quinta-feira, junho 30, 2005

Guarda-Factos



[450] -

Quinta Feira, Julho 01, 2004

Ena, tantos

E nunca tantos escreveram tão pouco

PUBLICADO POR GUARDA-FACTOS ÀS 9:41 PM Comentar (1) Referir (0)

Faz hoje um ano que apareceu este post na Blogos. Eu ainda não existia, apareci apenas uns dias depois, mas lembro-me bem desta entrada dos Guardadores de Factos.

Receio que poucos posts como este acima - e que marcou o inicio do GF - pudessem ser tão apropriados ao que se passa no momento presente com
a Prima, a Francisca, o JoãoG, o Filipe e o Diego.

Não sei se continuam, se se ficaram em copas (nos copos?) mas "de qualquer das maneiras" (esta aprendi na TV e é para o JoãoG) foi um ano de posts excelentes, cheios da verrina inteligente da Prima, do humor do JoãoG, da elegãncia e profundidade da Francisca e da rebeldia do Diego. O Filipe, apareceu pouco mas a amostra era excelente.

Por isso mesmo aqui fica uma saudação amiga com um grande abraço para os guardadores e um beijinho para as guardadoras de um vosso indefectivel leitor e admirador.

E seria óptimo que eu daqui por um ano estivesse aqui a dizer a mesma coisa.

Tchin Tchin




Um miminho para Elas

Roubo Descarado



Imagem despudoradamente roubada daqui

[449] – Este homem além de ser um exímio criativo, parece ser fixe (que nem o Soares, mas noutro registo…) e tem o condão de me dispôr bem com a sua criatividade e bom gosto. Ó Inc, não estou a dar graxa nem a preparar-me para te pedir dinheiro enprestado. É genuino. E na hora que passa, receio mesmo que por um dia destes, quando o S. Pedro quiser desligar o interruptor, o mesmo tenha "ido" no arrastão de Carcavelos.
Um abraço e o meu fígado hoje vai funcionar melhor depois de ter visto esta imagem.

quarta-feira, junho 29, 2005

A Latitude da Lata

[448] - Por mais que tente, não consigo esquivar-me a reflectir, desde manhã, sobre esta declaração.

"…de nada ou quase nada adiantará mudar a lei, se os médicos do SNS continuarem a ter uma interpretação tão lata da objecção de consciência…"

A propósito da intenção do Ministro da Saúde em encaminhar para o privado a prática do aborto legal, esta frase foi proferida por Miguel Oliveira da Silva, obstetra e ginecologista.

Independentemente da substância do debate sobre a interrupção voluntária da gravidez, confesso a minha perplexidade perante a facilidade com que se exercita este juízo de valor sobre a objecção de consciência de médicos à prática do aborto legal.

Patologia?



[447] - A naturalidade com que um autarca diz na televisão que havia umas cancelas e tal que eram para ser colocadas na estrada que atravessa a pista, mas que o povo não quiz porque perdia muito tempo à espera que os aviões passassem e que uma proposta de traçado de uma nova estrada tinha esbarrado salvo erro no Ministério da Defesa… ou a ligeireza com que a comunicação social estabelece comparações entre as pistas do aérodromo de Espinho e o aeroporto de Gibraltar (onde as condicionantes geográficas muito específicas exigem cancelas e semáforos permanentemente ligados) leva-me a pensar que há uma fronteira muito ténue entre o laxismo e irresponsabilidade e a patologia, pura e simples, na sociedade portuguesa.

São demasiados os casos que noutros locais suscitariam inverosimilhança mas que aqui, na paróquia, se inscrevem numa rotina fatalista. Há exemplos absolutamente extraordinários que fazem equacionar com frieza a nossa capacidade de mantermos uma vida colectiva de respeito e civismo, condições absolutamente essenciais para uma sociedade moderna.

Um país que chega a ser mote de um site com fotos e dizeres sobre "Portugal no seu melhor" poderia ser matéria risível, e só isso, se não enformasse uma aparente incapacidade de gerirmos os dias das nossas vidas e que se traduz em atraso, gritaria, confusão, ódios, caos citadino, obras, complexos estranhos e perda de vidas constantes, de que os acidentes de viação são talvez o exemplo mais apropriado se não fosse, por isso mesmo, trágico.

O workshop promovido pelo Bloco de Esquerda sobre desobediência civil é a cereja no bolo da nossa sociedade. Uma sociedade onde hoje toda a gente anda a gritar, a insultar o governo e a não querer perder direitos e benesses que lhes foram prometidos por governantes irresponsáveis. O que vale é que o PS se lembrou de promover mais uma gritaria acerca da oportunidade do referendo sobre o aborto a realizar ainda este ano. Enquanto se grita por isto deixamos de gritar por outras razões.

Esta ideia peregrina foi anunciada, curiosamente, quarenta e oito horas depois de um debate na televisão por gente que sabe fazer contas e nos deixou genuinamente preocupados com o nosso futuro.

terça-feira, junho 28, 2005

Histórias de Moçambique (3) - A Madalena



Chapéu de Polícia Moçambicana

[446] - A Madalena era polícia de trânsito e de dentro dos seus cerca de noventa quilos bem acondicionados numa farda verde e não aconselhada para o calor, oferecia um sorriso simpático a emoldurar uma dentadura brilhante de branca, que contrastava com a cor da pele. Sim. A Madalena era preta e que me desculpem os arautos do politicamente correcto, mas a rapariga era preta, não havia nada a fazer sobre isso e, mais importante, não me parecia que ela se preocupasse muito com o facto.

No meu percurso de casa para o trabalho eu passava invariavelmente pela Julyus Nyerere (para os "velhos colonos", a antiga António Enes), passava o prédio da TVM, embaixada da África do Sul, embaixada de Portugal (vinte andares cheios de gente…), Palácio dos Casamentos (uma descoberta dos países de Leste…), Rosas de Moçambique (o velho Dionísio das Mahotas…) e aí, virava para a 24 de Julho (que acho sempre se chamou 24 de Julho), com o Piri-Piri à esquina do lado direito.

Pois foi aí, nessa esquina, que eu conheci a Madalena. Mandou-me parar e, sorrindo, disse:

- Vou-te multar.

- E porquê? Perguntei eu.

Os olhos abriram-se mais ainda, num sorriso empático e ela responde fleumaticamente:

- Não trazes cinto. E a multa agora é cem mil…

- Mas, amiga (o tempo do camarada já era…), eu moro aqui perto, ali na Sommershield e ainda não tinha tempo de apertar...

- Eissshhhhhhh… Sommershield é perto? Bó… estás-me a enganar. Esqueceste, né? Sommershield é longe. Vou-te multar.

- Mas, amiga… cem mil? Amiga… como se chama?

- Madalena. Respondeu lampeira e de mento renascido.

- Madalena. Você é a autoridade, mas cem mil é muito e…

- Sim, é muiiiiiiiiito, mas é a lei. Mas se pagares agora pode ser menos.

- E agora é quanto?

A Madalena sorriu de novo, apesar de o sorriso agora ser um pouco mais sério e eu juraria que até com uma ponta de tristeza.

- Vinte mil…

Tirei uma nota de dez mil e entreguei-lha, dizendo:

- Madalena, só posso dar dez mil, vinte mil é muito.

- Está bem, mas amanhã passas aqui outra vez?

… ... ... ...

- Vai lá. (Ao mesmo tempo que guarda a nota de dez mil)

No outro dia passei na esquina do costume e lá estava a Madalena. Já nem me lembrava da cena de véspera. Quando pensei que lá teria de parar outra vez, baixei o vidro do carro e a Madalena diz-me:

- Hoje não multo. Mas amanhã passas cá?

Passei. E entreguei-lhe cinco mil. E foi assim que durante alguns meses eu pagava a minha portagem, quase diariamente, de cinco mil meticais (cerca de vinte e cinco cêntimos de dólar à altura) à minha cúmplice. Eu pagava a portagem e ela deixava-me continuar sem cinto.

Já passaram dez anos sobre esta cena da minha portagem privada, mas a recente descoberta de instruções especiais à nossa GNR avivou-me a memória. É que há corrupção e corrupção. Esta que acabei de referir tinha uma vertente humana, se me é licito usar este termo. A Madalena tinha seis filhos (a portagem diária foi dando para saber estes pormenores) que todos os dias tinham de comer e auferia um salário de cerca de quarenta dólares mensais. Talvez por isso mesmo eu descortinasse a vertente humana nesta corrupçãozinha. A milhas de distância, em significado e em geografia, de instruções oficiosas a agentes da GNR (nacional, nossa) para não multarem ministros e deputados sem seis filhos e, sobretudo, sem sorriso e com dentes quiçá amarelecidos pela nicotina de charutos pós refeições de trabalho a custo superior de um mês de salário da Madalena.

segunda-feira, junho 27, 2005

Chapeau



[445] - São posts destes que enriquecem a blogosfera. E como a excelência dispensa o acessório, a seguir transcrevo:

HETEROFOBIAS

Não há dúvida que os vários lóbis homossexuais (de vária índole e através do mundo) conseguiram moldar, frequentemente, a linguagem de modo a que esta reflectisse as suas visões do mundo.

Só para esclarecer, nesta minha menção a "visões de mundo", não estou a falar neste caso concreto da chamada - erradamente - hipótese Sapir-Whorf (dessa falarei noutra altura e provavelmente no meu blog
Humanae Litterae). Estou a falar da tentativa de controlar o pensamento através do controlo da linguagem que, aliás, é o fim último do totalitarismo que está presente no politicamente correcto.

Se há uma prova do que afirmo no primeiro parágrafo, veja-se o caso das palavras "homofobia" e "heterofobia" num dicionário português de referência como, por exemplo, o Hoauiss.

