sexta-feira, agosto 05, 2011

Mudança de paradigma

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Saí do gabinete e cruzei-me com ela no corredor. Sozinha, avoada (*), parecendo até temerosa da solidão do corredor, pisava as tábuas nuas do soalho sem fazer qualquer ruído, como se de um milagre se tratasse ou, mais prosaicamente, estivesse descalça.

Olhou para mim com a mesma expressão que um náufrago enxerga um sarrafo no mar alteroso e estende-me a mão, dizendo:

- Bom dia, sou a nova médica da empresa.
- Médica? Repeti eu, em sussurro, que desconhecia em absoluto que o médico anterior teria sido substituído.
- Sim, mas… não vejo ninguém. Talvez as pessoas pensem que as visitas continuem a ser no período da tarde. Mas não. Eu pedi para avisar de que passariam para o período da manhã.
- Pois, mas certamente que sim. Muito gosto em conhecê-la. Balbuciei eu, à medida que ela continua a sacudir a minha mão como se estivéssemos a ser fotografados por um batalhão de fotógrafos numa cimeira europeia.
- Mas, não há doentes?
- Não, doutora. Está toda a gente de férias. E os que ainda não estão, estão a fazer as malas. E depois… há um idiota ou outro, como eu passando agora neste corredor, que nem estou de férias nem estou fazendo as malas. Vendo bem as coisas… a doutora não acha que isto que lhe estou a dizer é um motivo forte para eu ir ao médico?
- Ih, ih! Este ih, ih é literal. A maior parte das pessoas que conheço ri ah, ah ou, ainda, eh, eh. Mas a nossa nova médica ri ih, ih!
- Ou então, continuei eu, isto é como tudo. Os portugueses só adoecem aos dias úteis. Aos feriados, fins-de-semana compridos, sábados, domingos e dias santos de guarda são saudáveis e as urgências dos hospitais e centros médicos são, até, uma sensaboria. Coisa chata, mesmo. Ah! Também adoecem, em jornadas de luta, como há dias os polícias adoeceram todos quando…
- Ah! Um escândalo não foi?

Nesta parte do diálogo estive quase, mas quase, para lhe perguntar quem é que assinava baixas e atestados médicos mas lembrei-me que neste país estranhíssimo podia muito bem ser que não fosse. Assim calei-me, disse «muito gosto em conhecê-la, doutora», e fui à vida. Ainda a ouvi dizer que, «bem, se calhar ia embora porque não estava ninguém doente». De novo tive um impulso de reatar o diálogo e dizer-lhe: olhe que não doutora, olhe que não…nesta firma temos imensos doentes. Não perde pela demora!

(*) Mente distraída, desatento. Enciclopédia Luso-Brasileira. Eu sabia, eu sabia que já tinha ouvido este avoada, algures… fui ver e lá estava. Mais tarde percebi que só o Google tem 79.300 resultados para avoada. Porque carga de água teria eu que consultar a enciclopédia? Um avoado, é o que sou!




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sexta-feira, junho 03, 2011

Uma questão de higiene (3)



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Faltam dois dias.

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quinta-feira, junho 02, 2011

Uma questão de higiene (2)


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Faltam três dias.


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quarta-feira, junho 01, 2011

Uma questão de higiene



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Faltam quatro dias.
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sexta-feira, junho 05, 2009

Mas quem é que este homem julga que é?


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Sócrates tem uma ideia distorcida da democracia e da liberdade. O problema deste homem não é o que ele não sabe, mas mais o que ele julga que sabe. E ele julga saber que a oposição se fez para não se opor à consecução dos seus próprios ditames de alma e que provêm basicamente do poder que lhe caiu nas mãos nem ele sabe bem como nem porquê. E como conseguiu (mérito lhe seja) arregimentar um grupo de gente para quem o exercício do poder não pode ser um episódio fugaz mas antes um modo de vida, já que sem ele, poder, nada mais saberão fazer, ele domina e conduz os destinos de um pobre país acolitado a uma clique feroz de gente incapaz e ciosa das prerrogativas que obteve. Frequentemente, sem qualquer noção do que seja o exercício digno da condução dos assuntos de estado, a começar por ele próprio, representante acabado da política rasteira e medíocre, sustentada, de resto, por uma carreira académica e política equívoca e nunca devidamente esclarecida mas, outrossim, reveladora, de uma trajectória de compadrios e amiguismos à boa maneira portuguesa. Por isso Sócrates sente arremedos de estadista. “Pressente” que adquiriu uma dimensão que está a anos-luz de alguma vez conseguir, apesar do circunstancialismo favorável que lhe vai dando a vitória nas eleições.

Este é um pequeno desabafo. Um desabafo de um cidadão cansado deste nível zero de política do Partido Socialista que (uma vez mais) provou estar formatado para a oposição e nunca para o poder (lembro-me bem da triste figura de um ministro comedor de mioleiras a integrar-se numa manifestação contra ele próprio e de um improvável ministro da administração interna, hoje ministro da justiça, dizendo que aquela não era a polícia dele) e cujo líder, ironicamente, acha que a oposição não nasceu para se opor mas sim para colaborar na gloriosa missão do próprio governo.

É a tal falta de densidade. Que isto de ser primeiro-ministro não é para qualquer um. Requer competência, dignidade e muita, mas muita, decência. Coisas que não abundam no actual inquilino de S. Bento. Ainda agora, a propósito da campanha para as europeias, se pôde ver até que ponto pode ir a insídia e ausência de escrúpulos desta gente que nos governa e que não hesita em deitar mão a quaisquer métodos para derrubar os adversários. Com os deuses de feição, ainda contam com uma considerável falange de "idiotas úteis" que lhes pontilham as estratégias, independentemente da triste figura que fazem, como agora aconteceu com Vital Moreira.

Pode ser que se esteja a encerrar um ciclo. E que esta gente, socialistas, seja arredada do palco. Senão para sempre, pelo menos por uns tempos. Uns tempos que permitam voltar a pôr este país minimamente arrumado até que eles venham de lá, de novo e ao som de Vangelis ou a cantar o "Only you", borrar a escrita toda outra vez. O costume, afinal.

É a vida, como dizia o outro. Mas, por agora, CHEGA.

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domingo, março 08, 2009

Garantia de emprego?


[2997]

Ainda voltando aos professores, alguém lhe terá ocorrido explicar aos professores que a escola não existe para lhes dar emprego mas para ensinar e formar as nossas crianças? O emprego é, apenas, um degrau na escala dos valores do ensino e haverá tanto mais emprego para professores quanto mais forem os alunos a ser ensinados e formados. Alguém se terá lembrado, alguma vez, que a relação entre o número de professores e as necessidades da escola deverá obedecer aos mecanismos normais que funcionam para qualquer outra profissão e que uma licenciatura não é uma garantia de emprego? Sobretudo de emprego para a vida?

Infelizmente, muitos deles terão essa convicção. O que está errado mas, sobretudo, mostra um trágico desfasamento da realidade. Desfasamento que poderá ter sido induzido pela fortíssima carga ideológica dos seus sindicatos mas, que diabo, já vai sendo tempo para os professores perceberem e mudarem o paradigma da sua percepção sobre a sociedade.

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