quarta-feira, junho 29, 2011

Gente quadrada é outra coisa




[4333]

Estou definitivamente a perder o comboio de eventuais conceitos estéticos que vão acompanhando a evolução da civilização ocidental. Eu, homem corrido por meio mundo e que tenho de reconhecer ter-me já sentado em mil e uma sanitas no cumprimento do nobre e incontornável exercício orgânico de expulsar os detritos, cidadão exemplar na observância das regras da sociedade em que estou inserido (nunca me passaria pela cabeça fazer as necessidades numa área onde houvesse uma tabuleta que dissesse proibido vazar entulho), habituei-me, assim, mesmo obedecendo às exigências dos trâmites específicos para as nossas necessidades corporais, a um mínimo de conforto e sentido estético. Uma casa de banho limpa, ampla e arejada, com decoração feliz, perfumada e com sanitários de bom gosto e ergonómicos, é meio caminho andado para a consecução da nobre missão de expulsarmos do corpo o que não interessa. E por muito que me lembre de condições precárias a que tive de me sujeitar (lembro-me da primeira vez em que precisei de «ir à casa de banho» na recruta e percebi que casa de banho era uma liberdade poética, que por tal se entendia um longo espaço aberto provido de uma coisa chamada latrinas e que consistia numa série de buracos no chão e em que todos nos acocorávamos, uns perante os outros e dávamos livre curso à função, enquanto acendíamos um cigarro ou contávamos uma anedota ou, simplesmente, nos quedávamos em amena cavaqueira), não posso deixar de me deleitar com uma casa de banho apelativa como a que em cima descrevi.

Acontece que mudei de gabinete. Do rés-do-chão mudei para o segundo andar. Inevitavelmente chegou o momento em que tive de usar a casa de banho para o «número dois», como se diz na gíria anglo-saxónica, que é uma coisa que dá um jeito incrível para descrever aquilo que em português soaria sempre a uma expressão escatológica, deprimente, mal-sonante e patética (é uma questão de dizerem a expressão, com palavrão ou sem ele…). E aí, a coisa complicou-se. Não é que alguém de preclara imaginação e duvidoso sentido estético resolveu substituir os sanitários do segundo andar por um modelo desenhado e pensado por outro alguém não menos imaginativo, e deparo com uma sanita… quadrada? Não acreditei no que estava vendo, mas o aperto não deu para pensar muito. Deu para sentar e experimentar a sensação idiota de acomodar uma parte do nosso corpo, manifestamente circular, numa espécie de «vaso» absolutamente quadrado. É que se poderia chamar de quadratura do círculo. Traseiro, mas círculo, que já a minha mãe dissera que eu nasci muito perfeitinho.

Já vi muita coisa. Mas, francamente, fazer do traseiro um quadrilátero é coisa que não lembra ao careca e daqui deixo o meu protesto lavrado contra o brilhante autor de tamanha «caganifobetia». Por muita boa vontade que tenhamos. É que não se faz. Literalmente.

Nota: Qualquer semelhança deste post com a realidade NÃO é coincidência. Aconteceu mesmo e as sanitas quadradas estão lá para o provar.
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segunda-feira, junho 27, 2011

Álvaro is a jolly good fellow



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O Álvaro está deslumbrado por ser Álvaro e tratar o seu colega por Mark. São ambos professores catedráticos e eu concordo com o Álvaro no sentido de que os anglo-saxónicos cultivam mais o nome que o título. É saudável, é linear e assim é que deve ser, ao invés do que se passa no nosso país em que somos todos engenheiros, doutores e professores.

Falo por experiência própria porque também eu tive a felicidade de me entrosar na forma de valermos pelo nome, enquanto, profissionalmente somos engenheiros, doutores ou professores. Mas tenho de discordar da forma simplista com que o senhor ministro da economia vulgariza o Estado e os seus agentes primeiros, ao dar-se a tratar pelo nome. Um ministério não é uma faculdade e uma universidade não é um país. Há um módico de respeito e dignidade que em coisas de Estado tem de ser mantido. Não me passa pela cabeça eu pedir uma audiência ao senhor ministro da Economia para, por exemplo, discutir um projecto de um investimento e dizer: Ó Álvaro dê aí uma olhada e se tiver alguma dúvida a gente fala com o Vítor. Em última análise levamos o assunto ao Pedro para o mostrar ao Aníbal. Para além de que quem nos ouvisse poderia penar que somos todos um grupo de «good fellas»!
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domingo, junho 26, 2011

Com a devida vénia (ainda as presidentAs)




[4331]

Se Assunção Esteves não foi estudanta da Faculdade de Direito, custa-me aceitar que possa ter sido concorrenta ao cargo de Presidenta da Assembleia da República. Todavia, nada tenho a opor ao facto de ser ex-juíza do Tribunal Constitucional. Em todo o caso, depois do discurso que fez, por mim Assunção pode ser o que ela quiser. E se fizer questão disso, até direi que é uma excelente (ou deverei dizer excelenta, Excelência?) Presidenta. Agora, estou certo de que, sendo Assunção jurista, não me obrigará a reconhecer que eu próprio sou um juristo. Da mesma forma que nunca me ouvirão tratar Cavaco Silva por Seu Excelêncio.

No Delito de Opinião, pelo Rui Rocha


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sábado, junho 25, 2011

Respeitinho







[4330]

O governo cessante leva a sua marca até ao fim. Não sei se o protocolo é tão rígido que não permita um ministro receber um secretário de estado. Por mim, a recusa de Gabriela em receber Francisco José Viegas só tem a ver com mau-perder, soberba ou, quem sabe, falta de chá. É pena! A criatura é bonitinha e merecia melhor despedida...
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sexta-feira, junho 24, 2011

Até amanhã



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Crítica? Ou fábrica de água a ferver?



[4328]

Não gosto dos abúlicos. São inertes, parecem até desprovidos de matéria. Mas uma coisa é a abulia e outra, bem diferente, o sentido criterioso de justiça e a honestidade intelectual. Não vale criticar só para que não nos acusem de abúlicos. E, todavia, aquilo que Pacheco Pereira tem vindo a fazer ultimamente aproxima-se, infelizmente, deste desiderato. Criticar por criticar ou em obediência àquilo que se convencionou ser uma forma de existir em política é pedante e releva de uma atitude política em que o «reviralho» fez escola. É batota. Se em determinadas épocas o «reviralho» pode ser plausível como uma consequência própria do irrequietismo juvenil, naquela altura em que queremos tudo depressa e bem e costumamos levar uma data de tempo a remediar o que fazemos de mal, já há fases de nossa vida em que a maturidade, a honestidade política e, até, um certo recato em adejarmos as asas da vaidade pessoal, deveriam constituir a matriz desejável do nosso comportamento.

