não sei das quantas, aquele que leu o castigo do Porto e do seu presidente, convenhamos, diria eu que é sexo a mais. Nem o mais viril consegue escapar a sucumbir perante tanta pornografia carga erótica. Nem mesmo um lagarto como eu, que nem do Benfica é…
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Ética


[2840]

Quadratura do Círculo, ontem. António Costa afivela aquela expressão dos grandes momentos, aquela imagem de seriedade responsável e ética socialista, taxativo, e diz: De Santana Lopes não falo, naturalmente. Só falo de Ferreira Leite que… Santana Lopes… porque Ferreira Leite… Santana Lopes, além de que Santana Lopes… Ferreira Leite… Santana Lopes… Santana Lopes… Santana Lopes… Ferreira Leite… Santana Lopes… Santana Lopes…

António “formiga” Costa augura-me um 2009 difícil. Não é impunemente que se resiste à passagem dos anos ao PS com maioria absoluta e o FêQuêPê campeão. Não há condições.

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quinta-feira, dezembro 18, 2008

António formiga e Zé malcriadão


[2839]

Pode-se não gostar de Santana Lopes. Mas que a esquerda ficou nervosa com a notícia da sua recandidatura a Lisboa, ficou. António Costa falou em fábulas e disse umas banalidades, notoriamente embaraçado. O Zé que fazia falta alardeou de imediato a sua grossíssima casca e brutalidade. Para além de dizer disparates, sobretudo quando se refere às dívidas que Santana Lopes deixou. O Zé que fazia falta está a ser desonesto, mas isso não é notícia. Já agora, não seria altura de o Zé que fazia falta fazer um acto de contrição sobre quantos milhões é que ele (Zé) nos custou por causa da bravata do túnel do marquês, hoje por hoje uma obra de reconhecida utilidade?

P.S. Prevejo uma das mais sujas campanhas para a cidade de Lisboa. A ver vamos. Penso mesmo que Santana beneficiará das grosserias e falta de chá do Zé.
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Cuidarem de nós


[2838]

Hoje acordei cedo. Como adormeci de televisão ligada, acordei de televisão ligada. Feitas as contas, conclusão extraordinária de que só me apercebi de manhã.

Acordar com a sensação aconchegante de que estamos a ser minuciosamente cuidados no sentido de nos tornarmos (não o seremos já?) uma sociedade bonita, saudável, ecológica e boazinha é qualquer coisa que nos pode estragar o resto dia. Eu não sei quem é o responsável pelo alinhamento das notícias e dos conteúdos matinais, mas repare-se neste alinhamento da RTP, durante cerca de vinte minutos e sem nada pelo meio, apesar de serem notícias separadas, pelo menos na parte que consegui ouvir antes de me levantar da cama de supetão, sob pena de atirar um sapato ao televisor, gesto muito em moda, como se sabe:

- Aquele senhor careca de voz melíflua e cujo nome nunca me ocorre, da Quercus, explicou-nos que no Natal devemos comer só coisas da nossa região. Assim, estaremos a contribuir para uma menor emissão de CO2 porque não serão necessários tantos transportes. Como se vê, é uma lógica imbatível e estou a ver já nomear-se comissões regionais no Natal do próximo ano a fazer inquéritos para se poupar gasóleo e pôr o pessoal todo a comer produtos da região a que pertence;
- De seguida, um jovem de mento sereno e compenetrado, anuncia que está a vender umas T-Shirts com um apito pendurado. Esse apito toca de cada vez que entramos numa loja, contribuindo assim para combatermos o consumismo compulsivo (esta parte é dita com uma expressão severa...). O resultado, dizia o dono da loja, sem se rir, é que o site está entupido com pedidos e ele pedia que fossem antes à loja levantar as t-shirts, ao preço de € 19,99. Aqui o fulano não se lembrou de dizer às pessoas que ficassem quietas e não fossem consumir compulsivamente camisetas idiotas com apitos pendurados ao peito;
- O apresentador passou então à notícia de uma senhora inglesa enamorada da cozinha mediterrânica, muito boa e muito saudável, com aquelas vitaminas todas que nós já sabemos mas que nos são anunciadas a cada instante como se fosse a primeira vez, gorduras especiais de corrida e outras benfeitorias. A senhora ensinou-nos então a cozer um robalo em vapor, acompanhado de batatinhas e legumes que, como sabemos, é um prato desconhecido para a maioria dos portugueses. Ah! E disse que um copinho de vinho tinto também faz muito bem. Não disse a quê, mas acho que já no-lo disseram muitas vezes pelo que devemos saber;
- Passa-se aos fritos de Natal. Aqui, o apresentador entrevista uma nutricionista. Surpreendentemente não convidaram a Dra. Isabel do Carmo que, como sabemos, tem assinatura vitalícia na RTP. E então a nutricionista disse coisas fantásticas, desconhecidas para todos nós. Que os fritos fazem mal mas como é Natal, tudo bem, podemos comer cusculhinhos, coscorões (a ver se não me enganei…), sonhos e rabanadas. Mas… alto e pára o baile. Com moderação. Esta parte da moderação é muito importante e com óbvia sustentação científica. Ela aconselha mesmo que de cada vez que vamos á mesa buscar comida, levemos apenas meio sonho (eu seja ceguinho) ou meia rabanada. Depois, se quisermos, vamos buscar mais;
- Falou-se depois em fornos. A comida deve ser cozinhada em fornos à temperatura mínima de 240º. Estudos recentes concluíram que a essa temperatura, as gorduras… não sei quê. Não me lembro bem. Devem ficar esturricadas, penso eu, mas isto é a voz de um cidadão estremunhado e puxado à realidade do dia a dia pelo "Bom dia Portugal", só porque adormeceu com o televisor ligado.

