quinta-feira, agosto 31, 2006

Um "Ernesto" justo e correcto


[1180]

Vai-te embora, "Ernesto". Segue o teu caminho. Segue porque aqui não te safas. Isto é Cuba e temos estado à tua espera. Isto é Cuba e daí que tenhamos tomado todas as medidas necessárias para que não nos causes danos. Porque aqui preocupamo-nos com as minorias que mesmo que por cá sejam maiorias não deixam de nos suscitar os maiores cuidados na emulação da justiça meteorológica como um agente efectivo do exemplo de como se deve prevenir os efeitos de um furacão. Segue, Ernesto. Segue para Nova Orleães, por exemplo, onde o Katrina teve muito êxito e onde morrem mais pretos que brancos, onde o mayor é preto, mas está de moscambilha com o venal Bush que não quis saber das minorias para nada, que por acaso lá também são maioria, se atrasou nos planos de emergência, desviou fundos e perde o tempo a ler Camus no rancho sempre que pode, sem se interessar para nada com os Ernestos deste mundo e com o bem estar dos seus cidadãos. Aqui é Cuba, a luta continua, independência ou muerte, el furacón non passará.

Deve ter sido um diálogo deste género o que aconteceu. Pelo menos a avaliar pela insistência, o tom épico, vitorioso e pedagógico com que a RTP tem visto a anunciar em regime de “martelada”, que o Ernesto perdeu intensidade e seguiu o seu caminho sem causar prejuízos de monta na ilha. Seguiu o seu caminho para outras paragens de injustiça e onde o sonho americano afinal não é bem o que se diz, com direito a “tema” de duas páginas e um editorial (de veludo, como de costume) no Diário de Notícias de ontem, mas desta questão já o Basfémias tratou oportunamente. O facto de toda a gente querer continuar a ir viver para lá deve ser por força de alguma publicidade encapotada e enganosa dos americanos que estão ansiosos por encher o país de mexicanos, guatemaltecos, dominicanos, cubanos (só os devassos, claro) e até Birmaneses foram agora aliciar.

Começa a ser demais. Overdose. Patológico…

quarta-feira, agosto 30, 2006

A Origem das Espécies




Tchin Tchin


[1179]

Primeiro aniversário do
“A Origem das Espécies”, por muito absurdo que pareça ao FJV.

Um abraço de parabéns.

Regressar lá para fora



[1178]

Há por aí nas minhas relações ”blogoesféricas” um par ou dois de casos em que
os regressos de férias se fazem no sentido inverso ao da maioria. Ou seja, “regressam lá para fora”.

Vem-me à ideia quando isso acontecia comigo. “Regressava lá fora” depois de um tempo de férias cá dentro, numa sequência de alguns anos que me foram criando a ideia de que cá dentro se tornava cada vez mais fora e que lá fora é que se situavam todas as minhas referências. Seria talvez o “inner side of” de todos nós. Aquela zona mais ou menos desconhecida mas facilmente percebida que nos vai ditando as prioridades, os desejos, os prazeres e as idiossincrasias próprias de quem acha que anda no mundo a fazer alguma coisa – seja o que for.

Um país como o nosso gera um vasto campo de ambivalências e uma clivagem muito grande entre os sentimentos de quem vive longe. Há coisas tão boas, como o clima, a comida, a paisagem, que frequentemente nos sentimentos assim uma espécie de povo eleito, pelo pais que temos. Há outras coisas tão más que, em muitos casos nos fazem desejar regressar lá fora ao fim de dois dias de férias. Curiosamente as coisas más são indissociáveis de comportamentos humanos, pelo que, bem vistas as coisas, o pais nada tem de mal. O que é verdadeiramente mau é o tratamento que lhe damos, as agressões contínuas que lhe infligimos, tornando-o um dos mais “feios” países da Europa, no seio do qual criámos as mais absurdas situações, advindas das nossa pouco recomendáveis características de espécie gregária, variedade “lusitanus”, com manifestações tão más, pífias, comezinhas, provincianas, de má índole e de reconhecido défice de sentido cívico, que desaguam na “época dos descobrimentos” de cada vez que procuramos em nós alguma coisa de bom. Ah! E a nossa hospitalidade, claro, apesar de esta ter vindo a sedimentar-se cada vez mais no conjunto do nosso tecido social.

Mas se falei em ambivalências é porque apesar de tudo e à revelia de quaisquer veleidades patrioteiras de pacotilha, permanece nos expatriados um sentimento de pertença em relação a Portugal, sentimento esse frequentemente tocado de alguma lamechice, que deve ter a ver algo com qualquer coisa parecida com a nossa massa crítica, para usar uma expressão muito em voga. Daí que na grande maioria dos casos, acontece muitas vezes vivermos lá “por fora”, criarmos raízes alienígenas, mas nunca chegamos a descartar a faceta autóctone que nos molda o “saco” da farinha que somos. Basta pensarmos na nossa rede de relações, amigos, familiares, conhecidos e vermos quantos deles acabam por se fixar no estrangeiro, quando nos começamos a sentir a caminhar para uma idade de reforma, por exemplo. Muito poucos. Acabamos todos por regressar às origens. Levamos o resto da vida a barafustar e a achar que somos um povo inviável e impossível de suportar mas acabamos por nos integrar, normalmente comendo umas pataniscas e rematando com uma bica curta. Mesmo que nunca nos desembaracemos dos anti-corpos que, entretanto, criámos.

Comigo, foi assim. Não sei se é bom se é mau, mas foi
.

terça-feira, agosto 29, 2006

Amanhã é que é...



[1177]

Macacos me mordam se amanhã não escrevo um post… nem que tenha de levantar-me mais cedo!

Uma pessoa acorda intencionalmente disposto a não sair de casa sem falar mal de alguém ou de alguma coisa, sente no estômago aquele desconforto de saber que não anda a escrever nada de jeito nos últimos dias, passam-lhe pela cabeça dois ou três assuntos que dariam um post engraçado e depois, a meio do café, já o telefone toca um par de vezes e aquela vontade de bater nas pessoas que me costuma aparecer aí pelas onze horas, não antes, começa a invadir-me sem piedade. Numa fase em que me vai fenecendo a vontade para andar ao estalo e faltando atributos para me meter com tipos de mais de um metro e cinquenta e quarenta quilos, acabo por me remeter a um decúbito mental que me proporcione uma catarse mínima que me permita chegar a Lisboa sem esbarrar nos “mecos” divisórios da marginal, limitando-me a gozar uma imagem que vou construindo, na qual vejo umas quantas pessoas que vou estripando aos bocadinhos por forma a que ao passar em Algés, já lhes tenha os bocadinhos bem cortados, arrumados numa mala de viagem, pronta para ser lançado ao Tejo ali por alturas do Museu da Electricidade. Tal e qual aprendemos nos filmes.

Portanto, três palavrões e dois telefonemas “long distance” depois, aqui estou eu a penitenciar-me por não escrever qualquer coisa mais interessante. Nem que fosse que achei ontem a Judite de Sousa mais gorda enquanto “soltava as notas” a Vitorino. Em contrapartida, o marido mostra estar em grande forma, dirimindo argumentos com os seus colegas “paineleiros” na SIC notícias, a propósito daquela pantomina do Gil Vicente, Belenenses e correlativos. Está é um pouco mais “sssopinha de masssa” (Ó Zsssssé Guilherme, ó Zsssssé Guilherme…), mas como a Judite está cada vez mais uma pessoa “sebem”, sempre dá para imaginar aqueles dois em silêncio lá por casa, numa forma mitigada de entendimento, na base de quanto menos falarmos menos nos rimos um do outro.

Pronto, já disse mal de alguém. Só um bocadinho, mas disse. E sem ofensa, que eu até atino com as personagens… mas que ela está mais gorda e ele mais "sssopinha de massssa", estão!

segunda-feira, agosto 28, 2006

À falta de tempo...



[1176]

À falta de assunto e por mor de um dia particularmente agitado, fica aqui uma maldadezinha dedicada aos meus amigos lampiões, com votos de sorte para a árdua luta pelo segundo lugar.

A "Gaija do "Norte"



[1175]

A Voz em Fuga faz dois anos.

Isto de fazer anos em Agosto e à beira de um fim de semana é o que dá… damos por ela tarde e más horas.

Aqui fica um beijinho para a gaija do norte que eu leio todos os dias ao sul, excepto quando ela faz anos em Agosto e num fim de semana.


Tchin Tchin


domingo, agosto 27, 2006

Fruta a saber a fogueira


[1174]

Encontrei esta foto-
grafia de
embondeiro por aí.

