Sempre me fez espécie a demonização da chamada fast food. Não entendo o que há de mal na ingestão de proteína de origem animal, fibra e hidratos de carbono, pimento, cebola e queijo. Tudo saúde e joie de vivre. Que um mocinho de outro carro se distraia e a namorada não goste pode muito bem acontecer. Não é todos os dias que se vê tanta boa comida a ser comida ao mesmo tempo e com tanto júbilo. Daí a dizerem que a fast food engorda e rebéubéu vai uma distância enorme. É ver aqui e tentar perceber o rapaz. Ou de como nem sempre a mente é sana em corpo são!
Está de parabéns o Blasfémias, pelo seu oitavo aniversário. Que me seja relevada a indelicadeza de salientar a Helena, o João Miranda, o J Caetano Dias e o J Manuel Fernandes como uma das principais razões para eu continuar assíduo da blogosfera. Sem embargo da qualidade e interesse de toda a equipa do blogue aniversariante.
Um abraço a todos e um Tchin Tchin com um espumante modesto mas indefectível. .
Corre por aí alguma surpresa pelo facto de o PCP ter votado contra a adopção de crianças por pares do mesmo sexo. Confesso que não percebo bem a surpresa. Ou as pessoas andam muito mal informadas sobre o pensamento (e as acções…) dos comunistas em matérias relativas à homossexualidade ou então andam distraídas com a seca. Por outro lado, esta surpresa remete para a clara e generalizada convicção de que as questões relativas à homossexualidade e adopção de crianças por pares do mesmo género são uma causa de esquerda. E isso fere de morte qualquer tentativa de análise séria do problema, quer do ponto de vista social, quer político, quer humano. .
Correram 25 anos desde a morte de Zeca Afonso. Sempre me surpreendeu a devoção que os puristas da revolução dedicaram a este homem, independentemente das suas competências no canto. Desde jovem me apercebi da violência e da opressão que ressumavam na lírica de um poeta que pretendia combater exactamente a violência e a opressão. A esta forma aparentemente paradoxal de intervir politicamente, respondiam dois segmentos da população. Um apreciando genuinamente a qualidade das cantigas e, ao mesmo tempo, revendo-se no limiar das liberdades e da libertação dos ditames do Estado Novo, outro, pretensamente mais sofisticado, que percebia na intervenção de Zeca Afonso a vertente cultural e moderna, personificada numa esquerda como «deve ser», de resto em uso continuado na paróquia, como ainda ontem se percebeu nas várias alusões à efeméride aqui pela blogosfera e na generalidade da comunicação social. A TSF reservou mesmo um dia inteiro a Zeca Afonso, no recolhimento venerador de uma estação de rádio que se preza e se rendeu à terapêutica purificadora do politicamente correcto. No mais… pois, é de ler esta simples mas incisiva e cristalina intervenção (há intervenção para além da intervenção…) do Eurico de Barros, no Forte Apache, que transcrevo com a devida vénia. Está lá tudo. Ah! Vale a pena ler os comentários também.
«...José Afonso era um defensor da revolução armada, da ditadura do proletariado e dos princípios perigosamente lunáticos da esquerda mais radical, glorificando a acção política violenta em várias das suas canções, nas quais propunha, por exemplo, "atirar aos fascistas de rajada". Empenhou-se no PREC ao ponto de se afastar da vida musical e andou envolvido nas demenciais campanhas de "dinamização cultural" do MFA. Cantou no RALIS na noite do 11 de Março, defendeu as arbitrariedades e ilegalidades da Reforma Agrária, esteve com os pára-quedistas de Tancos no 25 de Novembro, apoiou Otelo Saraiva de Carvalho e os presos terroristas do PRP. