sexta-feira, agosto 31, 2007

A Festa



[1983]

Vai por aí um “ai Jesus”, de novo, com a vinda de uma representação das FARC à Festa do Avante. Em boa verdade me custa perceber este bru-á-á. De há muito que me habituei a considerar os comunistas como gente ardilosa, não-fiável, mentirosa e com uma total ausência de escrúpulos nos métodos, na forma e na substância em tudo o que se refira à preservação das suas doutrinas e interesses. Sobretudo os comunistas portugueses, agarrados a uma ortodoxia que só pode medrar pela ingenuidade e atraso de muita gente, boa e bem intencionada, que continua a ser usada e manipulada no folclore da festa do Avante. Há que juntar também algumas personagens de bom tom que acham “girérrimo” ir lá comer uma febra ou ouvir os “Xutos” ou o Luís Represas, mas isso é outro "departamento".

Não percebo, assim, porquê tanta admiração com a
vinda, outra vez, dos terroristas colombianos à festa do Avante e, muito menos, com o espanto pela habitual inoperância cúmplice das autoridades portuguesas. Para além da alusão recorrente à imagem da Ingrid Betancourt, havendo tantos outros exemplos de rapto de cidadãos portugueses. Feitos, em curso e por fazer.

É muita hipocrisia junta para a minha vesícula e é por estas e por outras que eu nunca fui à “festa”.Tive “festa” que chegou.
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Dez anos?


[1982]

Há dez anos, a minha filha tinha onze anos. Na praia dos pescadores em Cascais, onde costumávamos caminhar nas noites de verão à espera do fogo de artifício, até a minha filha me substituir, sumariamente, por um namorado, dou com ela a correr na areia e a escrever Diana, I love you.

Pensei na força do mediatismo que levava uma miúda a escrever aquilo sobre uma mulher que ela jamais conhecera. Hoje, já não penso muito nisso, penso mais que esta cena parece que foi ontem. Lembro-me em detalhe do dia, das pessoas na rua, das pessoas que encontrei, das pessoas com quem falei, lembro-me que estava calor, o céu estava limpo, havia umas obras ao pé do Hotel Baía, lembro-me até de que o fogo de artifício se atrasou uns minutos nessa noite. E, todavia, já lá vão dez anos. Diz a rádio, diz a TV, diz a Internet.

Há-de haver uma razão qualquer para que a vida me tenha levado uma eternidade a passar ente os dez e os vinte anos e esse período de tempo perpasse, num ápice, nos tempos de hoje. Tem de haver uma base cósmica para a coisa, é impossível que os segundos agora não sejam mais curtos, ou então sou eu que agora reparo menos na vida. Sigo em velocidade de cruzeiro reparando menos nos dias, no cenário, caminhando mecanicamente para a estação de chegada. Que, ironicamente, será a estação de partida para outra viagem qualquer. Isto para aqueles que acreditam em viagens extra que eu, nesse capítulo, nem milhas da TAP tenho vindo a coleccionar….

Dez anos! Meu Deus!
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O showbloguismo?



[1981]

Não consigo perceber muito bem a sanha que se instalou contra Mário Crespo, sobre o que alguns consideraram ter sido uma espécie de degola dos inocentes na entrevista que fez ao ecoterrorista Gualter. Mário foi polido, objectivo, falou português corrente sem arrebiques e perguntou o que achou que devia perguntar, assente na evidência dos factos e sobretudo sem cair naquele tipo de agressividade idiota, tão comum em jornalistas sôfregos de microfone na mão. Nem achei, sequer, que tivesse sido manipulador. Que ele tivesse como entrevistado um delinquente mal preparado para responder com coerência é que Mário Crespo não teve culpa nenhuma. Já a
sanha de Daniel de Oliveira conta o “showrnalismo” de que ele acusa Mário Crespo se entende bem. Tem é de ser denunciado. Daniel de Oliveira poderia/deveria convencer-se, de uma vez por todas e com vantagens generalizadas, que a sua plateia é feita maioritariamente de "Gualters terroristas Baptistas" e que qualquer outra pessoa minimamente informada e uma mínima solidez de ideias e entendimento dos fenómenos políticos está cansada deste frenesi do Daniel na defesa das suas múltiplas damas. Mesmo daquelas que, como Louçã, não conhece, não sabe quem é e tem raiva a quem sabe.

P.S. Lá perdi eu mais uma oportunidade de
ser acrescentado á lista do Arrastão, agora que ele foi à oficina.
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A tal entrevista em que MC comia criancinhas ao pequeno-almoço




[1980]

Tinha falhado a entrevista de Mário Crespo ao ecoterrorista Gualter.
Aqui está o seu registo, via Apedeites.

Estou preocupado com o piercing do entrevistado no sobrolho. Há estudos contra os piercings e estudos a favor dos piercings. Na dúvida e em defesa do interesse colectivo não deveria eu entrar pela casa do ecoterrorista Gualter com um alicate e arrancar-lhe a argola? Com uma máscara na cara, claro, para me proteger de eventuais emanações assassinas do metal, porque não sei de que material aquilo é feito. E se aquilo tem chumbo?


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quinta-feira, agosto 30, 2007

O gosto refinado


[1979]

Pela via do
Blasfémias, cheguei aqui, onde poderemos apreciar exemplares do mais refinado e extraordinário gosto em matéria de postais de férias.

Fica aqui um exemplo.
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quarta-feira, agosto 29, 2007

Ralhar, ralhar, asneirar



[1978]

A intervenção dos nossos ministros em órgãos de comunicação social começa a tornar-se insuportável. Já não há paciência. Esbatidos os jamés e os desertos do ministro Lino, os ralhetes permanentes de Sócrates e as ironias de Jorge Coelho, eis que temos o ministro Rui Pereira zangadíssimo com a comunicação social porque esta discorda das adjudicações do governo (?), porque os helicópteros multidisciplinares não sei quê e outras coisas que não consigo mesmo reter, mas que revelam bem a forma como os nossos governantes vão resolvendo os nossos problemas. Parece que este dos helicópteros que lá voar, voam, não podem é voar, é paradigmático. Só sei que o homem está genuinamente zangado e ele lá saberá porquê. É uma forma que este Partido tem de governar (?). Ou faz asneiras e depois mete os pés pelas mãos, desdiz-se, enviesa o sentido das coisas, ou grita e assume a atitude professoral daqueles mestres em idade de reforma, já sem paciência para os alunos. Só que nem os ministros estão em idade de professores à beira da reforma nem todos os paroquianos se constituem naquela massa informe e ignorante com quem é preciso saber lidar e manter na ordem. Figura de estilo, mas que define bem a forma como esta gente lida com o rebanho.