Lembrei-me que o primeiro embondeiro que vi, ao vivo e a cores, foi no norte de Moçambique e tinha eu 9 anos. Caminhei até ao imenso tronco e dei algumas voltas, extasiado, ao seu redor.

Eu sabia que havia umas árvores na América chamadas sequóias, tão grandes e tão altas que até davam para escavar um túnel nelas para os automóveis passarem. Nunca as vira, mas o meu saudoso pai, que foi o melhor professor dos muitos que tive, descrevera-las com tal riqueza de pormenores que era como se as conhecesse. Mas com os embondeiros era diferente. Não só o meu pai nunca me falara de embondeiros (tenho que dizer isto baixinho senão aparece já por aí um post qualquer a dizer pois, já nessa altura a predominância e a agressividade imperial americana se sentia que até as crianças de nove anos já sabiam o que era uma sequóia, mas não conheciam os embondeiros), como eu estava ali a ver um, a tocar-lhe e a contar quantos passos eu precisava para lhe percorrer o perímetro.

Talvez por via desta cena (verídica), o embondeiro representou sempre (dignamente, é preciso que se diga) o sentido que África fazia para mim durante os anos em que convivi com ela. Em várias versões, mas sempre África. Árvore gigantesca, com uns frutos de sabor único (sabia-me a fogueira e, juntamente com a castanha de caju e a goiaba, representavam, sem paralelo, os sabores africanos), indolente, com a força aparente que lhe vinha do tamanho mas, afinal, de madeira tão macia.

Sabe-se que os embondeiros são centenários ou mesmo milenares. Curiosamente nunca consegui ler muito sobre embondeiros. Ou sabe-se pouco sobre eles ou são de pobre interesse botânico. Mas eu gosto de embondeiros. É talvez a primeira imagem que me vem à lembrança quando se fala em África e são, de certeza, tão nobres e respeitáveis como as sequóias americanas.

Então e o Popeye?


[1173]

Tinha acabado de escrever o post anterior, pequenino e sem graça como convém neste mês de Agosto em que metade da “blogosfera” está de férias e a outra metade anda mais ou menos sem assunto, quando li que um súbdito de Sua Majestade Britânica viu um filme do Tom & Jerry em que o Tom (o coitado do gato, feito “gato-sapato” pelo idiota do Jerry…) a tentar conquistar uma gata, enrolando e acendendo um cigarro com o “glamour” que o acto e o objectivo sugerem.

Claro que o tal súbdito reclamou logo junto da “Ofcom” que é um “órgão regulador britânico das indústrias da comunicação”. Do que se sabe, a Ofcom ficou muito preocupada e partilhou a preocupação do queixoso com a cena nefanda que circulou pelos ecrãs há cerca de cinquenta anos.

Provavelmente o cidadão preocupado com o fumo do Tom não lava os dentes e, como inglês que se preza, toma um banho por semana e talvez partilhe até a água do banho com a mulher e os filhos. Talvez até se entretenha a embebedar-se às sextas, ressacar aos Sábados e bater na mulher aos Domingos. "After going to church, so to speak". Tudo isso está certo. Agora permitir que o Tom tenha o desplante de acender um cigarro para conquistar uma gata, isso não. É decadente, faz muito mal às coronárias mas, vendo bem as coisas, se não fossem estes “petit quois” como que é que estes imbecis se entretinham?

Pois...


[1172]

Há 270 dias que me apetece um cigarro…

sábado, agosto 26, 2006

Não é fácil...


[1171]

Falar mal não é tão fácil como se possa pensar. Por outras palavras, acho que há pessoas que são muito boas a falar mal. Ou falam muito bem a falar mal.

Não se trata dos erros mais comuns da língua portuguesa, como “as gramas”, os jú-ni-o-res, o “consígamos”ou “a gente vamos”. Mas, outrossim, da sintaxe muito nossa, muito tuga e muito, mas muito difícil de aplicar a preceito. Não creio que muitos povos consigam, como nós, ser tão bons a falar mal. Porque, do meu ponto de vista, nós falamos como somos, nós falamos na obediência estrita ao nosso espírito complicadinho e enviesado e à mais gritante falta de rigor que “póssamos” imaginar. Eu diria, que frequentemente falamos com a mesma displicência como arrumamos um carro por cima dos traços brancos de um parqueamento e atravessamos o carro a ocupar dois ou três lugares. Não é por mal. É porque somos assim. Desleixados, tudo assim pela rama, sem rigor e sobretudo sem respeito pelos outros ou por nós próprios.

É que eu não consigo encontrar outra argumentação que justifique um homem como Jesualdo Ferreira dizer no fim do jogo do Porto com o Leiria que para a equipa não foi fácil passar as duas últimas semanas difíceis.

Já tentei falar assim, comigo próprio, a título de experiência. Com esta ligeireza. Não sou capaz. É preciso sermos muito peculiares para dizermos que não foi fácil passarmos as duas últimas semanas difíceis!...

A puta da minha filha infiel, não querem lá ver?



Una foto reciente de Hina Salem, degollada y enterrada en el jardín de la casa familiar. (AP)


[1170]

"Hina murió en familia. La joven fue degollada por su padre, un inmigrante paquistaní llegado a Italia en 1996. Su tío y su cuñado aprobaron el asesinato y ayudaron al padre a enterrar el cadáver, con la cabeza hacia la Meca, en el huerto de casa. Hina tenía 20 años, convivía con un italiano, trabajaba en una pizzería, fumaba, lucía un tatuaje y se negaba a casarse en Pakistán con uno de sus primos, como había decidido la familia. Cuando le detuvieron, el padre lo explicó todo: "La maté porque vivía con un italiano, era una puta y no me obedecía".

Ver notícia e fotos da vítima e do noivo no El Pais

Via Helena Matos no Blasfémias

Depois desta notícia, aconselho a leitura da crónica do Miguel Sousa Tavares no Expresso de hoje (sem link) e a habitual (e despudorada) reinação do Daniel de Oliveira (também sem link), que continua “chocado e apavorado” com a forma como “nos” andamos a portar.

sexta-feira, agosto 25, 2006

O Bloco e as Termas



Reportagem no exterior da RTP. O perigo é a sua profissão...


[1169]

Na sessão de masoquismo diária a que me presto todas as manhãs (leia-se ir ouvindo o "Bom Dia Portugal" enquanto tomo o pequeno almoço), lá vinha uma repórter da RTP a explicar que cinquenta pessoas residentes da Azinhaga dos Besouros estavam sem casa, porque a Câmara estava a demolir a Azinhaga, a repórter girava entre várias pessoas embrulhadas em cobertores e lá ia fazendo as perguntas da praxe, à medida que os residentes iam prestando as respostas da mesma praxe. Este tipo de reportagens desagua sempre numa pequena entrevista com um representante do Bloco de Esquerda (gostava de saber porquê, mas isso não vem agora ao caso) que desbobinou a ladainha do costume. O direito constitucional a um tecto, a brutalidade da polícia e um enorme etc., que me parece estulto esmiuçar porque é sempre o mesmo. Um “etc.” assim a modos de um sucedâneo da cassete do Carvalhas.

É nesta parte da reportagem que me lembro das Termas, que são organizações turísticas que fazem muito bem aos bicos de papagaio, ao fígado, à pele e, já o ouvi, à flatulência. Tão bem que todos os anos estão cheias de gente que todos os anos vai a banhos termais durante uma vida inteira. O que me faz pensar que, de duas uma, ou os turistas termais têm doenças diferentes todos os anos ou as termas fazem só um bocadinho de bem, um bocadinho por ano e o pessoal leva uma vida inteira a ir às termas. Donde se infere que as Termas existem porque há doenças que se curam (?) com Termas (em prestações suaves, é ver os "doentes" todos os anos sentados dentro da água de tanques, enquanto cavaqueiam sobre futebol, endireitam a coluna e libertam as maleitas do fígado, da pele e, já agora, uns quantos gases intestinais), senão quem é que se dava ao trabalho de ir a banhos naquelas águas infectas a parecer sopa da véspera e pejada de carcaças sofredoras de bicos de papagaio e desvios de coluna?