No primeiro caso, há as entradas "homofobia", "homofóbico, "homófobo". "Homofobia" é definida como "rejeição ou aversão a homossexual ou a homossexualidade".

Mas neste mesmo dicionário a palavra "heterofobia" (ou qualquer um dos seus derivados) nem sequer aparece. Se nem sequer no sentido etimológico do termo que seria qualquer coisa como "medo ou aversão irracional aquilo que é diferente" ou, num sentido mais estrito "medo ou aversão irracional ao sexo oposto", quanto mais no sentido de "rejeição ou aversão aos heterossexuais ou à heterossexualidade", que faria desta palavra o antónimo de "homofobia".

Só que a heterofobia como antónimo de homofobia existe mesmo, como se pode comprovar por esta
acórdão do Cour d'Appel de Paris (tribunal com funções mais ou menos equivalentes a Tribunal da Relação) em que o Centre Gai et Lésbien de Paris é condenado, em recurso, não só por despedimento ilegal, mas ainda por assédio e tudo porque o empregado despedido era heterossexual.

Aliás, nos seus considerandos, o tribunal menciona mesmo um "tract diffamant, hétérophobe, sur lequel figurait également le salaire de la personne visée" (o empregado que foi despedido). Aconselho aliás a leitura do acórdão pois é bastante esclarecedora.

Tal como com o conceito de "racismo", em que há muita gente com dificuldade em entender que o racismo é de todas as cores e não exclusivamente branco (e quando reconhecem que há outros tipos de racismo arranjam logo uma explicação desculpabilizadora), a aversão ou a rejeição dos outros devido à sua orientação sexual também é uma estrada com dois sentidos.

Talvez seja altura de fazer uma correçãozinha nos dicionários.

Post scriptum. Aliás os meus Webster's e Petit Robert sofrem do mesmo problema.

Rigoroso Inquérito - JÁ



[444] - Ontem vi um sketch com o Zé Pedro Gomes no Canal 1, glosando aqueles programas interactivos em que as pessoas vão à televisão queixar-se das mais diversas coisas e reclamar da justiça do nosso país.

A cena é que a mulher (do Zé Pedro) tinha apanhado com um carro na espinha, carro que lhe tinha caído do andar de cima onde o vizinho teria uma oficina na varanda. O quadro era hilariante, metia várias nuances, desde o advogado conselheiro que ia consultando o Código Penal procurando descobrir falhas, até ao juíz que ia debitando um arrazoado qualquer enquanto a vítima ( a tal que apanhara com o carro caído da varanda) se desconjuntava na cadeira por causa da lesão na espinha.

Há uma altura em que raiou uma luz de esperança para a vítima – quando o advogado conselheiro descobre que o Código previa a proibição de haver oficinas aberta a menos de 6 km de uma estação de serviço. O marido da vítima rejubilou, porque um outro vizinho tinha uma estação de serviço dois andares acima e, logicamente, a muito menos de 6 km de distância…

E por aí fora! A cena foi hilariante, talvez porque ilustrava bem o nosso linguajar neste tipo de situações, a pose dos intervenientes neste tipo de desgraças e, sobretudo, pelo absurdo de uma oficina de automóveis que o vizinho tinha aberto no segundo andar e de onde teria caído a viatura na espinha da vizinha do rés do chão. Mas… absurdo? Será tão absurdo assim? Quando hoje oiço a notícia da morte de um piloto que, ao descolar, chocou com o seu avião contra uma viatura que, nesse momento, ia a atravessar a pista, acho que o sketch de ontem tem toda a propriedade. Sobretudo depois de ouvir hoje na TSF que "…tá ver Dr Manel Acácio, aquilo é derivado das casas clandestinas que fizeram do outro lado da pista e os donos das casas deitaram a vedação abaixo para poder passar com os carros, eles têm de passar por algum lado, não é?…"

Gravíssimo é que esta situação parece que se arrastava há alguns anos.
Mas prontos. Agora abre-se um inquérito rigoroso e daqui a uns anos logo se vê…

domingo, junho 26, 2005

Histórias de Moçambique (2) - O Domoína



[443] - Na década de oitenta, o Sul de Moçambique foi fustigado por uma violenta depressão tropical, o Domoína.

Seriam talvez umas seis da tarde quando tudo começou. Durante doze horas, chuva torrencial abateu-se sobre Maputo, empurrada por ventos ciclónicos que atingiram os 180 km /h. Na manhã seguinte dei uma volta pela cidade, sob um céu cinzento leitoso. O mar apresentava uma calmaria assustadora, mais parecendo uma folha de alumínio e as ruas e avenidas da cidade estavam pejadas de árvores de grande porte virtualmente arrancadas pela força do fenómeno.

Cerca do meio dia as notícias chegavam mais concretas. A destruição incidira naturalmente no "caniço", onde muita gente ficara sem casa e a cidade de cimento estava sem água e sem luz. Muitos carros apareciam também empurrados contra as árvores e ninguém parecia conhecer exactamente a dimensão da tragédia.

Foi já pela tarde que se percebeu que havia alguns milhares de pessoas virtualmente isoladas ao longo dos rios Maputo, Tembe e Umbelúzi e havia que fazer alguma coisa. A rádio lançou um apelo a todos os possuidores de embarcações de recreio para ajudarem a recolher vítimas da enxurrada.

Apresentei-me de imediato no Clube Naval e após uma mínima organização sobre quem ia para onde, rumei à foz do rio Maputo, cerca de dez milhas a leste da cidade. Pouco depois de ter deixado o Clube comecei a aperceber-me da dimensão da tragédia. Dezenas de animais mortos eram arrastados pela corrente, animais domésticos e selvagens e o drama atingiu o pico mais alto quando, entre os animais, começaram a aparecer também cadáveres flutuando entre tectos de palhotas, árvores inteiras, carcaças de viaturas velhas e muitos animais domésticos. Contactado o controle das operações no Naval por rádio, fomos informados (éramos oito barcos destinados ao rio Maputo) que deveríamos seguir rio acima e desprezássemos os cadáveres pois havia notícia de muitas centenas de pessoas abrigadas nas copas das árvores e, portanto, não poderíamos nem deveríamos perder tempo a recolher os corpos.

Subimos o rio numa operação bastante difícil, já que era praticamente impossível distinguir o leito, tal a massa de água em direcção ao mar. Era um espectáculo duma violência indescritível, milhares de hectares sob uma massa imensa de água lamacenta arrastando os despojos para o mar. Chegados a Salamanga (uma povoação entre Maputo e a Ponta do Ouro e distanciada cerca de 15 quilómetros do litoral), começámos a ver as primeiras vítimas vivas. Dezenas de mulheres e crianças empoleiradas nas copas de árvores, gritando umas, cantando outras, algumas das árvores ameaçando cair de um momento para o outro.

Procedemos então ao salvamento em condições muito complicadas. Não só a manobrabilidade das embarcações exigia perícia e cuidado por força da corrente e dos destroços arrastados como, surpreendentemente, as pessoas NÃO queriam abandonar as árvores, E foi assim que por cada pessoa que eu conseguia meter no meu barco era necessário para além de verdadeiros prodígios de pilotagem, um autêntico sermão de um marinheiro do Clube que me acompanhava, o Judas, convencendo as vítimas a saltarem para o barco. Foi uma cena dramática... ver mulheres e crianças a gritar, em pânico, no cucuruto de árvores que se iam tornando cada vez mais frágeis e a recusarem-se a lançar-se para os barcos.

Regressámos a Maputo já de noite, tendo salvado umas dezenas de pessoas, no conjunto dos oito barcos. A viagem de regresso fez-se em silêncio só interrompido pelos contactos rádio a dar nota da posição dos barcos da expedição. Aos comandos do barco eu ia pensando naquela gente que eu conseguira salvar, com a ajuda do Judas e nos muitos que não pudemos salvar com o cair da noite. Senti uma revolta muito grande por ter de morrer gente assim.

Uns dias depois e numa cerimónia simples no Clube Naval, o Director Nacional do Departamento das Calamidades Naturais fez um pequeno discurso de agradecimento ao grupo de pessoas que colaboraram com as suas embarcações no salvamento de algumas vidas e recebemos um prémio simbólico: - Um saco de amendoim, uma embalagem de cigarros Palmar, um queijo do Chokwé, cinco embalagens de bolachas da "Ceres", uma peça de artesanato e uma capulana. Prémio que de imediato oferecemos à organização de auxílio às vítimas, tendo reservado para mim a peça de artesanato e um diploma de mérito concedido pelo Governo da Republica, na altura Popular, de Moçambique.


Nesse mesmo dia rumei à Ilha da Inhaca com a família (filhotes muito pequeninos ainda e um ainda por vir...) para o conforto do Hotel que tinha água e luz, enquanto Maputo permanecia às escuras e sem água. Na mesma altura em que muita gente em locais mais remotos de acesso impossível continuava, provavelmente, na copa de uma árvore, à espera de morrer.


Nessa noite dormi muito mal...

sábado, junho 25, 2005

"The Fly"



[442] – Ainda não parei de me rir com isto. Quando aos paladinos das liberdades e do pluralismo lhes salta o chinelo para o pé da comadre que têm dentro de si, o resultado só pode ser este...

Histórias de Moçambique (1) - Subir na Terraça



[441] - O Anthony Wooler, Tony para os amigos e colegas, era um inglês de Bristol. Botânico de formação, colaborava no departamento técnico de uma multinacional em Moçambique, identificando espécies, catalogando-as, estudando-as e, naturalmente, participando activamente nos “brain storm” que precediam a decisão sobre os fitó-fármacos a usar no controle das infestantes de várias culturas em Moçambique.