Admirador indefectível do talento, cultura e inteligência de Pacheco Pereira, receio que nestes últimos tempos ele se esteja a deixar dominar por uma síndrome «reviralhista» a todos os títulos condenável. Refiro-me, naturalmente, à sua conduta na Quadratura do Círculo.
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Abaixo o preconceito e viva o ambiente



[4327]

Perfila-se mais uma oportunidade vanguardista de produção acelerada de uma mistura de pelos púbicos com exsudações corporais ao nível das partes pudendas, homogeneizando uma massa pilosa e de escamas dérmicas sobre o selim das bicicletas a usar em mais uma marcha ciclista de gente pelada, em nome da luta contra o preconceito e a favor do ambiente, segundo o Público de hoje. Desta vez, em Lisboa. Como para o dia da ciclocoisa se prevê 40º C, espera-se uma produção generosa da matéria descrita e tenho a certeza que os preconceitos vão diminuir e o ambiente vai melhorar consideravelmente.

São estas iniciativas que me comovem imenso e me fazem acreditar num mundo melhor. Força na pedalada.
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Lembram-se?



[4326]

Este vídeo, via Blasfémias (ir ao post e clicar lá directamente, não consigo link directo) é um documento excelente sobre a palhaçada em que vivemos durante praticamente seis anos, sob o arbítrio e a irresponsabilidade de um primeiro ministro parolo e deslumbrado com o poder. Muito pouco tempo depois deste episódio, a euforia «Chavista/Socratista» deu nisto e os estaleiros de Viana do Castelo estão em estado de insolvência, os administradores são enxovalhados e ameaçados de agressão e metade dos trabalhadores vão, muito possivelmente, para o desemprego.

Este vídeo é um retrato vivo daquilo a que estivemos sujeitos por força de uma palhaçada (no mau sentido, há palhaçadas dignas e excelentes) a que fomos sujeitos pelos votos que nós próprios demos a esta camarilha que esteve no poder até há dias.

Não nos passe pela cabeça que a maleita passou. Há gente por aí que canta as virtudes de Sócrates e que gostaria que o «forró» continuasse. Podiam era ir fazer a festa para outra freguesia, uma freguesia venezuelana, por exemplo.

Nota: Acabei de ouvir nas notícias que as escutas telefónicas a Sócrates foram «recortadas» do processo Face Oculta. O advogado de Penedos diz que o processo foi «esquartejado», palavras dele. Para quem duvida que Sócrates ganharia um lugar na História fica aqui mais uma achega.
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quinta-feira, junho 23, 2011

O costume





[4325]

Há poucos anos atrás estudava-se os substantivos comuns de dois e os epicenos. Não estou certo que isso hoje ainda se faça, a avaliar pela forma como hoje se fala e dos humores dos furiosos dos acordos ortográficos.

Isto a propósito da eleição de Assunção Esteves para presidente da Assembleia da República, e a nossa comunicação social e os nossos comentadores terem enxameado o éter com presidentes e presidentas. Um despropósito que eu levo à conta de dois factores princiais – a ignorância pura e dura e a pulsão incontrolada do politicamente correcto.

Não sei se existe uma lista dos nomes comuns de dois (a língua francesa, por exemplo, tem uma lista completa dos femininos irregulares...), mas sei que muitos deles se mantiveram ao longo dos anos até começarem a ser adulterados, como o caso da juíza que, de repente, tem honras de completa generalização e de constar na maioria dos dicionários como tal. Já presidenta é coisa mais recente, pelo que não deveriam restar dúvidas que presidenta é uma designação incorrecta. Apesar de uma doutoranda em Português, brasileira, ter sido entrevistada por uma televisão e afirmado que presidenta é um termo correcto. E porquê, perguntaríamos nós? Porque, disse ela, se um presidente for uma mulher, então deve ser presidenta (convenhamos que para argumento de um doutorando a coisa está assim para o fraquinho e inquinada!). Do que ouvi, nenhum jornalista lhe perguntou se uma senhora numa sala de espera de um médico é uma pacienta ou se uma mulher intérprete de línguas é uma intérpreta ou se as raparigas passaram a ser estudantas. Mas já estou habituado à pobreza franciscana dos nossos agentes de comunicação social.

Apesar de tudo parece que o bom senso imperou e a maioria designou Assunção como presidente. E assim é que deve ser. A menos que aconteça aos presidentes o que aconteceu aos juízes, já que juíza passou a constar em grande parte dos dicionários e já quase ninguém o discute.

PS – Um abraço a um amigo que tem uma noção pós-moderna do português, i.e. sabe os termos correctos, mas é apologista de uma forma de falar confortável e entendível, assim tipo o Natal é quando nós quisermos. Ele acha que se pedir trezentos gramas de fiambre numa charcutaria não entendem e trezentas dá muito mais jeito de articular.
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quarta-feira, junho 22, 2011

Começaram os dias mais pequenos



[4324]

Começou ontem o Verão. Há uma incompreensível magia no registo do solstício de Verão, o que representa uma tremenda injustiça para as outras estações do ano, cada qual com as suas virtudes, belezas, os seus perigos e mistérios. Nem melhores nem piores que os do Verão. Mas o Verão de certo modo simboliza a civilização ocidental que reage e funciona nos pressupostos de uma região geográfica habitualmente fria onde os cidadãos, naturalmente, esperam e celebram o calor. Esquecendo as realidades climáticas do resto do mundo e marcando o passo na dinâmica das estações do ano.

Os ingleses, como habitualmente tinham de ir um pouco mais além em matéria de marcar o passo nas coisas e os solstícios, afinal, não poderiam ser excepção. E é assim que tinham de ser eles a ter um monumento megalítico no qual se pode observar que a 21 de Junho de cada ano o sol nasce exactamente sobre a pedra principal de Stonehenge.

Por mim, homem caldeado em penumbras, névoas, morning mist, conforto do frio e o brilho fotográfico do sol do inverno, registo com satisfação o dia em que, de novo, os dias começam a ser mais pequenos. Hoje o dia já foi mais pequeno que o de ontem. E nestas andanças climáticas não posso, como habitualmente, deixar de saudar a minha boa amiga Ana. Porque em matéria de verões e de calores somos farinha do mesmo saco.
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terça-feira, junho 21, 2011

Stryke





[4323]

A má-língua dirá que é uma segunda escolha. A mesma má-língua que achava a escolha de Nobre um desastre. Pessoalmente, segunda, terceira ou milionésima escolha, é refrescante ver uma cara bonita como segunda figura do Estado Português, por muito machista que esta opinião possa parecer, pertença de uma figura credível em termos de cultura, competência, um relevante registo de serviço público e visão da política e de Estado.