Se pensarmos que todas estas notícias foram dadas de seguida, sem intervalos nem outras matérias pelo meio, concluímos que estamos realmente em face de um fenómeno estranho, onde uma série de gente ganha a vida a dizer-nos o que e como devemos fazer, sob pena de sermos uns cidadãos incorrectos. A série continuou mas eu não resisti mais, foi na altura em que começavam uma notícia de uns espanhóis que falavam muito bem português e estavam encantados com a nossa comida em Ponte da Barca. Gostavam muito de bacalhau e… não ouvi mais. Vim para a sala tomar o pequeno almoço e liguei para a SIC Notícias onde, finalmente, ouvi algumas notícias-notícias.

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quarta-feira, dezembro 17, 2008

Carta aberta ao presidente George Bush


[2837]

Senhor Presidente

Venho através da presente apresentar-lhe sinceras desculpas por um facto lamentável que passo a expor sucintamente.

Esta manhã, a estação oficial de televisão do meu país deu a notícia do aparecimento de uma chuva de jogos de computador relacionados com o episódio do sapato que lhe atiraram em Bagdad. Enquanto a notícia desfilava uns quantos jogos, alguns deles, havemos de confessar, com muito humor, uma voz-off de um apresentador ia dando a notícia. Num dos jogos, o apresentador, num arroubo de consciência crítica, disse que o jogo parecia uma cena dos "três estarolas", cena em que aliás Bush iria muito bem no papel (sic).

Peço-lhe desculpa pelo facto da estação pública de televisão do meu país não ter consciência disso mesmo, que é pública e que não pode permitir-se "dichotes" deste género quando se refere à figura de um presidente da república. O que acontece é que em Portugal os jovens vão para as faculdades e aprendem mais depressa a não gostar de si e a saber como resolver os problemas do Iraque e do Afeganistão do que a expressar-se na própria língua materna. O resultado é este. Vão trabalhar para televisões e jornais e uma grande maioria deles fala mal e escreve pior. São erros atrás de erros mas, por outro lado, aprenderam que o senhor é uma besta quadrada, um imbecil, um atrasado mental, o responsável pelos males do mundo e, provavelmente, de outros mundos que porventura existam e que o povo americano é semi-idiota porque elegeu por duas vezes um energúmeno como o senhor.

Também sabem que podem dizer o que lhes apetece numa estação pública porque ninguém lhes diz que são pagos por mim e pelos outros cidadãos, a partir de uma elevadíssima carga fiscal e, sobretudo, ninguém lhes explica que se quiserem dizer mal de si podem escrever um livro ou, em última análise, abrir um blog, onde podem escrever o que lhes der na real gana.

Peço-lhe, assim, desculpa, pelo facto de estar sujeito a que um fedelho qualquer que, quase de certeza, nada sabe de si a não ser que o senhor é uma besta inculta e perigosa, que foi o que os professores e as brigadas de uma coisa que nós cá temos e que se entretém a visitar as universidades e que dá pelo nome de bloco de esquerda lhe ensinaram. Peço-lhe ainda desculpa pelo facto de a Rádio Televisão Portuguesa, um órgão institucional com profissionais pagos por mim e pelos restantes cidadãos, não dispor de responsáveis que interpelassem de imediato o garotelho da notícia dos jogos e lhe explicassem que uma televisão oficial não chama "estarola" a um presidente de república. E não interpelam porque, se calhar, eles próprios acharam muita graça.

Atenciosamente,


Já depois deste episódio ouvi Chávez a emitir a sua corajosa opinião sobre a cena do sapato. Concluo que há razões efectivas para os amores correntes entre nós e os venezuelanos. É que estamos bem uns para os outros.

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terça-feira, dezembro 16, 2008

Mais dinossáurios excelentíssimos?


[2836]

Mário Soares faz aqui, no DN de hoje, um verdadeiro incitamento à guerra civil. Por mais voltas que se dê ao texto é a única interpretação que consigo dar a expressões como:

"...Os Estados desviam milhões, que vêm directamente dos bolsos dos contribuintes, para evitar as falências de bancos mal geridos ou que se meteram em escandalosas negociatas..."