Homem de boas maneiras, sobriedade e fleuma adequadas à sua condição de súbdito de Sua Majestade, enquadrou-se bastante bem na sociedade moçambicana. De tal maneira bem, que se rendeu aos encantos de uma mulata linda que lhe estilhaçou a fleuma e revisitou algum cromossoma latino que o bom do Tony teria no recôndito do seu alforge de hormonas,

O Tony passou a andar diferente. Ria muito, brincava e era flagrante a alegria com que regressava a casa, no fim de mais um dia de trabalho, para os braços da sua fogosa eleita.

O problema é que às tantas o Tony se sentia indisposto. Queixava-se que, sem razão aparente, todos os dias se sentia mal, depois do pequeno almoço. Ele não entendia... tomava a sua chávena de café, umas torradas com queijo, sumo de laranja, uns ovos estrelados, subia ao terraço (a casa dele tinha um terraço lindíssimo, cheio de buganvílias...) e desmaiava.

Aconselhado pelos amigos resolveu ir ao médico. E no seu português típico (os ingleses são impossíveis para línguas) lá dizia:

- Senor Doutorre, eu não saber bem porque, but todo dia eu comer normalmente meu breakfast, um juice de laranja, fried ovos, comida normal, um pouco de cheese, café... subo na terraça e desmaia!

E o médico, atrapalhado...

- Mas, senhor Wooler, deixe ver se percebi bem... o senhor toma uma chávena de café, come duas torradas, um pouco de sumo, dois ovos e depois sobe ao terraço e desmaia?

- Clarro senhor doctor, isso mesma, come esse pouco comida, sobe na terraça e desmaia...

O médico acabou por lhe dizer para mandar a namorada lá ao consultório, talvez ela pudesse ajudar na comunicação.

E a namorada lá foi. O médico pôs-lhe a questão, disse que não encontrava nada de mal no Tony, tudo parecia estar bem e que não percebia a razão dos desmaios sempre que o Tony subia ao terraço. Aí a namorada disse:

- Olhe doutor. Isto é assim. O meu namorado além de parecer que só agora descobriu o sexo, não diz a verdade toda e, além do mais, nunca mais aprende a falar português decente. É que ele quando diz que toma um pouca de café, não é verdade. Toma dois ou três baldes. O juice de laranja... é para aí uma garrafa de litro. Os ovos, não são dois. São quatro ou cinco ovos estrelados mais bacon, mais salsicha, tomate grelhado e não sei que mais. O toast como ele diz... é para aí quase um pão de forma às fatias, mais um quarto de queijo. E quanto a subir ao terraço... eu estou farto de dizer àquele imbecil que me chamo Teresa, TE-RE-SA e não TERRAÇA...

ET. Esta história está um pouco enfeitada mas tem um fundo de verdade. O Tony e a Teresa acabaram por casar e ele hoje é country manager em Seul. Está bem de saúde, já tem dois filhos e, tanto quanto pude perceber da última vez que falei com ele, continua a fazer as suas frequentes incursões ao “terraço”...

É Longe, mas é Perto...



África, terra bruta, que até à papaia lhe chamam de fruta...
(Tempestade sobre Maputo)
[440] - Moçambique comemora hoje 30 anos de independência.

Este País foi muito importante para mim. Primeiro, porque que lá passei a minha adolescência, até vir estudar para Portugal. Depois, já independente, acolheu-me durante um período muito importante da minha carreira profissional.

É fácil apaixonarmo-nos por Moçambique. É um território fabuloso de diversidade humana e geográfica a que não é possível permanecermos indiferentes.

Vivi lá bastantes anos na confortável posição de expatriado, trabalhando para uma multinacional com todas as benesses daí advindas. Foi uma experiência de vida riquíssima para mim. Não só do ponto de vista lúdico e profissional como do ponto de vista de relações humanas. Conheci bem a sociedade moçambicana, os moçambicanos, os expatriados e uma sociedade intermédia, difusa e fluida, que nunca conseguiu verdadeiramente integrar-se quer numa quer noutra. Em todos eles, porém, uma carga identitária bem definida que contribuíam para que Moçambique se tornasse numa região de surpreendente cosmopolitismo.

Moçambique independente faz hoje trinta anos. E a isso não posso ficar indiferente. Tendo vivido, por razões profissionais em vários países, é talvez aquele de que guardo ciosamente algumas das minhas mais marcantes recordações e a ele lhe devo uma parte muito importante da minha experiência de vida. E, para mim, tal como aprendi por lá, Moçambique "é longe, mas é perto"...

Long live Moçambique

P.S. Ocorre-me alguns episódios relacionados com a minha permanência de alguns anos em Moçambique. Apetece-me pôr alguns deles em post. Vamos lá ver se sai...

quinta-feira, junho 23, 2005

S. João é tua a noite, é a Festa da Cidade...




[439] - Juro que não me vou deitar sem ver qual o melhor fogo de artifício. Se o de Rui Rio se o de L. Filipe Meneses.
Bom S.João para a rapaziada do Porto, bloggers incluidos.

Risky Business



[438] - Andava com um problema, mas já o resolvi.
Os 52 milhões que me saem amanhã não vão para o banco, não senhor. Aquilo é um embuste e eles aproveitam logo o meu capital para emprestarem aos meus desprotegidos compatriotas para comprarem um carrinho. Assim, já falei com um colega meu que tem uma ideia giríssima, uma fábrica de água a ferver na Serra da Estrela, porque ele disse que a última vez que lá foi aquilo era um frio dos diabos e a coisa era capaz de ser negócio. Eu não tenho a certeza mas ele diz que dois milhões chegam para as panelas e para alugar uns armazéns na Nave de Santo António. As caldeiras vêm de Manteigas e depois ainda põe lá um balcão para vender mel e queijo da Serra. Um capital de risco, portanto. Ele não sabe bem se a coisa dá, mas depois logo se vê, que é uma coisa que o meu colega aprendeu com o Guterres que até era ali de perto.
This is what friends are for e ainda me sobram cinquenta que poderei aplicar num punhado mais de iniciativas do género. Desde que de risco, bem entendido. A não ser que a coisa dê assim muito trabalho com registos, selos e assim e então vou ali a Espanha depositar o dinheiro.
Logo se vê…

Casa de Ferreiro...



[437] - E não é que há groselhas brancas?

quarta-feira, junho 22, 2005

Azia



[436] - Nestas coisas de azia, o melhor mesmo é dar a palavra a quem sabe mais do que eu.

Poema Ridículo




[435] – O blog tem fome e eu não sei como lhe dar de comer. Quando o calor aperta e a imbecilidade nos cerca, o engenho arrefece e a vontade fenece. Ainda estou a digerir a diatribe de Jorge Sampaio lançada a um grupo de "meliantes" que instalou por aí uns bancos e que se fartam de dar crédito para o carrinho e não financiam projectos inovadores… e eu que julgava que este discurso já tinha sido levado pela maré!

Por estas e por outras e até porque tenho de trabalhar, fica aqui um "poema ridículo". Porquê? Porque ouvi o Lionel Ritchie esta manhá, porque me apetece e porque sim.

Bom trabalho para todos e cuidado com o embuste dos bancos. O que nos vale é termos um presidente atento e que ralha muito com as instituições de crédito.


I've been alone with you inside my mind
And in my dreams I've kissed your lips a thousand times
I sometimes see you pass outside my door
Hello, is it me you're looking for?

I can see it in your eyes
I can see it in your smile
You're all I've ever wanted, (and) my arms are open wide
'Cause you know just what to say
And you know just what to do
And I want to tell you so much, I love you ...

I long to see the sunlight in your hair
And tell you time and time again how much I care
Sometimes I feel my heart will overflow
Hello, I've just got to let you know

'Cause I wonder where you are
And I wonder what you do
Are you somewhere feeling lonely, or is someone loving you?
Tell me how to win your heart
For I haven't got a clue
But let me start by saying, I love you ...

terça-feira, junho 21, 2005

esperienssia

1-2-3

O Dia Mais Longo



[433] - Temos hoje o dia mais longo do ano. Aqui, para nós. Porque sempre tivemos esta tendência de «aplicar» indiscriminadamente o nosso critério - europeu - das estações a todo o ano. Hoje começa o Verão mas é preciso que nos lembremos que é só da cintura para cima. Lá mais para baixo do Equador não é Verão, é Inverno. E é curioso que mesmo nos países austrais, as comunidades de origem europeia, mesmo já de várias gerações nativas, quando se referem ao Verão ou ao Inverno ainda dizem «Verão ou o Inverno de cá...». Tiques!...
Por mim, o dia mais longo representa que terei mais horas de luz solar em que continuarei sem assunto para alimentar este voraz blog. Isto é, ideias e temas há muitos. Um pouco como os parques de estacionamento em que se diz: - Lugares há muitos estão é ocupados. No meu caso é mais, temas há muitos eu é que ando sem garra para lhes pegar.
Um dia destes será.
Ah!... sim e não gosto muito do verão. É calor a mais e discernimento a menos.

domingo, junho 19, 2005

O Borrego da Prima



[432] - Este bicho é feio, inestético, cheira mal e tem um par de cornos que tomaram muitos.

Parece que dá lã, marra se o chateiam e faz méééééé quando quer acasalar. Até aqui... eu sabia mais ou menos a história.

Mas se temos uma prima simpática que pega no bicho, mistura-lhe umas alcachofras salteadas, arranja-lhe uma companhia de cous-cous e mais umas rodelas de tomate a albardar umas fatias de pão saloio, sai isto:




Tudo começou com uma transmissão do GP de Indianapolis que por razões que me ultrapassam resolveu transferir-se para a RTPn. E eu lá fui a casa da prima, cheia de amigos para jantar.

Depois do chifrudo ilustrado lá em cima, ainda tive de alargar o piloro para acomodar um doce de ginjas, a que uma conviva alemã que estava também no jantar chamou... rot...torr...sossrr... hummm... eu disse qualquer coisa e ela disse “muito bem”, mas juro que se me passou.