Passos Coelho poderia ter-nos poupado ao homem da galinha a fugir da criança esfomeada, identificado com a luta do Bloco, desalinhado dos Partidos, alinhado com as ideias do PSD e a oferecer a cabeça às balas. Poderia ter poupado o próprio Nobre à humilhação e ter trazido logo Assunção Esteves.
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domingo, junho 19, 2011

O novo governo



[4322]

Do que vi e ouvi dos novos membros do governo, tenho de me regozijar com alguns pontos que considero essenciais:

1 – Falam português correcto e escorreito;
2 – Têm currículos de insuspeita competência;
3 – Não falam aos gritos, são educados, exprimem-se com fluidez e não usam aquele discurso estereotipado de falar para o «rebanho» e dizer-lhe, quando ele se mexe muito ou tresmalha, «que se habitue»;
4 – Todos têm uma situação profissional que lhes permite deixar o governo sem grandes constrangimentos. Alguns deles vão até ganhar salários bem mais baixos;

Agora preparemo-nos para a gritaria dos paineleiros do costume, quase todos afinando pelo mesmo diapasão. Pouca experiência, ultra-liberais (para uns, para outros são neo, um dia destes vou esgravatar para ver se descubro as diferenças, como fiz com o célebre «economicista») e meros executores. Pelo que já ouvi nos comentários e análises disponíveis dá-me ideia que o elenco é prometedor. Entenda-se, o que ouvi de mal.
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Eixo do Mal (versão higienizada)





[4321]

Rui Ramos é indispensável, repito, in-dis-pen-sá-vel no Eixo do Mal. Isto se se pretender dar um módico de higiene à coisa e não se deixar aquele grupo de gente, sozinha, a dizer disparates. Ontem Rui Ramos não permitiu a Daniel de Oliveira o seu habitual discurso e foi brilhante aquela sua observação ridicularizando DO por não confiar em membros do governo porque não tinham experiência e criticar o futuro ministro da saúde porque tinha experiência. Mais, lançando-lhe o opróbrio da suspeita, por ter sido administrador da Médis. Rui Ramos reagiu, coisa que o único que, aqui e ali, poderia dar sinal de o poder fazer mas raramente faz, refiro-me a Luís Pedro Nunes do Inimigo Público... e reagiu muito bem. Obrigou DO a meter a viola no saco e a reduzir-se à sua condição de «entertainer» destes debates por via das suas faculdades histriónicas.

Sabe bem ver algum bom senso nas continuadas sessões monocórdicas, patéticas, deste programa. Ontem também lá esteve João Galamba, uma personagem de quem eu ainda não consegui perceber os méritos que o têm içado à condição de figura pública. A gente ouve-o, fica com uma vaga noção de que o moço é de esquerda mas, poucos minutos depois, o seu verbo enrolado e absoluta carência de um fio condutor de substância encarrega-se de o passarmos olimpicamente a ignorar. Tanto ele se desdiz a ele próprio. As suas considerações (???) sobre o futuro ministro da Finanças foram um bom exemplo, Duvido que ele próprio, João Galamba, seja capaz de reeditar o seu raciocínio, sobre Vítor Gaspar. Há ali uma parte em que diz que uma das desvantagens de Vítor Gaspar era estar na Europa e saber pouco sobre Portugal. Perante a argumentação de Rui Ramos que lhe «explicou» porque é que esse factor era uma das principais vantagens, já não disse mais nada.
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Dos amanhãs que cantam, versão «amanhãs de beleza única descentralizada e género desmistificado»



E digam ao Presidente que só caso com um lateral se ele for do Benfica


[4320]

Bruno Maia, um médico dirigente do Bloco de Esquerda, acha que vive num país onde faz falta uma data de coisas. Entretanto, parece que um dia destes acordou pensando ter tido um sonho, no qual ele vivia num Portugal onde:

- Havia, finalmente, um ministro gay assumido;
- Uma Procuradora Geral da República lésbica assumida
(a Procuradora, não a República, isso lá poderá vir com o tempo...)
- Um Governador do Banco De Portugal transsexual;
- Um guarda redes do Porto casado com um lateral do Sporting.

E o Bruno entrou também numa casa com uma tabuleta à porta dizendo: «Descentralização do desejo e da sexualidade ostensiva da beleza única». Lá dentro, amontoavam-se feios, gordas, manetas, rastas, velhas, lingrinhas, brutas, motoqueiros, punks, cegos, surdos, ruivos, ciganos, avozinhas e japoneses, tudo praticando sexo.

Sexo seguro, espera-se. Já agora, cadê os pretos, os amarelos, peles-vermelhas, esquimós e os índios da Amazônia? Muitos deles, consta, boas quecas. Mas o que viu, sonhando, já não foi mau. Bruno sorriu e, feliz, fantasiou-se nos braços de um motoqueiro e adormeceu de novo.

Nota: Não resisto a um directo na TV, agorinha mesmo, da Praça da Figueira, onde decorre uma marcha do orgulho gay, onde o entrevistado afirma que na direita também há gays. Disse.



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sexta-feira, junho 17, 2011

O piquenique que faltava








[4319]

O Zé-faz-falta continua a fazer das dele. Agora tratou de organizar um mega piquenique em defesa da produção nacional, seja qual for a relação que a produção nacional tenha a ver com uns pastéis de bacalhau comidos ao ar livre. E, para isso, achou que o local mais indicado seria a Avenida da Liberdade. Amanhã teremos uma multidão carregada de pataniscas e arroz de pimentos, bolas e folares, quem sabe até umas febras para assar, a caminho da avenida mais nobre de Lisboa, para mais com o engodo da distribuição de cerca de cinco toneladas de frescos. Tudo em nome da produção nacional.

O Zé-faz-falta, em face de uma série infindável de protestos pela escolha do local, já veio a terreiro explicar as vantagens do piquenique e sobre o local escolhido até disse que uma vez nos Campos Elísios houve uma coisa do género. Como não disse o género da coisa e enquanto eu estava suspenso a tentar adivinhar o que teria sido… ele disse que em Lyon também ia haver. Presumo que vai haver «uma coisa» em Lyon, também.