Insuportável. Sobretudo por vir de gente que não parece ter a mínima estrutura nem preparação para lidar com os assuntos que lhe caem no regaço. Muito menos com pessoas, sendo que “pessoas” é um termo querido do Partido de Socialista em particular e da esquerda em geral. Ainda há pouco se viu pelas reacções do ministro de agricultura e do ministro da administração interna a propósito do assalto dos ecoterroristas a uma seara de milho. Agora é o ministro da administração interna a falar dos helicópteros que vieram para oa fogos e que não voam, parecendo não ter a mínima ideia do que está para ali dizer. E ralha. Ralha loucamente!
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O estrugido nacional



[1977]

O refogado é, certamente, o cheiro nacional. Não haverá um português que não tenha alguma vez identificado este odor. Muitos prédios em Lisboa oferecem o cheiro a refogado de brinde a quem quer que neles penetre. É uma daquelas coisas inexplicáveis – o resultado da utilização de um punhado de ingredientes naturais, como o azeite, a cebola, o alho e o tomate, que deveriam cheirar da mesma forma aqui, na Alemanha, no Chile ou na Austrália. Mas não. Desafio alguém que me diga que alguma vez tenha cheirado um refogado como “o nosso” fora das nossas fronteiras.

Por outro lado todos sabemos que o ritmo trepidante da vida dos nossos dias não se condoeu com a sacralização do "almocinho português". Portugal deve ser o único país do Mundo que pára para almoçar. É o motorista de táxi com a tabuleta no vidro a dizer – almoço, são os vários serviços que não atendem porque estão na hora de almoço, são mesmo aquelas consequências mais graves de episódios que correram mal porque "A" estava a almoçar. Mas, numa universidade, Senhor?

Daí que este post no 31 não me surpreenda. O cheiro a refogado da faculdade de letras é conhecido e uma filha de pituitária afinada e sensibilidade apurada já me tinha dito isso mesmo. Que a faculdade cheira frequentemente a refogado e que o bar serve de cenário, com regularidade, aos tais churrascos de fêveras.

Por razões diversas já visitei algumas universidades em países diferentes. Em nenhuma delas me ocorre ter visto churrascos ou cheirado a refogado. É uma daquelas coisas em que somos especialistas. Situações únicas. Neste caso, levar à Academia o odor do estrugido nacional. Com jeito, o Zé ainda repara e propõe mais uma marca: - Refogado Académico Lisboeta.
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terça-feira, agosto 28, 2007

A falta que o Zé me fazia



[1976]

Como lisboeta, ainda que votando noutro concelho, dou a mão à palmatória. Tenho de reconhecer que o Zé fazia uma falta desgraçada a Lisboa. Os lisboetas poderão vir a ter agora corvinas, amêijoas, azeite e vinho de marca Lisboa. Penso que há uma certa injustiça na coisa, ocorre-me, por exemplo, as tainhas do Ginjal, à babugem dos cacilheiros, os pombos da Praça da Figueira, o sal do Samouco e o berbigao da Trafaria. Mas, também, não se pode ter tudo ao mesmo tempo. Há que ir devagar e com os pés bem assentes no chão, que com esta coisa de marcas não se brinca.

Como lisboeta, estou orgulhoso da iniciativa do Zé. Poderemos todos, alfacinhas, enfileirar, finalmente, as nossas "corvinas Lisboa" ao lado de marcas como o vinho do Porto, a alheira de Mirandela ou o leitão da Bairrada.

O futuro mora aqui, Corvinas Lisboa, Azeite Lisboa e, sobretudo, Bulhão Pato que se cuide. Poderá bem vir a cair no esquecimento assim que as "amêijoas Lisboa" começarem a invadir os restaurantes. E quando menos esperarmos, estamos a conquistar outros mercados. Entretanto o Zé é reeleito e inventa outra coisa qualquer. Elevada e de grande alcance estrategico, como esta.

Foto via Blasfémias
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segunda-feira, agosto 27, 2007

Com que então, caiu na asneira...


Tchin- Tchin

[1975]

...de fazer na sexta feira
Já três aninhos – que tola!
Ainda se os desfizesse
Que fazê-los nao parece
De quem não joga bem da bola.

Não sei quem foi que me disse
Que se queria ouvir tolice
Era ler a Voz que fugia.
Afinal, é coisa boa
Parece até de Lisboa (!...)
Os escritos da Hipatia

Não faças tal: porque os anos,
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem ficarmos velhos.
Faz outra coisa: Faz os possíveis.
Que entre as coisas mais incríveis
São sempre os melhores conselhos

Vai meditando, escrevendo.
Que a tua voz, não sendo
A melhor do mundo – não nego,
Tem pelo menos, aos molhos,
A mai' linda menina dos olhos
Ao norte do Cabo Mondego.

Um grande beijinho, parabéns com dois dias de atraso e... não pares! Já agora deixa lá o "Hipatia" rimar com "fugia", qu'isto deu uma trabalheira.
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Feira Popular?



[1974]

Às vezes tenho a sensação que isto é um país de putos. Gostamos de brinquedos, de gadgets e rimo-nos perdidamente de cada vez que nos dão um. A quantidade de espectadores de futebol que vemos de antebraço levantado a fotografar a última canelada de um jogador de futebol qualquer é disso prova cabal.

Isto vem a propósito de uma notícia sobe uma "moto-quatro" que uma corporação de bombeiros (acho…) adquiriu para dar assistência nas praias. É um veículo amarelo e que, aparentemente, dispõe de espaço para alojar mais umas quantas ferramentas e utensílios de socorro. Ou seja, o suficiente para ter direito a reportagem na televisão. Daí aos inevitáveis repórteres a fazer as inevitáveis perguntas ao inevitável povo foi um passo. E era ver como todos se riam de contentes.

A propósito de contente, depois da fabulosa medida de António Costa em retirar os carros do Terreiro do Paço aos Domingos, que deve ter causado uma confusão dos diabos a quem precisava de circular, e pelo gáudio observado nas tais inevitáveis reportagens televisivas, desconfio que dentro de pouco tempo temos ali uma feira popular. Daquelas com sardinhas e tudo, fêveras e farturas. Com jeito, até um carrossel ou uma burricada. As bichas para andar de “charrette” já lá estão e os piqueniques devem estar a rebentar.

Que a Câmara não se esqueça de mandar apanhar as espinhas das sardinhas e as cascas de melancia é o que eu sinceramente desejo. Senão, depois, lá vêm os “sacanas” dos carros, dos automobilistas, outra vez, e começam a pisar aquilo tudo, sem respeito nenhum pelos peões que se esqueceram de apanhar as cascas e as espinhas e as “mines” vazias.
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Manda-chuvas



[1973]

O Verão de 2007 será marcado pela inconstância. Acabou de o dizer um senhor com ar de milibar com reforma antecipada, no Canal 1. Mas afirmou-o com o mesmo ar e a mesma convicção com que ouvi, há cerca de sete ou oito meses, dezenas de personalidades que percebem da poda a avisar-nos que íamos ter vagas sucessivas de um calor tórrido que ia matar uma data de velhinhos e, naturalmente, confirmar o descalabro das alterações climáticas em curso.

A facilidade com que estes sábios transitam daquele ar grave, trágico e cúmplice dos mais hediondos actos do homem (dos americanos?) na destruição da humanidade para aquele ar tipo “não te disse?” é de morrer a rir.
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domingo, agosto 26, 2007

Marinheiro Judas



Fantasminha, versão saudade
[1972]

A propósito da imagem do post anterior, lembrei-me do Judas. Era o meu marinheiro no Clube Naval de Maputo e chamava-se Marinheiro Judas. Sério, quem quer que lhe perguntasse o nome ele dizia: - Marinheiro Judas. De modo que ninguém sabia quem era o Judas mas toda a gente minimamente ligada aos barcos sabia quem era o Marinheiro Judas.

