segunda-feira, fevereiro 28, 2005

1-1



Um beijinho de simpatia à Prima. Não é todos os dias que se consegue empatar com o meu rival da Segunda Circular...

sábado, fevereiro 26, 2005

Heresias...



Qualquer pai modernaço (ou pós moderno, take a pick) procura instilar nos filhos uma visão tão cosmopolita quanto possível da vida, das coisas, gentes, sítios e gostos. Numa época em que a globalização é a matriz generalizada dos nossos comoportamentos, seria desejável que aqueles que nos dão continuidade mostrassem a estrelinha do progresso e, sobretudo, gerassem a capacidade de nos surpreender. Posto isto, acontece que tenho uma filha que está circunstancialmente em Portugal e que achou que a forma mais elegante e carinhosa de me surpreender seria ela própria cozinhar um prato. Desconfiado (sei o que a casa gasta) acedi com o sorriso mais compreensivo que consegui desincrustar do poço dos meus cepticismos de estimação, disse: - Óptimo. Estou nessa. Pois o "prato" resvalou para um portuguesíssimo e desperdiçante "bacalhau à Brás" que acho ser a forma mais cruel de se usar um peixe cuja nobreza reside no facto de se comer cozido com grão ou com batatas a murro. Tudo o que vá para além deste registo é um verdadeiro atentado à personalidade do bicho e às minhas mais fortes convicções gastronómicas... isto para não falar em actividades acessórias de se ter que ir ao Pingo Doce buscar bacalhau apropriado e a batata palha e mais não sei quê, o que me faz prenunciar uma tarde de pesadelo e um jantar de... bacalhau à Brás. Mesmo dando de barato que o Brás não tem culpa nenhuma de eu ter uma filha voluntariosa e do bacalhau ter ainda menos culpa que o aviltem desta forma.

Family Spree...



Não tenho conseguido alimentar o blogue. Por uma boa causa. Com três filhos tipo irmãos mais novos, é gratificante perceber que o tempo fica mais escasso. Não há razões geográficas que impeçam a suprema satisfação de ter os filhos todos à volta, mesmo quando todos estamos separados por latitudes longínquas e longitudes cheias de fusos horários. O que não significa que não seja uma festa, quanto mais não seja pela dificuldade de estarmos todos, ao mesmo tempo, sentados a uma mesa de uma cervejaria a comer marisco, a pôr conversas em dia e a fruir o sentimento quase pueril de estarmos juntos. E haverá coisa melhor que ter duas filhas e um filho à mesma mesa tão diferentes e tão iguais? E depois... há aquela coisa de eu ter sido pai acabadinho de entrar na casa dos vinte anos e o resultado é este. Quatro pessoas “quase da mesma idade”, partilhando temas e cumplicidades longe da forma estereotipada do paizão com as crias. Houve muito riso, conversas sérias, anedotas jocosas e a consciência de que em poucos dias tudo voltará ao normal, os seja, cada qual para o seu lado e continuarmos todos juntos até que, por um dia destes, nos consigamos encontrar outra vez. É bom ter sido pai ainda eu era um puto. O resultado está à vista. E quando, um dia destes, eu for ao aeroporto depositá-los de regresso aos aviões que têm feito parte integrante da nossa trajectória de vida, ficarei algo triste por vê-los partir mas muito contente por ter o supremo privilégio de os saber felizes. Porque isso é a minha felicidade também. Fica só a “mirim” que está prestes a largar o ninho também... e fico eu com mais tempo para escrever qualquer coisa por aqui e ler os meus blogues preferidos.
Bom fim de semana para todos e desculpem a mariquice. Mas não é todos os dias que tenho a prole junta.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Geração Rasca?



Palavra de honra que não é embirração.

Ontem referi-me a uma ida a uma esquadra da PSP, hoje chegou uma carta cá a casa que a Musca descreve aqui.

Eu sei que mostrar o rabo a uma Ministra de Educação pode ser uma razão estimável para que Vicente Jorge Silva ache que estamos perante uma “geração rasca”. Ocorre-me, porém, reflectir se a geração rasca é esta que mostra rabos a Ministras ou se rasca não será a geração que deu origem a tais rabos e que se entreteve a deixar heranças que remetem para situações como a que a Musca descreve.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Tudo Boa Gente



A minha relação com a autoridade vai de vento em popa. Ainda há pouco tempo tive de pagar duas UC’s (cada vez percebo mais desta terminologia, ou não fosse eu privilegiado com a amizade de eminentes juristas desta praça…), qualquer coisa como trezentos e uma quantidade de Euros, porque a minha filha levou um murro há uma ano e meio, depois foi citada um ano mais tarde, percorreu esquadras onde lhe davam as mais surrealistas informações, faltou não sei aonde e, a rematar, aparece-me um polícia (simpático, honra lhe seja feita) em casa com uma ordem de detenção. Trezentos e tal Euros depois, de registo criminal limpo e sem saber do paradeiro do esmurrante da filha (a polícia sabe, dizem eles, quem sou eu para os contrariar, não me dizem é porque não o prendem, mas já não faço muitas perguntas) e para culminar um Sábado de febres altas em casa, recebo um telefonema da minha filha (a tal, a do murro…) a dizer que tinham arrombado uma porta do carro e lhe tinham levado a mochila com documentos, multibanco, carta de condução, bilhete de identidade e outras minudências (aliás dolorosamente enumeradas no seu próprio post). Disse-lhe para ir à polícia… pareceu-me o mais curial. Ela foi e uma senhora simpática vestida de polícia disse que “deixasse passar mais uns dias, podia ser que os documentos aparecessem”.