A parolice inerente ao evento seria nada, não fosse a carga ideológica subjacente a esta idiotice. Coisa que o Zé-faz-falta maneja na perfeição. Resta dizer que não tenho nada contra os piqueniques. Coisa simpática e saudável. Mas dispondo Lisboa de locais como Monsanto, por exemplo, ficamos todos a pensar como é que a Câmara (objectivamente o seu presidente, já que muitos vereadores parecem estar contra) não se opõe aos desmandos do Zé-faz-falta que agora deu-lhe para aqui. Isto porque lhe tem que dar para qualquer lado e para qualquer coisa, de vez em quando. Nem que para isso tenha de incomodar uns milhares de lisboetas, atrapalhar o trânsito todo (desde ontem que muitos motoristas vociferam contra a ideia, alguns ameaçam até «cortar» a avenida em sinal de protesto) e, aposto, promover a danificação de muitos canteiros da avenida. Curiosamente os mesmos canteiros que ele, o Zé, diz que poderão vir a ser arranjados com fundos promocionais do Continente, que parece ser o patrocinador da iniciativa.
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Em defesa do «copianço»




[4318]

O bruáá que vai por aí sobre o copianço detectado nas provas do CEJ faz-me um bocado de confusão. Porque, de repente, fico com a sensação de que somos um povo impoluto, imaculado, flawless, que não só temos a alma limpa e o corpo lavado como nos arrepiamos de vergonha pelo facto de uns jovens candidatos a juízes terem copiado.

Tenho para mim que deve haver pouca gente que alguma vez não tenha copiado. Sem que isso tenha afectado, mais tarde, o seu desempenho profissional na carreira ou condicionado os seus valores éticos e de integridade. Copiar era, por vezes, uma muleta necessária, até, para que uma avulsa noite de farra, por exemplo, não comprometesse um ano de curso. E depois… isto passa-se na juventude, já por si atreita a excessos. Por mim, confesso que fiz umas cábulas um par de vezes e não foi por isso que deixei de me reger por rígidas normas de conduta pessoal no desempenho das minhas funções ou no relacionamento com as pessoas.

No caso vertente devo até confessar que me preocupa muito, mas muito mais, o circunstancialismo e as pressões que acabam por envolver praticamente todas as classes profissionais e que não deixam de lado os juízes. Há exemplos recente de pressões, compadrios, movimentos suspeitos, favorecimentos, claquismo (perdoe-se-me o palavrão) político, arranjos e, até, claras injustiças cometidas àqueles que ousam afrontar o sistema.

Portugal é fértil neste tipo de situações e, por mim, habituei-me a desconfiar de muita gente ligada à justiça. Gente que, porventura, nem nunca terá copiado em exame algum.
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quinta-feira, junho 16, 2011

Não há como esquecer...



[4317]

Ainda a propósito do post anterior, não tenho como evitar lembrar-me de Mário Soares e das suas tiradas «reviralhistas«, tipo «o direito à indignação». Eu que nunca duvidei do meu direito em me indignar, sempre que as circunstâncias o justificavam, irritava-me solenemente com esta escola socialista feita pelo povo e para o povo, em nome do povo e contra tudo o que pudesse chatear o povo.

Era uma acção pedagógica e destinava-se, em última análise à construção do homem novo, correcto, solidário e sempre pronto a rejeitar e escorraçar os poderosos e, de caminho, os opressores. Já agora, as forças policiais eram opressores também... uma coisa que sempre me «encanitou»… enquanto noutros países as pessoas se habituavam a ver na autoridade uma instituição para manter a ordem pública e de ajuda aos cidadãos nas mais variadas circunstâncias, neste país refogou-se, até muito tarde, a autoridade com a escória, com o inimigo e a espuma barrenta do salazarismo. Lembro-me bem das tirada de Mário Soares para a polícia e até mesmo de Jorge Sampaio, outro expoente da esquerda iluminada, especialista em pensamento filosófico e que também não gostava de polícias nem do défice, pelo menos até descobrir que a tuberculose era um bacilo de fácil contágio, que as civilizações deviam ter uma aliança qualquer patrocinada pelas Nações Unidas e que ele, Jorge Sampaio, estava ali era para ajudar.

Hoje há muitos indignados por aí. Curiosamente em países governados por socialistas, como a Espanha, a Grécia e Portugal. É caso para dizer que quem come do que gosta deveria sentir-se pleno. Só é chato é o socialismo conduzir os países para situações de ruptura económica e, ainda por cima, esses países chatearem meio mundo. Em Portugal, para já, pelo menos, os socialistas vão de férias (um deles vai estudar filosofia para Paris que é uma coisa que lhe deve estar a fazer imensa falta), em Espanha aquilo anda preso por arames e na Grécia o primeiro-ministro já se dispôs a sair… e entregar o poder a uma figura consensual.

É o costume. Sentam-se na sanita e quem vier a seguir que acenda a vela. Até um dia. Um dia em que os outros países se cansem e nos mandem chatear o Camões. Ou que digam aos socialistas que nos entretenhamos a brincar uns com os outros. A brincar ao socialismo, está bem de ver, que eles já não estão para nos aturar.

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Ai que o sacana do cego é deputado. E «convergente» ainda por cima...




[4316]

Há casos em que nos questionamos se as nossas regras de direitos e garantias que emanam dos regimes democráticos e permitem desmandos animalescos como os relatados neste episódio não poderiam ser substituídos por uma eficiente e didáctica «carga de porrada».

Talvez estes «indignados» resolvessem ir indignar-se para outra freguesia. De preferência em países onde a indignação não é permitida. Levavam uns «activistas» com eles, para dar colorido à coisa, e ficávamos todos bem servidos e felizes por termos nascido.


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quarta-feira, junho 15, 2011

Portugal dos Pequeninos




[4315]

O Portugal dos Pequeninos completou 8 anos. Mesmo um pouco atrasado, um grande abraço ao João de um leitor indefectível e um brinde com espumante, por causa da crise.

Tchin Tchin
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Foleirices



[4314]

O mínimo que se poderá dizer deste episódio é que algumas almas socratistas mantêm o seu estatuto foleiro, para usar um termo tão do agrado de José Lello. Mais grave é que são foleiros e estão convencidos que estão a ser xico-espertos. O que, por si, para além de foleiro é duma parolice acabada.

Louve-se a atitude de Francisco Assis, candidato a secretário-geral do Partido, que bem procura arrefecer os ímpetos foleiros desta rapaziada.

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Pudor e impulsos inconfessáveis




[4313]

Mudei de gabinete. Nas instalações anteriores eu dispunha de uma casa de banho normal, espaçosa, arejada e confortavelmente recatada de olhares indiscretos. Por força de uma janela ampla mas suficientemente alta, através da qual seria impossível ser visto em preparos íntimos por que todos temos de passar, em obediência aos sábios mecanismos com que a natureza nos apetrechou.