Priminha. Deus te pague. E agora é só aguardar por mais um GP na RTPn. E lá vou eu à badana. Só te peço que convides sempre a Márrta, a brasileira mais europeia que conheço, que é para eu poder fumar à vontade, já que ela parece ter tratamento preferencial. É que com ela lá, fumamos os dois em coro e ninguém me manda chispas com os olhos.

Um beijinho grande para ti e os carneiros que se cuidem.

sábado, junho 18, 2005

A "Capital" Que Temos...



[431] - Mas esta gente existe? Dorme bem à noite? Tem uma vida sexual normal? Anda "on medication"? Tem dor de cabeça como as pessoas? Faz xixi de manhã ao acordar?

Com sua "lecença"...



[430] –

Senhor Presidente da República

Excelência

Quando pensei que Vossa Excelência dedicasse uma palavra de conforto e solidariedade aos milhares de portugueses que passavam um domingo de praia e se viram assaltados e no meio de uma situação verdadeiramente caótica, Vossa Excelência resolve ir à Cova da Moura, bater palmas, falar com uma senhora belga, dizer que todos temos de dizer não à xenofobia e que era imperativo legalizar os imigrantes que ainda se encontram em situação ilegal.

Vossa Excelência é Presidente de todos os portugueses, apesar de nem todos os portugueses terem votado em Vossa Excelência e essa condição cria-lhe responsabilidades que não pode alijar. Independentemente da bondade da sua visita à Cova da Moura, o seu silêncio em relação às vítimas configura um mau serviço que naturalmente apura o caldo de cultura da xenofobia e intolerância. Devia perceber isso.

Os portugueses assaltados em Carcavelos não são ricos, nem racistas nem xenófobos, São portugueses de classe média, muitos de média baixa sem dinheiro para ir ao Algarve. E, na verdade, após o assalto, a única coisa que ouviram foi Jorge Coelho a dizer que a culpa é do sistema de ensino e a gritaria dos patetas do costume na Assembleia da República. E depois, Vossa Excelência fala com aquele tom de quem está a ralhar com as pessoas, parecendo dar a ideia que o défice de medidas de integração das comunidades imigrantes é culpa de todos nós e não é. A culpa é do Governo e de Vossa Excelência, pois tanto quanto me parece as medidas estruturais são implementadas pelas instituições próprias e não pelos cidadão de per se.

É a hipocrisia do costume e o omnipresente politicamente correcto a tomar conta de todos nós. Por imposição, claro está. Faça Vossa Excelência a sua obrigação, tal como o Governo e “estruturem” o que acharem que devem estruturar no sentido de que os imigrantes não sejam injustiçados e se lhes possibilite uma sociedade moderna, justa e eficaz onde eles inclusivamente se sintam motivados a integrar-se. Mas, entretanto, e se não for muito trabalho, vá-se reprimindo o crime e protegendo o cidadão comum da violência física e da agressão permanente da patacoada idiota que anda a ouvir há um ror de anos. Não vá dar-se o caso de, por exemplo, eu um dia destes ser violado e ainda me sentir na obrigação de pedir desculpa por estar de costas.

sexta-feira, junho 17, 2005

Até que enfim...



[429] - Até que enfim. Custou. Finalmente alguém disse o que tinha de ser dito. E aqui vai, sem mais delongas:

«Parece que Álvaro Cunhal foi uma figura "importante, "central", "ímpar" do século XX português. Muito bem. Estaline não foi uma figura "importante", "central", "ímpar" do século XX? Parece que Álvaro Cunhal foi "determinado" e "coerente". Hitler não foi? Parece que Álvaro Cunhal era "desinteressado", "dedicado" e "espartano". Salazar não era? Parece que Álvaro Cunhal era "inteligente". Hitler e Salazar não eram? Parece que Álvaro Cunhal sofreu a prisão e o exílio. Lenine e Estaline não sofreram? As virtudes pessoais de Álvaro Cunhal não estão em causa, como não estão as de Hitler, de Estaline, de Lenine ou de Salazar. O que está em causa é o uso que ele fez dessas virtudes, nomeadamente o de promover e defender a vida inteira um regime abjecto e assassino. Álvaro Cunhal nunca por um instante estremeceu com os 20 milhões de mortos, que apuradamente custou o comunismo soviético, nem com a escravidão e o genocídio dos povos do império, nem sequer com a miséria indesculpável e visível do "sol da terra". Para ele, o "ideal", a religião leninista e estalinista, justificava tudo.

Dizem também que o "grande resistente" Álvaro Cunhal contribuiu decisivamente para o "25 de Abril" e a democracia portuguesa. Pese embora à tradição romântica da oposição, a resistência comunista, como a outra, em nada contribuiu para o fim da ditadura. A ditadura morreu em parte por si própria e em parte por efeito directo da guerra de África. Em França, a descolonização trouxe De Gaulle; aqui, desgraçadamente, o MFA. Só depois, como é clássico, Álvaro Cunhal aproveitou o vácuo do poder para a "sua" revolução. Com isso, ia provocando uma guerra civil e arrasou a economia (o que ainda hoje nos custa caro). Por causa do PREC, o país perdeu, pelo menos, 15 anos. Nenhum democrata lhe tem de agradecer coisa nenhuma.

Toda a gente sabe, ou devia saber, isto. O extraordinário é que as televisões tratassem a morte de Cunhal como a de um benemérito da pátria. E o impensável é que o sr. Presidente da República, o sr. presidente da Assembleia da República, o sr. primeiro-ministro e dezenas de "notáveis" resolvessem homenagear Cunhal, em nome do Estado democrático, que ele sempre odiou e sempre se esforçou por destruir e perverter. A originalidade indígena, desta vez, passou os limites da decência. Obviamente, Portugal não se respeita.»

Vasco Pulido Valente in Público

Frases Célebres



[428] - São quase seis horas e hoje já trabalhei demais para o meu gosto. Vou-me embora e acho que acabo sentado mais logo a ver o «Mr. and Mrs. Smith» que parece ser desopilante (ainda um dia analiso com cuidado a estrutura semântica desta palavra, isto porque cada vez que digo desopilante duas vezes seguidas desato a rir-me sem perceber porquê…) e eu gosto muito do Brad Pitt. A Angelina… pronto… tolera-se. Mas não quero ir sem aqui deixar um conjunto de frases célebres, escritas em itálico (ou, como diria o Laurodérmio, «Made in Italy») e tendo entre patentesis o respectivo autor, às quais acrescentei uma vil e provavelmente frustre tentativa de ter graça mas, parece-me, sem graça nenhuma. Fica a intenção.

A minha esposa tem um bom físico. (Albert Einstein)

Ora aqui está uma boa dica para o Manuel Maria.
O pessoal esquece-se logo do túnel das Amoreiras, das obras, do trânsito e ficamos logo convencidos que vamos ter um presidente bárbaro.

Nunca pude estudar Direito. (Corcunda de Notre Dame)

Tal como muitos juristas da nossa praça. Regozije-se que não é filho único. Muitos de nós estudámos tortos e quem torto estuda…

Sempre quis ser o primeiro. (João Paulo II)

Ora aqui está uma angústia compreensível. Sempre admirei as missões impossíveis. Já Santana Lopes quis ser primeiro e só o deixaram ser por um bocadinho…

O automóvel nunca substituirá o cavalo. (A égua)

E eu, espumante modesto, após modesta reflexão, digo: Nunca algumas éguas substituirão um bom automóvel (esta é marialva, macho latino, de gosto duvidoso, etc., etc., mas deixem lá passar…)

Gosto da humanidade. (Canibal do antigo Gabão)

Eu nem por isso. Quanto mais a conheço mais vegetariano me torno...

És a única mulher da minha vida. (Adão)

Já disse isto um punhado de vezes mas não me levam a sério...

Levantarei os caídos e oprimirei os grandes. (Sutiã)

Isto parece mais conversa de Jorge Coelho… mas está bem. Até pode ser que ele o tenha dito, convencido que o regime sócio-político de Sutiã poderia ser um exemplo para Portugal…

Chega de humor negro! (Ku Klux Klan)

E chega de post. Que de humor, nem negro é…
Bom fim de semana para todos.

quinta-feira, junho 16, 2005

Nojo

[427] - Isto + isto só pode dar merda. No sentido literal da coisa. Provavelmente já este Sábado, no Martim Moniz.

A não ser que usemos a experiência, verve e lucidez da Ana Drago, miúda lúcida e cheia de experiência deste tipo de problemas, que ainda hoje demonstrou tais atributos na Assembleia.

Estas pérolas foram achadas e retiradas
daqui

Mestre de Aviz



[426] - O Aviz faz hoje dois anos. Um blog onde FJV vai espargindo a «poeira» das coisas, sítios e pessoas. A tal «poeira» de que ele diz gostar e que faz com que dela gostemos.

Tchin Tchin

PiazzadiMare



[425] - E quando eu julgava que já conhecia os restaurantes todos de Lisboa, deparo com o "PiazzadiMare", por conselho (quase uma norma directiva) de uma senhora que é secretária há muitos anos e que trata os restaurantes por tu, que me proporcionou um almoço num cenário deslumbrante para o Tejo.
Como não sou o José Quitério e pouco percebo de refogados, limito-me a referir um filete grelhado de dourada selvagem, muito branca, muito fresca e bem rija, assente numa almofada de uma espécie de esparregado salteado e coberta por um molho que não era apenas de sabor dos deuses mas de uma elegância, isso mesmo, rigor estético, inultrapassável. Por cima do maná, uns arabescos de uma coisa escura que parecia de chocolate mas não era chocolate. E não digo o que era porque não sei. Só sei que parecia chocolate e não sabia a chocolate.