Entretanto, verifico que devido ao meu elevado estado febril de sexta feira, também eu tinha deixado a pasta de trabalho no chão do carro. Uma pasta de genuine leather que me tinha sido oferecida por pessoa que prezo muito e que continha, entre outras ninharias, o meu passaporte, um livrinho de recibos verdes, canetas e um mundo de papeis de trabalho, nomeadamente um estudo para um projecto num país africano que me roubou horas preciosas em que podia estar aqui na Blogos a ler o Barnabé (link ao lado, se linco aqui, eles levam uma chuva de visitas e isso irrita-me).

Hoje fui à PSP de Cascais. De filha, claro, que era a ofendida. À entrada estava um magnífico papagaio africano e um polícia bacano a dar-lhe uma pera rocha. Disse-lhe ao que ia e o agente, simpático e cortês disse para eu esperar um bocadinho que o Chefe já vinha. Esperei e brinquei com o papagaio (para quem não saiba, já uma vez comi um, estava eu na tropa, sem saber, claro, só soube quando disse ao chefe duma longínqua aldeia africana que o frango estava um bocado duro e ele me disse que o frango era papagaio – perceba-se assim, o amor e remorso que tenho agora em relação aos psitacídeos).

Enquanto esperava fui gerando a sensação que estava à espera de vez para cortar o cabelo. Entravam pessoas, saíam pessoas… o chefe nunca mais vinha, eu já com uma íntima relação com o Óscar (assim se chamava o papagaio), as pessoas riam, outras perguntavam se o bilhete de identidade já tinha aparecido e a tudo um simpático cabo, quarentão e gorducho, ia respondendo com a bonomia própria de quem está ali para servir a comunidade, melhor, a participar na sociedade, porque tudo o que era dito, perguntado ou respondido era num registo de loja de bairro e eu juro se não fiquei com a ideia de que toda a gente se conhecia e se não costumavam encontrar-se ali todos os dias. Há até uma senhora grávida, negra e bonita , que entra e pergunta se o marido já ali tinha chegado porque tinha sido preso essa noite em Alcabideche… o polícia disse que não, mas que esperasse um bocadinho, (toda a gente é suposta esperar um bocadinho) talvez estivesse a chegar. O homem chegou… aliás eram dois, calados e algemados, escoltados por um Dirty Harry versão lusa, de camisola azul, gorro da mesma cor e óculos Ray Ban. Ahhh, mas entretanto chegou o chefe. Lá fiz a queixa. O chefe ia escrevendo e, eu seja ceguinho, foi interrompido mais de 10 vezes pelo telefone. Cada telefonema, entre sorrisos cúmplices, tinha a ver, pareceu-me a mim, com o jogo de ontem do Benfica, da filha que saía mais tarde e quem é que a ia buscar à escola, com o carro que estava a mudar o óleo ou com a comadre que chegava amanhã do Norte. Não posso jurar, mas foi mais ou menos isso. Entre telefonemas, aparecia outro chefe, outro subordinado, mulheres de limpeza (uma até para dizer que o papagaio tinha de sair dali porque “o cão” já se tinha atirado a ele), enfim, um mundo de gente, de interrupções, de questões que tinham tudo a ver com tudo menos com o facto de eu estar despojado de uma série de documentos para cuja renovação me era exigida a participação à polícia e querer apresentar a necessária queixa.

Nós somos assim. Nem bons, nem maus, somos assim. Não sei se é bom se é mau, somos assim ponto final parágrafo, há quem goste, há quem, como eu, se interrogue sobre as razões profundas de se “estar” numa esquadra como quem está numa loja de reparação de fechaduras ou numa pastelaria a discutir futebol. Mas isto sou eu que sou esquisito. No meio disto tudo, sempre se vão resolvendo alguns casos. Aliás, as opiniões eram unânimes. Desde o chefe à mulher que estava preocupada com o facto de o cão poder comer o papagaio, todos acham “que os documentos aparecem”. Mais ou menos no estilo “isto é tudo boa gente”. Ficam só com o dinheiro mas devolvem os documentos. Sentido cívico, afinal.

Neste momento sou o feliz detentor de um papel assinado e devidamente carimbado a provar que apresentei uma queixa na Polícia por furto e que “para os efeitos tidos por convenientes lavrou-se o presente documento, Auto de Denúncia, que foi integralmente lido e revisto e vai devidamente assinado pelo denunciante e pelo autuante”. Posso, assim, passar á segunda fase, ou seja pedir segundas vias dos documentos. Isto se, entretanto, a mulher da limpeza não estiver carregada de razão e o ladrão, gajo porreiro, devolver os documentos que, segundo a autoridade e cito “ó meu amigo, isto pode ir ter a Alcabideche, a Sintra, a Carcavelos, mas vai ver que aparecem…”. Ai aparecem aparecem, que a mim já me aconteceu , vinha eu das compras, estava a minha sogra muito doente, também fui roubada no Pai do Vento e os documentos apareceram em Murches”, dizia a mulher da limpeza… ou foi o chefe… teria sido a grávida que estava à espera que o marido fosse libertado pelo Dirty Harry?

domingo, fevereiro 20, 2005

Controversa Maresia



A Vieira faz um ano. Só a leio desde Setembro, altura em que eu próprio me iniciei na Blogos, mas habituei-me a fruír a graça, elegância, frontalidade e o humor (muito humor) que ela nos vai deixando por aqui.

Fica lá em cima um coral (Stubby purple coral), que tive o privilégio de ver muitas vezes, como saudação amiga de parabéns e desejos de longa vida.

Moedas...



Livrámo-nos da má moeda. Substituimo-la por outra. Se o “mealheiro” não se tiver desfeito de uns trocos antigos, receio que a moeda seja bem pior.

Estando nós inseridos na moeda única, é espantoso este nosso fatalismo histórico de dificilmente arranjarmos moeda que preste...