No gabinete actual, num segundo andar, disponho de uma magnífica vista. Tenho o zimbório da Estrela aqui à mão de semear (*), uma frondosa vegetação que inclui acácias e jacarandás e o Jardim da Estrela, ao fundo, traz-me a sensação gratificante de tranquilidade e, confesso, de memórias recentes muito boas. Mas, nestas coisas há sempre um «mas», continuando eu a ter de obedecer às solicitações orgânicas de que há pouco falei, passei a frequentar a casa de banho correspondente. Igualmente ampla, arejada e com jorros de luz que entra por uma janela enorme… a meio metro do chão.

Com a embalagem que trazia das instalações anteriores não reparei nesse pormenor e agora, com o tempo de Verão e as janelas abertas, dei comigo, um dia destes, numa prosaica posição que me dispenso de pormenorizar e fruindo o cenário através da janela escancarada. Ao fundo percebi um alinhamento de prédios, perante os quais eu estava totalmente exposto, cheios de janelas e numa delas vislumbrei a existência de um vulto que, perceptivelmente, me observava. Passada aquela sensação de revisita a Woody Allen e da Lapa feita Manhattan, corri a fechar a janela. Tranquei-a, sentei-me de novo e nada mais foi igual. O meu corpo levou algum tempo a recuperar e todo ele reagiu ao episódio. Desde o encarquilhamento da pele ao próprio peristaltismo. E quedei-me a pensar no que haverá de tão estranho que nos carrega de pudor no desempenho das nossas funções orgânicas e, também, no que é que levará uma pessoa a achar de interessante num homem sentado numa sanita – ao ponto de se colocar numa janela a observá-lo.

Aprendi a lição e agora, sempre que vou à casa de banho, asseguro-me, cuidadosamente, de que a janela está bem fechada. E descartei a sensação anterior do desfrute magnífico do ar fresco do exterior para me sujeitar à atmosfera intestina (apetece dizer, literalmente), apenas porque não me dá jeito ser observado no exercício das minhas funções vitais. Por mais vitais e nobres que sejam. São minhas e não se fizeram para ser escrutinadas por um cidadão qualquer mais ou menos ocioso.
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domingo, junho 12, 2011

Blaarrrgghhhhhhh...




[4312]

Trezentas pessoas em Madrid (parece que em outras capitais, também) resolveram chatear-se porque as pessoas consomem muitos combustíveis fósseis e trataram de fazer um desfile velocipédico, com pouca roupa ou, muitos deles, peladinhos da silva.

Era quase tudo homens o que, à partida, tornou a reportagem desinteressante e sexista. Em qualquer caso, a coisa pareceu-me basicamente anti-higiénica. Ver todos aqueles genitais a roçar nos selins e a produzir sucos corporais entre a derme e o cabedal do selim, para além de uma inevitável carrada de pelos suados, foi um espectáculo que não me entusiasmou por aí além. E de uma coisa estou certo. Se alguma vez, mesmo sendo as probabilidades remotas, eu comprar uma bicicleta em segunda mão em Madrid hei-de tratar bem de saber de quem era a gerinconça.
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Os meandros da homofobia



[4311]

Eu não sei se Paulo Portas é gay, hetero, bi, tri, ou sofre de sinusite. Mas sei, não sou cínico, que sobre ele de há muito corriam algumas histórias que tinham a ver com o facto de ele ser homossexual. O tempo passou e a consistência dos boatos ou verdades foi-se esboroando e qualquer pessoa minimamente estruturada se estava mesmo nas tintas para o assunto.

Mas Ana Gomes iniciou a sua série de diatribes. Maldosas, pérfidas e muito provavelmente mentirosas. Misturou alhos com bugalhos, homossexualidade com submarinos, pedofilia com sentido de Estado, misturou uma data e coisas e patenteou ódios, angústias, raivas e o mais que lhe for pela alma e pelo corpo e, a partir daí, terá conseguido aquilo que provavelmente mais lhe interessaria. De repente, parece ter-se tornado óbvio, para os mais distraídos, que Paulo portas é gay. Um caso adquirido. E isso parece ser um desiderato que serve os propósitos de Ana Gomes. O homem é «bicha» e a dignidade do Estado tem de ser salvaguardada. Porque, no meu fraco entendimento, é disso mesmo que se trata.

Ana Gomes vem agora dar emenda ao soneto e diz que não é homofóbica. Eu acho que é. Mas isto sou eu a achar. Quem sou eu para o afirmar? A verdade é que bem lá no fundo (ainda que não me perca de vontades por ir ao fundo de Ana Gomes) o caso de Ana Gomes lembra com facilidade a velha história do bêbedo encostado ao candeeiro e que grita: - Eu não estou grosso.

Eu não sei dos gostos e orientação sexuais de Ana Gomes. Mas de uma coisa estou certo. Se alguma vez isso me interessar (campo onde as probabilidades me parecem ser nulas), posso garantir que me é totalmente indiferente de quem ou do que é que ela gosta. Se é que ela gosta de alguma coisa ou de alguém. Mas isso, reforço, a ser o caso, é um problema inteiramente dela.
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sábado, junho 11, 2011

Lá como cá...




[4310]

...idiotas há. Eu não sei os pormenores, só me apercebi de que o governo brasileiro estava a ir ao bolso dos cidadãos que pagam impostos para entregarem de mão beijada a Maria Bethânia qualquer coisa como €560.000 para ela gerir um blogue sobre cultura brasileira. Alguns jornalistas portugueses questionaram a artista (teve ontem um espectáculo único, esgotado, aqui em Lisboa), mas ela achou aquilo uma intromissão na vida de cada qual e aos costumes disse nada.

Pesquisei um pouquinho e lá me apercebi do que se passava. E nada como ler esta pérola de um tal Jorge Furtado (apesar de ter já cerca de dois meses), cineasta petista (graças a Deus por cá ainda não chegámos a este ponto, ainda não temos cineastas socialistas, social democratas, democratas cristãos ou cineastas que sofrem de sinusite...), glosado por Reinaldo Azevedo, ao que parece um conceituado colunista da Veja. E vale a pena, porque estão ali bem expressas algumas enormidades que por cá fazem igualmente escola, pelo que me atrevo a afirmar que nesta coisa de socialismos mudam as moscas, mas o essencial permanece, seja em que continente for.

Jorge Furtado atinge os píncaros do ódio e o paroxismo da idiotia e questiona mesmo aquilo que porventura constitui um grande cartão de visita brasileiro, a tal nação multirracial, pele branca, coração negro, patatipatatá, como costuma correr por aí. Jorge Furtado parece-me inclusivamente ser um refinado racista, quanto mais não seja porque a páginas tantas ele, na defesa da sua dama Bethânia (que ele acha que devia ser estatizada, vou repetir, es-ta-ti-za-da!!!), chega a firmar que «... a distinção que alguns ainda fazem entre os meios cinema, televisão e internet seria engraçada se não fosse um empecilho ao desenvolvimento do país. Preconceito também contra os nordestinos. Nas críticas sobram piadas contra os baianos, quase todas vindas do mesmo gueto branco direitista no enclave paulista...»