Uma empregada bonita, atenciosa, rápida e educada fez-me alterar um pouco o conceito de que só as empregadas de mesa brasileiras são afáveis e competentes.

Assim sabe bem almoçar, sobretudo quando a conta não vai além dos €25 por cabeça, contas finais, e se fica com a promessa que o próximo almoço será na Ilha de Luanda, com lagosta, abacate, beringela e aquele tique "camundongo" que o PiazzadiMar não tem…
O telefone é o 213624235 e é aconselhável a marcação.

quarta-feira, junho 15, 2005

Leitura Obrigatória

[424] - Seria, no mínimo, herético, eu acrescentar uma vírgula que fosse à brilhante peça de Vasco Pulido Valente que li ontem no Público.
Mas é que tenho andado aqui a «moer» sobre se deveria escrever alguma coisa sobre a morte de Cunhal (Vasco Gonçalves, para mim um caso patológico, não me mereceu sequer qualquer reflexão), perante a abundância de textos, comentários e opiniões acerca do homem das convicções e da coerência. E o texto de VPV, uma peça brilhante, repito-o, diz tudo, para quem o souber ler.
Apetecia-me acrescentar alguma coisa que resultou da minha vivência directa com um par de regimes sovietizados, mas isso torna-se absolutamente «palha» perante a enorme capacidade de VPV desmistificar aquilo que considerei o maior «embuste» que me foi dado viver. Cito:



Crescer com "o Álvaro"por Vasco Pulido Valente
Público, 14 Junho 2005

Morreu ontem, esquecido e trivializado, Álvaro Cunhal. A gente que o demonizava, e com toda a razão, em 1975, há quinze anos que lhe tinha perdido o medo e o respeito. A partir de 1990, o Partido Comunista passou a ser um resto, quase um monumento, na Assembleia da República; e a insistência no "marxismo-leninismo", tal como o definia a União Soviética, começou a criar ao "homem que não mudava" uma aura de fidelidade e "nobreza", que era sobretudo um protesto contra o oportunismo corrente. Apareceu então um novo Cunhal. O Cunhal que a esquerda ignorava e que a direita, uma certa direita, tratava com o desprezo amável normalmente reservado a "inferiores": o Cunhal da impotência. Em 1991, segui a última campanha dele e percebi com espanto que também o "partido" o queria proteger do abandono e da tristeza: no fundo, da realidade. No Seixal, por exemplo, uma senhora com o seu melhor vestido e um penteado de cabeleireiro, tremia com a hipótese de uma mau resultado: um mau resultado "dava ao Álvaro um enorme desgosto". Depois disso, "o Álvaro", velho e doente, deixou de se mostrar em público. Pouco a pouco, a ausência fez dele, ainda vivo, uma figura histórica. Pior: uma parte curiosa e comercial do folclore indígena. O Até Amanhã, Camaradas! da SIC, por exemplo, asséptico e politicamente inócuo, com um terrível "bom gosto" de "estilista", transformou a grande epopeia do PC numa aventura sem significado, relevância ou grandeza. Se Cunhal a viu, e com certeza que não viu, deve ter chorado sobre aquele epitáfio.
Em 1949 ou 50, quando pela primeira vez me falaram dele com emoção ou, mais precisamente, com devoção, "o Álvaro" estava preso. Tanto o meu pai como a minha mãe o conheciam. A minha mãe trabalhara com ele no obrigatório inquérito a um "bairro de lata", com que na altura o progressismo (mesmo católico) iniciava os seus prosélitos. O meu pai durante um tempo recebera e distribuíra dinheiro do "partido" (um exercício particularmente perigoso). Quando o meu pai foi dirigir uma "fábrica" de catorze operários numa aldeia ao pé do Porto, ia às vezes buscar umas pessoas, que entravam lá em a casa à noite, não comiam à mesa e nunca saíam do quarto. Um casal, constituído, como depois vim a saber, por um marinheiro bêbado (um "arsenalista") e por uma "companheira que ele espancava", chegou a alertar a vizinhança. Por mim, sem perceber nada (nem sequer o suficiente para perguntar) percebia pelo menos que a presença destes visitantes pesava. De medo, suponho hoje. Cresci com este mistério e só mais tarde, já em Lisboa, me explicaram. É difícil reconstituir o fervor com que se falava do "partido" e do "Álvaro". Pelo que me disseram, fiquei a imaginar que existia em Portugal uma legião de justos que lutavam e sofriam pelo povo e, acima deles, muito acima, um mártir, "o Álvaro", algures numa cela incandescente.
O nome, "o Álvaro", exigia sempre um tom litúrgico. O que me contaram sobre ele roçava a hagiografia: o sacrifício, a traição, a tortura, a cela de Peniche. E também a inteligência, o talento, a coragem, a entrega ao "partido" e, através do "partido", ao proletariado e à felicidade humana. Isto impressionava, até por ser absolutamente sincero. Além disso, o mundo do PC e dos "companheiros de caminho" era um mundo fechado. Os meus pais não tinham amigos fora dele, coisa que de resto o "controleiro" proibia, e, se por acaso arranjavam algum, o "controleiro" mandava logo "cortar". Os livros que eles liam, e que naturalmente também li, vinham todos da lista aprovada pela ortodoxia estalinista: Gorki, claro, Sholokhov, Jorge Amado, Panait Istrati, Steinbeck (As Vinhas da Ira), Dos Passos, Martin du Gard, Romain Rolland, Malraux (A Condição Humana), Aragon, Éluard, Neruda. E também a tralha do costume: romancistas do Azerbaijão, italianos ignotos, pacifistas (Barbusse, por exemplo), a colecção Cosmos (completa), a Vértice, propaganda sobre a guerra de Espanha ou sobre os julgamentos de Moscovo (um enorme calhamaço com um título inesquecível: A Grande Conspiração contra a Paz) e o inevitável opus de Sidney e Beatrice Webb O Comunismo Ssoviético: uma nova civilização. Portugueses, que me lembre, poucos: Soeiro, Redol, Gomes Ferreira. Suspeito que raramente uma criança foi educada com tão má literatura e tanta mentira.
O "partido" exigia aos "militantes" uma "vida modesta" e virtuosa. Era o tempo em que o Avante!, para exibir o precipício moral dos "dissidentes", contava que eles frequentavam o Casino do Estoril de charuto na boca, com as mulheres "cobertas de jóias", e acabavam a noite em "deboches" por "palácios de banqueiros". Não se conseguia imaginar depravação maior. Os comunistas, por contraste deviam pelo menos simbolicamente partilhar a miséria do "povo". Os meus pais gastavam, de facto, muito pouco dinheiro. Quase não saíam, nunca viajavam, usavam a roupa até ao extremo da decência. Ao princípio, por necessidade. Mas, depois, por escolha, por uma espécie de penitência ou de pedantismo, que, de resto, me faziam notar e me obrigaram eventualmente a seguir. Muitas vezes ouvi de amigos deles: "Os teus pais vivem com muito menos do que podem." Um exemplo que me criava obrigações. Esta superioridade dos comunistas incluía os costumes. O ateísmo e a defesa do divórcio não impediam os meus pais de "cortar" com os "militantes" que se divorciavam e de se agitarem com horror à mais vaga suspeita de adultério. As mulheres que se "portavam mal" inspiravam um grande falatório e sessões de crítica em que se discutiam os sinais da queda: normalmente excessos de bâton e pó-de-arroz, vestidos, chapéus, sapatos de salto alto ou casacos de peles, quando o caso não chegava ao cúmulo das jóias, que se aproximava da traição. Aqui, como no resto, o "partido" precisava de uma disciplina dura e de segregar aqueles que por qualquer razão o punham em risco, fazendo entrar nele a desordem e as tentações da "burguesia", ou seja, de uma existência vagamente normal.
O próprio "partido" organizava os prazeres "puros" dos fiéis. Passeios no Tejo, para adultos; e piqueniques com as crianças, em que se cantava o "Não fiques para trás, ó companheiro..." e o "Terra pátria, serás nossa..." do Cancioneiro Popular Português de Lopes-Graça. Irregularmente, havia também sessões (vigiadas pela PIDE) da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, de que a minha mãe era presidente, com coro da Academia dos Amadores de Música (do fatal Lopes-Graça) e atracções várias, como o poema de Sidónio Muralha Grilos, Grilinhos e Grilões, recitado por mim. Mas, sobretudo, os meus pais reuniam-se uma vez por semana com meia-dúzia de amigos para falar de arte e de política, sob a direcção informal de um "camarada mais ligado" (ligado com o "controleiro"). Aí ficavam a saber o que lhes convinha e, literalmente, tiravam dúvidas.
Este edifício da "legalidade" servia essencialmente para sustentar o edifício da "clandestinidade". Os meus pais tinham "tarefas". Já disse que o meu pai recebia e distribuía dinheiro do "partido" e, com o carro da empresa, transportava também "funcionários" de um lado para o outro, durante a noite, com "contactos" duvidosos que muitas vezes falhavam e o deixavam abatido e nervoso. Anos mais tarde, acabou por me descrever essa espécie de "encontros" no meio de sítio nenhum (num cruzamento de estradas, no quilómetro x da estrada y) com gente que raramente conhecia e que largava depois, sem quase uma palavra, num descampado igual. Apesar do medo, o que o impressionava era a insuportável tristeza daquelas viagens da desolação para a desolação.
A principal tarefa da minha mãe era à superfície mais simpática. Levava ao médico filhos de "funcionários", como se fossem dela, ou levava aos "funcionários" um médico "amigo", ou seja, cúmplice ou "companheiro de caminho". Os conhecimentos do pai (o meu avô Pulido Valente) simplificavam as coisas. Mas, numa crise, e principalmente com crianças não eram poucas, começavam as complicações: telefonemas, correrias, visitas sem aviso, que iam inevitavelmente contra as regras de segurança e provocavam inquietações. Felizmente, aquele "ponto de apoio" durou anos sem acidente de maior. Para mim, foi uma iniciação e, como o resto, deixou um (péssimo) vinco.
Entretanto, o mundo ia mudando. Lá fora a grande esperança revolucionária morria em França e em Itália e a direita expulsava os comunistas do poder. Na Alemanha ocupada, a América resistia à URSS e conseguia transformar a Tri-Zona num Estado democrático, a República Federal. As potências do Ocidente não tocavam em Franco e Salazar e criavam a NATO. Cá dentro, depois da febre do MUD, do MUD juvenil e da campanha presidencial de Norton de Matos, a oposição caía na sua habitual tristeza. Mesmo dentro da oposição, a eterna estratégia do "partido" de monopolizar e dominar tudo tinha deixado ressentimentos, que não passariam tão cedo. Mais grave do que isso, com a relativa normalidade do pós-guerra, começou a chegar, ou a ser finalmente ouvida, alguma evidência séria sobre o "campo comunista". Na estante do meu pai apareceram Victor Serge, Koestler e o velho Retour de l"URSS de Gide. Kravchenko, se causou um escândalo, também causou um abalo. Mas, principalmente, e porque se tratava da família de que se tratava, o apoio oficial de Estaline à "teoria" biológica de Lyssenko fez perceber para que extremos podia deslizar a ortodoxia: segundo me contaram, o meu avô Pulido, que era professor de Medicina, disse o que devia com a devida brutalidade.
Os meus pais não romperam abruptamente com o partido. Como costumava suceder, o "afastamento" (uma palavra típica da Igreja) foi gradual. Tiveram as suas querelas políticas com o "controleiro" e discutiram com emissários da clandestinidade questões doutrinais. Cândida Ventura, por exemplo, ficava noites, se não a explicar, a justificar os desvarios da seita. Enquanto ela fumava cigarros russos (palavra de honra), a incomodidade dos meus pais crescia. Pouco a pouco, entraram num pequeno círculo de cépticos, que desconfiava da obediência estrita à "linha do partido". E, com o tempo, atrás da desconfiança veio o desprezo. Os santificados militantes da véspera desceram ao estatuto (aliás, realista) de gente ignorante e fanática; e os comunistas da legalidade, que fielmente seguiam a "orientação correcta", receberam o nome irrisório de "batatulinas" (suponho que por analogia com "batatudo", isto é, grosso, arredondado, em suma, estúpido).
Embora preso, "o Álvaro", como herói, morreu de facto nessa época e foi enterrado com as revelações de Khrushchev ao XX Congresso do Partido Comunista Russo, que apareceram logo lá em casa, em tradução francesa. Não se falava dele e, quando se falava, era para o lamentar. A fuga de Peniche e o Rumo à Vitória pertenceram já à história de Cunhal. O meu pai ainda leu (na "edição" da clandestinidade) o Rumo à Vitória, que declarou um "disparate". A minha mãe nem isso.Houve, no entanto, uma despedida. A minha mãe foi ao aeroporto ver "o Álvaro", quando ele voltou a Portugal depois do "25 de Abril" e achou, não sei porquê, que ele estava mais magro.