Million Dollar Afternoon



“Western Spaguettis” e “Dirty Harris” foram a forma como me habituei a Clint Eastwood, com alguma indiferença, confesso. “Unforgiven” (1992); Bridges of Madison County (1995); Midnight in The Garden of Good and Evil (1997); Space Cowboys (2000) e o genial Mystic River (2003) despertaram-me para um dos mais completos e geniais realizadores e actores do cinema de sempre. Além de me proporcionarem a excelência de Gene Hackman, Meryl Streep, Kevin Spacey, John Cusack, o delicioso “Team Daedalus” protagonizado por ele próprio e Tommy Lee Jones, James Garner e Donald Sutherland e, finalmente, Sean Penn (quem resiste a uma colecção destas?).

Hoje vai ser o Million Dollar Baby. Pós voto, claro. A crítica colocou uma altíssima fasquia mas tenho a certeza que vou gostar. E ainda oferece o bónus Morgan Freeman ... é impossível ser mau.

E depois, com toneladas de papel de jornal e horas de vídeo gastos com um idiota como Michael Moore, Clint foi o único que, sinteticamente, definiu o fenómeno: “I’d kill the motherfucker”. E pouca gente tugiu.

sábado, fevereiro 19, 2005

Intermitente



Uma saudação amiga pelo segundo aniversário do Intermitente, blogue que leio sem intermitências e com agrado.

Meditar...mas pouco



O "Saco da Inhaca" é um zona de meandros e baixios na ponta sul da Ilha da Inhaca e que precede o Canal de Santa Maria que liga o "deep Ocean" (Índico) à Baía de Maputo (Delagoa). Um nauta experimentado percorre estes meandros com relativa facilidade, passando "a metros" de bandos de milhares de flamingos-rosa que nos olham com alguma indiferença e tolerãncia. Mia Couto sabe do que falo, pois foi lá que fez um trabalho de Biologia. A visão destas aves e o pecurso até ao Canal, a caminho da Ponta Abril, Ponta Malogane, Reserva dos Elefantes, etc., até à Ponta do Ouro (de barco claro)é um bom tópico de meditação e que nos reconcilia com a vida.

Porque estou doente e parcialmente incapacitado, achei que devia levar à letra o espírito do chamada “dia de reflexão” sobre o voto de amanhã.

Assim animado do mais democrático espírito que pude rebuscar entre cinco espirros, uma sova nas região lombar e um peso de cinco quilos em cada pálpebra, equipei-me de café, cigarros (pois... nem a gripe), uma caixa de lenços de papel, um edredon, seleccionei boa música brasileira e estirei-me no sofá. Melhor – estirei-me uma meia dúzia de vezes, já que cada vez que me deitava com a ideia que tinha “tudo” preparado, faltava qualquer coisa, desde o controlo remoto, aos óculos de ler. Persistente, acabei por me sentir instalado e pronto a “meditar”.

Deixei-me, assim , conduzir pelas asas da meditação que me levaram a coisas tão diferentes como um bando de flamingos do Índico ou um corte de cabelo no meu salão (dantes dizia-se barbeiro, apesar de eu sempre fazer a barba em casa) do costume; das mulheres bonitas (este bonitas é, mesmo, num sentido lato...) que conheci na minha vida à questão do aborto. Dos filhos que tenho aos lugares que conheci. Do gosto que tenho por carros, à cabidela que detesto. Da família onde grelei à outra que acabei por gerar através de pecadilhos, erros de percurso, manobras arriscadas e metas cortadas em frenesi de vitória, em circuitos sinuosos e cheios de perigos de condução, mesmo com várias saídas de pista e “pannes” inesperadas. Dos livros que li e outros que não cheguei a ler e se calhar já não leio. Dos céus do hemisfério sul (não é lugar comum nem figura de retórica dizer que são diferentes, mais bonitos e com uma dose de magia que os do hemisfério norte não têm), ao fetiche das ondas do Guincho. Dos pergaminhos e boiões de cultura de museus que visitei às cidades arrojadas e geométricas, cada qual com o seu encanto próprio. Dos “wide open spaces" dos grandes continentes às ruas empedradas e estreitas de aldeias portuguesas com gente que ali nasce, vive e morre sem contacto com o mundo que não seja um reality show de televisão ou a visita estratégica de um líder político em campanha. De Cascais cosmopolita e snob às ruas tenebrosas de Moscavide...

Acho que foi quando cheguei a Moscavide que devo ter adormecido, pois acordei com uma algaraviada de gente empunhando bandeirinhas a dar vivas a um partido político e a um líder entretido a rir e dar beijinhos a mulheres e crianças e a falar de choques e qualquer coisa que tinha a ver com “graça de deus” e mulheres vestidas de preto a vender queijo flamengo e bolachas-maria e levei algum tempo a perceber que tinha estado a sonhar. Descontente com o destino final da minha meditação, achei que poderia e deveria tentar meditar outra vez. Mas voltei a espirrar, a assoar-me, senti-me farto do sofá, a música brasileira já se extinguira, tanto quanto a minha vontade de meditar. Talvez porque não haja tanto para meditar assim. Talvez porque meditar seja um erro e uma excessiva exigência de nós próprios. Talvez, ainda, porque os tempos de hoje são imediatistas, fluidos e tendencialmente desprovidos de conteúdo. Talvez, ainda, porque meditar sobre o voto eleitoral de amanhã me parece tão desnecessário como levar um frigorífico para o Polo Norte. Porque os meus políticos não o merecem, porque provavelmente ninguém se merece já a ninguém – e seja melhor e mais avisado vestir a pele de Álvaro de Campos e introverter a parte final do seu admirável “Mestre” em que ele remata assim uma sua meditação:

(...Prouvera ao Deus ignoto que eu ficasse sempre aquele
Poeta decadente, estupidamente pretensioso,
Que poderia ao menos vir a agradar,
E não surgisse em mim a pavorosa ciência de ver.
Para que me tornaste eu? Deixasses-me ser humano!
Feliz o homem marçano
Que tem a sua tarefa quotidiana normal, tão leve ainda que pesada,
Que tem a sua vida usual,
Para quem o prazer é prazer e o recreio é recreio,
Que dorme sono,
Que come comida,
Que bebe bebida, e por isso tem alegria.
A calma que tinhas, deste-ma, e foi-me inquietação.
Libertaste-me, mas o destino humano é ser escravo.
Acordaste-me, mas o sentido de ser humano é dormir)
.