Não sei se Furtado é preto ou nordestino. Idiota é, com certeza. Infelizmente estes Furtados vão conseguindo bem mais audiência que o desejável. Nos «entretantos», para glosar um pouco o léxico brasileiro, as alavancas do progresso e os iluminados vão recebendo centenas de milhares de Euros para manter blogues de pesquisa. Se Dilma quiser, eu faço um desconto. E prometo dar o meu melhor nas pesquisas que ela quiser. Inclusivamente sondagens sobre quantos Furtados se incomodam com os guetos brancos e direitistas do enclave paulista chateados com os nordestinos e baianos (esta é, realmente, de antologia) e quantos paulistas se incomodam ainda com os Furtados que lhes saem na rifa de vez em quando. Digamos que faço a coisa pela metade. Topa, presidente Dilma?

Nota: Vale a pena ler a parte final da crónica de Reinaldo Azevedo. Coisa mais límpida não há. Sobretudo quando se alinham artistas, cineastas e pasteleiros na mesma escala de prioridades.
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Em tempo




[4309]

O post anterior não é ficcional. Pelo que qualquer semelhança com pessoas ou actos são rigorosamente verdade. Mas há que dizer que serviu igualmente o propósito de agradar a quem recentemente me acusou de ter feito um número obsceno, seguido, de posts a falar do Sócrates.

De registar que até naquela parte em que eu digo «de quem quer bater em todos os arquitectos e projectistas nacionais», eu deliberada e escrupulosamente evitei falar em engenheiros técnicos projectistas de vivendas de emigrantes no distrito da Guarda. Um feito e uma contenção de que me orgulho.
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Ossos




[4307]

Não, não tem nada a ver com os «Ossos» da série televisiva. São ossos mesmo, aquela estrutura própria dos vertebrados e formada por tecido... ósseo, não me ocorre outra definição... conjuntivo, talvez... caracterizados por uma matriz extracelular (esta aprendi no Google) endurecida por cálcio e que, no seu conjunto, formam o esqueleto, que é aquilo que nos mantém mais ou menos em pé e, às vezes, guardamos nos armários para chatear governos eleitos, segundos casamentos ou gestores de negócios recém promovidos a directores do pelouro.

Pois hoje, e ao contrário do que é normal, acordei com ossos a doer-me. Acho que são ossos, não sei se os ossos doem, por mim sempre pensei que o que doi são os tecidos moles envolventes (carne, pele e cartilagens) mas, cá para mim, hoje acordei com dor de ossos. Eu sei que vivo num país cuja população sofre de dor nas costas à razão de 99%, distribuídos por sofrerem da coluna (terceiras cervicais e segundas lombares são vocabulário normal no português que sofre dos ossos), artroses, osteoporoses (noção errada, mas acontece) e até quem sofra do cóccix que eu não sei como é que pode doer, a menos que o quebremos ou o submetamos a perigos e guerras esforçados, para além do que permite a força humana.

Acordei com uma dor na perna. Uma dor lá dentro, moínha, chata, ao nível do fémur. Esfreguei a perna, soube bem, mas a dor ficou. Com pouca prática na matéria, já que pertenço aos privilegiados 1% dos portugueses que não sofrem dos ossos, salvo uma vez em que tive uma acidente de automóvel e parti uma rótula, não liguei muito ao assunto. Levantei-me (com a dor) e, ao sair do quarto, ensonado, esbarrei estrondosamente com o dedo mindinho do pé esquerdo na ombreira da porta. À dor excruciante que senti, seguiu-se uma sessão de palavrão de fazer corar uma claque de futebol, rangida entre dentes e com a fúria própria de quem quer bater em todos os arquitectos e projectistas nacionais e a pausa necessária para recuperar. Remoendo ainda palavrões que eu julgava esquecidos, dirigi-me à cozinha. Ensonado, perna com moínha e pé de quem acabou de sofrer uma fractura exposta e uma posterior marretada na fractura, dispus-me a fazer o café matinal. Abri a porta do armário superior, tirei a lata do café, servi a cafeiteirinha e eis que, ao levantar a cabeça, esbarrei es-tron-do-sa-men-te com o crâneo na esquina da porta do armário que tinha ficado estupidamente aberta. Como já tinha gasto os palavrões todos, limitei-me a emitir uma série de grunhos/urros/relinchos/rugidos/uivos e regougos que me ocorreram enquanto esfregava a cabeça na tentativa, vã, de aliviar a dor aguda que a pancada me causou.

Não havia sangue... esperei pelo café, a cafeteirinha borbulhou, enchi uma chávena e dirigi-me para o sofá do costume. Pousei a chávena na mesa e sentei-me. Eis que, ao sentar, senti e ouvi um «clac» nas costas, um som absurdo, horrendo e, adivinhem, seguido de uma dor esquisita nas costas.

Já lá vão cerca de trinta minutos desde o meu épico acordar. Dor na perna, no dedo do pé, na cabeça e nas costas. O pior já lá vai, estou recomposto mas receio que depois do ai, xiça, gaita e fogo que já lancei hoje (ai, xiça, gaita e fogo são uma liberdade poética que guardo para sempre que quero evitar colocar palavrões grosseiros no blogue) eu deva reconsiderar a ideia de que os portugueses têm a mania que sofrem dos ossos e que os ossos não doem. Decididamente, mudei de equipa. Dos meus honrosos 1% para os vulgares 99% em uso corrente na paróquia. Pior - acho que, decididamente, entrei na fase do «condor», como se sabe uma subdivisão da era PDI.
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sexta-feira, junho 10, 2011

Domingo, tantos de tal...



[4306]

A tentação do trocadilho é forte. Sócrates estudando filosofia em Paris e a pergunta quase automática sobre se receberá algum diploma ou certificado domingueiro. Mas não vou por aí. Vou mais pela obstinação deste homem que, temo, não nos vai largar tão facilmente. O seu discurso de despedida, «digno e bem articulado» que tocou forte o coração de tantos portugueses, o «adoro-vos camaradas» e o «amo-vos», tudo assim de supetão antes de «ir para casa tratar dos filhos» e anunciar este súbito interesse pela filosofia faz-me recear o pior e de duas uma: ou o mercado de trabalho está mesmo difícil para primeiros-ministros com o rasto que este deixou ou ele está mesmo alapado às sinecuras e penacho do Poder e começou já a preparar o seu esteio para uma candidatura à presidência da república.