"...e as roubalheiras, ficam impunes? E o sistema que as permitiu - os paraísos fiscais -, os chorudos vencimentos (multimilionários) de gestores incompetentes e pouco sérios, ficam na mesma?..."

"...os multimilionários engordaram - os mesmos que agora emagreceram na roleta russa das economias de casino - e os responsáveis políticos (os mesmos, por quase toda a Europa) não pensam em mudar o paradigma..."

"...É demais! É sabido: quem semeia ventos colhe tempestades..."

Segue depois na sua crónica com um emaranhado de pensamentos, ideias e teses sobre os acontecimentos em Atenas, disfarçando mal o enorme gozo que o caos lhe está a causar e fala na França, em Espanha e em Portugal, assim de caminho, como quem não quer a coisa, deixando a ideia (esperança?) de que as lojas assaltadas, carros incendiados e, porque não?, uma ou outra bala perdida num garoto em fúria, poderão, de um momento para o outro, ser o cenário generalizado pela Europa. Tudo isto reprimido pela polícia horrenda, de bastão e capacete, imagem que lhe deve povoar o espírito em regime de permanência.

No fim da crónica espraia-se numas quantas vacuidades ecológicas, como convém, apaziguando a bílis que lhe inferniza as meninges e dando o toque correcto que se impõe.

No pleno uso da máxima que ele próprio, Soares, um dia apregoou como direito inalienável das pessoas, também eu tenho direito à indignação. Chega de tempo de antena a um indivíduo arrogante e convencido que todo o Portugal carrega uma dívida que jamais conseguirá pagar-lhe. Haja alguém que zele pela sanidade daqueles que ainda lêem jornais e gostariam de mudar a sensação estranha que vai reinando por aí de que voltámos aos gloriosos tempos do PREC, 34 anos depois, e que temos de continuar a prestar vassalagem a estes dinossáurios, por muito excelentíssimos que sejam.

Ler, também, este excelente post da Joana sobre Mário Soares e a sua crónica de hoje.

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"Nacional-intelectualismo"

[2835]

A Faculdade de Letras é um exemplo feliz
. Do “nacional-cancenotismo” de há poucas dezenas atrás passou-se rapidamente ao "nacional-intelectualismo".

Naturalmente que este fenómeno não é para todos. Apenas para aqueles que pela sua génese intelectual o merecem. Era o caso patente de Alegre e "sus muchachos”. Uma “reconfiguração das esquerdas” como aquela não podia ser no Coliseu nem na sala de um hotel qualquer, símbolo do capitalismo agora em colapso. Só mesmo na Faculdade de Letras.

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Como é que ainda me surpreendo?


[2834]

Pasmo com a corrente de simpatia, gerada na blogosfera e não só, pelo idiota que atirou com os sapatos a Bush. Uma alegria quase tão grande e tão indisfarçável como a que se verifica pelos acontecimentos de Atenas. Eu sabia, mas continuo com esta forma estúpida e ingénua de me surpreender pela forma como as "esquerdas" (neologismo instituído recentemente por Manuel Alegre) regem e patrocinam os métodos da grosseria e a forma calceteira como procuram fazer vingar as suas ideias. As que as têm minimamente, outras nem ideias terão. Entregam-se apenas ao desfrute lúdico e à catarse do derrube violento dos símbolos do seu descontentamento.
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segunda-feira, dezembro 15, 2008

Sinal dos tempos

[2833]

Um jornalista atirou com os sapatos a George Bush, numa conferência de imprensa.

Há bem pouco tempo atrás, este jornalista seria preso e sumariamente fuzilado se tivesse feito o mesmo a Saddam. Desta vez o homem foi imobilizado e retirado da sala, Bush proferiu uma frase anódina mas educada. No meio disto tudo, um jornalista do Público achou que Bush mereceu ir para aquele lugarzinho assassino, com as setas para cima e para baixo. Com a seta para baixo, obviamente, que estas coisas de levar com sapatos numa conferência de imprensa não se faz. Só mesmo um presidente bronco e idiota como ele.
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O bardo do regime


[2832]

Pronto. A crise está resolvida. Uma
reconfiguração da esquerda e mais uns figurões de outras esquerdas, capacidade de reconstruir, solidariedade, colapso do sistema financeiro, explorados, deserdados da vida e até uma referência a Antero de Quental são o suficiente para o bardo do regime se lançar definitivamente na vertigem do poder, acolitado por um grupo de gente pouco fiável e de reconhecida alergia à liberdade e pluralidade de ideias.

A voragem da nossa autofagia é digna de estudo aturado e uma profunda reflexão. Infelizmente, por muito que se reverbere a nossa vaidade e ânsia de protagonismo, os exemplos suicidários sucedem-se e, infelizmente, parecem conduzir-nos a uma situação de final e definitiva rotura com uma desejável inserção no mundo civilizado, livre e progressista.

E não há um tuga de sangue na guelra que faça o que os gauleses faziam ao Assurancetourix de cada vez que Manuel Alegre se lembra de que é o herdeiro universal das virtudes evangélicas da nossa revolução?