Com o Bloco é a mesma coisa. Não fossem estas demolições e a Carla Trafaria, cabelos apanhados por causa do vento e microfone empunhado ao estilo de tocha olímpica, o que seria do Bloco? Eu sei que ainda haveria um barco de aborto aqui e ali, umas sessões avulsas de desobediência à polícia e mais umas causas absolutamente incontornáveis no nosso caminho para o progresso e justiça social. Mas as demolições são, talvez, o cenário mais eficaz. Mulheres a chorar, com ranchos de filhos, adolescentes irados e velhinhos alquebrados, todos vítimas do sistema que gera no seu seio aqueles que todos os dias acordam a pensar: Quantos imigrantes é que vou desalojar hoje? Assim mais ou menos como o meu tipo de pensamento, quando é que dá uma epidemia de bicos de papagaio ao Bloco e vão todos para as Termas?

quinta-feira, agosto 24, 2006

Figura triste... triste figura


[1168]

Ia jurar que Jerónimo de Sousa estava comovido (!...) quando disse que Carlos Sousa era uma grande homem mas às vezes os grandes homens não são homens grandes para as tarefas em que os homens têm de ser grandes, mas podem ser homens grandes e não serem grandes homens, qualquer coisa por aí, o que prova que tamanho não é documento ou que a qualidade e a beleza interior é que contam em função das três formas dimensionais em que os humanos vão passeando a sua enorme idiotia e desonestidade.

Resumindo, não fiquei a saber muito bem porque é que o presidente de Setúbal deixou de ter a confiança do PCP, apesar do PCP continuar a ter toda a confiança no homem. Mas para o caso tanto faz. O que conta é que eu tenho sérias, muito sérias, dúvidas que exista ainda algum país europeu (pois é da Europa que se trata, por muito que isso nos possa parecer estranho) onde a ortodoxia de um partido se manifeste de forma tão descarada e onde o desrespeito pelos cidadãos seja tão evidente como neste país – onde usamos todos telemóvel mas continuamos a assoar-nos à gravata. Só assim se entende a continuada pesporrência de um partido político que não só ainda não aprendeu nada desde que o muro caiu como, mais grave, não consegue desaprender o que devia ter desaprendido. Trágico é o rebanho que ainda existe e que vai fazendo mééé e habitando o redil obscuro e imobilista que lhe foi generosamente atribuído.

A Jerónimo de Sousa só lhe faltou a pileca para parecer o cavaleiro da triste figura quando tentou explicar na reportagem a história dos homens grandes e dos grandes homens. Mas enfim, há sempre quem aplauda!

O sonho de qualquer ecologista que se preze



Clicar na foto para uma frescura e verdura maiores


[1167]


... e, já agora, o meu. Vê-los devidamente acondicionados num ambiente asséptico, bacteriologicamente puro, cobertinhos de verde e bem fechados num saco qualquer para não chatearem a vida a quem está.


Foto recebida por e-mail da Ana A.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Boa pergunta


[1166]

Cessar o quê?

A ONU não presta para nada. Não evita conflitos, não evita guerras, não evita destruições, não evita catástrofes humanas. É a instância mais empatativa e mais desprestigiada de toda a História internacional. Falha cronicamente em todas as situações em que intervém e em que as normas de direito tenham de ser impostas pela força coerciva. Nunca evitou nenhum genocídio. Há mais de 20 anos que falha no Médio Oriente. Vai agora falhar mais uma vez.

Decretou-se um cessar-fogo em que os beligerantes não têm o mesmo estatuto. O Hezbollah é uma canalha assassina que não pode ser tomada a sério nem é fiável como interlocutor. A única solução é varrer as suas milícias da zona que ocupam e o Líbano não consegue fazer isso. Praticamente não existe como Estado. É um joguete de várias forças e não tem qualquer capacidade negocial. O seu exército nunca foi capaz de limpar o Sul do país, nem nos tempos da OLP nem nos do Hezbollah. Este participa no Governo do país e contribuirá jubilosamente para a aprovação de novos fornecimentos de armas e para que ao exército seja conferido um mandato suficientemente inócuo no Sul do território.

Está-se mesmo a ver o sinistro resultado que Israel colheria se embarcasse nas injunções tão penosamente cozinhadas da comunidade internacional. Até se sentir em segurança, Israel dirá "sim, mas" ao cessar-fogo e fará o que entende que deve fazer. Felizmente para os judeus e para o mundo civilizado. O quadro da sobrevivência de Israel passa pela criação de um conjunto de condições que respeitam ao mundo árabe, ao mundo islâmico em geral e às redes terroristas. É inalcançável sem fortes dispositivos militares e sem parcerias em que o Ocidente intervenha decididamente, mas, para já, só os Estados Unidos e a Grã-Bretanha é que parecem ter compreendido todas as implicações civilizacionais e geostratégicas de uma questão cujos termos estão todos interligados, ao contrário do que pensam algumas almas ingénuas e do que afirma a esquerda pós-soviética.

Não se vislumbra que a tal força militar da ONU venha a ter uma composição satisfatória. Franceses, italianos e espanhóis, cuja participação nela se anuncia, acabarão a contribuir submissamente para o falhanço da missão: é o que pode esperar-se da mediocridade congénita e irremissível dos srs. Chirac e Villepin, da periclitante salada de esquerda do sr. Prodi e do progressismo alvar do sr. Zapatero. A França já começou a fazer as pantominas esperáveis. E o acordo para o cessar-fogo já começou a ser desrespeitado, pois nem a ONU nem o Líbano desarmarão o Hezbollah.

A força-tampão da ONU não estará em condições de disparar um único tiro. Não terá estômago para matar e morrer, como diria Miguel Monjardino, e sem isso não será possível impor uma autoridade nem fazer cumprir o direito. No dia em que os capacetes azuis esfolassem a falangeta do dedo mindinho de um só membro do Hezbollah, logo o aveludado sr. Koffi Annan se desdobraria em manifestações de pesar idiota e pedidos de desculpa irracionais.

E, depois, a União Europeia não existe militarmente. Não tem condições para integrar, enquanto tal, o contingente e, se as tivesse, ficaria bloqueada pelas divergências abissais entre os Estados membros, como já aconteceu quanto ao Iraque. Uma força da UE, se existisse, também não dispararia um único tiro e muito menos arriscaria a vida de um único soldado, porque isso faria perigar as veleidades eleitorais imediatas de alguns dos seus tenores políticos.

A UE, além disso, ainda não percebeu que todas estas questões são interdependentes e que, sem capacidade militar, ficará suicidariamente a ver passar os comboios.

"Diria que a Al-Qaeda, Hezbollah, Irão e Síria se uniram para acabar com Israel e com o Ocidente" (Bernard Lewis, Sábado, 17-8-06).

O jornalista e escritor egípcio Magdi Allam diz o mesmo: "A guerra no Médio Oriente está a caminho de consagrar uma frente nacional anti-imperialista, formada por grupos terroristas e por Estados islâmicos, assim como por países da América do Sul, da Europa e da Ásia que se inspiram na ideologia comunista" (cit. por J. A. Carvalho, Público, 18-8-06).

Os israelitas não terão outro remédio senão neutralizar o potencial nuclear do Irão. Mas a União Europeia continua a contentar-se com as patéticas deslocações do sr. Solana por esse mundo fora e a achar que tantas andanças tão exemplarmente sem sentido correspondem ao papel mais eficaz que a História lhe reservou
.

Vasco Graça Moura
Diário de Notícias de hoje

A questão é demasiado simples para ser escamoteada através de florilégios moralistas ou demagogia criminosa.

Post malcriado...ou da falta de imaginação dos portuenses!

NOTA: ESTE POST CONTÉM MATERIAL E LINGUAGEM SUSCEPTÍVEIS DE FERIREM A SUSCEPTIBILIDADE DOS LEITORES.

[1165]

Minha
querida amiga. Independentemente de eu achar que a designação cimbalino é um paroxismo à falta de imaginação (convenhamos que chamar a uma bica um cimbalino só porque o café é tirado duma máquina La Cimbali remete para uma desoladora falta de imaginação dos portuenses) choca-me que te tenha passado pela cabeça sequer que eu não conhecia a marca Cimbali, a avaliar pelos esclarecimentos com que me privilegiaste neste comentário.

Qualquer bebedor de café se preza de ter um conhecimento razoavelmente alargado de várias máquinas de café. O que está verdadeiramente em causa é o facto de um café na Invicta se chamar um cimbalino só porque é tirado duma Cimbali. Interrogo-me se em vez da Cimbali, as primeiras máquinas de café expresso tivessem sido
estas… acho que aí vocês não teriam outra opção senão puxar mesmo pela imaginação. Ou então, sempre estaria para ver como vocês chamariam aos cafés expresso!