E o melhor mesmo é ir ao duche, meter-me no carro e ir tomar um café ao sol da Casa da Guia, mesmo com espirros e tudo e encontrar alguém de jeito para falar mal de alguém...

Bom fim de semana para todos.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Votar no Domingo



Tenho razões para não votar no PSD. Elas parecem-me óbvias, apesar de achar que a demissão do Governo teve mais a ver com idiossincrasias de Santana Lopes do que propriamente por políticas. Curiosamente, não só não me ocorre ter visto críticas sérias (sérias, não confundir com as oriundas de claques organizadas), como verifico que o PS agarra em algumas medidas tomadas com unhas e dentes, com a vantagem de não ter de passar pelo odioso.

A questão é que tenho bastantes mais razões para não votar no PS. Por todas as razões conhecidas do passado e pelas perspectivas reais do presente, em que se me depara um grupo de gente incompetente e pouco séria a ensaiar políticas demagógicas e conducentes ao mesmo pântano que criaram há bem poucos anos e de que se safaram com o voto “punitivo” do povo. O voto não foi punitivo, foi balsâmico (para Guterres) ao ponto de o Partido poder fazer a sua travessia do deserto e voltar agora em força, ajudado pela inépcia de Santana Lopes.

Postas as coisas assim, não experimento qualquer dúvida no meu sentido de voto, tanto mais que ele poderá contribuir para que se não verifique a maioria absoluta de um Partido que depois nem precisará de queijos limianos para governar.

Mas sobre esta posição, o João Miranda explica-a muito melhor do que eu aqui, apesar do que CAA diz aqui, ambos no Blasfémias.
Aceito que esta minha posição é condicionada por eu saber que o PS vai ganhar. Se me passasse pela cabeça que Santana poderia ganhar, a minha posição seria diferente. Portanto... e pegando numa peculiaridade que aprendi com o PS, vou votar...e depois logo se vê...

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

E Eu Que Julgava Escapar...



Brinquei com o fogo e queimei-me.

Aquele meu ar blazé de outro dia, quando disse que estava meio engripado deve ter irritado o bicho e eis que me “arrastei” esta tarde pela marginal fora para chegar a casa e ver que estava com 39 de febre, A viagem foi épica e cada rotunda me pareceu um terrível labirinto, enquanto o pedal da embraiagem requeria um esforço de toneladas para eu o premir. Devo ter feito algumas asneiras de trânsito porque por três vezes insultaram a minha mãezinha e nem a minha réplica de olhos de carneiro mal morto desencorajou o pessoal. Pessoal da linha, note-se. Imagino se estivesse a conduzir ali para os lado de onde hoje balearam (e mataram um agente da autoridade).

A chegada a casa foi dramática – “retirar” o corpo do automóvel foi obra e não fora uma vizinha da casa ao lado ainda a esta hora estaria a tentar abrir a porta. Já em casa (vazia, vazia, vazia... que àquela hora as pessoas decentes estão a trabalhar ou a estudar), descobri que tinha um termómetro ecológico, sem mercúrio (acho...) e concluí que estava com 39.

Como os homens são piegas tratei logo de publicitar a minha condição física, mas ninguém se comoveu. Nem a minha voz sem voz produziu efeito. Toda a gente, sem excepção, me aconselhou o antibiótico dos “três dias”. O que me cheirou, não sei porquê, a “pílula do dia seguinte”. Resumi a questão com 2 paracetamol, um chá (feito por mim...) e despenhei-me no sofá, onde estive até agora, ou melhor, ainda fiz um pequeno post a falar mal do Sampaio, que deve ter caído mal às pessoas, porque ninguém comentou.

E no meio do sofrimento atroz das dores do corpo e das bochechas a arder, o grave é eu gerar a sensação que me sinto totalmente idiota e incapaz. Mais ou menos como o cartoon lá em cima, apesar de ser claramente mais bonito (hélas). Mas aquele arzinho idiota tenho-o com certeza e estou condenado a passar um fim de semana assim. É que nem ler me apetece e no Domingo vou ter de assistir ao orgasmo do PS. A coisa está sombria mesmo...

De Todos Os Portugueses?



Se isto não é propaganda eleitoral, então o que é?

Eu também acho que Santana Lopes é responsável directo pela desagregação do Governo e do Partido, mas eu não sou Presidente da República.

How, how, Cordelia? mend your speech a little...



Dear Mr President

I’ve had the opportunity to listen to your speech yesterday. Unfortunately I am not too sure what it was all about (as usual) , nevertheless I wish I could have the means, other than my modest blog, to tell you that I am only too pleased to hear your fluent speech in Shakespeare mother tongue. Considering that when you attended school Mr Sócrates was still “making bricks” (pardon me, but I couldn’t help the literal translation of this so portuguese expression) your fluency can only be reported to your outstanding skill and wisdom. I dare to say that you are the finest expression of the Presidents we should have had in the past and surely must have in future.

It is rather appropriate that we finally have someone like Mr. Sócrates with the necessary accountability, transparency and transference ( I could not make a proper interpretation for this last word, but it’s your own words...) to carry a daring and ambitious programme to teach the English language at school. Bless him Mr. President and bless you too, notwithstanding the fact that you are not very fond of blessings but it was a rare and touching moment when I heard you at the TSF and couldn’t help to ignore the fact.