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domingo, dezembro 14, 2008

Juke box 68

[2831]

E na manhã escura e chuvosa surgiu uma nesga de sol e a chuva parou. Lembrei-me desta canção dos Beatles para pôr no blog. Acabou por recair a escolha na voz de Nina Simone. E quando acabei de editar o vídeo eis que começa a chover copiosamente. De novo. Não posso dizer que não gosto. Porque gosto dela, da chuva. Da bruma e do frio. Mas a canção fica.

Continuação de bom Domingo para todos.

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Ir ao talho II


[2830]

Dois posts abaixo fui injusto. Na conversa trivial entre o corte de um acém e o fatiamento de uma alcatra, fiquei a saber que a Quinta da Bicuda devia o seu nome ao facto de esta zona de Cascais ser o refúgio de arribação das aves que regressavam das Américas e de África, ponto de escala no seu caminho de volta a casa, após o interregno migratório. Daí que todas as ruas da Quinta da Bicuda tenham o nome de pássaros (eu desconhecia, por exemplo, que havia um pássaro chamado maçarico e descobri pássaros com nomes lindos como o chapim…).

Mas isto era quanto tudo era pinhais e urze. Hoje há casas, condomínios, hotéis e campos de golfe. Dos pássaros, aparentemente, só ficaram os nomes.

Nota: Curioso, tentei pesquisar na net a origem do nome Quinta da Bicuda. Não consegui. Talvez este confrade ou esta vizinha possam ajudar…

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Ir ao talho



[2829]


No post anterior menti involuntariamente. Puro esquecimento. A verdade é que numa viagem recente fui ao talho. Em Bamako, no Mali. Só que não sabia. Na verdade eu ia numa rua da “baixa” da cidade e eis senão quando vejo uma vaca inteira, esfolada e pendurada num travessão da asna de uma varanda, em pleno centro da capital. Olhei curioso para o meu acompanhante que me esclareceu de imediato: - “É um talho”.

Mais depressa ele falasse mais depressa um homem com um facão enorme começava a cortar uns bifes da perna para cima de uma folha de papel pardo para vender a uma cliente que, paciente, esperava. Ao lado estavam algumas cabras vivas. Em tom jocoso e com vontade de fazer uma piadola, perguntei ao meu anfitrião se as cabras que ali estavam também eram do talho. “Claro”, disse-me ele. É que há clientes que gostam de as comprar vivas, quem as quiser mortas e cortadas, espera dois minutos e elas são mortas ali, tout de suite.

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O homem do talho


Senhor José, os bifes são tenrinhos?
São porreiros, pá!

[2828]


Ontem, um impulso estranho levou-me ao talho. Eu tinha uma ideia dos talhos consistente com um espaço cheio de meias-carcaças de animais, penduradas por um gancho de ferro das quais o homem do talho ia cortando umas peças que depois subdividia num balcão de madeira surrado de sangue e gretado por mil golpes de cutelo.

O senhor Luís (a minha recordação vai a esse ponto do “homem do talho” da minha infância) era um homem feio, careca e semiobeso que ia falando enquanto cortava as peças de carne que as clientes (só me lembro de ver mulheres no talho…) lhe iam pedindo, não sem lhe perguntarem primeiro “se os bifes eram tenrinhos”, ou dizerem que era “só um bocadinho para assar”. Já nessa altura a minha índole curiosa me espicaçava no sentido de ver a primeira vez em que o senhor Luís diria a uma cliente “não, D. Libânia, não compre os bifes que estão cheios de nervo” ou, “não leve as costeletas que o porco era magro e é só osso" (faltou referir que entre as meias-carcaças, havia quase sempre, também, uma cabeça inteira de porco).

E por entre a algaraviada do Sr. Luís e das perguntas das clientes, a actividade do talhante continuava e as mulheres seguiam de volta a casa sobraçando um punhado de bifes tenrinhos, carne para coser com pouca gordura ou umas costeletas que eram um regalo com pouco osso, satisfeitas por haver um senhor Luís que lhes garantia carne de qualidade. Enquanto esperavam, muitas delas conversavam. Mulheres esperando por qualquer coisa, inevitavelmente tagarelam, e os temas espraiavam-se pela vida que estava muito cara, pelas doenças que apoquentavam a família, a D. Irene que, sabia-se, andava a dormir com o senhor Silva, uma pouca vergonha lá no bairro, ou o senhor Freitas que, imagine-se, agora até já tinha dinheiro para comprar um carro. Um quadro, simples, português suave, aquele que me ficou de algumas vezes que fui ao talho em pequenino.

Desde aí, sinceramente que não me ocorre ter ido de novo ao talho. Por isto ou por aquilo, nunca tal voltou a acontecer e mesmo das vezes em que circunstancialmente comprei carne, apercebi-me que o acto se fazia através da retirada de travessinhas higiénicas e práticas, devidamente embrulhadas em celofane e um pequeno rótulo a dizer-nos o que acabáramos de comprar.