Sabendo o que a casa gasta em termos de memória nacional e a tendência trágica que mantemos para acolitar este tipo de personalidades, desde já me confesso aterrorizado com a perspectiva.
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quarta-feira, junho 08, 2011

Já cansa...




[4305]

Não concordo com Assunção Cristas. Ela diz que as declarações de Ana Gomes são inqualificáveis (ouvir aqui, mas recomendo uma provisão antecipada de kompensan), mas eu acho que são de fácil qualificação. Que só não desqualificam Ana Gomes porque de há muito que ela se desqualificou através de uma dificilmente qualificável conduta, mas que qualquer pessoa minimamente qualificada consegue qualificar, remetendo-a para padrões de qualidade de há muito qualificados como abjectos.

Por mim acho que não é de perder tempo com... semelhante criatura (ia a dizer inqualificável criatura mas, repito, a sua qualidade é de fácil qualificação). Só me admiro é com o espanto que esta mulher consegue ainda causar (já agora, tentando dar um pouquinho de qualidade ao post) às pessoas. Acho que é mais curial estabelecer esta inelutável verdade sobre a dificuldade tremenda que grande parte destes socialistas, e já o referi inúmeras vezes aqui neste modesto blogue, tem de conviver com a liberdade e pluralidade de ideias e expressão. Acresce que as Anas Gomes que pululam no universo político português têm um perder tão mau como a sua índole, sempre que acham que os meios a que recorrem justificam sempre os fins que lhes convêm e almejam para as causas deles.

Os exemplos sucedem-se. A todo o momento estas criaturas dão mostras de se considerarem iluminadas por um facho divino que lhes garante a prerrogativa de cuidarem dos rebanhos. São assim uma espécie de messias auto-proclamados e de génese sebastiânica e que vão, ainda assim, conseguindo algum suporte popular. Por mim estou cansado destes exemplares. Chateiam, massacram, embaraçam, atrapalham, irritam, sobretudo quando perdem... mas nada disto seria importante se não fossem causa próxima das nossas desgraças – frequentemente na observância egoísta dos benefícios das causas deles. Repito, estou cansado. Ando a apanhar há cerca de três dezenas de anos com estes exemplares e a eles devo muitos dos problemas da nossa sociedade. Quanto mais não seja porque nos intervalos da descarga de bílis e do cultivo dos seus imensos egos se vão entretendo a escaqueirar a economia e o prestígio do meu país. Têm sido sempre assim os ciclos socialistas desde o 25 de Abril. Dão corda aos sapatos, gastam-nos e cambam-nos a seu belo prazer e depois lá têm que vir os outros colocar meias-solas. Já cansa.
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terça-feira, junho 07, 2011

A última mentira (2)




[4304]

Não resisto a respigar o ponto 11 deste post-delícia da Ana (muito medita esta mulher na pastelaria, depois sai-lhe disto…) e a propósito do meu post abaixo A última mentira:

«…Sócrates faz um discurso interminável. Deu o seu melhor. Ama Portugal e os portugueses. Ele ama-me, porra! Sinto um arrepio. E acaba a dizer que vai para casa tomar conta dos filhos. Julgo ver os olhos marejados de lágrimas de Silva Pereira mas não consigo comover-me (e eu fico sempre triste pelos que perdem – mesmo quando não os gramo: mariquices)…»
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Assim, sim



[4303]

A estrondosa derrota do BE nas últimas eleições legislativas deu-me uma particular satisfação. Espero bem que seja o estertor de um punhado de seres mais ou menos etéreos que se têm entretido a atrapalhar toda a gente, usando métodos que de há muito não deveriam estar já em uso nesta repartição, não fosse esta misteriosa pulsão que os portugueses têm para manter a sua génese terceiro-mundista e se deslumbrarem com o romantismo que emana de todas as doutrinas que condenem os ricos e poderosos à fogueira.

Com o Bloco reduzido à sua verdadeira dimensão há agora uma esperança genuina de que, em próximas eleições, deles mais não reste que a recordação das suas diatribes de pilha-galinhas e hipertiroidismo político.
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A pepineira europeia



[4302]

Há quem fale em campanhas negras contra os países do sul da Europa. E que qualquer episódio como este, recente, dos pepinos espanhóis serve. Eu não creio que assim seja. Creio que a irresponsabilidade de um qualquer burocrata ou de uma qualquer burocrática missão alemã achou que morreram um punhado de alemães por causa de uns pepinos. E esses pepinos só poderiam ser espanhóis e nunca, por exemplo, holandeses que, como se sabe, são também grandes produtores desta cucurbitácea.

O que se passa é que há um arreigado convencimento da menoridade dos países do sul europeu, por parte dos indígenas da europa central e do norte. Para isso contribuimos os sulistas, com um conjunto de acções e mentalidades nesse sentido, e os centrista/nortistas com um indisfarcável complexo de superioridade perante os bárbaros mediterrânicos. E, nessa base, se um alemão morre porque comeu um pepino, a culpa só pode ser de um espanhol, grego ou italiano. O português talvez escape porque alguns alemães não sabem que Portugal existe e os que sabem nem lhes passa pela cabeça que os portugueses saibam cultivar pepinos.

Fica ainda a estupefacção pelos resultados económicos catastróficos que um punhado de burocratas idiotas pode causar, sem qualquer sentido de responsabilidade e com a superficialidade própria de quem nada mais sabe fazer que parir normas e decretos e aplicar a sua letra de forma. Fauna de que a Europa, nesta fase, está realmente cheia.
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A última mentira



[4301]

Peço desculpa por destoar da onda de simpatia que varreu uma considerável parte do país, por força do último discurso de Sócrates. Que foi muito digno. E bem articulado. Por mim, terá sido a última mentira de Sócrates. Um discurso que ele não desejava e que estava longe de sentir genuino. Sócrates fez aquilo que melhor sabe fazer. Estender a sua pulsão manipuladora pelas gentes que um dia, quem sabe, se lembrarão desta peça de oratória lamechas e lhe darão o voto para qualquer coisa que por aí venha mais tarde. Quem sabe se naquela mente brilhante não perpassa a perspectiva de uma presidência da República. E provavelmente, nessa altura, a memória dos portugueses manterá o registo deste seu último encadeamento vocabular que lhe granjeou uma onda de simpatia final.