Sincerely yours

Espumante

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

On Account of My Country



O meu Presidente, ou o Presidente da minha República, sem nunca se referir à campanha eleitoral em curso (esta TSF é a melhor invenção para o fígado logo a seguir ao Guronsan), disse que, mais vírgula menos vírgula, temos o direito de exigir uma classe política credível, transparente, com transferência (???) e accountability.
Point taken, pal...

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Post Scriptum



Cedo piei... já vi um punhado de alusões à gravata preta. Aqui fica o registo e a minha autocrítica por ter duvidado da argúcia e sentido de oportunidade de alguns blogues. Mea culpa...

High Lights do Debate



A Judite tem sardas "por ali abaixo"... Nada contra, mas não fazia ideia nenhuma.



...de longe o vencedor do debate. Foi o que disse menos asneiras.



... o homem tem uma gravata preta. Levou-a e só lhe fica bem. Só me admira o Barnabé (link ao lado) ainda não se ter referido ao facto. Mas aquele luto elegante vai-lhe bem com o fim de carreira.



Embirro solenemente com aquele tipo de colarinho muito aberto, Dá-lhe um ar badalhoco, perdoe-se-me a grosseria e depois a gravata fica assim para o pendurado. Está a precisar de aparar o cabelo, também...



Depois de ver a criatura a fazer um nó de gravata na reportagem do Expresso enquanto a mulher, fugidia, ia tratando de qalquer coisa que não vinha ao caso, ainda gerei a esperança de não ter que ver o pescoço ao homem. Antes as sardas da Judite...



Foi muito bem com o cenário. Não deu estalinhos com a boca e resistiu heroicamente a olhar para as sardas da Judite...



A borrada do costume. Foi apanhado à má fila com o telefonema que PSL fez ao intervalo sobre aquela história da isenção de impostos dos Bancos. Mas já é costume. Continua nervoso e sabe-se lá o que vai sair dali. Deus nos acuda...

E depois disto, agora vou dar uma volta por uns blogues aí que eu cá sei e que se vão fartar de dizer que Sócrates foi o grande vencedor, maioria absoluta coisital, orgasmos múltiplos a precisarem que lhes tratem da saúde...

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Na Paz do Senhor



Mais vírgula menos vírgula foi isto que ouvi hoje na rádio da boca da médica que assistia a irmã Lúcia:

- Ela estava calma, estava bem e depois começou a respirar mais espaçadamente e os seus olhos olhavam para um crucifixo, muito calmos até que... deixou de respirar. Calmamente.

Eu pensava que um médico numa situação destas teria alguma técnica de reanimação à mão, sobretudo numa pessoa que aparentemente não estava enferma e “estava bem”, palavras da médica... afinal parece que acabou a fazer o sinal da cruz e a olhar com ternura para a defunta.

Ora, as coisas provavelmente não terão sido exactamente assim e acredito que a ilustre clínica terá feito alguma coisa quando Lúcia deixou de respirar. Dispensava-se era esta retórica de virtude e essência teologal para se descrever o falecimento de uma idosa, por muito carregada de simbolismo que fosse...

Catorze De Dois



Picasso

She
May be the face I can’t forget
A trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day.

She
May be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a heaven or a hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell

She who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so private and so proud
No one’s allowed to see them when they cry
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past
That I’ll remember till the day I die

She
May be the reason I survive
The why and wherefore I’m alive
The one I’ll care for through the rough and ready years
Me I’ll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I’ve got to be
The meaning of my life is

She, she, she

Não "Valentinar" um pouco neste dia também ia mal com o cenário...

domingo, fevereiro 13, 2005

Meio Idiota



Até "nisto" me sinto meio, chiça...

Não gosto de meios-termos. As coisas são ou não são. Isto de andar com uma meia gripe traz-me meio irritado e meio sem vontade de fazer coisa nenhuma. Haveria talvez o recurso de semi-fazer algo mas isso não dá bem com o meu feitio que pode ser meio bom ou meio mau, depende do ponto de vista do meio-meio onde, presentemente me insiro. A verdade é que esta meia gripe me traz a meio gás... nem tenho febre nem deixo de ter, que isto de 36,9 não é febre que se apresente, a cabeça anda meio vazia com meias ideias e tenho uma meia dor no corpo todo (a única coisa que se vai mantendo completa, até ver...). Vejo aí pelos blogues gente com gripes tremendas, 40 de temperatura, lutas com bichos ferozes alados e de bicos aduncos, cabeças a estalar e afonias terríveis ( e não dar uma afonia destas ao Anacleto Louçã...). E eu... é isto. Meio termo. Meio gás, meio tudo. É injusto e meio imoral. Que eu sou tipo Edite Estrela, gosto de levar as coisas até ao fim e ou bem que tenho gripe ou não tenho. Assim... não. Recuso-me. Estou a pensar ir ali ao Guincho dar um mergulho a ver se apanho uma gripe de jeito e, com jeito, apanho uma depressão completa com o “nojo de povo” de que a Clarinha Ferreira Alves falava ontem no Eixo do Mal. É que este povo acha que Cascais é o melhor sítio do mundo para tomar uma “meia de leite” (lá está...) e meia torrada. Nem que tenham de passar duas horas de bicha (bicha, sim, que essa coisa de “fila” é brasileira, fila é coisa parada e bicha tem uma dinâmica própria) na estrada da Malveira para Cascais, mais uma hora a descer do centro Cultural para o hotel Baía, outra para estacionar e mais meia de barriga (inteira) encostada a um balcão a pedirem a tal meia de leite. No fim das contas regressam a casa e telefonam à família a dizer que passaram um dia bestial. Afinal, a única altura em que poderiam e deveriam dizer que foi um dia assim-assim. Já se reparou que eu estou é meio sem jeito para escrever e meio sem vontade. Mas também, com meias febres e meias dores de corpo, o que poderia eu esperar? Todavia, quando vejo que o meu último post era de Quinta Feira, verifico que esta coisa de ter um blogue sozinho é meio complicado e, assim, nada como arranjar uma meia hora para semi escrever qualquer coisa e manter o blogue meio vivo. Bom fim de semana a todos (que já vai a meio, por sinal...).