O Judas tomava-me conta do barco durante todos os anos que por lá trabalhei. Punha o barco na água, içava o barco da água, lavava-o e arrumava com desvelo os apetrechos de pesca, as canas e as rapalas, as colheres, penas e "teasers", limpava e mantinha os molinetes, arrumava as gavetas. Os coletes, os skis, as bóias, os picheiros, a “aspirina”, os rádios, enfim, toda a parafernália necessária a um fim-de-semana seguro. Em troca eu pagava-lhe uma quantia em dinheiro todos os meses. Dava-lhe ainda géneros alimentícios, roupa e por várias vezes fui dar injecções a uma das três mulheres que ele mantinha no Polana Caniço. Eu não sou enfermeiro, mas dar injecções foi coisa que aprendi na tropa. Quando não andávamos "a massacrar populações indefesas", a gente lá ia tratando os sobreviventes dos massacres dos outros. Os que roubavam e matavam nas aldeias para depois me matarem a mim, mas isso são contas de outro rosário que não vêm agora ao caso.

Durante muito anos, tive, assim, uma forte ligação ao Marinheiro Judas. Eu acho que ele era um homem feliz. Curiosamente, era um homem que sabia mais de mim que muita gente. Mas, voltando ao boneco do post anterior, só vi o Judas uma vez chateado. Calado, resmungão, triste, quase não falava comigo. Um dia perguntei-lhe mesmo que raio se andava a passar com ele e ele diz-me que toda a gente no Clube o andava a gozar porque eu tinha posto duas fotos dele coladas em cada um dos painéis laterais da cabine!

O Judas era gordo e as fotos eram nem mais nem menos que dois autocolantes do fantasma do Ghostbusters, exactamente este da imagem acima, que eu tinha comprado e, realmente, colado nos painéis exteriores da cabine. E o Judas não suportava mais a galhofa dos colegas até, porque, na verdade, havia uma vaga semelhança entre ele e o fantasminha.

Não tive coragem para continuar a contribuir para a infelicidade do Marinheiro Judas. Eu gostava dos bonecos, mas arranquei-os e deitei-os fora. E o Marinheiro Judas voltou a ser um homem feliz. Pelo menos até há dias, porque acabou de morrer. Não sei bem de quê, porque ele ainda era novo, devia andar por volta dos cinquenta. Apenas me chegou a notícia de que morreu. E, com ele, partiu uma personagem que fez parte da minha vida durante alguns anos. Que me apreciava e defendia até aos dentes. Para ele, o “Fame” (assim se chamava o barco) era o mais bonito de todos os barcos do Clube e eu era o melhor pescador.

Que descanse em paz!

ADENDA: tenho um diploma de honra que me foi concedido pelo Gabinete de Acção contra as Calamidades Naturais do Governo de Moçambique por ter contribuído para o salvamento de muita gente, quando de uma depressão tropical que assolou Maputo (Domoina) e fez transbordar os rios e matou muita gente. Fomos de barco e o Marinheiro Judas foi comigo, claro. Verdadeiramente, o mérito foi dele. Eu conduzia o barco e ele é que gritava para as mulheres, crianças e velhos empoleirados nas copas das árvores para saltarem para dentro do barco. Mas é como tudo na vida. No fim, quem recebeu o diploma e o prémio fui eu. Claro que fiz uma falsificação grosseira do documento através de uma fotocópia, acrescentei o nome dele e dei-lhe o prémio a ele. Ele mereceu-o, muito mais do que eu.


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Getting bored kind of thing...



[1971]

Até aos 5 anos, toda a gente me dizia o que é que devia comer;
Até aos 10, toda a gente me dizia o que é que devia (começar) a ler;
Até aos 15, toda a gente me dizia o que é que eu devia ser quando fosse grande;
Até aos 20, toda a gente me dizia com quem é que eu havia de casar;
Até aos 30, toda a gente me dizia que tinha de honrar a pátria e combater por ela;
Até aos 40, toda a gente me dizia que tinha perdido uma guerra e que devíamos pensar todos da mesma maneira;
Até aos 50 toda a gente passou a dizer-me que toda a gente devia pensar de maneira diferente;
Daqui para a frente toda a gente se está nas tintas para o que penso mas acha que eu devo ser bem comportado. Que não devo fumar, nem comer carne vermelha, gorduras, açucares, álcool e cafeína, devo andar de bicicleta pelo menos uma vez por ano na marginal, ir de comboio para o trabalho pelo menos uma vez no dia anual sem carros, participar numa jornada de limpeza da Serra de Sintra e outra vez em limpeza de praias. Toda a gente me diz que roupa devo usar e, até, que carro devo comprar. Que devo procurar as praias de bandeira azul, participar em, pelo menos, uma demonstração anual a favor do ambiente, espalhar a palavra de que a partir dos dez anos toda a miudagem deve andar munida de preservativo e, ó ironia!, dar uma aula no liceu da minha filha sobre os malefícios dos agroquímicos no ambiente e nas vantagens da agricultura biológica. Que devo procurar um relacionamento sério, mas com uma mulher de carreira firmada, que não fume e tenha uma noção básica da sensação do orgasmo, com quem devo partilhar “tarefas”, nem que para isso seja necessário mandar a minha ucraniana para o desemprego.

Toda a gente me diz, afinal, tudo, mas ninguém me diz para me fazer o que me apetece. Que é, em última instância, a plenitude de vida de uma pessoa, fazer o quer, o que lhe apetece, o que lhe vai na gana, ainda que em rigoroso respeito pela gana dos outros.

Por exemplo, hoje apetece-me sair e dar umas pedaladas de biciclet… ai, que não dá. Vai dar o Grande Prémio da Turquia. Fica para logo… ai que não dá, tenho o Porto vs Sporting. Naofámal. Faço um telefonema e saio a seguir e vou… ai que não dá, tenho um jantar.

Puta de vida. Até ela me diz o que devo fazer.


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A falta de respeito e o sentido pífio das coisas



[1970]

Não conheci Eduardo Prado Coelho, não fui seu aluno, não conheço a obra dele. Mas lia-o religiosamente no Público e acompanhei algumas das múltiplas polémicas decorrentes do que ele escrevia. E, tenho de confessar, frequentemente me irritava com o “emaranhado” de muito do que ele escrevia, chegava mesmo a perder-me no sentido e na meta das suas crónicas.