Nota:
Esta marca é uma das mais populares no Reino Unido, USA, África do Sul e Austrália. Vistas bem as coisas, a marca é bem conhecida worlwide, mas nem sempre o sentido é o mesmo!...

Sai uma bica


[1164]

Há dez anos (e tenho a notícia bem presente), um estudo indicava que a cafeína tinha efeitos cancerígenos, segundo o qual as mulheres bebedoras de café contraíam mais cancro de mama, numa determinada percentagem que não me recordo. Hoje de manhã é noticiado um outro estudo segundo o qual as mulheres bebedoras de café reduzem em 10% o cancro de mama, à razão de dois cafés por dia. Em 15% se o número de chávenas for de três a quatro.

Muito provavelmente, há dez anos atrás as bebidas “light”, “cafeine-free” e várias marcas de cafés descafeinados terão subido as vendas. Juraria singelo contra dobrado que as vendas dos produtos “real thing” irão agora subir, já que os mercados, por vezes, precisam de algumas aparas na massa crítica para compensarem desequilíbrios que podem complicar as linhas de produção industrial.

Jamais haverá o perigo de a contradição deste tipo de notícias se vulgarizar e tornar inócuos os reais objectivos do seu aparecimento. Sobretudo porque, de um modo geral, as pessoas processam a informação à medida dos seus desejos. Ainda ontem uma idosa bem intencionada com quase noventa anos e que sofre de pequenas dores múltiplas nos membros, certamente relacionadas com artroses próprias da sua avançada idade me disse que conheceu um senhor que esteve no Brasil e que depois lhe deu uma massagem na perna, deu-lhe um esticão no calcâneo e… "voilá". Não é que as dores se foram? Aguardo agora os próximos episódios, sobretudo para saber quanto é que a senhora pagou pelas visitas seguintes que o senhor simpático que esteve no Brasil achou ou vai achar que ela terá de lhe fazer, não vá o calcâneo voltar a fazer das dele ou a coluna fazer das dela.

Mantêm-se assim intactas, todas as condições para termos estudos científicos contraditórios de dez em dez anos. Todos nós nos queixamos da falta de credibilidade das notícias em geral mas todos acolhemos com periódico e mal disfarçado conforto um estudo qualquer. Sobretudo se ele for habilmente dirigido às nossas conveniências pessoais de gordos, magros, fumadores, bebedores de café, amantes de coca-cola, comedores de pão, apreciadores de enchidos e de queijo ou de um copinho de tinto à refeição. Há estudos para tudo, descansemos. E nós gostamos muito que eles continuem.

E agora vou tomar mais uma bica porque, para quem não saiba, os homens estão sujeitos também ao cancro de mama e, claramente, um estudo destes é música para um bebedor de bicas como eu.

Não há meio de arranjarem um estudozinho para os cigarros, que coisa…

terça-feira, agosto 22, 2006

Vazio


[1163]

Hoje não há post. Estou cansado, meninges derretidas, sinapses lesionadas, hermenêu-
tica falida. Para pegar no mote eu tinha de falar do calor que voltou mas é uma tema que já tem barbas, é contra a corrente nacional que gosta do quentinho e do casaquinho de malha ao fim de dia quando arrefece e, quando muito, espoletaria um piedoso comentário da única pessoa que me compreende na desgraça das temperaturas acima dos 25º C. Por isso, não há nada para ninguém. A única coisa que me ocorre é a notícia da ida de Merche Romero ao Multibanco, mas convenhamos que é um tema algo pífio para merecer um post escovado. Provavelmente tanto o tema como o equipamento e as personagens e eu tenho uma reputação a defender, qual seja a de não deixar subentendidos sobre a distinta possibilidade de eu poder andar por aí a ver os programas do não sei quantos Malato ou a ver jogos de futebol onde entre o Cristiano Ronaldo.

É que há dias assim… sem ar condicionado no quarto, entra-me logo pela manhã um jorro de sol (que faria as delícias, olha, da Merche por exemplo, estirada numa praia de seixos da Madeira), pelo quarto adentro e isso é uma situação que de imediato me tolhe o raciocínio (olha, como a Merche quando aparece na televisão; a gente gosta, pelo menos até ela abrir a boca, o que nos cria um impulso imediato em telefonar para a estação exigindo que a pequena apareça mas nunca abra a boca, salvo em causas reconhecidamente nobres, mas isso são outras vidas que eu não me vou pôr para aqui a dissecar - esta aprendi com o Sr Esteves do talho, que me perguntou há dias se eu queria os bifes dissecados finos- ).

Voltando ao post, não há nada para ninguém, portanto. Vou para o duche já e à falta de mais imaginação vou trabalhar. É que se não for isso, não posso ir ao Multibanco…

Nota: Por qualquer razão que me escapa, eu escrevo Multibanco em caixa baixa e quando acabo a palavra ela salta para caixa alta. Esta das caixas aprendi no Público que esta coisa dos media (!...) não serve só para nos informar que a Merche vai ao Multibanco e usa o seu próprio cartão…

segunda-feira, agosto 21, 2006

Coisas que eu não sei...


[1162]

Respigado do Suplemento Económico do Expresso de Sábado passado, fiquei a saber que Portugal tem a maior Zona Económica Exclusiva da UE no Atlântico (por acaso esta já sabia…), possui uma das maiores frotas pesqueiras da Europa, mas as capturas representam apenas 3,6% do peixe consumido nos 25 Estados-membros. Sobretudo porque o sector de pesca artesanal emprega cada vez menos gente e abateu 264 embarcações nos últimos seis anos. Sem embargo de sermos o terceiro consumidor de peixe a nível mundial com um consumo annual per capita de 57 kg, apenas ultrapassados pelo Japão (65 kg) e pela Islândia (91 kg). Não produzindo o suficiente, somos forçados a importar dois terços do peixe que precisamos.

As coisas que eu não sei! Mas nem por isso deixava de desconfiar…

domingo, agosto 20, 2006

Amoras de silva



[1161]

Hoje reparei nelas por acaso. Estão aí de novo, como acontece todos os anos, amuando com a indiferença dos passantes e oferecendo-se, provocantes a quem as quiser desfrutar.

Hoje reparei nelas e parei a bicicleta para apanhar uma ou duas. E lembrei-me como há cerca de dez anos atrás as amoras de silva foram parte indissociável de um programa “portugalizante” de uma filha de 10 anos que, por exemplo, já conhecia Hong Kong, a cidade do Cabo, Paris ou Marracuene mas cujo conhecimento de Portugal se resumia aos verões de Vilamoura, ao Hotel Tivoli de Lisboa e umas idas fugazes ao bairro da Encarnação. Por isso achei que lhe devia mostrar o pão de ló de Alfeizerão, as areias da Areia Branca, alperces maduros nas árvores, o sável frito do Tejo, os pastéis de Belém, os genuínos, o museu dos Coches, a Batalha, a Universidade de Coimbra, Almeida, a Serra da Estrela (o zimbro, as paiolas e o queijo, a Santa e o Poio do Judeu), as terras de Bouro, Foz Côa, a terra de Viriato, o Castelo de Guimarães, os vinhedos do Douro, aldeia de Monsanto, a maçã reineta de Armamar e outros “artigos” genuinamente lusos que seria fastidioso continuar a enumerar. E a verdade é que as amoras ganharam um lugar de proa na sensibilidade da adolescente. Habituada aos sabores das goiabas, mangas, papaias, maçucos, pitangas, maboques (África terra bruta, que ate à papaia lhe chamam de fruta…), a filha de 10 anos rejubilou com os sabores novos das amoras, das cerejas do Fundão (a cereja sul-africana é blague em estado puro), abrunhos e correlativos da zona temperada do norte. Mas a sua preferência pelas amoras era clara. Não só pelo gosto mas também pelo facto de serem apanhadas “no mato” à beira de estradas secundárias o que, certamente, lhe traria reminiscências dos “matos” anteriores. E foi assim que em muitos passeios, fiz muitas paragens para apanhar e comer amoras, os dois sentados na berma da estrada, pretas, doces e deliciosamente cobertas do pó da estrada que fiz questão que ela comesse, duvidando da sanidade mental de um pai que até aí lhe tinha incutido um estrito sentido de higiene e que agora ali estava a dizer que podia comer amoras cobertas de pó…

Era o tempo da filha de 10 anos e de mais uma mudança de vida para novas caras, novas gentes, novos climas e novas frutas. Como as amoras. Um tempo em que as minhas preocupações passavam por matérias tão simples como as de achar que uma filha provinda de um vasto cosmos “precisava” de se integrar num meio que, mau grado a vivência anterior, era o que constava no seu passaporte.