Roses Are Red...



O Expresso anda rasteiro, medíocre e pouco sério. Existirão mil razões para isso, mas eu é que não tenho culpa nenhuma. Habituei-me a esportular os € 3 por um jornal do qual, apartado o lixo, me proporcionava leitura séria e interessante. Neste momento, nem o sorriso provocado pelo Comendador salva o naufrágio. A edição de ontem com notícias “não notícias” e emaranhados de retórica dos quais sobressai a explicação de José Lello sobre o que o “professor” lhe disse (Sr. Silva, para os menos avisados), que “não dizia porque não revelava temas de conversa privada por isso não podia dizer que Cavaco lhe dissera que...” ilustra bem o que o Expresso nos vem oferecendo de há uns tempos para cá. Já não se trata de me sentir estúpido, é mais o facto de acharem que o sou...

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Anúncios Classificados

PROCURA-SE

Cavalheiro, educado, formação universitária e boas famílias, com o hábito e necessidade de comer todos os dias, não querendo ser obrigado a tomar dois duches por dia e de boas maneiras. Come de faca e garfo, não cospe para o chão, nem deita os caroços de azeitonas para o cinzeiro. Mastiga de boca fechada, não funga nem cospe para o lenço e, normalmente, deixa o telefone no bolso do casaco. Hábitos frugais de alimentação. Paga pelas refeições o preço normal do mercado. Não fala muito alto nem pede para desligar o ar condicionado no Verão nem o aquecimento no Inverno. Cumpre os seus deveres cívicos, incluindo o exercício de voto, admitindo, porém, não o fazer nestas eleições por causa do Santana Lopes, por razões de higiene, do Sócrates por razões de higiene e de razão, do Portas por razões de higiene, de razão e decência, no Louçã, por razões de higiene, de higiene, de higiene e, ainda, de higiene, no Jerónimo de Sousa por achar que a piedade é um pecado venial e no Manuel Monteiro por achar, "com o devido respeito", que não merece respeito nenhum, mas isto agora não interessa nada e não vem ao caso…

PROCURA

Restaurante nas imediações da Lapa, Estrela ou Campo de Ourique, modesto, preços normais, comida tragável e som de televisão moderado que NÃO ENTRANHE OS POROS E A ROUPA de ácidos poli-insaturados, gorduras fervidas 100 vezes de 100 frituras, com empregados sem mangas arregaçadas e com unhas aparadas (se possível, sem bigode, mas este factor poderá ser tolerado), que sirvam travessas que não deixem uma rodela de gordura nas toalhas de papel e usem copos secos e sem discutirem a derrota do Benfica do fim de semana transacto, das mesas para o balcão enquanto atiram com a comida para a mesa.

Assunto sério. Favor responder apenas quem reunir os requisitos pedidos.





Corpo de gordura - ampliado 100.000 vezes


Segundo um estudo de um conhecido ministro de agricultura do governo de Gueterres, um casaco de homem de estatura média pode fixar cerca de 1.890.008.000 corpos destes, após um período de uma hora num restaurante. Chegou a esta conclusão após ter ingerido mioleira para provar que as vacas loucas eram uma cabala da reacção. O respectivo Ministro da Ciência e Tecnologia, entre duas bicas, concordou em tornar este número público e mandou logo constituir uma Comissão de Prevenção de Fixação de Corpos de Gordura, tendo convidado Armando Vara, que recusou por estar já comprometido com a Fundação da Prevençao Rodoviária, Guterres, claro, ratificou, depois de ter ajeitado a melena.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Campanha Obélix



Os ingleses gostam de fish and chips e steak and kidney pie, os italianos de pizza e spaguetti, os alemães celebram com cerveja e salsichas, os franceses com patés, os americanos com doublecheeseburgerwithonionandmayo (blarghhhh), os belgas com frites, os esquimós com óleo de foca, os boers com biltong e mealiepap, os espanhóis com paella e torrão de alicante, os brasileiros com feijão e couve mineira, os angolanos com moamba, os moçambicanos com matapa e por aí fora, cada um com a sua e ninguém tem nada com isso.

Nós somos diferentes e melhores. A campanha eleitoral em curso mostrou o lado Obélix que (ainda) temos dentro de nós. Um churrasco da versão doméstica e geneticamente modificada dos javalis da Gália, oito varrascos inteiros assados nas ruas albicastrenses, 600 quilos de suína carne, destaparam a nossa génese guerreira e atrairam uma pequena multidão de apoiantes que se deslocaram a Castelo Branco por uma febra, um boné e uma esferográfica. De registar ainda o ar sábio e impante dos assadores de suínos, quando entrevistados pela TV (não perdem uma...), aquela cara de “haverá alguém que asse porcos inteiros como nós? Ná... isto é coisa lusa, coisa nossa” e a “maldadezinha” da informação complementar, quase sussurrada, “foi o PSD que pagou, claro, tss... tss... tsss", não podia faltar e deu o toque final que ilustra bem o nosso gene portuga e rasteiro.

Eu sei que os porcos, hoje, vêm ao mundo para cumprirem a sua nobre missão de ser comidos, nem que seja por apoiantes de campanhas de eleições. Mas, francamente, ver os cevados, inteiros, a serem tostados pelas brasas, espetados num espeto e o fácies e sorriso dos assadores fez-me pensar no meu país profundo, mesmo que essa profundeza se consubstancie em gente vinda de Lisboa ou de outros grandes centros, onde o país, em teoria, não deveria ser (mas é...) assim tão profundo.