Até ontem. Como disse, fui a um talho. Ao olhar para um grelhador pequeno de cozinha que me ofereceram, senti uma pulsão estranha de grelhar um bife. Mais do que propriamente comê-lo. E, assim, fui ao talho. O senhor Luís não estava lá, mas estava um sujeito magro, cabelos grisalhos e, embora feio como o senhor Luís, mantinha a pose do homem de meia-idade que acha que ainda ali está para as curvas. O balcão de madeira já não é de madeira nem há meias-carcaças penduradas. Tudo o mais, está exactamente na mesma. Os mesmos cutelos, o mesmo ritual de afiar as facas num limatão grosso antes de se talhar a peça de carne e, surpresa, exactamente as mesmas perguntas que eu ouvira há muitos anos sobre a qualidade da carne. Se “os bifes eram tenrinhos” e se a carne para cozer (não sei bem o que é carne para cozer, presumo que seja uma carne… que se coze, não há outra explicação) tinha pouca gordura. A conversa também não divergiu muito da que eu conhecia. A diferença é que já não é em tipo “português suave” dos meus tempos de criança. Do que ouvi, a ideia generalizada de que estamos rodeados de políticos malandros, corruptos, ricos e incompetentes é permanente. Tudo dito com raiva mal contida e "isto" vai acabar mal, um dia destes vai ser como na Grécia. E que é bem feito para eles aprenderem. E já agora, que Nossa Senhora nos guarde de levar com uma bala de ricochete, como a “criança” da Grécia.

Como só fui esta vez ao talho, não sei se os temas de conversa são recorrentes, mas pareceu-me que sim. Outra coisa que me pareceu igual foi aquela cortina de fios metálicos pendurados cuja utilidade não resisti a perguntar ao "homem do talho". "É por cósa das moscas", disse-me ele. E lembrei-me, então, que o senhor Luís também tinha uma coisa daquelas à entrada por causa das varejeiras. No tempo em que as clientes não sabiam bem que havia políticos malandros, corruptos, ricos e incompetentes.

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sexta-feira, dezembro 12, 2008

A gestão pelo povo


[2827]

Pensem o que quiserem, mas a mim causa-me uma impressão dos diabos que as estratégias de gestão de uma câmara Municipal, no caso a da própria capital, estejam ao sabor dos humores de um grupo de trabalhadores. No caso os responsáveis pela limpeza das ruas e remoção de lixos.

Causa-me ainda mais impressão quando um presidente de Câmara quase se desculpe perante os sindicatos e diga que não é verdade que se queira privatizar o sector, falou-se no assunto e tal, mas nada de definitivo. Desculpem qualquer coisinha, estou a fazer os possíveis, logo se vê, até estamos a pensar admitir mais pessoal, etc..

A minha pergunta seria, "que custos políticos teria um presidente de Câmara dirigir-se aos sindicatos e dizer":

- Meus senhores, a estratégia de gestão desta Câmara Municipal pertence-me a mim e aos demais órgãos municipais, para isso somos eleitos e pagos.

Provavelmente perderia votos, perderia apoios de, sei lá, Roseta, Rubem e sentiria a falta do Zé. Poderia perder até o lugar, mas Lisboa ganharia com certeza.

Ficaria mais sã, mais bem gerida e, sobretudo, mais limpa.

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Picareta falante - Nova versão (de bigode)


[2825]

Já se sabia o que ia acontecer após mais uma reunião (???) entre os sindicatos e o ministério. Estaca a zero em tudo. Por mim, até sabia que as declarações posteriores haviam de caber no estilo educado e contido da ministra e na truculência desabrida de Mário Nogueira. Para além da truculência há aquela sensação de carrossel em que as coisas são ditas de forma torrencial (é sempre preciso interromper Mário Nogueira, ele começa a falar e fala ininterruptamente repetindo chavões de cartilha, sound bytes e aquele tipo de coisas que caem bem aos incautos, repisando por exemplo, o salto na prestação qualitativa dos professores, fala, fala, fala e volta ao mesmo).

Acho curiosa a extraordinária semelhança na forma e no estilo entre Mário Nogueira e Sócrates na forma de se expressarem. Abruptos, torrenciais, demagógicos, arrogantes e, sobretudo, vazios de conteúdo, que não de sentido. Já Guterres era assim, ao ponto de VPV lhe ter chamado, apropriadamente, “picareta falante”, e viu-se no que deu aquele partir de pedra hipócrita e inconsequente.

O PS teve uma apreciável acção didáctica nesta forma provinciana e arrogante de se fazer política. Desde os protestos da ponte até às tiradas espectaculares contidas em cada resposta que se dá a um jornalista, enformadas num estilo comicieiro que deve ir bem com a América do Sul mas que a mim, pessoalmente, me incomoda e dá uma triste ideia da nossa verdadeira índole. E, aparentemente, não sou o único.