Affirmative Shit

[423] - "É racismo. Por isso, fez-se História (com agá grande), como a 15/1/29, quando nasceu Martin Luther King, a 9/11/89, quando caiu o Muro de Berlim e a 11/2/90, quando Mandela foi libertado…"

E foi com esta enormidade que Michael Jackson se referiu ao julgamento a que foi submetido por pedofilia e no qual foi declarado inocente.

A mim já poucas coisas me espantam no mundo. Mas há algumas que continuam a provocar-me uma tremenda irritação. Neste caso, não o que um pateta, que por acaso foi um expoente elevado da música pop norte americana, mas a tremenda hipocrisia que continua a almofadar dislates deste calibre e que radicam numa outra hipocrisia, qual seja a «affirmative action», versão anglosaxónica da portuguesíssima «psico-social». Se eu fosse negro sentir-me-ia bastante discriminado por ser abrangido pela «affirmative action» que, para além de enformar uma tremenda hipocrisia, prejudica gente possivelmente competente. Cujo único defeito é ser branco.

Mas o mundo é assim. No caso vertente de Michael Jackson, a coisa torna-se ainda mais hipócrita e idiota porque vem de um homem que fez tudo o que estava ao seu alcance para se fundir na sociedade branca americana, incluindo a mudança de cor da sua própria pele.

Quanto ao veredicto, em si, julgo estarmos em face de um O.J.Simpson, versão actualizada. Mas fico muito mais descansado depois de ter lido que o advogado de defesa de Michael, Thomas Meserau, afirmou que Michael Jackson nunca mais convidará crianças para dormir na sua Terra do Nunca, sequer no seu quarto e muito menos na sua cama. Pronto, assim está bem e todos ficamos muito serenos e aliviados. E Jackson perfilar-se-á, na História e de motto próprio, ao lado de Nelson Mandela e Luther King, que bem mereciam mais respeito do que ser ver misturados com idiotas paranóides deste quilate.

terça-feira, junho 14, 2005

Bilingue (quase...)




[422] - Uma amiga que muito prezo, residente na loira Albion e amante da morena Lusitânia, vem com alguma regularidade ao Algarve passar uns dias.

Resulta que por força destas estadias ela lá vai atamacando umas frases em português. Este último fim de semana reparei que ela escrevia atentamente uma cábula, já que se preparava para ir ao minimercado buscar umas «groceries». Ia escrevendo ao mesmo tempo que repetia a fonética para ver se dava tudo certo. Dei uma espreitadela e deparei com esta «maravilha»:

- Pay she
- MacCaron
- my on easy
- All face
- Car need boy (may you kill oh!)
- Spar get
- Her villas
- Key jo (parm soon)
- Cow view floor
- Pee men too
- Better hab
- Lee moon
- Bear in gel

Depois fez um parentesis e escreveu: - "In case I forget something, tomatoes, for instance":

- Food ace! Is key see me do too much! Put a keep are you!

Moral da história: Os ingleses podem ser maus em línguas, mas que são práticos, lá isso são…
(Um beijinho à IC pela contribuição)

segunda-feira, junho 13, 2005

Mesmo Assim...

[421] - ... não lhe compro nenhum carro em segunda mão!

Michael Jackson was found not guilty Monday on all counts in his trial on child molestation charges, concluding a two-year legal saga for one of the world's most well-known pop stars.

Mom and I (ai,ai...)



[420] - Trrrriiimmmmmmmm

- Tou!
- Olá... já cheguei. Era para ver se já estavas em casa, também.
- Sim, estou. Mas não era para virem amanhã?
- Era, mas olha, acabámos por vir hoje, afinal não estava tanto trânsito assim. Mas olha, foi óptimo, o tempo não esteve lá grande coisa, mas foi muito bom, dormi bem e assim. E o Algarve, pelo menos ali naquela zona nem estava muito cheio, mas sabes como é, acabámos por ficar a maior parte do tempo em casa e...
- E nem à praia foram?
- Não, ficámos pela piscina, estava muito agradável, foram lá a G e o Z, a AM e o ZL também lá iam aparecendo e ainda ontem fizemos um churrasco giro à volta da piscina. Não estava ninguém em casa e acabei por ir só eu e o F...
- Comprar as coisas?
- Sim, as carnes e isso. Eu até estava preocupada como é que íamos trazer aquilo tudo, mas sabes que a moto do F tem aquelas coisas de lado, aquelas malas ou lá o que é, e deu perfeitamente...
- Moto?...
- Sim, claro. O capacete da L é que me estava um pouco apertado, mas acabou por servir. E as carnes couberam todas nas malas da moto...

... ... ...


Recebi esta chamada há pouco. A «motoqueira» tem 86 anos feitos e é minha mãe.
Um dia destes ainda acaba por tirar a carta. O problema é que com 86 anos só lhe dão carta, no máximo, até 250 c.c. e a moto do F é uma 1200. Mas alguma coisa se haverá de arranjar...

Morreu um poeta...



[420] -

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


(Respiro o Teu Corpo - Eugénio de Andrade - 2001)

Joaquim Chissano



[419] - Joaquim Chissano esteve em Óbidos, onde participou no 2º Encontro sobre Mediação e Conflitos no Espaço Lusófono.

O ex Presidente da República de Moçambique tem demonstrado um grande empenho nesta questão e tem sido mesmo solicitado por Kofi Annan para várias missões, como o acompanhamento da transição no processo da Guiné-Bissau e na superação da crise em S. Tomé e Príncipe.

Este homem poderá estar a ser injustamente subavaliado no papel que teve na reconciliação moçambicana, implementação de facto do sistema parlamentar e profícua co-existência com a Renamo de Afonso Dhlakama e, sobretudo, na emergência do país marcado pela tirania e inexperiência de Samora Machel . Do meu ponto de vista, fê-lo com competência, sentido de estado e uma visão muito pragmática.

Os resultados estão á vista. Moçambique acabou de ver a sua dívida perdoada e Joaquim Chissano perfila-se como um político de expressão internacional.

Satisfação



[418] - O G8 decidiu perdoar a dívida a alguns países africanos e americanos que demonstraram boa qualidade de governo. Outros terão de esperar.

Sinto uma satisfação particular por ver Moçambique incluído neste grupo. A verdade é que Moçambique tem demonstrado no passado recente não só uma verdadeira consciencialização na necessidade de progresso e de melhoria da qualidade de vida do seu povo como se tem prestado ao exercício de um regime parlamentar e multipartidário..


Descontados inevitáveis acidentes de percurso, os resultados estão á vista.