Mas isto foi há dez anos. Ela hoje tem vinte e come amoras com a naturalidade de quem já conhece o país de norte a sul e conhece os segredos das pataniscas de bacalhau ou que Golfeiras é aquela terra antes de Mirandela onde, de resto, se fazem alheiras muito boas. Por isso já não passeia com o pai. E ainda bem. Porque continua a passear na mesma, tem uma colecção admirável de amigos e colegas, não pára quieta, herdou o estilo palavroso do pai e a graça da mãe o que, convenhamos, é uma simbiose feliz e é uma portuguesa encartada e com as quotas em dia. Além de que se eu hoje dissesse à minha filha que hoje tem vinte anos para irmos dar uma volta à Serra da Estrela, por exemplo, e pelo caminho comíamos umas amoras de silva, ela era capaz de achar que eu deveria ir com urgência à externa de psiquiatria. E daí… um dia experimento e pode ser que com a aliciante de subir o Cávado num bote a motor eu consiga convencê-la.

O post ficou longo e eu já não sei o que ia dizer ao princípio, quando parei para comer as duas amoras. Mas que parei, parei. E comi umas quantas. Depois foi a parte amaricada de telefonar à miúda a dizer : - “Olha, parei a bicicleta e estive a comer amoras à beira da estrada…”

sábado, agosto 19, 2006

Uma pergunta idiota?


[1160]

Se é corrente ver artigos de opinião e cartas ao director em vários jornais, incluindo o "Expresso", sobre a justiça de reduzir o valor das portagens sempre que uma auto-estrada está em obras, não seria de exigir ao "Expresso" que reduzisse o preço de capa numa altura em que o jornal está reduzido a metade do peso? Ou, como hoje, quando os temas de interesse são a fotografia de capa (enorme) de Cavaco Silva aos figos com Maria, meia dúzia de notícias da semana descongeladas no micro-ondas, a habitual reinação do Daniel Oliveira e até o artigo de Cutileiro sobre o envio de tropas francesas para o Líbano está totalmente ultrapassado pela última posição francesa sobre o assunto?

É que cada vez mais a relação €/minuto de leitura faz aproximar o "Expresso" de um artigo de luxo que (já) não é…

sexta-feira, agosto 18, 2006

Começam a ser inúteis


[1159]

A profusão de vídeos, artigos na imprensa internacional, movimentos, abaixo-assinados e o reconhecimento da verdade sobre as causas que subjazem na reacção israelita à provocação do Hezbollah é de tal maneira que os chamados idiotas úteis aqui da paróquia parecem ser cada vez mais inúteis. De repente estão mudos, e quedos, provavelmente pensando numa falha qualquer do sistema que lhes permita afirmar que tudo isto é uma campanha orquestrada e financiada pela direita. Enquanto isso e não aparece mais nada de suculento vão-se entretendo com humor alarve e com barbas
como este.

Com a devida vénia ao
Blasfémias aqui deixo um link para mais um vídeo que eu considero de divulgação obrigatória. São 45 minutos que dificilmente interrompemos. Quanto à TV Insurgente, a quantidade e qualidade dos vídeos apresentados é tanta que vale mais é ir ao blogue mesmo e fazer o visionamento directo.

P.S. Já depois de ter escrito este post, reparo que
DO retirou a foto de Bush, pedindo desculpa e dizendo que aquilo afinal era uma fotomontagem. Acho que lhe ficam bem estes sentimentos!

quinta-feira, agosto 17, 2006

Trabalhar, trabalhar, trabalhar...



Uma vista pouco comum da minha cidade a dormir...

Clicar na foto para aumentar


[1158]

Ando a trabalhar demais para o meu feitio. É que não há um tempo para dois minutos de “bull talking” ou para falar mal de alguém. E o trabalho, assim, torna-se enfadonho e estéril. É que eu para produzir tenho de temperar o ritmo e a natureza do trabalho com um gene que estimo desde pequenino e me permite manter uma “postura” (juro que não estive a ver futebol…) parecida com aquele dito popular “um olho no burro e outro no cigano”. Ou seja: Trabalhar, levar tudo muito a sério e tudo muito compostinho, mas rebento se não digo aqui e ali um disparate qualquer, uma piada, uma crítica (zinha, zinha…), reparar num pingo de sopa no bigode do meu eventual companheiro de almoço ou perder o tino do que estou a ouvir por me fixar (sem querer, querer…) nuns olhos bonitos duma casual companheira de almoço.

Sou assim e morrerei assim. O que está a acontecer é que nestes últimos dias, nem bigodes sujos de sopa nem olhos bonitos. É só trabalho. Ou está tudo de férias, ou os homens andam todos bem escanhoados e, de mulheres, só tropeço em olhos feios. O resultado é assustador. Um verdadeiro filme de terror. Só se fala de trabalho. E eu assim, não produzo o suficiente.

Daqui a umas horas já me cheirará bem. A Lisboa. Lisboa de Agosto, sem magotes de carros conduzidos por gente que, pelo estilo de condução, parece que acabou de os roubar. Mas, que querem?, eu gosto…

quarta-feira, agosto 16, 2006

Embuste

[1157]

A propósito do estado de saúde de Fidel Castro tenho reparado no sentimento de admiração que rodeia dois factos da revolução cubana, designadamente o ensino e saúde e a dúvida sobre o hipotético sucesso da economia centralizada se não fosse o embargo americano.

Eu acho que estamos perante um enorme embuste devidamente explorado pela comunicação social, basicamente pelo seguinte (e isto referindo-me apenas aos aspectos que referi):

1) Apesar do inegável sucesso que se fez ao nível do ensino básico, é necessário que se saiba que o ensino superior foi sempre condicionado, no sentido de que a maioria dos chamados médicos eram, na verdade e apenas, técnicos de saúde, como aliás os juristas eram técnicos jurídicos (estes são dois exemplos, apenas). Esta “qualificação” tinha a vantagem de preparar quadros minimamente para o consumo interno e, ao mesmo tempo, impedir que os jovens tivessem demasiadas qualificações e se lembrassem de ir exercer para outras latitudes. Nos casos em que os jovens seguiam mesmo o nível universitário, é bom igualmente que se saiba que apenas chegassem a “finalistas” eram retirados das Universidades, a pretexto de prestarem trabalho cívico e, naturalmente, impedidos de acabar os respectivos cursos. Prática aliás muito comum nos países da esfera comunista.

2) Já relativamente ao embargo americano, a coisa parece-me patética. Nunca Cuba esteve impedida de manter relações comerciais bilaterais com os países da esfera comunista. E se a União Soviética subvencionava a cultura da cana de açúcar, por exemplo, era pela simples razão de que o açúcar de cana sofreu um grave revés com o surgimento do açúcar de beterraba. Isto provou ser catastrófico para um país de praticamente monocultura, apesar de proliferarem os agrónomos “incompletos”, à semelhança dos médicos e dos advogados mas que nada podiam fazer contra uma agricultura planificada, onde era mais importante o plano para a estatística do que as produções propriamente ditas.

Conheci muitos cubanos. Gente boa, competente e que trabalhava em troca de um salário que era transferido na totalidade para o governo Cubano e que lhe permitia amealhar “pontos”, exactamente ao estilo dos pontos que somamos na Galp ou na BP para, no regresso a casa poderem usá-los na compra de um electrodoméstico ou, no extremo, um carro usado. Lembro-me, por exemplo, de pilotos de pulverização agrícola. Localmente recebiam apenas uma pequena quantia em moeda local que lhes permitia comer. E recordo-me bem que mais grave e triste do que esta situação de autêntico roubo violento sobre cidadãos era o convencimento daqueles jovens de que aquele era o modelo certo de sociedade. Contra os, na altura, cinco ou seis mil dólares mensais que os outros pilotos recebiam para fazer o mesmo trabalho.

Achei trágico e triste esta manipulação de mentalidades de jovens que mais do que presos a uma ideologia eram o exemplo vivo de gerações já nascidas na revolução e no perfeito convencimento que o seu comandante os conduzia no caminho certo do internacionalismo e do socialismo.

E lembrei-me disto pela insistência com que ultimamente tenho ouvido falar no lado bom do socialismo. É que não havia. É mentira. É embuste. É objectivamente exploração do homem pelo homem, chavão que era usado em sentido inverso. Conheço dezenas de casos com cubanos que poderia usar para ilustrar este ponto de vista. E acho que Fidel Castro foi responsável por um período trágico da história cubana. Acho imoral tentar branquear o que quer que seja que aquele homem tenha feito ao seu povo e ao seu país.