Espera-se que o PS dê agora a devida resposta e acicate uma sabatina de iguarias para o que sugeriria uma boa cabidela, com os galináceos a ser degolados num qualquer coreto duma vila, com o sangue a espichar para tachos com vinagre ou, plano B, um caldeirão enorme de sangue e fressura de porco a ferver a que, prosaicamente, damos o nome de sarrabulho e que, já agora, haveria de entrar no Guiness como o maior caldeirão de sarrabulho jamais cozinhado. Estou certo que o menino guerreiro aceita a parada e acabe por engendrar repastos ainda mais convincentes para outras localidades. E daí, não sei. Sócrates anda assim para o irritado a lembrar Cavaco quando dizia que não tinha tempo para ler jornais, apesar de se conter nas estradas e avisar solenemente o motorista para nunca exceder os limites de velocidade (pelo menos foi o que li por aí, estas coisas têm que ser devidamente anunciadas, anda ali dedo de brasileiro...).

Tenho a certeza que se Orwell tivesse ido alguma vez a Castelo Branco e assistido a uma lusa campanha eleitoral, teria reflectido e escrito sobre o triunfo de outros porcos, que não aqueles a quem ele deu a vitória...

P.S. Já depois de escrever este post, o Telejornal mostrava uma senhora gorda vestida de verde e vermelho, com um chapéu feito de embalagens de iogurte e vários chouriços pendurados ao pescoço que acabara de ganhar um televisor como prémio pela melhor máscara. Como se isto não chegasse, o repórter perguntou: - E agora? O que é que vai fazer com a televisão? A senhora gorda pensou, pensou, como se lhe tivessem colocado uma equação de segundo grau a um incógnita e disparou, a rir: - Bou poula no quarto, carago. E ria, ria, ria e o repórter cumpriu a digna missão de informar e ela ria, ria, ria e eu fico na dúvida se publico o post ou se vou comer um leitão a Negrais que até é perto e o homem do restaurante costuma oferecer carteirinhas de fósforos...

domingo, fevereiro 06, 2005

F 1



Vem aí a Fórmula 1 e os meus domingos vão ficar mais ricos e interessantes. É um fraquinho (há quem me diagnostique doença) que não alijo e gosto de ter. Apesar da monotonia da superioridade da Ferrari. Mas talvez até isso traga, este ano, um redobrado interesse – ver se a Williams BMW, a Renault e a Mercedes MacLaren dão um ar da sua graça.

Dentro de pouco tempo, portanto, as manhãs vão ser diferentes (manhãs muito manhãs. já que cada vez há mais GP no Oriente) e eu vou poder acompanhar os milésimos de segundo ao segundo. Vou mesmo esquecer-me de Paulo Solipa... é um profundo conhecedor do “Circo”, mas sofre da maleita da maioria dos comentadores portugueses de várias modalidades, quer isto dizer em Português: - o homem começa a falar dos contratos dos corredores, das respectivas namoradas, dos arrufos e, mesmo em momentos de superlativa emoção de uma corrida ele não interrompe uma história em que o Barrichelo pisou a pata do gato do Schumaker num fim de semana em casa dele nos Alpes. O gato entornou o leite e o Schumaker ficou muito chateado e lhe disse que assim não o deixa ganhar nenhuma corrida. Mas isto é uma pecha nacional... preocuparmo-nos com o leite que o gato entornou, fazermos uma brilhante descrição literária sobre o assunto enquanto, no ecrã se desenrola uma fantástica ultrapassagem. Mas há sempre o recurso ao cabo e seguir os “comments” em inglês.

Gostava que a MacLaren ganhasse, com Montoya. Não porque tenha tiques de Louçã e ache que Montoya vem da Colômbia atrasada e o Schumaker da poderosa Alemanha. Apenas porque acho que é um extraordinário piloto e, se tiver carro, o Schumaker e o Rubinho vão suar as estopinhas.



Fica a F1, portanto. De resto, a Blogos está virtualmente contaminada de Santana e Sócrates e merecemos tema mais higiénico. São posts sobre posts versando as inomináveis criaturas e já vou tendo saudades de posts interessantes. Aproveito até para mencionar aqui a feliz publicação pela Francisca de um notável conto de José Faria Costa, enriquecido por um quadro de grande e feliz adequação ao tema. Vale a pena ler. E bom Domingo para todos que tenho que ir ver a campanha de Sócrates e Santana em Castelo Branco.

sábado, fevereiro 05, 2005

From Patagonia With Love




A força do hálito é como o que tem que ser.
E o que tem que ser tem muita força.

Vai (ou vem) um sujeito, abre a boca e eis que a gente,
que no fundo é sempre a mesma,
desmonta a tenda e vai halitar-se para outro lado,
que no fundo é sempre o mesmo.

Sovacos pompeando vinagres e bafios,
não são nada --bah...-- em comparação
com certos hálitos que até parece que sobem do coração.

"Ai onde transpira agora
o bom sovaco de outrora!"

Virilhas colaborando com parentesis ou cedilhas
são autênticas (e sem hálito) maravirilhas.
Quando muito alguns pingos nos refegos, nas braguilhas,
amoniacal bafor que suporta sem dor
aquele que está ao rés de tal teor.

Mas o mau hálito é pior que a palavra
sobretudo se não for da tua lavra.

Da malvada, da cárie ou, meudeus, do infinito,
o mau hálito é sempre, na narina,
como o baudelaireano, desesperado grito
da "charogne" que apodrecer não queria.

Alexandre O'Neill - 1969
(A Força do Hálito)

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

"Inceneração" de talentos



O gestor de recursos humanos do CDS/PP, após exaustivo trabalho sobre as capacidades e talentos de Fernandes Thomaz decidiu atribuir-lhe a redacção dos cartazes de campanha. Só pode... a minha alma está "incenerada" com isto tudo!

Foto indecendentemente roubada do Tugir e peço desculpa, mas não resisti.

Pois...

PUDOR. Noto algum pudor na blogosfera. Compreensível. Santana Lopes ganhou mesmo o debate -- se é que um debate daqueles se ganha de alguma maneira. - FJV no Aviz.