Arrastados Para o Arrastão



[417] - A minha surpresa é isto não acontecer mais vezes. É a falência da eficácia e da inteligência de um Estado que se diz querer social e que se mantém a navegar na falácia do politicamente correcto e de um paternalismo que, mesmo assim, não passa de retórica de compêndio e de mentes iluminadas.

Quando se lembrarem de «atacar» o problema da exclusão social com medidas racionais e puserem de lado a componente da «solidariedade, inserção social, imigração, xenofobia, racismo e blá blá blá», muito provavelmente os resultados surgirão em forma de uma verdadeira integração daqueles que são, não nos esqueçamos, cidadãos nacionais na sua grande maioria.

Entretanto, e enquanto isso não acontece, era bom ter mais respeito pelas vítimas – aquelas que são roubadas, agredidas e remetidas para um pensamento, esse sim, xenófobo, racista e segregacionista.

Menino Guerreiro Parte II



[416] - Esta rábula do Manel, da Bárbara e do Diniz Maria ainda fará com que eu ache que Santana Lopes era um aprendiz nestas coisas de meninos guerreiros...

RIP




[415] - Morreram Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal. O facto merece-me o respeito devido ao passamento de qualquer figura humana. Mas esse respeito não poderá alijar aquilo que para mim é matéria factual. Qualquer deles poderia ( e tê-lo-á, porventura, desejado) ter conduzido o meu País à guerra civil. Só os distraídos o não recordarão. Além de que foram responsáveis por um atraso de vinte anos no desenvolvimento e bem estar do povo que diziam representar.
Que descansem em paz.

quinta-feira, junho 09, 2005

Prontos, Lá Traque Ser...

[414] - Caros confrades, portugueses e portuguesas, bloggers e … diacho, em inglês fica tudo no mesmo saco.

Tenho quatro dias à minha frente (atrás, tenho muitos mais, uns bons, outros maus, mas dias) durante os quais irei comparticipar no esforço colectivo que nos é exigido para o equilíbrio do défice. Aqui a minha calculadora fiel (sentimento que se vai rarefazendo) computa (salvo seja) uma razoável maquia em IVA, imposto sobre combustíveis, portagens, imposto sobre tabaco, que será entregue ao Estado português, em troca de umas bichas de trânsito, umas bichas em restaurantes e uma ou outra bicha que procurarei evitar por uma questão de vísceras que, para o bem ou para o mal, fazem parte integrante do meu funcionamento orgânico.

Confesso que hesitei entre esta manifestação pueril (e, provavelmente, idiota) de me meter à estrada e ficar em casa a ler um bom livro (e um bloguezito ou outro, porque não?), ver um par de filmes no conforto do ar condicionado e desfrutar de uma das aprazíveis esplanadas que me privilegiam a existência aqui para as minhas bandas. Entre a razão (que seria ficar) e a obediência ao espírito gregário que nos rege a natureza humana, acabei por ceder e prestar-me ao cumprimento escrupuloso dos meus deveres de ser humano e fazer-me à estrada.

Resta-me a consolação que não serei filho único na desgraça – muitos dos meus confrades blogosféricos farão o mesmo. Uns com mais gosto que outros, mas todos ao molho e fé em Deus. Isso fará com que a blogoesfera fique também mais desinteressante. Permanecerão apenas os profissionais onde eu, de resto, não faço falta nenhuma.

A todos um grandessíssimo e alternadíssimo f…piiiiiiiiiiiii (lembrei-me do Alberto João e ia saindo bronca…) f…im de semana. Gozem muito, comam bem, divirtam-se e se num ou noutro momento se sentirem enfastiados e se perguntarem "o que fazer?"…olhem, talvez… isso mesmo que estão a pensar.

E até já.

Adenda: Como é que agora se diz mesmo? Laptop, não é? Pode ser que calhe e «lapetope» qualquer coisa num momento ou outro de ócio…

quarta-feira, junho 08, 2005

C'est la Masturbation



...obviamente dextro!

[413] - Fui espreitar a Vieira e não podia concordar mais com ela. Aliás, quem tiver por hábito espreitar aqui o Espumadamente sabe a alergia que tenho ao calor e à Maria Marques Vidal que diariamente atinge o orgasmo, pela tardinha, com 38º C, a anunciar que «amanhã o tempo estará ainda melhor, porque a temperatura vai subir». E o nervoso que me dá a bica fervente numa chávena escaldada numa pastelaria cheia de barulho e calor ou, ainda, a mamã solícita a dizer à cria para levar um casaquinho porque logo pode refrescar.

Mas o que é que isto tem a ver com a Vieira ?, perguntem-me lá…

E eu respondo: - É que os meus neurónios estão à beira da fusão como, aparentemente, os dela. E foi assim que deparei com um masturbatório teste sobre a dita – a masturbação.

O resultado não podia ser mais frustrante, mas testes são testes e eu sou muito honestinho e não ia agora fazer o teste outra vez para me sair personagem mais recomendável.

Então é assim:

Pee Wee Herman
Masturbation Personality: Pee Wee Herman


What's Your Masturbation Personality?
brought to you by Masturbation Techniques

Perante isto, peço desculpa a quem eventualmente pudesse ter criado ideias especulativas sobre os meus hábitos masturbatórios. A verdade é que aquela do dimly lit theatre environment é apelativo. Mas nem isso chegou para me classificar melhor. Foi sempre uma fantasia recalcada eu um dia masturbar-me num teatro, entre a penumbra e o zzzzzzzzzz do ar condicionado. Um dia calhará…

O Mercado do Fogo



[412] - Não há muitos anos atrás, talvez um par de décadas, um incêndio florestal era um acontecimento possível e devidamente noticiado nos jornais e na televisão. Os bombeiros lá seguiam para o local e, com maior ou menor dificuldade, extinguiam o fogo. Uma vez por outra a coisa era mais séria…mas não passava disso mesmo. Não deixava de ser episódica e razoavelmente controlada.

Hoje há um mercado do fogo. O controle dos incêndios florestais configura uma massa crítica relativa a um verdadeiro mercado cuja quota, em termos europeus, não nos envergonha. Concursos internacionais para aeronaves, as mais diversas, em regime de compra, aluguer ou leasing, admissão de pilotos especializados, compra de um universo imenso de material e equipamento, viaturas ligeiras e pesadas, combustíveis e a criação de muitas centenas ou mesmo milhares de postos de trabalho. Há comissões, cambão, impostos pagos ao estado (IVA e outros) e, ainda, um importante tráfico de influências. Desde a adjudicação de concursos até à eleição e/ou nomeação de cargos. Há, também, a cobertura exaustiva dos acontecimentos pela comunicação social, com todo o retorno em publicidade que isso gera. E é evidente que o «rescaldo» dos acontecimentos proporciona ainda consideráveis mais-valias no sector imobiliário e madeiras de refugo.

Não creio que isto seja muito difícil de entender. Difícil é aceitar como é possível manter este estado de coisas e, de uma vez por todas, não resguardar o nosso património florestal e humano (há gente que morre…). Começa a ser obsceno ouvir todos os anos a mesma retórica sobre o mesmo problema. A culpa não é deste governo, nem do anterior nem do anterior ao anterior. A culpa é esta nossa criminosa letargia e subserviência (e proveito) a grandes interesses instalados. Aliadas à nossa proverbial tendência para a balbúrdia e má gestão. E, claro, à profliferação de chefes e tiranetes pimpões e incompetentes. Enquanto, academicamente, os nossos políticos se entretêm a discutir e a «zangarem-se muito» uns com os outros.

Enquanto isso o meu país, um dos mais bonitos da Europa, arde…

terça-feira, junho 07, 2005

Lógica Masculina




[411] - Para aqueles que acham que as mulheres têm uma lógica muito sua e que os homens têm uma lógica idiota ou, pura e simplesmente, não têm lógica alguma, aqui deixo um episódio vivido pelo Antunes (acho graça que em histórias portuguesas os homens são sempre Antunes ou Gouveia e as mulheres são sempre Emília ou Sesaltina) e que prova que os homens, desde que façam um pequeno esforço e consigam (ou tenham tempo de) reflectir acabam por produzir lógicas cristalinas.

"O Antunes estava em coma há muito, muito tempo e a Sesaltina, solícita e companheira, permanecia dia e noite à cabeceira, não o deixando só por um momento que fosse.

Até que um dia o Antunes acorda, olha em redor, vê que a mulher está à sua beira, faz-lhe um sinal para que se aproxime e sussurra-lhe:

- Durante todos estes anos estiveste sempre ao meu lado, não estiveste?
- Claro que sim , meu amor.
- Quando me licenciei, estavas comigo…
- Estava, meu querido!
- Quando a minha empresa faliu, só ficaste tu para me apoiar.
- Apoiei-te sempre, sempre…
- Quando perdemos a casa, ficaste comigo…
- Claro, meu maridinho de sempre…
- E, desde que fiquei com todos estes problemas de saúde, nunca me abandonaste…

O Antunes interrompe a reflexão e o sussurro e pergunta à mulher:

- Sabes uma coisa?
(Os olhos da mulher encheram-se de lágrimas)
- Diz, amor...
- Com toda a franqueza, eu acho é que me dás azar!!!"

Não sei se o Antunes já morreu. Mas deve ter morrido. Cheio de lógica e cheio do azar extremoso da mulher.

segunda-feira, junho 06, 2005

Virgens Ofendidas

[410] - Alberto João Jardim é malcriado. Chamar filhos da piiiiiiiiii (neologismo da RTP) aos jornalistas é uma forma soez de libertar o que lhe vai na alma.

É oportuno, porém, recordar que um filho da puta não tem que ser, necessariamente, um filho de uma senhora mal comportada. Aliás a filhadaputice é uma feliz e apropriada designação de muitas das formas de os portugueses actuarem, sempre que se levantam boas razões para isso e elas (as razões) coincidam com a sua peculiar forma de patrocinarem os seus interesses. Uma filhadaputice é uma forma sacana de fazer mal sem que para isso a mãe do filho da puta seja para aqui chamada.