Tenho, por outro lado, um profundo respeito pela vida, que é o melhor que há em todos nós, cada um com as suas idiossincrasias, uns misturando-se no mar da vulgaridade, outros emergindo na crista da notabilidade dos seus valores morais e/ou intelectuais. Por isso me inclino sempre perante aqueles que tombam, impotentes em vencer a morte, perante os que emergiram da vulgaridade. Sobretudo quando em idade activa e ainda a tempo de fazer muitas coisas. Da mesma forma que me repugna o aproveitamento da morte em benefício próprio. O que Sócrates fez (ou alguém decidiu por ele), aparecendo em directo no Palácio das Galveias em directo no telejornal das oito, é pequenino, é momento Chávez, como disse Pacheco Pereira. É, sobretudo, pífio e desrespeitador da figura de Prado Coelho.
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sábado, agosto 25, 2007

Juke box 25



[1969]

Bryan Adams & Barbra, em I finally found some one

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sexta-feira, agosto 24, 2007

Azia


[1968]
Ainda a propósito dos "eufémios" que se entretiveram a partir esta merda toda, como aspirava o seu porta-voz Gualter, antes de o mandarem alterar o "site", tenho-me divertido em geral com a sanha que vai por aí a propósito do verdadeiro serviço público que Pacheco Pereira tem vindo a desenvolver (juntamente com Paulo Gorjão, do Bloquitica) e, em particular, com a furia de Daniel de Oliveira, que até conta as vezes que PP fala no assunto. As imagens da ceifa de cereais, então, imagem de marca da esquerda da foice e do chapéu de abas, tem mesmo provocado o que eu juraria ser violentos ataques de dispepsia em Daniel de Oliveira, que até já fala em Cooperativa Agricola Abrupto Vermelho.

É extraordinário como alguns proeminentes representantes da extrema esquerda perdem, de todo, a gracinha que, às vezes, reconheço que têm. Sempre que lhes fazem vibrar as cordas do violino, tornam-se ressabiados, com mau perder e, naturalmente, ficam sem graça nenhuma.
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Temperamento latino, jornalismo tântrico



[1967]

Nao sou jornalista e desconheço, assim, as técnicas de jornalismo, que, aparentemente, existem. Mas convenhamos que os caminhos do jornalismo podem ser tortuosos. Só assim entendo que Macário Correia tenha assediado sexualmente Teresa Sequeira na primeira quinzena de Julho de 2006, que Teresa Sequeira tenha apresentado uma participação à Procuradoria Geral da República em Março de 2007 e, desta gosto mais ainda, que o DN faça a noticia nos finaizinhos de Agosto de 2007.

Quanto à história, em si, parece-me irrelevante, considerada esta sequência de datas. Resta apenas deduzir que Teresa Sequeira nao seja fumadora, não estou a ver Macário Correia convertido a lamber cinzeiros, como ele dizia. Mas, com o tempo e a idade, nunca se sabe.
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quinta-feira, agosto 23, 2007

Bloco transgénico


[1966]

"Mas o actual estado transgénico do Bloco não vai durar eternamente. Mais cedo ou mais tarde (mais 4 ou 5 desastres eleitorais) a modificação genética solidifica-se e, então, abraçam as «migalhas do poder» com o entusiasmo de quem tem um brinquedo novo ou voltam ao seu estado natural, assumindo o verdadeiro código genético".

Diz o Tomás Vasques, mas, entretanto, fartaram-se de chatear o pessoal, digo eu.
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Juke box 24



[1965]

Bill Paul, Me and Mrs. Jones
Everyone’s entitled to a favourite song…


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quarta-feira, agosto 22, 2007

Chavez enlatado


[1964]

Apesar de esbatidos no tempo, recordo ainda alguns episódios absolutamente ridículos que caracterizavam o esforço do Estado Novo em se manter vivo, no prelúdio dos acontecimentos revolucionários que todos os que têm mais de 33 anos conhecem.

No outro lado da moeda, e no meio da euforia reinante que achava que o ridículo era apanágio de uma direita esclerótica e decadente, a primeira vez que me ocorre ter consciência do ridículo e que só as moscas mudavam foi num célebre desfile de um primeiro de Maio ver um grupo de dondocas em Maputo a desfilarem de bicicleta até ao Largo do Concelho Executivo, empunhando T-Shirts a dizer “bibicleta, transporte do povo” e, mesmo antes de Samora Machel iniciar um dos seus intermináveis discursos, se retirarem, entregando a bicicleta “ao preto”, provavelmente o empregado doméstico que seguia a manifestação da sinhóra, e subindo para os carros que as aguardavam junto ao Jardim Tunduru e regressarem a casa.

Agora aparece-me o Chávez enlatado. Pelas montanhas do Peru come-se revolução, no meio da desgraça após o terramoto. Mas há quem ache graça, Mário Soares, por exemplo, que ainda há dias lhe fez encomiásticas referências.


Foto via Blasfémias

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terça-feira, agosto 21, 2007

Tiques intestinos?



[1963]

Parece indesmentível que o governo socialista teve uma participação activa no desenvolvimento das acções da Ecotopia, havendo ainda forte convicção de que terá havido participação financeira também. Ver este vídeo.

Da forma como as coisas correm normalmente neste país, até acredito que tudo se tenha passado com aquela ligeireza de contas em cima do joelho e o porreirismo peculiar dos socialistas, que é mais ou menos uma forma polida de lhes chamar irresponsáveis no manejo do erário público, mas isto já vem do tempo de Guterres. É a vida, como diria ele próprio.

Mas também não me repugna acreditar que tudo se tenha passado na consciência plena de que se estava a contribuir para o que acabou por acontecer. São tiques antigos, é a esquerda intestina e a verdade é que há muita gente no governo que por muita reciclada que esteja tem saudades dos tempos em que os ministros vinham participar em manifestações de rua contra eles próprios, ralhavam com polícias ou encomendavam equipas de televisão para filmar socorristas a tratar dói-dóis infligidos pelos malandros da GNR, por sua vez chamados pelo próprio Governo. Surrealista? Não. Foi assim mesmo.

Não sei se esta última versão ainda mexe. Mas se mexe, não me admira nem um bocadinho. No fundo, no fundo, se não forem uns fait-divers deste género, em que é que alguns dos ministros e secretários e estado se poderão ocupar?
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O bando dos três



[1962]

Basicamente, nota-se um evidente desconforto por parte do Bloco, relativamente ao assalto dos verdeufémios, ecoterroristas, imbecis, enfim. Três reacções moderadas, cautelosas e confortadas em caldos de galinha que só podem ajudar a não deteriorar demasiadamente a imagem. Mas isto não apaga o descaramento de todos e cada um deles. Daniel Oliveira, arrasta e afivela um certo ar didáctico e lá vai explicando que o assalto foi uma estupidez de adolescentes, toca no cravo, ajeita a ferradura e, tudo espremido, não fica nada. Mas a ideia é essa mesmo, que Daniel é uma pessoa inteligente e sabe o que e como se faz. Já Miguel Portas, enganou-se. Mudou de opinião, imagine-se. Que ele até fora avisado que este mundo da blogoesfera é muito traiçoeiro mas deixou-se arrastar pela emoção e errou. Mas compôs o ramalhete. Numa autocrítica já caída um pouco em desuso mas que ainda vai muito vem com os bons costumes da esquerda. Finalmente, Louçã. Ladino, transfere a questão que lhe é posta se o Bloco tem ou não a ver alguma coisa com o assalto ao milho para um plano inverso. Agora, Sócrates é que tem 24 horas para se retratar e provar que ele está ligado ao acto.