De Cuba aproveitam-se os cubanos, gente boa, alegre e trabalhadora e que merecia melhor sorte. Quanto aos gangs de Miami a coisa dilui-se por si e desesperem aqueles que esfregam as mãos à espera que eles invadam a ilha e encham La Havana de casinos e prostitutas para poderem depois recordar com saudade o “comandante das mil batalhas” e dizerem que no tempo dele é que era bom.

terça-feira, agosto 15, 2006

Esta gente é louca





[1158]




Esta gente é louca. O problema é que é louca e perigosa.

Vale a pena
ver e ouvir. Via O Insurgente.

Fomos sempre impagáveis...


[1157]

No tempo em que a orientação sexual era só uma. Era
a queca genuína e mais nenhuma…

As saudosas campanhas de dinamização cultural. Via
O Insurgente.

Culto da personalidade


[1156]

Foi uma tarde inesquecível, partilhada entre irmãos de sangue e de causa, que trouxe força e novo alento ao aguerrido Comandante de mil batalhas empenhado numa nova vitória pela vida.



Relato no Granma do encontro de três horas entre Fidel Castro e o presidente venezuelano Hugo Chávez.

“Tiradas” destas já não ouvia desde que todos os anos, pelo aniversário de Kim Il Sung (eu morei na Kim Il Sung, uma das mais bonitas e cuidadas avenidas de Maputo), eu observava discursos, vénias e olhos virados ao céu em frente à placa toponímica da minha avenida e vinha a saber no Notícias do dia seguinte que o discurso continha em cada frase, as palavras grande líder, sol, génio, liderança, obediência, revolução, felicidade, grande líder, grande líder e grande líder…

P.S. Fiquei a saber pelo DN que a Venezuela cede 100.000 barris diários de petróleo a preço simbólico e mesmo isso é pago com os serviços de 30.000 médicos cubanos. É absolutamente espantoso, as coisas que se escrevem na nossa imprensa…

segunda-feira, agosto 14, 2006

Assim como assim, vou trabalhar...


[1155]

Há uma certa injustiça divina nesta determinação convencional de Agosto ser mês de férias em Portugal. Enquanto nove milhões de portugueses andam a chinelar pelas praias e a “bichar” pelo enchimento de um depósito de gasolina ou por uma refeição, a mim caiu-me o céu em cima pela intensidade coincidente de uns quantos assuntos de exterior. E por exterior entenda-se fora de portas portuguesas, onde alguns assuntos, daqueles com data, “dead line” e exigências múltiplas decidiram juntar-se assim género romaria portuguesa. Tudo ao mesmo tempo e a exigir que vamos a todas. E é por isso que mesmo sendo Agosto, sendo segunda-feira véspera de feriado, vou trabalhar.

A compensação é a atmosfera polar do meu gabinete e do carro, uma oferta obscena de lugares para o carro por toda a Lisboa e as salas de cinema vazias, assim bem ao jeito de podermos tirar os sapatos e, primitivamente, “prantar” os calcanhares nas costas do banco da frente sem que nos importunem por isso. Há poucas mulheres bonitas, é certo. As nossas, as genuínas (e por genuínas entenda-se as portuguesas, não tem nada a ver com registo de propriedade…), são as mais bonitas do mundo mas foram a banhos. Resta uma oftálmica distraída e displicente por alguns exemplares anglosaxónicos, vickings e umas quantas espanholas estridentes, todas elas a precisarem de depilação urgente e, muitas, mesmo de banho e lixa nos calcanhares, que circulam ali pela Estrela, elas de mapa na mãos, os maridos com máquinas fotográficas, eles calados e elas a resmungar que tinham razão que “ali” não era nada o Mosteiro dos Jerónimos, enfim quele diálogo de tipologia universal que alimenta o viço das mulheres e erode a paciência dos homens. A eterna questão do género.

Mas também, não se pode ter tudo, não é?

domingo, agosto 13, 2006

You too, Bono!




[1154]

Este Bono pintou a manta. Entre duas semicolcheias, três acordes de guitarra e algumas tiradas bombásticas sobre a fome, os pobrezinhos, os países ricos, a globalização e berréubéubéu fez vibrar a juventude bem intencionada e fez correr rios de noticias da imprensa alarve.

Entretanto, Sampaio andava preocupado, meditou e decidiu condecorá-lo. Bono continuou a sua saga e chamou nomes a Bush enquanto berrava sobre a premência de os países ricos aumentarem a sua ajuda aos países pobres, em vez de os explorarem.

Mas “at home”, Bono achou que € 690.000.000 (seis-cen-tos e no-ven-ta-milhões, valha-ma a santa…) pagariam impostos demais no seu próprio país, a Irlanda, o mesmo país que ele criticou asperamente por não disponibilizar mais dinheiro à “Ireland Aid”. E vai daí mandou colocar os fundos na Holanda onde os direitos de autor são tax-free. Aqueles bandidos dos holandeses, imagine-se, com tanta fome no mundo…

É por estas e por outras que às vezes me sinto com mau feitio!

Ler a notícia
aqui.

Factos, fraudes, genocídio infantil

[1153]

Entrevista com três ex-terroristas:

Ver e ouvir
aqui.

As boas consciências:

Ver e ouvir
aqui.

A manipulação de crianças:

Ver e ouvir
aqui.


Com a ajuda de O Insurgente e do Blasfémias.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Delícias

Mais um...


[1151]

O esboroamento dos regimes comunistas, como finalmente está a acontecer agora em Cuba, conduz-me ao registo na memória de dois factores marcantes. O primeiro será o número de mortos e presos que o regime custou, aqueles vítimas de verdadeiros genocídios e os segundos, sem culpa formada ou com acusações ridículas (ocorre-me o caso de um fuzilamento anunciado na imprensa moçambicana de um cidadão acusado de “sabotagem económica” por lhe ter sido encontrada uma nota de vinte dólares na camisa – e isto não me contaram, eu li e ouvi Samora Machel referir-se ao caso como mais uma “vitória da revolução”) eram presos indefinidamente e “re-educados”. O outro factor configura as gerações de povos de vários países da esfera soviética que já nasceram e cresceram na era do “amigo em cada esquina” e dos “amanhãs que cantavam” e viviam convencidos que aquela é que era a sociedade justa, isolada no meio da decadência dos povos capitalistas, cheios de ladrões, putas, drogados e homossexuais.

Há ainda uma questão que me ocorre. A forma desavergonhada como muitos dos activos agentes do “ontem” se mostram reciclados e actualizados no “hoje” e sempre prontos para qualquer oportunidade que surja no “amanhã”.

Loucos

[1150]

Apesar de existirem em Cuba cerca de 10.000 antenas parabólicas, o governo cubano ameaçou os seus cidadãos com uma multa de sete anos de ordenados se forem descobertos a captar estações de televisão estrangeira.


O mundo divide-se entre dois tipos de ditadores. Os simples e bem intencionados, convencidos que vieram ao mundo com a missão divina de guiar os destinos dos seus povos e os outros cuja acção manipuladora redunda no seu próprio proveito material e vaidade pessoal. Em qualquer dos casos, ambos configuram uns refinados filhos de puta.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Vergonha



Foto TSF
Oliveira de Azeméis. O Parque La Salette chegou a estar ameaçado



[1149]

Hoje fui ao Porto. O céu estava cinzento esquisito, as nuvens não eram nuvens, eram fumo enrolado que pairam sobre a cidade. Dos Carvalhos à Póvoa de Varzim. No chão, a atmosfera está irrespirável. Cheira a fumo, a lenha, a brasas, o calor é insuportável (a televisão tem indicado temperaturas mais elevadas que as de Lisboa) e regressei à capital com a sensação que até a roupa cheirava a fumo. Parece que em Valongo e Gondomar até casas e quintais têm estado em perigo. Estranho país este em que há quinhentas (qui-nhen-tas!) ignições por dia!... No passado domingo parece que foram batidos todos os recordes de ignições desde 2003. Estranho país este em que todos os anos oiço um qualquer relatório policial dizendo que há não sei quantos detidos, não sei quantos arguidos e depois vai toda a gente à vida que se faz tarde. Gostava de saber quantas pessoas estão presas a cumprir pena por fogo posto. Talvez bem menos que alguns desgraçados que fumaram uns charros, talvez nenhum. Sinto pena, revolta, vergonha, sinto até vontade de andar ao estalo por ver ao ponto a que chegámos. É que é intolerável. Fazer de Portugal todos os anos uma fogueira de Santo António é uma vergonha e um sinal claro de que a nossa sociedade acolhe bandos de loucos dos quais as pessoas normaizinhas da cabeça deviam estar protegidas. Não conseguir resolver o problema começa a ser absolutamente ridículo, motivo de chacota pública e um triste certificado do que valemos como cidadãos.

