terça-feira, outubro 04, 2016

O golpe escafedeu-se...



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O PT brasileiro sofreu uma (merecida) derrocada nas recentes eleições autárquicas.

Independentemente do cariz higiénico da coisa, repugna-me lembrar a quantidade de gente que se fartou de berrar por aqui de que o Brasil estava a ser alvo de um golpe. As nossas “blocas”, então, desdobravam-se em adjectivos violentos sobre a coisa e pouco faltou, se faltou, para compararem a destituição de Dilma a um vulgar golpe de estado “à la Coronel Tapioca”. A utilização de gente ilustre do país irmão, onde não faltou na primeira linha um respeitável Chico Buarque, foi igualmente notória e, como sempre, a aposição de intelectuais, poetas, artistas, escritores e correlativos, de resto com uma apreciável claque portuguesa, enfeitava o tropel desenfreado dos denunciadores dos golpistas.

Os resultados estão aí. E se as nossas "blocas" e companhia tivessem um pingo daquela vergonha que a Mortágua diz que temos de perder para ir buscar dinheiro aos ricos já deveriam ter-se prestado a um acto de contrição, que só lhes ficava bem. Mas não prestaram. É como se nada se tivesse passado. De resto, muito à semelhança do que aconteceu com a pulverização do PS espanhol onde, por uma vez, surgiram alguns socialistas dignos que mandaram Sanchez dar uma volta ao bilhar grande. Uma coisa que os socialistas portugueses não conseguiram fazer com Costa. E não terá sido por falta de mesas de bilhar. Quem sabe, por falta de tacos.

O avacalhamento de Lula também traz um morno conforto a todos aqueles que continuam a ter de aturar estes aventureiros que vão saindo ao caminho, usando a boa-fé do tal povo para os meter em experiências tipo Venezuela ou Bolívia. Só lamento que esse avacalhamento seja tão mais lento aqui em Portugal.


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quarta-feira, julho 09, 2014

Back to basics


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Com a derrota do Brasil as coisas voltaram à normalidade. Congratulo-me com a contenção da nossa comunicação social que, pelo visto, se tem cingido criteriosamente às razões desportivas, mas surpreende-me a lassidão do Daniel de Oliveira que ainda não disse que o arrastão de Copacabana foi inventado pela reacção e pela polícia de Carcavelos e que a generalidade dos distúrbios em S. Paulo e no Rio se devem basicamente a Ricardo Salgado e inerentes «tropelias» e dívidas do GES no Brasil e, sobretudo, ao facto de Passos Coelho ter afirmado ontem que o estabelecimento do ordenado mínimo depende do aumento de produtividade. O homem está a perder estamina.

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domingo, agosto 25, 2013

Nem as moscas mudaram…


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Nunca fui a Cuba nem nisso estou particularmente interessado. Sobretudo assim que me apercebi de que Cuba era um dos vários países com políticas sociais repugnantes, particularmente ao nível da manipulação de gerações sucessivas, conseguindo mesmo que muitos dos seus jovens achassem que viviam na sociedade perfeita e que gentes de outras latitudes haviam tido a desgraça de nascer em territórios malditos por Deus e infectados por políticas fascistas, capitalistas e de latifundiários corruptos.

Mas o tempo passou e eu julgava que, finalmente, alguns dos mais repugnantes aspectos das políticas cubanas haviam sido ultrapassadas ou, pelo menos, ajustadas à realidade dos tempos, pelo menos a avaliar pelos comentários excitados de muitos progressistas da nossa praça socialista, sempre pronta a louvaminhar cada «abertura» do Castro em gestão corrente. Afinal, eis que o Brasil vai receber 4.000 médicos cubanos para colmatar as suas faltas no interior, mau grado a notícia corrente de que o Brasil é um dos países com mais médicos por habitante. O Brasil pagará $R10.000 por médico, o que para os standards cubanos é um excelente salário. Acontece que os médicos receberão apenas 7% desse salário (vou repetir, 7%), talvez para que não adquiram hábitos decadentes das sociedades capitalistas, mesmo que geridas por socialistas de segunda colheita, como será o caso de Dilma. Os 93% restantes vão direitinhos para o Estado, porque é assim que deve ser.

Afinal, nada de muito diferente de quando conheci excelentes pilotos agrícolas cubanos, que conheci em Moçambique, que trabalhavam o mesmo que os seus colegas capitalistas que auferiam cerca de $5.000 mensais, ou mais, enquanto eles recebiam o equivalente em moeda local a PTE5.000 escudos portugueses. Mas, hélas, tinham direito a «pontos». Pontos, assim como aqueles que a gente recebe aqui, nas bombas da BP. E quando voltavam a Cuba, esses pontos eram contabilizados para algumas excentricidades como uma torradeira, um aspirador ou, em casos muito especiais, um carro usado dos anos cinquenta.

