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Lá dizia Jorge Amado, na sua infinita sabedoria e disponibilidade de matéria-prima, que era impossível dormir com as mulheres todas do mundo. Mas um homem que se preze devia tentar sempre.
Com a devida vénia por direitos de autor, salvaguardadas as devidas distâncias entre uma mulher e uma manga (Mangifera indica) e reafirmadas aqui e agora a minha incontornável posição de reserva perante qualquer anedota machista, independentemente do gosto que me dá ouvir uma bem humorada piada sexista, por um lado ou pelo outro, com a devida vénia, dizia eu no início deste ror de desculpas e cautelas idiotas (não vá alguma das minhas amigas, familiares directos ou indirectos, colegas e/ou outras personal acquaintances, e vamos ao que interessa se não nunca mais chego lá, ao que quero dizer, entender-me mal) foi de Jorge Amado que me lembrei ao comer, mais uma vez, mas desta vez em profusão desbragada que me custou uma inusitada excitação peristáltica em locais embaraçosos como entrar num avião ou a meio de uma reunião com oficiais responsáveis pela agricultura de um país como o Senegal, aquela que passa por ser a melhor manga do mundo.
A manga da região da «L’Afrique de l’Ouest» é consabidamente a melhor manga do mundo. Moldados que estamos à imagem e ao paladar da manga enorme, enrijecida, de polpa de consistência entre a de um nabo saloio e um pepino de Bruxelas e paladar entre um quarto de Luso e uma talhada de melão branco de Almeirim cultivado em Huelva, degustar um manga senegalesa (ou maliana ou do Burkina) transporta-nos à evocação do pecado e à imediata contestação da máxima de Jorge Amado. Porque depois de comer uma manga do Senegal, todas as outras se tornam supérfluas, descartáveis. Grandes, rosadas/amareladas, de casca fina, sem fios, sumarentas ao ponto de nos obrigar a ir ao duche depois de comer uma, de aroma único e sabor cuja descrição não está ao alcance de um blogger pobrezinho como eu, transporta-nos a um mundo de pecado (e eu ainda gostava de saber desta tendência dos homens de relacionarem o prazer com o pecado, como se não houvesse prazeres bem compostinhos e pecados de sabor horrível, mas isso fica para outra ocasião).
Il faut manger. Allez-y às mangas senegalesas. São, mesmo, as melhores do mundo. E valem bem o aperto e embaraço de subir a escada de um avião a carregar o saco de viagem e achar que temos trinta segundos para chegar à casa de banho mais próxima.
E.T. A manga (Anacardeaceae, Mangifera, Mangifera indica) é uma nativa da Índia e de Burma (Myanmar), sendo particularmente abundante na região de Goa. Presume-se que os portugueses tenham tido um papel muito activo na disseminação da mangueira em África e no Brasil.
É um fruto muito rico em fibra, sais minerais, vitaminas e proteínas, muito nutritivo, portanto. Deve-se evitar comer mangas verdes porque o seu sumo tem, nesta fase de desenvolvimento, propriedades abortivas.
Os maiores produtores mundiais de mangas são o Brasil, México, Paquistão, Índia e África do Sul. Só o Brasil produz anualmente cerca de 600.000 toneladas de mangas, das quais exporta cerca de 100.000 toneladas. A extraordinária qualidade de aroma, sabor e consistência de polpa das mangas de alguns países do Sahel tem concitado o interesse de alguns países na sua exportação para a Europa, assistindo-se a um reconhecido esforço de alguns governos da região nesse sentido.
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