Os professores, por seu lado, não se importam e apreciam o estilo. Muitos porque são farinha do mesmo saco de Mário Nogueira. Outros porque lhes sabe bem. Os miúdos, esses, vão atirando uns tomates aos governantes. Bem ensaiados e felizes por terem nascido.
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quinta-feira, dezembro 11, 2008

Levem lá o Moretto ao Quique


[2824]

Não sou jornalista, não escrevo em jornais e de jornais a única coisa que sei é lê-los e precisar de ir lavar as mãos para tirar a tinta dos dedos quando acabo. Mas temos de convir que muito do que se ouve e escreve no momento sobre jornalistas tem fundamento.

Neste caso trata-se de jornalismo desportivo, bem sei que o público leitor de desporto é “diferente” do outro, do que lê o Público, a Visão e o Expresso (será mesmo?), mas francamente. No rescaldo de um dos mais brilhantes jogos que vi o FêQuêPê fazer, tanto pela exibição como pelo(s) resultado(s), o Record faz capa a dizer que o Quique quer ver o Moretto?

Depois admiram-se que os portistas partam cadeiras na Mealhada…

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Ingenuidades


[2823]


O Governador do Illinois, Rod Blagojevich, tinha a prerrogativa de poder escolher o sucessor de Obama. Vai daí lembrou-se de rentabilizar a coisa e aumentar a féria, arranjar emprego para a mulher, pedir umas luvas suplementares e outras prebendas menores e tratou de exercer o seu (dele) direito de manipular influências, exercer pressões e mesmo praticar uma coisa a que os mal intencionados e invejosos chamam de chantagem, como se fossem polícias. No fundo, uma situação a que a classe política dificilmente se pode furtar e pela qual se sacrifica em nome do mandato que lhe conferem.

Foi preso. As coisas, afinal, ainda não são bem como ele pensava que eram. Reminiscências talvez das suas próprias origens ou de algumas férias que inadvertidamente tenha passado em Portugal, onde este tipo de coisas ainda não dá prisão. E quando dá prisão, não dá pronúncia porque há uma escuta qualquer ilegal, uma vírgula idiota ou pura e simplesmente prescreve, por causa dos fins-de-semana compridos.

Os americanos ainda estão muito atrasados.

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quarta-feira, dezembro 10, 2008

Imposição?


[2822]


A f. (fernanda câncio, para quem não esteja familiarizado com este f pequenino) teve um ataque de brotoeja e zangou-se imenso com a ministra da saúde por causa desta notícia.

Com deliberada superficialidade, f. mistura alhos com bugalhos e acha que um acordo com a Igreja Católica tem um sentido semântico que, aparentemente, só ela descortina quando diz que se trata de uma imposição. Discorre imenso, entretanto, transcrevendo vários artigos da lei da liberdade religiosa e da concordata. Dei-me ao trabalho de ler os artigos todos que a f. transcreve e esforcei-me genuinamente para descobrir onde estava a imposição da assistência católica nos hospitais e o favorecimento da confissão católica mas desconsegui, como diria o Mia Couto. Devo ter ficado confundido e tudo passou a ser peanuts.

Vou ali sacudir as cascas e esquecer o post.
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Lá como cá


[2821]

lutadores da liberdade há. Só que “cá” faz mais frio. E um borralho aconchegante ajuda muito os Invernos mais rigorosos e depois, o custo de vida é europeu, muito mais elevado. Para além de que havia ditaduras más e outras muito más. A nossa era, certamente, muito má e, naturalmente, produziu melhores heróis.

(Para se entender melhor estas linhas, ler este post no Atlântico que nos remete para um outro de Paulo P. de Mascarenhas e um artigo de H. Raposo no Expresso sobre Batista Bastos
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Cretinismo militante II


[2820]

Por mim, verdadeiramente grave não é produzir-se estas afirmações. Grave mesmo é que quem as produz está realmente convencido de que tem razão. Não só que está do lado da razão como a dar um significativo contributo para o aumento de produtividade dos deputados.

O que Guilherme Silva diz é absolutamente fantástico e reflecte bem a mentalidade desta gente que acha que está a fazer um sacrifico imenso ao serviço das populações. Tão grande que não cabe na cabeça (dele) haver plenários às Segundas e Sextas. É um despautério acabado e uma falta de consideração por aqueles que têm a nobre missão de defender os nossos interesses. A Assembleia pode muito bem fazer os plenários às Terças, Quartas e Quintas e reservar as Segundas e Sextas para missões fora de serviço fora de Lisboa. É de uma evidência incontornável.

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terça-feira, dezembro 09, 2008

Mangueiradas



[2819]

Adquira uma nova forma de estar na vida. Em vez de passar os fins-de-semana agarrado/a (Guterres é que tinha razão, com aquela dos portugueses e portuguesas, poupava uma série de barra/travessão) ao lap-top ou a ver os lampiões com espasmos de cada vez que ganham a liderança, passe a regar o jardim. Agora não vale muito a pena, chove e está frio, mas não desespere que o Verão vem aí, mais coisa de seis meses e está aí. Depois, é só regar. E nunca se sabe quando é que um incendiozinho na capoeira pode precisar de uma mangueirada, também. Ou mesmo o vizinho, se ele continuar a chateá-lo com aquelas marteladas às oito da manhã de Sábado. Uma mangueirada nas costas pode ser um bom remédio.

Resumindo: Ganhe uma mangueira XPTO, igual à que se vê lá em cima. Para isso terá apenas de responder a umas perguntas que metem faraós, épocas antes de cristo e tripa de bovinos e, com sorte, ganhará tal mangueira...

É aqui. Divirta-se.

Declaração de interesse: Não sou sócio, accionista, enpregado e muito menos inventei a mangueira de jardim. Digamos que... me deu para aqui.
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Juventude inquieta e combativa

Foto DN

Assim sendo, há que dar o desconto, não vá virem de lá os coronéis outra vez. Ainda não vieram, mas nunca se sabe!

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Momento estufa


[2817]

Pausa na educação. Não há tomates e há que os cultivar de novo. Mário Nogueira aguarda diligentemente a nova colheita para o que der e vier.

Está tudo tão quieto que até já estranho. MN deve ter percebido que já não há pachorra para o ouvir. Na Grécia ele poderia ser de alguma valia no tempo presente.
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Momento Verde III ou a antecipação do flagelo


[2816]

Há sacrifícios que se fazem em nome da amizade e boa vizinhança. Mas só de me lembrar que hoje ao almoço vou ter de ouvir falar dos seis golos do Benfica e o facto de terem assumido a liderança do campeonato há já não sei quantos anos, fenece-me a boa vontade e sinto-me tentado a levar um farnel de casa e ir merendar para o Jardim da Estrela.

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Para começar bem o dia


[2815]

A perversidade e a impunidade com que cada um vai para a televisão dizer o que lhe apetece começam a ser um lugar comum. Sobretudo quando provindas desta rapaziada que detém o poder e que dão a ideia de se divertirem imenso, fazendo de nós parvos. Ou, hipótese não descartável, levam-se realmente a sério no que dizem e aí estaremos perante uma situação a roçar uma patologia mais ou menos indeterminada, mas contra a qual temos de estar devidamente avisados.

Vem isto a propósito do nosso ministro de agricultura que nos ”ministrou” um autêntico certificado de idiotia dizendo que há cerca de vinte seis toneladas de carne irlandesa com umas toxinas e tal e que já entraram no mercado de enchidos e portanto já não é possível detectar, mas que os portugueses podem estar descansados porque a carne é de excelente qualidade. É o que se pode chamar de um ministro a encher chouriços. Virtualmente. Com toxinas, mas de qualidade.

Já os trabalhadores da limpeza de Lisboa resolveram fazer greve porque, imagine-se o descaramento, a Câmara quer privatizar o sector. António Costa apareceu a desmentir, pelo que de duas uma, ou Costa é mentiroso e deveria ser sumariamente despedido (se houvesse quem o fizesse que, aparentemente não há), ou o sindicalista de serviço é o mentiroso de serviço também. Para além de dever ser despedido deveria ser responsabilizado pelos prejuízos e inconveniência que está a causar aos lisboetas que vão nadar em lixo até quinta feira.

Passo por cima do pormenor despiciendo de, aparentemente, a gestão camarária estar à mercê de sindicatos que acham o que deve ser privatizado ou não. Mas isso já é outra história.

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Tomar Partido


[2814]

Ligeiramente atrasado, o que se deve a uma crise aguda de falta de tempo em conjunção com uma vontade tremenda que me deu de não fazer nada este fim de semana, aqui estou a felicitar o Jorge Ferreira e o seu excelente Tomar Partido pelo seu quinto aniversário.

Tchin Tchin

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segunda-feira, dezembro 08, 2008

Colapso


[2813]

Notável. Este Colapso do António Barreto.

In Público de 12/11/08 e no Jacarandá

"UM GRANDE CIENTISTA, geógrafo e historiador americano, Jared Diamond, publicou, há uns anos, um formidável livro recentemente editado em Portugal (Gradiva). O título, “Colapso”, refere-se a uma realidade que estudou com pormenor e imaginação: há povos, países ou Estados que “escolhem” acabar, morrer ou desaparecer. Os Maias, os povos da ilha de Páscoa ou das ilhas da Gronelândia e populações do Ruanda contemporâneo são alguns dos exemplos. Por várias e complexas razões, tais povos, a partir de um certo momento, desistiram e caminharam direitos para o fim. Uns fizeram tudo o que era necessário para destruir ou esgotar as bases da sua sobrevivência, outros renderam-se aos inimigos humanos ou às ameaças naturais. Podem as escolhas não ser datadas e deliberadas, mas são actos de vontade motivados, talvez não pelo desejo de morrer, mas sim pela ilusão de outra vantagem ou pela complacência com que se vive uma circunstância conhecida.