O descaramento destas três criaturas chega a ser obsceno. Se não chegassem mil exemplos diários que o Bloco dá sobre contra-poder, de qualquer forma e sobre qualquer coisa, ocorre-me as jornadas recentes sobre desobediência civil. A acção do Bloco junto da Universidade é, também, notada de forma muito sensível. E não só em faculdades de Ciências, como li por aí. Em Letras, também. Qualquer jornalista de investigação que passe um par de semanas na Universidade poderá facilmente aperceber-se disso. Se quiser, claro.

Vai pelo Bloco uma certa atrapalhação. Mas nada de grave, nada que uma qualquer acção de diversão a organizar por estes dias não dilua de vez.
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Camacho



[1961]

O que me vai ficando sobre as notícias do Benfica com que sou bombardeado nas últimas horas é que Joe Berardo não se sente derrotado com o falhanço da Opa. Que Fernando Santos está surpreendido mas não está magoado. E que Camacho promete trabalho e jogar para ganhar (esta última, em resposta ao bilião de vezes que os jornalistas perguntaram ao simpático espanhol se vinha para o Benfica para ser campeão). Ainda tive esperança que o homem respondesse: - Não, vim para ver uma partida de futebol de salão, tomar uma bica no Nicola e uma santola na Sol-Mar.


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O "evoluir" do Dean e a tensão dos portugueses



[1960]

A forma e o ritmo (e o português) com que as televisões nos vão informando que os portugueses de férias nas Caraíbas estão muito tensos, enquanto passam o tempo recolhidos nos quartos a ler e a ver televisão é um evidente falta de respeito para com aqueles que efectivamente morrem com este capricho da natureza que dá pelo nome de furacão. Será uma mistura de informação alarmista à la mode de chez nous e de lamechice nacional. Na Jamaica, por exemplo, onde o Dean já passou há uma série de horas, os portugueses que lá estão ainda estão muito tensos. Em cima disto tudo há uma menina, tipo porta-voz da meteorologia que diz que não é conhecido o evoluir do trajecto do furacão e que o evacuar dos passageiros tem sido uma operação difícil.

Esperemos que o chegar do Dean ao Golfo do México e o possível agravar da situação não despolete o surpreender daqueles que optam pelo desprezar o precaver dos efeitos do dito cujo.
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segunda-feira, agosto 20, 2007

Fora do prato




Tal como o JPP fico à espera de saber quanto é que é a minha ecotaxa.
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Nus


[1958]

Não tenho nada contra gente nua. Pelo contrário. Gosto de gente nua, gosto de nus em pintura, escultura, gosto de nudez em geral. Eu próprio guardo boas recordações de me banhar nu nas águas mornas do Índico e se nunca me banhei nas águas frias do Atlântico foi por puro desconforto. Talvez até por razões estéticas, para aproveitar a maré de conceitos estéticos que vai por aí e creio que nada mais inestético que um homem a sair, nu, de águas gélidas, daquelas que nos reduzem o corpo a uma expressão muito próxima da insignificância. E aqui falo de homens, como é evidente porque, falando de mulheres, o efeito do frio pode provocar efeitos de uma apreciável (lá está…) estética.


E, talvez por falta de assunto, as televisões têm vindo ultimamente a falar muito de naturismo. As loas ao nudismo multiplicam-se, ele é imagens de nudistas, ele é reportagens, ele é nus por toda a parte. Os portugueses, claro, tinham de condimentar a coisa (e coisa, aqui, entenda-se por tema em apreço) com umas queixinhas, que nós sem queixinhas não somos ninguém. Que há poucas praias e nas poucas que há, as condições são precárias. Não há bares, não há restaurantes, não há salas de estar, nem equipamentos de praia. Ora aqui…eu tenho reservas. Se andar nu é óptimo, andar a roçar-me, nu, por cadeiras onde minutos antes se roçaram as estimáveis partes pudibundas de outros suscita-me alguns pruridos de higiene. Pois se o vulgar pé de atleta é contraído sobretudo nas praias (uma das principais razões porque me nego a frequentar praias com muita gente), porque não haverá risco de se contrair vários problemas de saúde pelo facto de nos andarmos a sentar nus em regime de serviço público? Ou cada nu leva uma cadeira de casa? Ou cada nu vai ao restaurante de toalha para se poder sentar com um mínimo de higiene?


Mas, pronto. O que interessa é dispor de mais um tema para as televisões. Daqui a um par de semanas já ninguém fala no assunto outra vez…



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domingo, agosto 19, 2007

Ortodoxias


Uma garupa totalmente ao arrepio dos parâmetros ortodoxos, algures numa rua que podia ser da Figueira mas, por acaso, não é.

[1957]

Num zapping ocioso de quem acabou de chegar a casa e ainda não decidiu bem o que vai fazer, esbarrei na corrida da RDP na praça da Figueira da Foz (Coliseu da Figueira?). E ouvi (há dois minutos) esta pérola, que me faz convencer cada vez mais que ninguém fala como nós. O cavaleiro acabou de espetar um ferro e o comentador diz, naquela voz arrastada e de quem parece que tem um terço na mão, que só os críticos tauromáquicos conseguem fazer:

- Este ferro foi um pouco à garupa (pausa) fora dos parâmetros ortodoxos deste terceiro touro. Parece-me que esta actuação de Tito Semedo foi um pouco mais a menos.

Juro. Eu seja ceguinho se não foi isto que acabei de ouvir. Na ortodoxia da minha sala e nos parâmetros que o televisor me garante. E uns minutos depois, após a pega:

- O touro teve uma investida correctiva, o forcado fincou-se à cara do touro e a pega foi feita à primeira tentativa.

Ámen
Adenda: A corrida ainda está a dar. Ouvi agora mesmo dizer que o toureiro prendeu-se à pirueta. Mas não consegui perceber o resto...



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O Gualter


[1956]

Este é o Gualter, que vimos na televisão como porta-voz dos não sei quantos Eufémia, depois de partirem um bocadinho desta merda toda.

O rapaz parece que estuda ambiente na Nova e tem uma séria de estimáveis gostos e aspirações, nomeadamente conhecer activistas para partir esta merda toda. Entretanto parece ter atentado contra o ambiente que lhe ia na cabeça. Cortou o cabelo o que certamente terá provocado um profundo desiquilíbrio no seu mini eco-sistema.

Pode visitá-lo aqui.

Via Abrupto
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Se o Miguel Portas achou bem, é porque deve estar bem


Delinquência sob protecção policial


[1955]

Tal como habitualmente, o rescaldo da invasão e destruição de propriedade levada a efeito por um grupo de delinquentes “travestidos” de activistas tem-se desviado para factos irrelevantes, como ter conhecimentos ou não sobre a cultura do milho, utilização de variedades de milho transgénico e, até, o facto de o agricultor assaltado ser rico, já que possui 51 has de terrenos (neste particular, vale pena ler
este comentário a este post, onde um anónimo acha que eu não percebo nada de milhos, que o PSD anda a brincar no rio Arad e que o agricultor em questão até é rico). Ora isto releva de uma inversão total do problema. É uma diversão astuta e previamente delineada para desviar a opinião pública do essencial (invasão e destruição de propriedade) para dar lugar à discussão sobre transgénicos e sobre a fazenda do agricultor em questão.