Um discurso ao bom estilo de Sócrates. Que, apesar de tudo, ia deitando tudo a perder quando uma jornalista meio nervosa e inábil da Renascença lhe ia fazendo entornar o caldo. Faltou pouco para deitar a aura de santo às malvas e deixar vir ao de cima o ranger de dentes do animal feroz. Mas teve o mérito de se conter e de obrigar a jornalista a repetir a pergunta, o que aquela fez com redobrado nervosismo e consequente perda de eficácia.
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domingo, junho 05, 2011

Saúde



[4300]

Fim de pesadelo. Vai-se embora o responsável pelo período mais negro da nossa história após o 25 de Abril. Espatifou a economia, deu tratos de polé à decência e dignidade, foi um reconhecido enxovalho para todos nós internacionalmente e mentiu todos os dias. Uma personagem para esquecer. Rapidamente.

ADENDA: Uma vez mais as empresas de sondagens e a maioria da comunicação social portaram-se muito mal. Andaram a empatar com o tal empate técnico (há especialistas na matéria que acham que isto beneficiaria o PSD porque impulsionaria os seus militantes a ir votar, eu não sou adepto dessa opinião, acho que com estas habilidades se cria uma dinâmica de vitória, sobretudo quando se trata de Partidos com uma militância reconhecidamente mais activa)até já não terem outra alternativa, um par de dias antes das eleições, de mostrarem sondagens mais fidedignas. Pouco sério, é o mínimo que posso dizer.
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sexta-feira, junho 03, 2011

Amanhã: Dia de reflexão




[4299]

Reflectir para quê?


Nota: Este post foi escrito às 23H59 do dia 3 de Junho de 2011. Estritamente de acordo com a lei e no respeito total pelas reflexões de cada um.


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Uma questão de higiene (3)



[4298]

Faltam dois dias.

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Strike free flying



[4297]

A Ryanair mandou 10 rosas vermelhas à TAP e uma mensagem “Nós amamos o SNPVAC” (o «amamos» representado porum coração). O resto da notícia está aqui. Atentemos na singeleza com que a Ryanair afirma que o sindicato está tristemente equivocado e iludido. Depois queixamo-nos.

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A fraude informativa das nossas televisões



[4296]

Hoje tive uma experiência interessante. Tive necessidade de me deslocar de comboio de Cascais para Lisboa (circunstancialmente, o meu carro pernoitou em Algés). Para minha surpresa, cheguei à estação e havia greve dos maquinistas. Das cinco da manhã às nove. Como eram 09:10 achei que a greve estaria terminada. Não estava. O primeiro comboio a sair de Cascais seria às 12:48. Deambulei pela estação, tomei café, li o Destak, o Metro e outros jornais gratuitos da nossa praça e lembrei-me de greves anteriores, durante as quais as nossas televisões, coincidentemente, só pode, esbarram sempre com pessoas que acham as greves muito bem. Que é preciso respeitar os interesses dos trabalhadores, que a greve é um direito constitucional, etc., etc., enfim aquela listagem completa da bondade das greves.

E é aqui que mora a surpresa. Passeei-me pelas centenas de pessoas que iam viajar e não ouvi um único comentário semelhante aos que normalmente se ouve nas televisões. Que os maquinistas deviam era ir todos para o c…, que os f... da p... ganhavam tanto como os pilotos da TAP, que os sindicatos eram uma vergonha, que este país está a saque, se foi para isto que se fez o 25 de Abril e toda uma série de impropérios a enfeitarem a verdadeira angústia daquelas pessoas que aguardavam o transporte. Pensei, assim, como as televisões têm um papel fulcral na passagem de uma imagem falsa e de como elas gostam de se arvorar em espelho de uma ideologia desejável e de uma mentalidade correcta da população. Até entendo as razões desse procedimento, mas não deixa de ser uma atitude condenável e estruturalmente «socialista». E é mentira. O que ouvi foi o que referi acima. Para não falar de um comboio (o primeiro do dia, às 13:00) apinhado com as pessoas com os nervos à flor da pele, repetindo os apupos e com cenas degradantes em cada uma das estações em que o comboio parava (parava em todas), pela simples razão de que não cabia mais ninguém. Em Algés saiu a maioria das pessoas. Muitos dos passageiros batiam com violência nas vidraças das cabines dos maquinistas e insultavam-nos.

Logo à noite, provavelmente, uma reportagem do exterior mostrará uma jovem compostinha dizendo que temos de respeitar os direitos dos trabalhadores.

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quinta-feira, junho 02, 2011

Uma questão de higiene (2)


[4295]

Faltam três dias.


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(Des)empate técnico

Sportinguista, anti-benfiquista, Socretino, anti-Passista, um bom exemplo de empates técncicos (isto do futebol ajuda bem a conhecer as pessoas).


[4294]

Ou é da minha vista ou a comunicação social anda mais cautelosa e maneirinha. Da euforia do empate técnico com que nos bombardeavam a todo o instante, passaram a um registo «tufinha» e simpático e até as imagens de Sócrates passaram a ser diferentes (mais feionas) na televisão.

Entretanto as empresas de sondagens iniciaram igualmente um exercício desmultiplicador de razões técnicas para o PSD ter, finalmente, descolado do PS. E explicam-nos didacticamente essas razões para a descolagem. Cá por mim foi do tempo e de outras coisas boas. Está sol, a selecção joga esta Sábado, os pepinos portugueses são de confiança e não têm bactérias malvadas, o Sócrates anda rouco e o povo, assim como quem vai de caminho, resolveu empurrar o PSD para a descolagem.
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Mente até ao fim



[4293]

Sócrates foi apanhado na sua última (torpe) mentira. As mentiras deste homem já se instalaram livremente nas vias da nossa resignada tolerância, Mas convenhamos que esta última, entenda-se ter baseado grande parte da sua campanha eleitoral no pressuposto de que o PSD queria baixar a TSU em 4%, coisa que ele, Sócrates, de todo rejeitava, ainda que acedesse em estudar a situação, quando em 17 de Maio havia já um acordo assinado onde se previa uma major reduction da taxa, esta última mentira, dizia eu, ultrapassa em muito o esperado, mesmo de uma criatura para quem a decência e integridade são palavras vãs. Simplesmente repulsiva a forma como Sócrates conduziu esta matéria.

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quarta-feira, junho 01, 2011

Uma questão de higiene



[4292]

Faltam quatro dias.
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O doce sabor das azedas





[4291]

Nem sempre o azedo é tristeza. Nem sempre o azedo é angústia. Por vezes transforma-se num doce sentimento de saudade e num marco de geodésia variável em que se cruzam desejos inconfessáveis.

As azedas têm um curto ciclo de vida, inevitável no seu tempo biológico. Mas elas vão se embora com um aceno de regresso marcado para a próxima época, deixando lugar e caminho aos deuses que regulam a sequência cronológica da Natureza e que gerem o departamento das coisas boas.

Esta noite sonhei com azedas. Tão azedas que levou algum tempo até me passar a ilusão do seu doce sabor a saudade.
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