Estou absolutamente revoltado. Chocado e furioso.

O costume



Um dos seis camiões que, em princípio, deveriam apanhar as folhas mortas da minha rua mas que não apanham coisas nenhuma, que a Emac parece ter comprado por €550.000


[1148]

Durante os últimos anos, havia uma empresa privada contratada pela Câmara Municipal de Cascais para recolher o lixo de contentores previamente distribuídos pela vila, manter os espaços públicos limpos através de operações químicas de deserbagem específica para o efeito pretendido (matar a vegetação existente e/ou manter limpas calçadas e bermas com produtos de acção residual). Havia ainda uma operação, salvo erro semanal, em que alguns trabalhadores munidos de pequenos aparelhos motorizados de ar comprimido “limpavam” as folhas mortas dos passeios e ruas enquanto atrás passava um camião-aspirador. Tudo fácil, tudo limpo, eficiente e os cascaenses viviam felizes com o lixo recolhido, folhas mortas apanhadas e os passeios e bermas isentos de infestantes cujas raízes deformam passeios, atraem insectos e desfeiam o ambiente.

Acontece que alguém na Câmara achou (passados uns quantos anos) que se estava a pagar muito caro por este trabalho e provavelmente estava, não sei, como residente apenas sei que durante anos andei satisfeito com o trabalho e limpeza da vila. Vai daí, o senhor que decidiu que era caro promoveu a constituição de uma nova empresa municipal, a EMAC, que supostamente faria o mesmo trabalho que a contratada a custos, presumo, mais baixos.

O resultado é que as deserbagens pararam e há “capim” por todo o lado. O lixo é recolhido de forma errática e os contentores que normalmente eram deixados devidamente arrumados nos respectivos locais passaram a ser deixados a “trouxe-mouxe” e, algumas vezes, tombados. As folhas de árvores caídas desde o Outono passado jamais foram sopradas e recolhidas, pelo menos na minha zona de residência, pelo que são já uma massa informe de tecido vegetal, humidade e poeira, mal cheirosa e a caminho de se transformar em matéria orgânica produzindo musgos, abrigando microorganismos de toda a espécie que irão favorecer a continuação do processo de formação de matéria orgânica e, a completar o quadro, cheias de insectos voadores, rastejantes, de bactérias e outros agentes criptogâmicos ou, para resumir, uma massa escura, infecta, mal cheirosa e enfeitada de nuvens de mosquitos e exércitos de outros insectos.

Porque é que as coisas têm de ser assim?

P.S. Resta dizer que objectivamente para este fim se construiu em Alcabideche umas formidáveis instalações da Câmara Municipal, albergando frotas de viaturas, camiões, funcionários zelosos (não sei bem de quê, mas zelam), engenheiros, chefes de função, motoristas, armazéns e respectivos fiéis e toda a parafernália presumivelmente necessária a que as folhas das árvores da minha área caídas em Setembro não se encontrassem ainda no mesmo sítio, escuras e ricas em azoto, que é uma coisa que me fazia imensa falta e mosquitos, que não faziam falta nenhuma mas dão um tique "blazé" ao turismo nacional.

terça-feira, agosto 08, 2006

Tudo a arder, outra vez...


[1147]

A contenção da comunicação social em geral e das televisões em particular na notícia dos fogos que continuam a “comer” Portugal é notória.

Eu também acho que a forma como a cobertura dos incêndios era feita, “à la TVI”, era indecorosa e contribuiria até para os maluquinhos das labaredas irem atear mais um fogozinho. Daí que me pareça aceitável o consenso a que aparentemente se chegou para não se noticiar de forma alarmista.

Mas contenção é uma coisa. Agora que em cada intervalo entre dois incêndios se dê uma achega e publicite os planos do Governo, as novas estratégias do governo, as novas acções do governo, os resultados visíveis da reestruturação do governo, os novos programas do governo é que se torna já uma lenga-lenga ridícula e terceiro-mundista. O trágico é que o sistema funciona. O país continua a arder e a sensação que se tem é que há por aí uma fogueirita ou outra e Deus conserve este governo que está cheio de estruturas, de reestruturas, de planos, de programas e não fora isso… bom, o país continuava a arder na mesma mas a situação era muito mais grave.

Isto para acabar bem só falta mesmo uma sondagem de opinião e o Diário de Notícias publicar na primeira página que os portugueses acham que este ano a situação dos incêndios foi muito melhor.

P.S. Pergunto-me onde residirá a razão para a tolerância e bonomia generalizadas dos portugueses pelo Partido Socialista, desde sempre, sendo este um Partido de reconhecida escassez de competências e de seriedade, responsável por algumas das mais gravosas decisões com consequências directas na vida dos portugueses (sobretudo durante os desmandos de Guterres). Será pelo vocábulo “socialista”?

Trágico, trágico é o PSD já nem constituir sequer alternativa
.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Serviço público

[1146]

Serviço público no
Blasfémias. Pelo JCD.

Pérolas



Rosa de porcelana (Angola)
Etlingera elatior







[1145]

O
Miss Pearls faz um ano. Pensado a sete, começado a nove, com arquivos de Julho e ainda com a Catarina a atrapalhar a coisa e a fazer contas de cabeça. Convenhamos que a descodificação do dia exacto de aniversário requer uma ponta de inteligência. Mas, afinal, não é isso mesmo que se pede a quem lê a Isabel?

Um beijinho de parabéns e obrigado pela leitura interessante e pelo touch of class que é uma coisa que nos dias de hoje faz toda a diferença.

Tchin-Tchin


domingo, agosto 06, 2006

A pandilha


[1144]

Eu leio a Clara Ferreira Alves. Nem sempre gosto, mas leio. É um bocadinho como a minha mãezinha que só gosta de carne, mas come peixe cozido de vez em quando por causa do fósforo.

A verdade é que nesta última crónica dela no Expresso, dei por mim a ficar interessado. A conhecida plumitiva, mesmo reconhecendo-se caprichosa, ia desfiando umas quantas questões sobre a actual situação do perigoso mundo que estamos a legar aos nossos filhos. Que "o mundo não estava preparado para um segundo mandato de Bush. Que a pandilha insana que o aconselha, somada à tacanhez criminosa de Dick Chenney mais o resto dos neocons munidos de fogo e de desejo de incendiar o mundo ia tirando proveito de americanos assustados com o colesterol e com o antrax enquanto se entretinha a democratizar o Médio Oriente, reescrevendo o mapa da região com bandeirinhas americanas em lugares de onde jorrasse democracia e petróleo".

Estas tiradas lamentavelmente demagógicas, provindas de gente que, pela sua inteligência e formação intelectual, tinha obrigação de não misturar convicções e populismo com a realidade e cenários factuais são frequentes na nossa comunicação social e eu confesso que já não vou tendo paciência para esta intelectualidade de esferovite que nos é ministrada todos os dias em pacotilhas moralistas, sábias, correctas e iluminadas. Mas acontece que o texto de Clara Ferreira Alves apontava para um desfecho em que as soluções iam aparecer lá para o fim da crónica, fluidas e cristalinas, eficientes, seguras e justas. Daí que tenha continuado a leitura, verificando, afinal, que a situação é de fácil solução, apesar da pandilha de Bush e do político mais cínico que a Inglaterra teve desde Thatcher. Clara acha que bastaria “repensar o mundo à luz de novas coordenadas e dos novos perigos e perceber a necessidade de inventar uma coexistência que não sendo pacífica não tem que ser sempre bélica”.

Coisa mais fácil e mais simples não há. Chama-se o “pessoal” do Hezbollah, do Hamas, da Al Qaeda, da Síria, do Irão, mais uns paisanos que apareçam na ocasião, repensamos todos as coordenadas e inventamos uma coexistência que nos poupe à pandilha de Bush e dos americanos que se assustam muito com o colesterol e o antrax e nem sequer sabem geografia e "prontes", está tudo resolvido. Aqui e ali pode aparecer uma dificuldadezinha mas em última análise temos sempre o especialista em negociações com terroristas, Mário Soares, que até anda meio desocupado e pode fazer uma perninha.