O
post de Miguel Portas, aliás, e um exemplo vivo do que afirmo. Ainda que de forma melíflua e coberto de paninhos quentes, Miguel Portas acaba por dizer preto no branco que acha muito bem o que se passou. Aliás, sem novidade. E isto, sim, é ainda mais grave do que a invasão. Porque representa uma manipulação insidiosa da opinião pública.

O Governo não pode ignorar este episódio, sob pena de contribuir para terrenos muito viscosos da nossa democracia. De resto, parece-me o Governo estar a preparar-se para, paulatinamente e como é sua especialidade, começar a deixar o caso cair no esquecimento e isso é um mau serviço. No essencial, há um assalto, aparentemente elaborado e estudado por activistas, com o conhecimento da autoridade, há a falta de cumprimento de dever pela mesma autoridade (não deter os delinquentes apanhados em flagrante delito) e um
discurso idiota de um comandante Bengala, não sei se encomendado se da sua própria lavra, de qualquer forma, idiota e preocupante.

No mais, e por coincidência, conheço bem os procedimentos legais necessários ao estabelecimento de uma seara de milho, o pormenor de ter visto uma tabuleta de uma empresa multinacional a assinalar o campo (Pioneer, empresa líder de mercado e que vende anualmente cerca de 2.500 toneladas de sementes certificadas, de valor aproximado a € 7.500.000) é uma garantia absoluta de que o campo estaria legal.

Nota: Estou realmente decepcionado. Cheguei ao post do Miguel Portas via
António de Almeida. E, tal como ele diz, para além de Miguel, é o deserto por parte da esquerda. Será uma réstia de pudor? Ou está tudo à espera que o tema se alicerce apenas nos OGM para depois vir à liça?
ADENDA: Ler ainda esta peça no Abrupto
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sexta-feira, agosto 17, 2007

"Desokupas"



[1954]

Começo a perceber que há uma indignação generalizada pela Blogoesfera relativamente às malfeitorias de um grupo de imbecis que andou a destruir milho no Algarve.

Registo que o 31 da Armada referiu já algumas entidades envolvidas no caso, nomeadamente a Almargem, uma associação que participou activamente nas jornadas do Bloco de Esquerda no Algarve, e que a foto documenta.

Ler o post do Diogo Henriques aqui.


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Inaceitável - Terrorismo, assalto, invasão de propriedade


Silves, Portugal, Agosto 2007
Os terroristas ecologistas de cara tapada, por causa dos "pólens assassinos"


[1953]

Esta maralha não só não foi presa, identificada e julgada em tribunal de polícia como ainda foi acompanhada pela GNR, não fossem eles magoarem-se à saída do milheiral que destruíram (ler a notícia da destruição de um hectare de milho de um agricultor de Silves, aqui) para se irem manifestar noutro local.

Esta maralha não sabe nada de milhos e muito menos de variedades geneticamente modificadas. Esta maralha desocupada não tem a mais remota noção dos custos de um hectare de milho e da importância da produção deste hectare, num país como Portugal que importa cerca de 90% das suas necessidades de milho.

Não me espanta que existam delinquentes deste tipo enquadrados por partidos e organizações políticas. Espanta-me é que ninguém vá preso. Espanta-me é esta cada vez mais timorata atitude perante este tipo de gente e os seus respectivos mentores. Só de me lembrar que a gestão camarária da capital passa por acordos políticos com kamaradas deste calibre (aliás há uma semelhança essencial na destruição de um hectare de milho e no atraso de dois anos de uma obra pública), arrepia-me.

E, realmente, ou há polícia para evitar que nos destruam o quintal ou o melhor mesmo é voltar ao sistema das tabuletas de propriedade particular e da caçadeira. E correr com esta escumalha. Com umas chumbadas nas pernas ou com a tabuleta à cabeça.



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Censura de Sócrates - O aparelho



[1952)

Tudo o que está escrito e documentado aqui no
Zero de Conduta é extraordinário. E define bem os tempos que correm e a gente que nos pastoreia. Vale a pena ler com atenção.

E é esta gente que se arvora na expressão modelar do que uma sociedade deve ser.

Via
Insurgente
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Todos iguais



[1951]

E quando eu pensava que uma unha encravada era uma expressão apropriada apenas aos sem-abrigo, patos-bravos com muitos fios de ouro ao pescoço, motoristas de táxi com bigode e em fim de carreira, gente obesa e com caspa e vendedeiras de tremoços no Sítio da Nazaré, eis que sou apanhado pela maleita.

Sem saber bem o que era (para mim, tudo se resumia a uma infecção provocada por uma picadela do alicate de unhas) e porque já nem andar conseguia, para não falar do ritmo impressionante de um pontapé por minuto que eu dava em tudo o que estivesse á mão, que é como quem diz ao pé, dirigi-me ao Centro de Saúde da Lapa. Não moro na Lapa, mas trabalho na Lapa, pelo que achei o mais lógico.

Ao mesmo tempo que ouvi uma missa cantada por um senhor enfermeiro cinquentão e de barriga sobre os procedimentos normais nestes casos, ou seja, médico de família, guias, horários de atendimento e apesar das interrupções que eu ia fazendo sobre a minha relativa ignorância destes assuntos mas que estaria disposto a pagar, eis que o senhor enfermeiro me arranca (a-rran-ca é o termo) um pedaço de unha que estava realmente mergulhada no tecido.

Foi uma das maiores dores que tive na minha vida. Eu sei que esta é aquela parte em que qualquer mulher me diria “pois, nunca pariste”, mas eu não quero nem saber. A dor foi… excruciating, só mesmo este termo define exactamente a dor que senti. E eu fiquei a saber que mesmo aqueles que não são vendedeiras de tremoços no Sítio da Nazaré, motoristas de táxi em fim de carreira ou patos bravos com fios de ouro também podem ter uma unha encravada. Pode-se ter de esperar uma vida, mas a unha encravada chega a todos. Será outra das situações em que somos todos iguais.
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quinta-feira, agosto 16, 2007

Leitura obrigatoria

[1950]

IGUALDADE

Nada como uma ida ao Ikea para levar com um banho de igualdade. Lá somos todos iguais perante os Kroken (um suporte magnético para facas), os Snar (uns individuais, mas falta a bolinha no “a”) ou uns Ikea Stockholm (umas mantas). Todos fazemos o mesmo percurso, todos nos demoramos a ver as mesmas coisas, todos compramos o mesmo (enfim, quase), todos fazemos uma estimativa de quantos sacos de papel vamos precisar para os pagarmos. Ali não interessa idade, sexo, raça, apelido, o Ikea é de todos e para todos e lá o dinheiro não tem cheiro e é igual e vale o mesmo nas mãos de seja de quem for. O Ikea é talvez um dos locais onde eu me sinto mais igual, e não estou segura de gostar muito dessa sensação. A ironia é que o que as ideologias, os regimes, as utopias, os políticos têm demorado séculos a tentar, sem grande ou mesmo nenhum sucesso, pois tudo a que chegam tem sido à força e não passa de uma vaga aproximação, o consumismo consegue fazer: no Ikea somos todos iguais.