No caso do Brasil não sei se há pontos. O que sei é que, pelo que leio e vejo, continua tudo na mesma. Ou seja, em Cuba nem as moscas mudam. Ah! E há outra coisa que eu não sei se a Dilma sabe. Mas eu sei que ela sabe que muita gente sabe que ela deve saber. Muitos destes médicos não são médicos. São estudantes de medicina a quem é passado um certificado político para poderem praticar. Que era o que acontecia em Moçambique. Mas no Brasil, que é um terceiro mundo assim a puxar para cima, Cuba é mesmo capaz de ter mandado médicos a sério. E para cobrir a falta que os 4.000 médicos emigrados vão fazer (a não ser que houvesse desemprego em Cuba e houvesse médicos a mais…) estes serão substituídos por estudantes finalistas ou técnicos de saúde. E se isto der muito nas vistas, um dia destes aparecem por aí mais umas notícias no Expresso ou no Público dando conta de uns quantos presidentes de câmaras alentejanas que mandam uns quantos doentes a Cuba para fazer um qualquer tratamento, provavelmente difícil de obter em Portugal, pretexto para  mais umas loas comoventes sobre a qualidade da medicina cubana e das «aberturas» do regime.

Pelo sim pelo não, as famílias dos médicos que forem para o Brasil serão devidamente protegidas pelo Estado cubano. Não vá algum maluquinho gostar imenso de água de coco ou duma baiana atrevida e resolva render-se à degradação capitalista. 

Entretanto, a imprensa progressista brasileira vai dando já um jeitinho também, a avaliar pelas fotos!

Informações colhidas em fontes via O Insurgente
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segunda-feira, março 05, 2012

A esquerda de coração partido é um dó de alma!

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«Obrigada, Luiz Sérgio. Você foi e é um amigo e um parceiro que compreende a natureza de um governo de coligação, por isso vai entender que vai ter de ser substituído pelo Marcelo Crivela, o sobrinho do Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, você sabe, u’a merrrda, eu sei, mas preciso calar aqueles caras histéricos dos evangélicos contra vários dos meus ministros que se manifestaram a favor do aborto e do casamento de homossexuais assim como a dedicação que a política muitas vezes acaba por nos impor em nome dos interesses do país».

E foi assim com a voz embargada pela emoção e deixando rolar uma lágrima furtiva (a facilidade com que os líderes brasileiros vão atrás de choro só tem paralelo com o nosso Sampaio quando pensa na vida para além do défice), que a presidente brasileira despediu o ministro Crivela, pela segunda vez, quando este se encontrava de ferias.

Não há pachorra, mesmo, para a hipocrisia desta rapaziada socialista. Em qualquer latitude!
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sexta-feira, março 02, 2012

Conemos

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O Azeite Gallo tem um processo no Brasil, acusado de ser racista num dos seus anúncios.

Os brasileiros lá sabem com que linhas se cosem mas se os pruridos demonstrados alcançam este tipo de rigor, é caso para pensarmos que a sua (deles) imaginação não é lá essas coisas. Chamar CONAR a uma comissão que… bom, chamar «conar» seja ao que for e achar que um frasco escuro é racista parece-me, no mínimo, bizarro. E se alguma vez eu mandar aqui na paróquia e me aparecer alguém da «conar» eu mando-o conar para outra freguesia porque já cá há quem cone com destreza e sem qualquer complexo racial.
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terça-feira, março 09, 2010

Sabor de Maboque



clicar na segunda imagem para ver melhor


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A Dulce escreveu um belo livro. É uma narrativa serena, simples, na primeira pessoa e com o mesmo espírito dos dezasseis anos da altura, de um tempo de que a maioria dos portugueses não tem um conhecimento adequado.

A Dulce não recorre nunca a clichés de política, saudosismos ou partidarismo, deixa-se levar com a simplicidade que lhe enforma a alma pelos acontecimentos que a enovelam no pós 25 de Abril em Angola, consegue mesmo romanceá-los numa história de amor de adolescente e culmina num dos episódios mais dramáticos, analisados hoje à distância de trinta e seis anos, qual fosse o de estar num aeroporto à espera de um avião que a levasse… para onde o avião fosse. Brasil, Portugal ou África do Sul.

O livro não encerra ressentimentos, ressabiamentos, nem ressuma ódios, porventura legitimáveis pelo desprezo e desrespeito que um grupo de gente no poder em Portugal atribuiu aos “incómodos retornados”. O livro é tão singelo como a autora, e limita-se à narrativa fluida e fiel de um período muito curto mas muito importante para muitos que, como a Dulce, aguardaram aviões sem conhecer o destino final. Não acusa, não se zanga, não odeia, tão-somente conta a história de uma adolescente nascida e criada em Angola e apanhada no torvelinho dos acontecimentos.

Aconteceu à Dulce ir para o Brasil. Por lá se fixou, por lá se enraizou e lá se estabeleceu, constituindo família, terminando a sua licenciatura, trabalhando, sem precisar de “jobs for the boys” a €2.5 M /ano sustentados por currículos tão improváveis como o lançamento de campanhas com T-shirts do Che e poemas do Manuel Alegre, que foi nisso que os portugueses parecem ter-se especializado. A Dulce, como a grande maioria dos retornados (uma filha de beirões, nascida em Angola e “retornada” no Brasil, só pode ser uma piada de mau gosto…) fez pela vida e é uma mulher feliz e empresária de sucesso.