Nem em toda a Blogos, FJV, nem em toda...

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Debate



Antes que comecem a aparecer as apreciações dos profissionais e me venha, porventura, a influenciar, acho que Santana Lopes teve um desempenho para além da expectativa, no bom sentido. Pareceu-me ter a lição bem estudada e não ter cometido erros, ao contrário de Sócrates que se mostrou demasiado reactivo, inseguro e com a excitada preocupação de dizer desde o princípio que os boatos eram “mentirosos”. Afinal, o preconceito existe e é necessário aclarar as coisas...

Sócrates debitou as vacuidades do costume sem jamais ter explicado “como” é que fará para cumprir promessas que os próprios jornalistas de serviço acharam inexequíveis. E não conseguiu replicar as permanentes alusões de Santana ao facto de este governo PS ser Guterres sem Guterres.

Santana Lopes revelou domínio dos assuntos trazidos a debate e foi notoriamente mais objectivo e explícito.

Fica a desagradável sensação de que não fora as trapalhadas sucessivas de Santana e do seu governo e Sócrates não teria qualquer possibilidade de chegar ao governo...

E agora vai-me dar gozo aguardar pelas opiniões dos meus colegas bloggers e esperar que não fique sozinho a dizer o que disse.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

O Colo do "O(ú)tero"



O colo do “outero” deve, definitivamente, ter retirado qualquer colo que Santana Lopes aspirasse lá mais para o dia 20.

Colos são colos e acho muito bem que se aspire a ter um, sobretudo quando acordamos convencidos que por gostarmos de colo o havemos de ter sempre que nos der na gana.

O problema está em misturar colos. Cada um deveria ter o seu e não se importar com o dos outros. Por isso mesmo, Santana deve ter oferecido de bandeja a última fatia de território que porventura ainda lhe restasse e possibilitado a maioria absoluta a outro colo que não o seu. É absolutamente extraordinário que um homem que gosta de colos não tenha tido suficiente inteligência para perceber que indo mexer com colos alheios iria perder o seu. Não é um punhado de mulheres bracarenses que acha que o colo de que Santana gosta é que lhe haveria de dar a vitória. Mulheres, aliás, com respeitáveis colos, como pude observar pela televisão. Diria mais... não propriamente colos. mas talvez massas ou moles coliformes que Santana deveria ter sabido destrinçar. Infelizmente, Santana de coliformes parece conhecer apenas os fecais que abundam nas praias da linha e de que ele deve ter havido falar num relatório qualquer, mas deve ter baralhado tudo e, quando muito, fez uns telefonemas a propósito a Nobre Guedes a dizer que “tratasse” daquilo, porque devia ser ambiente e, portanto, NG que pegasse nos coliformes e os resolvesse com o colo dele (do Nobre Guedes, claro). E depois que desse uma conferência de imprensa.

Pois é... esta coisa de colos é muito complicada. Já uma antiga empregada doméstica que tive (hoje justamente retirada nas terras altas de Entre Douro e Minho) me dizia que desde que tinha sido “apanhada de surpresa” no dia da espiga por um primo afastado emigrante “na França” e que lhe dissera “Ó Ana, espreita ali para o poço para beres as alcatruzes”, nunca mais ficou boa. O home apanhou-a bergada e aí bai disto. Passou a sofrer tanto do colo do “outero” que tebe de ser operada quinté lhe fizeram uma historiocotomia. Vocábulo que ela aprendeu e nunca mais se esqueceu e mesmo quanto tentei corrigi-la, ela disse-me: - ná, senhor inginhâiro é historiocotomia, eu sei, quinté deribado disso nunca mais me beio a história que binha sempre certinha aos dias bintóito de cada mês.

Por isso, dê-se o benefício da dúvida a Santana. Talvez ele não saiba bem o que queria dizer. Talvez ele pensasse que com aquela tirada estivesse a fazer uma “historiocotomia ao outero”, cortando-lhe cerce quaisquer veleidades de nos contar histórias e a contribuir para a excelência deste país de viris (olha, rimou...), expurgando os colos maus e cantando os colos bons. E é por estas e por outras que eu no dia 20 não sei em que raio de colo é que me irei sentar...

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Paneleirices





Quando poderíamos e deveríamos estar a assistir a uma campanha eleitoral com um mínimo de elevação, mesmo dando de barato que uma ou outra picardia até cai bem e traz temperança a alguma aridez, onde cada um dos candidatos apresentasse a substância dos problemas e a forma ou a estratégia para os combater, onde as questões económicas, sociais, de educação, saúde, ambiente fossem tema fulcral das suas (nossas) preocupações e tentassem, cada um à sua maneira, tornar os cidadãos minimamente participativos e, no fim, votassem em consciência naquele ou naqueles em que depositassem as suas fundadas esperanças no futuro, a par com a modernidade e a excelência, com o progresso e a segurança, assistimos à mais patética manifestação da indigência mental dos nossos putativos líderes, fazendo juízos sobre os colos de cada um, as suas tendências sexuais, quem tem filhos ou não tem, quem dorme com quem e como e, até, a cor dos olhos tem servido de mote aos “debates” (Santana, por exemplo, disse que os olhos de Sócrates são verdes nos cartazes e castanhos na vida real...).

Ainda tentei um exercício fugaz no sentido de perceber quem se salva nesta mediocridade. Devo referir Jerónimo de Sousa como uma pessoa que nas entrevistas me tem parecido de extrema humildade política e bom senso. Pena que defenda tal dama...

O restante é o que se sabe - e sem receio de cair em lugares comuns (se o forem, estou-me cagando, para seguir a forma e o estilo dos nossos líderes), acabo por sentir um profundo embaraço, quiçá vergonha, pelo espectáculo que se me tem oferecido em termos de intervenção política.