ESTA SEMANA foi fértil em situações e acontecimentos que sugerem o colapso, tal como Diamond o estudou. A analogia pode parecer forçada. Os processos históricos demoram séculos, aqui estamos a falar de anos. Aqueles dizem respeito a povos inteiros, aqui referem-se instituições ou regimes. Mas o paralelo é irresistível. O Parlamento português, por exemplo. Tem vindo gradualmente a falhar os testes de prova de vida. Dá de si uma imagem confrangedora de ignorância e incompetência. Obriga os seus deputados a abdicarem da liberdade e da independência. Aprovou por unanimidade diplomas recheados de inconstitucionalidades. Transforma o orçamento de Estado numa futilidade adjectiva. Faz seu o confronto que o PS deseja criar com o Presidente da República. Cauciona a abertura de uma crise institucional, inventada por motivos menores, sem se preocupar com os efeitos nefastos do seu comportamento. Caminha cegamente para as trevas exteriores. Tal como os Vikings das ilhas da Gronelândia, não percebe que já não é útil e que, por este andar, é dispensável. E não entende que o seu fim pode já ter começado.

O PSD CONTINUA
a dar exemplos de preparação para o suicídio. As mudanças sucessivas de presidente nada adiantaram. Manuela Ferreira Leite não conseguiu pôr o partido em ordem. Poucos meses bastaram para que os seus rivais criassem a desordem habitual. Creio que não existe, na recente história política portuguesa, nenhum caso onde sejam tão frequentes a mentira e a traição. Onde a luta fratricida atinja os cumes do assassinato velhaco. Onde o maior prazer é a derrota dos amigos. Onde a maior festa é a morte dos correligionários. No Parlamento, esta semana e a propósito de uma votação relativa aos processos de avaliação dos professores, as faltas de trinta ou quarenta deputados fizeram com que a oposição perdesse e o governo ganhasse sem mérito nem justa causa. Pode pensar-se que foi preguiça, afazeres, negócios ou prazer. Eventualmente vingança ou vontade de criar o caos. Mas tudo isso, por parte ou atacado, configura a indiferença. Eles estão-se simplesmente nas tintas! E, tal como os habitantes da ilha de Páscoa, não sabem que estão a escolher a morte. Se fosse só a deles, não se perderia grande coisa. Mas também pode ser a do Parlamento.

O REGIME DEMOCRÁTICO
português é frequentemente elogiado. Ou antes, foi. Instalou-se em poucos anos. Tem resistido à prova do tempo. Já foi considerado o “bom aluno” da Europa. Há mesmo quem pense que foi a primeira “revolução democrática” a preceder todas as outras de Leste e alhures. Na verdade, não foi. Terá talvez sido, com as suas ilusões absurdas, a última revolução socialista, mas é indiferente. Nesta democracia que já foi “exemplar”, as recentes agitações financeiras abriram definitivamente uma ferida tão repetidamente mencionada mas raramente concretizada: a da promiscuidade. Infelizmente, os costumes locais não fazer a distinção entre fraude, corrupção e promiscuidade. Para muitos, é a mesma coisa. Ora, não é. A promiscuidade entre a política e os negócios pode ser perfeitamente legal, mas pode matar um regime. Pode levá-lo ao colapso, mas legalmente. A política como fonte de acumulação primitiva de uma classe recém-chegada pode utilizar apenas meios legais ou, no máximo, não recorrer a ilícitos. Até porque os verdadeiros patrícios do regime português têm sabido fazer as leis capazes de sustentar as festividades.

A sucessão de “casos” que envolvem grandes recursos financeiros, enormes obras públicas e colossais adjudicações sem concurso tem vindo a criar mal-estar e a mostrar as fragilidades do regime. A revelação das galáxias empresariais torna evidentes ligações insuspeitas entre partidos e empresas. Mas também o seu tutano, aquela área feita ora de luz, ora de sombra, onde se ganham eleições, se fazem negócios, se recrutam quadros e prestam favores. Ou aquele espaço intersticial onde se acumulam riquezas e fazem reis. As lutas intestinas de um banco, as rivalidades agressivas entre outros, as fraudes cometidas por um e a falência iminente de outro tiveram um denominador comum: a presença directa ou indirecta do Estado no capital, no negócio, na estratégia, no salvamento, na recuperação ou no amparo. Antes, durante e sobretudo depois das crises. Se o que estivesse em causa fosse só o papel do Estado, talvez houvesse razão e desculpa. O problema é que apareceram os rostos áulicos, com nome e currículo, dos que ora agem pelo Estado, ora por si próprios, ora por mandantes. O facto, em vez de sublinhar a força do Estado, põe em relevo a sua fragilidade e o modo como se deixou apoderar pelos predadores do regime. E exibe os circuitos do Jogo da Glória, ou do Monopólio, por onde circulam os novos Barões. Banca, energia, obras públicas e telecomunicações: parecem ser estes os territórios preferidos dos grandes partidos do regime. É possível que a maior parte dos homens de que se fala hoje não tenha cometido um só crime. É possível que não tenham tido, jamais, um comportamento ilícito. Mas tal se deve ao facto de as leis permitirem que se faça o que se faz. Até porque foram eles que as fizeram".

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