Resolveu escrever um livro que editou no Brasil e em Portugal. Nalgumas livrarias de Paris, também. Em Portugal o impacto foi modesto. Sem lançamento, sem lóbis, o livro foi depositado em duas livrarias lisboetas e vendeu umas centenas de exemplares. Já no Brasil, a situação tem sido diferente. Lançado há cinco meses, mantém-se na dianteira do pelotão dos livros mais vendidos na semana e prepara-se a segunda edição.

Parabéns à Dulce pela sua lição de vida e pelo livro. Que pena que muita gente não saiba que o livro está á venda em Lisboa


Sabor de Maboque

Book House

Edifício Monumental

Praça Duque de Saldanha - Lisboa

T: 213 193 450


Book House

Galerias Saldanha Residence - Lisboa

T: 213 151 873

Pode ser também encomendado através do site da Bertrand

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segunda-feira, outubro 19, 2009

Os muros bons e os muros maus


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Felizmente que aos muros maus, como o americano, o espanhol e o israelita, sucede-se um muro bom, como este do Rio de Janeiro. O pormenor das flores e das pinturas confere-lhe até o tique moderno e humano que os outros, idealizados por espíritos opressores, racistas e xenófobos, não têm.

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quarta-feira, outubro 14, 2009

Portugueses esquisitos

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Não consigo entender bem o bruáá que vai por aí por causa do vídeo de Maité Proença, tentando fazer humor com algumas portuguesices, nem sequer das mais típicas. Um número de porta ao contrário (ninguém explicou a Maité o significado esotérico da inversão do algarismo 3, naquela região), achar os portugueses esquisitos e cuspir numa fonte dos Jerónimos não tem graça por aí além, mas cada um ri-se do que gosta e não temos nada com isso. De resto, o vídeo até enaltecia a qualidade dos pastéis de Belém (apesar de haver um trocadilho qualquer com as claras que as freiras usavam para engomar os colarinhos, mas há coisas que só os brasileiros entendem), a arquitectura manuelina (o velho «Mánoeu» portuga que os brasileiros não se cansam de glosar e incensar como «a piada de português») e não faltou mesmo o momento de recolhimento perante os túmulos de Vasco da Gama, Camões e Pessoa ou a referência ao monumento dos descobrimentos, ali onde o Tejo vai dar ao mar, pois os rios em Portugal, tal como Brasil, vão dar no mar. Também houve uma pontinha da proverbial cultura brasileira quando Maité se referiu a Salazar como um ditador que governou Portugal por mais de vinte anos. Vinte anos, mágine…

De qualquer maneira nem o insuportável cinzentismo português nem o espírito de padeira de Aljubarrota resistiram à «invectiva» da actriz brasileira e só faltou montar a táctica do quadrado para nos defendermos do opróbrio que emanava do vídeo. Respingámos, fizemos até abaixo assinados e a actriz, inexplicavelmente, acabou a pedir desculpa, não faltando sequer o avô português que todos os brasileiros tiram da gaveta, de cada vez que cá vêm ou precisam de vender a última imagem de uma telenovela.

No final da história fica um programinha sem graça (Maité é bonitinha djimais para ser de programa sem graça) e uma alma tuga que ganharia muito em se libertar deste horrível provincianismo que, aqui sim, Maité poderia ter explorado em favor do humor do Saia Justa, em vez de chamar esquisitos aos portugueses ou de cuspir numa fonte dos Jerónimos. Imagine-se eu ir fazer um xixi do alto do Cristo Redentor, dizendo com um megafone que os brasileiros são um conjunto de caipiras que usam gravata em S. Paulo e chinela, daquelas de enfiar o dedão, no Calçadão do Rio de Janeiro. Mi chamavam de Mánuéu ou Juáquim, não?

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sexta-feira, agosto 14, 2009

Post dedicado


Nharea - Rápidos do rio Cunhinga (Foto de 2007)

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A Dulce é uma portuguesa nascida em Nharea, no longínquo planalto do Bié, por entre as bissapas e morros de salalé que enfeitam a anhara. Vive no Brasil e o seu coração, tanto quanto julgo perceber, triparte-se entre Portugal, o Brasil e Angola.

A Dulce tem um blogue. Eu leio pouco dele porque ela escreve pouco. Mas o que escreve é de uma riqueza muito grande. Basicamente ela está fazendo uma pesquisa de vocábulos correntes no Brasil, de raiz angolana. E documenta-se devidamente sobre o assunto. Termos como samba, jingar, xingar, moleque, cochilo, bunda, quitanda e tanga são apenas exemplos de muitos mais que a Dulce tem no arquivo da memória. De tal maneira que acabou de publicar um livro, com lançamento previsto em Portugal para muito breve. Se ela me ouvisse, faria o lançamento em Luanda, também.

Vale a pena uma visita ao Sabor de Maboque. Até porque para além dos vocábulos ela é uma mulher de fino humor e muito bonita também. São precisos mais argumentos?
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