Apetece dizer merda mas não digo, porque nem ela esta gente merece!

sábado, agosto 05, 2006

Fugir da voz...


[1143]

Para a
Hipatia, com um beijo amigo e satisfazendo o pedido dela.

A minha voz foge para a tinta que há-de cobrir a parede suja de surro e grafites imbecis onde todos nós vamos escrevendo a nossa própria vida. Tapo com ela o meu próprio surro e a minha própria grafitti que tiveram a época própria dos sonhos e dos ideais frustres que se foram diluindo na voragem e na vertigem dos anos que nos vão comendo a carne e as ideias.

Nessa tinta, contendo a minha foz fugida, ficará a parede da minha imagem pintada, como se espera, de um ser eticamente apresentável como me esforço por ser, mas reprimida será a espontaneidade de pequenas loucuras que foram alimentando a grandeza de uma vida muito cheia, muito boa, mesmo quando muitas coisas más se esforçavam por lhe tirar o encanto. E nessa repressão ficarão dissimuladas também algumas nódoas que não saíram com a benzina que a minha avó usava nas nódoas mais teimosas, tapadas por uma mão de tinta que nos convencionaliza e mergulha na assepsia de uma sociedade cada vez mais idiota e doente de se querer a si própria tão saudável. A tinta é o botão do colarinho que me esconde a naturalidade dos pelos do peito e suporta a gravata do meu descontentamento. Que me reprime o palavrão e me molda a elegância de gestos e de palavras que frequentemente não sinto. A tinta tolhe-me, ainda, o passo que quereria levar-me para as fragas de uma montanha escarpada ou para um areal infinito e bordejado pelo sal dos mares mornos do sul mas, ao invés, me conduz a uma viatura, a uma cadeira de secretária ou a um sofá onde promovo a gordura e canto a imbecilidade de programas de televisão. A tinta compõe, ainda, a imagem bem falante, quiçá nem sempre sincera, decidida e aparentemente segura e de sucesso com que me cubro todos os dias ao levantar-me, depois do banho e me dirijo ao automóvel, mesmo pensando nas nódoas, grafites, fraquezas e ideais desmembrados, convenientemente ocultados pela tinta, temperada com a voz que a Hipatia me pediu para lhe dizer para onde tinha fugido. E é então que prossigo o dia, pintadinho e de fraquezas ocultas, falando aqui, rindo acolá e até as coisas que às vezes me apetece escrever no Espumadamente acabam por se aligeirar na brejeirice de um post pretensamente humorístico, mesmo que razoavelmente conseguido. Como o dos urinóis públicos que tanto fez rir esta gaija do norte e me fez rir a mim de contentamento pela forma como ela se riu (não o linco porque são mais de mil e cem posts e seria uma trabalheira encontrá-lo).

Um dia não deixo fugir a voz. Muito menos para a tinta. Provavelmente até a tinta deitarei fora. Talvez eu aspire por esse dia, talvez tenha medo dele. Porque poderá ser uma forma de libertação que todos nós de alguma forma (este “de alguma forma” fez lembrar o não sei quê Malato, mas juro que foi sem querer…) criamos no nosso imaginário, mas poderá ser também a condenação da minha juventude. Que eu gostaria que fosse eterna mas que eu reparo estar cada vez mais perto de ser piedosamente arrumada numa cómoda qualquer. E, nessa altura, interrogar-me-ei se valerá a pena abrir a gaveta…

Vítimas mais vítimas



Who is this man?


[1142]

Se eu fosse jornalista procuraria manter bem vivo o propósito de desfazer a ideia geral de que os jornalistas portugueses são maus jornalistas. Explicando melhor, amadurece nas pessoas a ideia de que são venais, mentirosos, capciosos, sectários, mal informados, politicamente desonestos, agarotados, insuportavelmente arrogantes, incultos e suficientemente desonestos para colocarem quaisquer meios ao dispor dos seus frequentemente inconfessáveis fins.

Não todos, como é evidente, há um punhado de gente decente e com formação adequada ao exigente mister do jornalismo e esses merecem o respeito generalizado do cidadão interessado no mundo.

Mas a generalidade,
Senhor, porque os fizestes assim? Porque nos dais tanta dor?

Estas
duas fotos publicadas no Causa Nossa por Vital Moreira despertaram em mim este pensamento. É que enquanto há o cuidado evidente e cirúrgico de lamentar perdas civis tanto do lado israelita como do libanês, verifico que tem de haver (só pode) uma razão bem desenhada a régua e esquadro para as vítimas israelitas aparecerem sempre limpinhas, aprumadas, escovadas, bem vestidinhas, em cenários quase assépticos enquanto os xiitas escorrem sangue por entre escombros de bombardeamentos, apresentam membros arrancados, verdadeiras cenas de apocalipse em fotos que parecem querer conduzir os incautos ao conceito de vítimas boas e vítimas más ou que há vítimas mais vítimas que as outras.

Pode ser só impressão minha. Mas mesmo assim, aconselho uma visita
aqui para que se perceba melhor a situação. Um ror de fotos (algumas das quais aproveitadas inocentemente por bloggers naturalmente revoltados) e um texto que nos explica bem com que tipo de gente estamos a lidar. E este "estamos" não é distracção. É mesmo o que penso.

Eu referendum via O Insurgente

sexta-feira, agosto 04, 2006

Ganídeo pesadelo


[1141]

De volta a Lisboa, ocupei o espírito a pensar no extraordinário legado que deixámos à África Lusófona. Não, não me refiro à língua mas sim ao conforto de em qualquer das nossas antigas ex-colónias a cozinha portuguesa e as locais se complementarem harmoniosamente. A moamba de galinha com funge e o bife à portuguesa, a galinha zambeziana e o bacalhau à Braz, a cachupa e umas divinais amêijoas à Bulhão Pato são bons exemplos do que afirmo. Isto adquire uma especial relevância quando passo quase uma semana em dois países africanos onde a partir do segundo dia de visita me refugiava em pacotinhos de caju, mangas e gelatinas “Royal”, ao terceiro dia dava comigo a pensar num bitoque, ao quarto tinha visões de pataniscas com arroz de feijão, ao quinto era a crise final quando as empregadas do hotel se cruzavam comigo e eu já tinha visões de um robalo ao sal.

O avião de regresso concedeu-me umas farripas de sono solto. E era solto porque cada vez que adormecia sonhava com uma formidável posta de bacalhau à lagareiro como a que a foto acima ilustra. Evidentemente acordava e a gulodice do sonho transformava-se num ganídeo pesadelo.

É… podemos ter muitos defeitos, mas que ninguém diga que foi a Moçambique, a Angola ou a Cabo Verde e andou a jantar caju e gelatinas
Royal!

terça-feira, agosto 01, 2006

Tu ca, V. Exa la




1. Memorial a Mobido Keita, Bamako
2. Universidade de Bamako - Reitoria


[1140]

Hugo Chavez estah aqui ao meu lado, a cerca de 10 metros. Atravehs do vidro da porta do gabinete de internet do hotel, vejo-o, gordo e sorridente fazer salamaleques a um grupo de eminencias locais, trajando vestes longas, azuis, verdes e brancas, no lobby do hotel.

Hugo Chavez estah aqui no Mali e hospedou-se no meu hotel. Ah volta dele, circula apressado e vigilante um sequito de seguranças que me parecem todos iguais, o que nao abona muito a imaginaçao dos venezuelanos na produçao de crianças. Por entre os seguranças esvoaçam mulheres, venezuelanas, estah bem de ver, espartilhadas em saias azuis muito apertadas e empoleiradas em pernas bem torneadas mas algo musculadas. Uma delas, trajando uma minisaia, tem tatuagens pelas pernas abaixo, presumo mesmo que pelas pernas acima, mas soh posso mesmo presumir, jah que as saias sao justas mas opacas. Hugo Chavez ri alarvemente e vai dando palmadinhas nos seguranças, eu seja ceguinho.

Pergunto-me o que eh que este homem virah aqui a fazer! Tenho a ideia que mais do que intensificar relaçoes bilaterais de comercio, este homem vem criar lobis em favor da sua causa. Nao sei se este tipo de atitudes ainda pega em Africa, mas a verdade eh que o petroleo eh uma boa ferramenta para arregimentar gente para «causas nobres». Desde que essa ferramenta nao seja usada pelos americanos, claro.

Com ou sem lobi, o homem estah ali e nao eh todos os dias que se escreve um post no Espumadamente a 10 metros de um presidente de republica a rir e de uma loura tatuada pelas pernas abaixo…