Daí que tentar estabelecer paralelos entre a reforma de Alberto João, consubstanciada em 36 anos de normais descontos para a segurança social e a «reforma» de um quadro que trabalhou seis anos para uma instituição pública é uma filhadaputice sem nome. E há casos em que as pessoas (especialmente as dadas a filhadaputices) só entendem este tipo de linguagem.

domingo, junho 05, 2005

Desblogueador de Conversa



[409] - Este grupo de desblogueadores tem um fino sentido de humor, faz parte da minha leitura blogosférica e completa hoje dois anos. Aqui fica uma saudação amiga de parabéns e votos de continuidade.

Tchin Tchin

Baleias em Junho



[408] - A cerca de 35 milhas a NE de Maputo há um «reef» de rocha e coral (Baixo Danae) que é o paraíso dos pescadores desportivos e dos mergulhadores mais afoitos.

Do fundo arenoso do mar, quarenta e cinco a cinquenta metros abaixo do casco, eleva-se um maciço rochoso até quase à superfície. O ponto mais alto das rochas chega quase a uns escassos seis metros do nível do mar, sobretudo no pico da baixa-mar, em período de marés vivas. Os tunídeos abundam e, de entre eles, o cobiçado «wahoo», tido com o mais veloz de todos os peixes e que proporciona momentos de verdadeiro êxtase àqueles que, como eu, tiveram o privilégio de apanhar alguns. O peixe-serra (cuda), a barracuda, a albacora, o bonito, o kawa-kawa, o xaréu (há magníficos exemplares de xaréus no Oceanário de Lisboa), o dourado (dolphin fish), a «queen fish» (palmeta), o tubarão cinzento, o tubarão martelo são exemplares de uma microfauna que se banqueteia com os extensos cardumes de cavala, sardinha e pompano que, por sua vez, predam uma imensa colónia de peixes de coral.

Este cenário ilustra bem como pode ser gratificante uma incursão ao Baixo Danae, apesar das setenta milhas náuticas de ida e volta que é preciso percorrer. Mas não é de peixes que quero falar. É que estamos em Junho - e Junho é aquele mês em que, pendularmente, alguma baleias se «instalam nos subúrbios» do Baixo Danae, aproveitando as baixas temperaturas da água do mar nesta época do ano. Durante alguns anos tive o privilégio de marcar encontro com elas e, frequentemente, partilhei escassas centenas de metros quadrados na zona. A enorme massa destes mamíferos, sobretudo quando emergiam a não mais de quinze ou vinte metros de mim, tornavam o meu barco pequenino e faziam-me sentir a mim próprio insignificante. Um dia tive mesmo a felicidade e assistir e fotogragar um parto. Foi nesse dia que fiquei a saber que as baleias parem a prumo... não sabia, fiquei a saber. Tendo visto de longe aquilo que me parecia uma avioneta despenhada no mar, desloquei-me rapidamente para o local, verificando que o que julgava ser as asas do avião mais não era que a cauda do enorme cetáceo fora de água. E foi aí que percebi que uma nova baleia vinha ao mundo, provavelmente para acabar no prato de um japonês. Curiosamente, desta vez não me foi permitido aproximar-me mais que cinquenta a sessenta metros. Porque a baleia que presumi ser o macho, nadava em círculos e de cada vez que eu tentava aproximar-me, emergia majestosamente a demarcar o território e a avisar-me para ter juizinho...

É... baleias em Maputo! Tanto quanto julgo saber o paralelo 27 é o máximo a que estas magníficas criaturas se aventuram, vindas das águas gélidas do Antártico. E só em Junho. Pendularmente em Junho. Mês das calmarias, das águas frias, dos dias curtos e do regresso da pesca a apontar para o Clube Naval já com as luzes acesas e o Sr.Covas (já falecido) a refilar pela rádio que se quer ir embora e tal, senhor fulano regresse lá, os marinheiros também querem sair, etc., etc.

Devia ser obrigatório gostar de mar e conhecer as baleias do Baixo Danae
...

sábado, junho 04, 2005

Saudosismozinho...nada de grave!

[407] - É fácil, não é lá muito barato, mas dá milhões em «joie de vivre».

É assim:

Se vives aqui tens de apanhar a TAP para Maputo, 11 horas sem fumar, duas refeições de plástico e três filmes. Se já lá estás, basta apanhar uma avionete em Mavalane, duas horas de vôo e aterrar aqui:




Esta pequena ilha, sensivelmente do tamanho do Parque das Nações, tem uma pista devidamente asfaltada onde aterramos, saltamos do avião, andamos trinta passos ao lado de um recepcionista simpático e feliz por ter nascido e entramos aqui:



Depois... jantamos aqui:



No dia seguinte, andamos por aqui:



À noite, é assim (ao fundo, mesmo na direcção do sol, a vila de Vilanculos):



antes de jantarmos aqui:



Nota: O jantar tem SEMPRE lagosta. Suada, Thermidor, grelhada ou a fabulosa sopa de lagosta. Depois há mais uns quantos pratos onde, curiosamente, estão presentes muitas iguarias portuguesas, desde o pastelinho de bacalhau, ao petisco de polvo em vinagrete, passando por enchidos e pataniscas!... Um simpático casal Neo-Zelandês consegue este verdadeiro prodígio, com abastecimentos aéreos quer de Maputo, quer a partir de Harare.

A atmosfera é do tipo de meia hora depois acharmos que andámos com todos os hóspedes na escola primária, há equipamento de mergulho, pesca e fotografia disponível para alugar e ninguém fala do défice.

Hoje lembrei-me desta ilha, a segunda maior do arquipélago de Bazaruto, apesar da sua pequenez. Chama-se Benguera, Benguero, Benguela ou Benguelo, não há consenso. Os sul-africanos dizem Benguerra, o que me parece uma clara corruptela de Bengwela ou Bengwera, mas todos sabemos que a língua inglesa é preguiçosa. Ainda há muito pouco tempo lá estive e estou aqui a pensar porque é que temos de ir pendurar flores ao pescoço e beber pinacoladas para destinos a abarrotar de gente e a ter de pedir tudo em espanhol, esperar pela reparação das avarias do avião da «Yes», quando temos maravilhas destas à nossa espera, quase ao mesmo preço e onde, ainda por cima, nos dão as boas vindas em português e podemos pedir uma saladinha de polvo ou um pastelinho de bacalhau.

E por falar em praias... vou ali a Carcavelos. A caminho de Lisboa, claro, que a A5 continua em obras.

Bom fim de semana para todos.

sexta-feira, junho 03, 2005

Homo Soturnus lusitanicus



[406] - Este homem é bonito, saudável, rico, vive numa grande capital europeia, é casado com uma mulher lindíssima, é saudável, tem filhos, viajou pelo mundo, é reconhecidamente sensato, inteligente e organizado tanto na sua vida privada como profissional e empresarial, é amado pelos portugueses, tem sido um digno embaixador do nosso país, tem ganho prémios e galardões e é jovem. Tem quase a vida toda ainda à frente.

E, todavia, de cada vez que é solicitado a intervir pela comunicação social mostra-se frio, distante, triste, tímido e retraído.

Qual será mesmo o nosso fado?

Almoço Curto



[405] - Há pessoas que se deitam com a democracia, acordam com a liberdade e almoçam as conquistas do 25 de Abril. Que ainda assim seja 31 anos depois da revolução é uma coisa que se me afigura extraordinária.

Era tempo de adquirirmos uma consciência realista e mais adequada a uma conduta onde a justiça social, as virtudes cívicas e o desenvolvimento económico não fossem inquinadas com esta forma de respirarmos. Mas isto digo eu…

quinta-feira, junho 02, 2005

Temos homem, Olaré...



[404] - "Eu já fiz mais em dois meses e meio, como ministro dos negócios estrangeiros, pelo bem de Portugal, do que se fosse Presidente da República em dois anos e meio".

Freitas do Amaral, Grande Entrevista, RTP, agorinha mesmo

As Mulheres... sempre Elas



[403] - Ontem, já muito de noite, vi uma pequena reportagem sobre um casal que celebrou 80 (oitenta!!!!) anos de casamento, tendo ganho direito automático a ir para o Guiness Book of Records.

A notícia em si não me despertou grande curiosidade. Não acho nada por aí além estar casado durante oitenta anos, sinal de que a prova de fogo há muito que foi ultrapassada. O meu avô, incurável «womanizer» (e prefiro esta designação ao marialva «femeeiro», já que esta designação nos transporta para as planícies australianas ou mesmo alentejanas onde um femeeiro tanto pode ser um homem que perde a cabeça com as mulheres como com uma qualquer ovelha do rebanho. «Womanizer» é, assim, muito mais elegante, civilizado e humano e o meu avôzinho, graças a deus era humano da Silva), já dizia que o casamento era um nobre passo que todos devíamos dar. Difícil, difícil eram os primeiros vinte anos. Depois… a gente habitua-se.

Daí que estar casado há oitenta anos significa que os primeiros vinte anos foram vencidos com sucesso e que o feliz casal, entretanto, «se habituou». Mas o que verdadeiramente notei e me fez sorrir foi a cena tipicamente conjugal do repórter a entrevistar a idosa senhora, que ia falando pelos já enrugados cotovelos, enquanto o idoso cônjuge dormitava ao seu lado. E é aí que a esposa, de repente, abana o seu mais que tudo e diz com um ar de reprovação: «...and you better wake up and say something...»

Pronto, Estava ali o quadro. Oitenta anos de casado para ouvir uma reprimenda daquelas e não poder tirar uma soneca…