De JCD no Hole Horror
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quarta-feira, agosto 15, 2007

Juke box 22


[1949]

Assim de repente, e que me lembre, Katie Melua é o caso mais sério de qualidade e sucesso no dealbar do Séc XXI.

Já aqui deixei Aphrodisiac, Nine Million Bycicles, Blowin’ in the wind, Closest thing to crazy e outras. Hoje registo este dueto impossível com Eva Cassidy e um Shy Boy que a boa da Katie viu duma janela de um street cafe

É que esta miúda não cansa!
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Erotismo em speed limit



[1948]

Cá para mim este kit anti-droga agora distribuído à GNR é uma forma disfarçada de erotismo na estrada.

Farto-me de ouvir na TV que
se introduz o kit na boca, primeiro do lado da bochecha esquerda, depois do lado da bochecha direita, depois esfrega-se quinze a vinte vezes na língua e depois deixa-se ficar cerca de vinte segundos debaixo da língua.

Se algum dia apanhar uma agente feminina com um kit na mão a dar-me estas instruções não sei bem como é que vou conseguir fazer isto tudo sem me rir…
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Anti-ciclones desmancha prazeres



[1947]

Depois de sermos martelados no início deste ano com estimativas de vagas de calor intensíssimo para este Verão, eis que se descobriu que o Verão ameno que estamos a atravessar se deve… adivinhem… ao anti-ciclone dos Açores, que este ano está um bocadinho deslocado da sua posição habitual.

Que chatice. Pode ser que para o ano o anticiclone volte ao lugar e depois chama-se o Al Gore outra vez, não se fala mais nisso.


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terça-feira, agosto 14, 2007

Uma questão de honra e justiça



[1946]

Nem um lagarto assumido e com muita honra como eu poderá passar ao lado da grande lição que o futebolista Rui Costa, do SLB, deu esta noite na partida contra os dinamarqueses. Sabor especial foi ver a cara do comendador Joe depois do segundo golo.

Pena que um jogo de futebol não seja uma tourada, para que Rui Costa se dirigisse a JB e lhe dedicasse a extraordinária faena com que brindou o estádio.

Parabéns, Rui Costa!

Foto pifada daqui
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Isto foi o que de mais aproximado encontrei no Google. Mas estes sao redondos e não têm o suporte de papel...
[1945]


Agora que sei o que são malacuecos, vem-me à ideia um dos bolos por que eu mais me lambia na meninice. Eram assim uma espécie de croquetes de coco, muito brancos, com muito açúcar e tudo coco. Vinham servidos num pequeno papel, tipo naperon, daqueles que a gente acaba a raspar com os dentes.

Nunca soube o nome destes bolinhos de coco, brancos e doces, que me deliciavam o palato e me transportavam ao mistério africano, que era o que África era para mim. Um mistério. E era entre o deleite e o mistério que eu me sentava na Versailles (onde os bolinhos de coco eram os melhores e os mais brancos) a degustar um deles.


Mais tarde conheci África, comi cocos, mas os bolinhos desapareceram. A avaliar pelos nomes de bolos que oiço referir numa pastelaria (uma variedade sem paralelo em nenhum outro país, acho eu…), estranho terem descontinuado um dos mas populares e saborosos bolos da minha infância.
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Malacuecos e Maria Cachucha



[1944]


Fiquei a saber o que eram os malacuecos. Eu tinha uma ideia de que malacuecos significariam qualquer coisa. Mais alguém, do que qualquer coisa. Por outro lado, admitia que malacueco fosse uma expressão das muitas que a sabedoria do nosso povo adoptou como irrecusáveis, depois de entrarem no léxico regional ou mesmo nacional. Como “maria cachucha” que é, presumo, expressão nacional. Mas o significado de maria cachucha, verdadeiramente não sei. Maria cachucha é um termo que me remete para a recordação da minha avó que em termos de expressões populares era imbatível, apesar de ser alfacinha do centro da gema. Porque a verdade é que para qualquer tipo de situação ela tinha uma expressão adequada e a maria cachucha era uma delas. E eu oscilava na dúvida se ser do tempo da maria cachucha era ser muito velho ou ser de um tempo conotado com algo de pejorativo que não sabia identificar muito bem.


A verdade é que a minha avó morreu e eu nunca cheguei a perguntar-lhe quem teria sido e quando teria vivido a maria cachucha. Mais: se era pessoa que se recomendasse. E eis como os malacuecos da f. trouxeram um pouco de luz às minhas dúvidas de adolescência. Posso imaginar agora, inocentemente, uma maria cachucha a comer um malacueco. Porque pelo que sabia, uma maria cachucha a comer um malacueco era uma cena assim a resvalar para a cueca.


Contente pelo alargamento dos meus conhecimentos, graças à f.,fica-me todavia a desilusão de não poder saborear mais a imagem de uma maria cachucha a comer um malacueco. É o que dá aprendermos o que não devíamos.

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segunda-feira, agosto 13, 2007

A propósito de Torga



[1943]

Passa hoje o centenário do nascimento do bardo Torga. A oficiosa RTP mandou uma jornalista qualquer sentar-se no meio das serras e apresentar o telejornal da tarde. Tudo, naturalmente, por causa do dito Torga. Torga nunca me impressionou como escritor. Um conto ou outro, um ou dois poemas e basta. O "Diário" é de fugir. E toda a mitologia construída à volta do autor de Bichos também. Foi um putativo Nobel, julgo que apenas na cabeça de meia dúzia de luminárias da "cultura". Tinha uma coisa boa: mau feitio. De resto, preferirei sempre Vergílio Ferreira a este montanhês constantemente incensado. O padrão do nosso rusticismo literário e saloio escreveu uma vez no seu infindável "Diário" que "não há nada mais repugnante do que um escritor a ejacular pela caneta" referindo-se a Henry Miller. Tomara ele.

João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos

Miguel Torga nasceu faz hoje cem anos. Sobre este assunto o Pedro Correia tirou-me as palavras da boca. Realmente, quem os viu e quem os vê. Durante vinte anos, Torga foi incensado pelo PS a propósito e despropósito. Uma vez morto, o partido esqueceu-se dele como se esquece dos outros. Torga é um bom exemplo da fatuidade das “honrarias” institucionais. Ninguém como ele tão poeta oficial (1974-1995), ninguém como ele tão resolutamente esquecido pelo país, pelos pares, pela Academia, pelo jornalismo literário, pelos políticos que andaram vinte anos a citar-lhe os textos. O enfado do ministério da Cultura não surpreende.

Eduardo Pitta, no Da Literatura
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domingo, agosto 12, 2007

Margarida impressionável



O Sol a fazer-lhe impressão
[1942]


Há dias, era a cultura que, por definição, era de esquerda, segundo um conceituado ministro da nossa praça, numa divertida viagem à Madeira. Hoje é "A Direita está cheia de preconceitos que se instalam, dominam e oprimem. Um filho de uma família de Direita tem muito menos abertura de espírito do que um filho de uma família de esquerda. E faz-me impressão uma sociedade em que se premeie apenas o mérito, independentemente das condições à partida. Isso é a Direita e isso faz-me muita impressão." Margarida Pinto Correia terá afirmado esta pérola ao Sol.

Faz-me impressão as coisas que fazem impressão a Margarida. Talvez uma ida a Havana com o Luís Represas, ele à espera que neve na Marginal e ela sem impressões nenhumas, já que os cubanos são todos filhos de famílias de esquerda e, portanto, livres de preconceitos que se instalam, dominam e oprimem. Excepto umas centenas deles que tiveram o azar de nascer com muito menos abertura de espírito e, portanto, estão presos, como convém.

Não há pachorra, repito.
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Intoxicados desde novos



[1941]

Ao ler um CV de um jovem licenciado em agronomia, deparei com um palavrão só possível pelos tempos que correm. O jovem tinha trabalhado temporariamente em agro-tóxicos.

É o que dá misturar alhos com bogalhos e um jovem fazer todo um percurso universitário com o recurso a um termo impróprio, por força da implantação gradual do politicamente correcto. Há agro-químicos, produtos químicos para a agricultura ou pesticidas, tal como há medicamentos e não humano-tóxicos para curar uma cefaleia ou uma bronquite.
Do meu ponto de vista, complicado não será tanto a utilização de um termo inadequado para designar produtos químicos, mas o sentido que a designação encerra. Além de que o jovem profissional gera, com certeza, uma ideia de que a indústria fito-farmacológica serve para produzir tóxicos objectivamente criados para envenenar o ambiente em vez de contribuírem para colheitas de qualidade e de boa rentabilidade económica.
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Fora das linhas



[1940]


Às vezes não é bem falarmos ou escrevermos mal. É a distracção, a superficialidade, a forma estouvada de nos exprimirmos. Sabemos falar bem mas fazemo-lo mal, assim como quem guia bem e arruma o carro por cima dos traços do parqueamento.

Isto vem a propósito de uma expressão muito comum do Estado Novo e que rematava a maioria dos ofícios e que era atento, venerador e obrigado. Conhecida a nossa irresistível tendência para abandalharmos a nossa própria língua, a expressão tem-se transformado em atentos, venerandos e obrigados, aqui pela blogoesfera, com uma irritante frequência. Mesmo que a memória falhasse, bastava reparar que venerador é o que venera e venerando é o que é venerado, como era a "veneranda figura do Chefe de Estado", pelo que a expressão correcta teria de ser sempre atentos, veneradores e obrigados.

Isto não teria grande importância, se não se tratasse de gente de quem se espera uma linguagem escovada e correcta.


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SCP 1-0 FCP


[1939]

Claro que uma vitória do Sporting é sempre bom. Sobretudo se contra os “andrades”. Mesmo não jogando bem, como é normal no início da época. Mas esta soube-me particularmente bem. Talvez pelo movimento bizarro, e que me deixa algo estupefacto, que se vai notando por aí relativamente à figura de Pinto da Costa. Que o homem é inteligente, que trata bem da casa dele, que é sério. Pessoalmente conheço muita gente que trata bem da casa, que é séria e muito inteligente. Com a diferença de que não é acusada de coisa nenhuma.

Mesmo que sejam acusações pequeninas, como Pinto da Costa afirmou na SIC-notícias, quando disse que acusações eram só as do jogo tal e jogo tal…

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Ai, Timor


[1938]


Os portugueses andam baralhados. Há bem pouco tempo andavam com roupa branca desfraldada nas janelas das suas viaturas que conduziam alegremente por Lisboa e outras cidades do país. A rádio, as televisões e jornais comoviam-se com o altruísmo dos portugueses e Sampaio deixava escapar umas lágrimas furtivas pela emoção do momento, enquanto o Luís Represas ia baladando por aí o “Ai Timor”, com as gentes muito compungidas. Xanana e Ramos Horta eram a expressão terrestre da virtude divina e as trompetas dos arcanjos ouviam-se, desta vez sim, com o beneplácito da circunstância, do Minho a Timor.

Pouco tempo depois a bagunça e a luta pelo poder instalam-se na ilha. Aqui em Portugal, a esquerda aproveita a embalagem para acusar as forças imperialistas, como é costume e de bom tom, neste caso a Austrália e os Estados Unidos, de manobras turvas por causa do petróleo. A direita, essa, desinteressou-se e acha e que é tudo farinha do mesmo saco.

No fundo, o que parece ressaltar de tudo isto é que Timor é mais um exemplo vivo da forma criminosa como Portugal lidou com a independência dos seus territórios. Se Salazar comprometeu uma independência pacifica, inevitável e bem vinda, já um grupo de gente sem qualquer experiência de África ou da Ásia que não fosse a obtida nas cartilhas distribuídas em Argel, Brazaville ou Moscovo acabou por ser determinante numa das mais negras e vergonhosa páginas da nossa história. Sem hesitação, nem vergonha.

Se não fosse a tragédia daqueles que, nestas coisas, sempre acabam por morrer, a baralhação em que a inteligentzia portuguesa se encontra acaba até por dar um certo gozo.



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Lições de vida


[1937]

Samson é um macaco babuíno de meia-idade e com oito fêmeas para cuidar e cobrir. Nem sempre os seus impulsos sexuais são bem vindos, as fêmeas não querem, repelem-no ou agridem-no mesmo. A não ser quando lhes vem o cio e então todas o querem ao mesmo tempo. E é quando as oito ninfas se atiram a Samson e exigem tratamento e atenções adequados. Todas, muito e todas, já.

Não será fácil lidar com tanta exigência, uma macaca sabe deus, quanto mais oito delas em cio fremente e ávido. E depois, há a prole. Mas de tudo e de todos cuida Samson com desvelo, paciência e sabedoria, três legados da natureza que ele assume e enobrece. E a vida decorre normalmente. Os filhotes comem e são catados, as fêmeas são devida e atempadamente satisfeitas e Samson, de vez em quando, sobe a um morro e contempla o horizonte com uma expressão filosófica (não sei se é possível um macaco assumir uma expressão filosófica mas vendo-se o documentário acho que é possível, sim) e de noção de dever cumprido.

Mas eis que aparece N’kudda. Um macho mais jovem, pujante, másculo e com as hormonas a escorrerem-lhe pela baba. Fita Samson com ar de desafio e arreganha os caninos. Enche o peito e olha as oito fêmeas que, expectantes, assistem á cena. Samson não quer deixar os seus créditos por mãos alheias, muito menos as fêmeas) e arreganha os dentes, também. A luta começa, feroz, dura e sangrenta. Samson resiste enquanto pode mas N’kudda é mais jovem, é mais forte e não perdoa. Do alto de um penhasco acaba por dar o empurrão final a Samsom. N’kudda regressa, impante, ao local da contenda. As fêmeas olham-mo à distância e, pouco a pouco, vão se aproximando. Rodeiam-no e catam-no. Diligente e reverencialmente.


Ao longe, Samson, recupera da subida do penhasco. Está cansado, triste, ensanguentado. Olha para a família e percebe que ela já não lhe pertence. E numa espécie de lágrima que lhe aparece ao canto do olho reflecte-se a imagem das suas oito mulheres e respectivos filhos a afastarem-se com N’kudda a caminho de outras paragens. Samson passará a pertencer ao grupo dos babuínos mais fracos e solitários até que um dia, definitivamene cansado da selva, se deixa morrer.

Wild life, na TV.

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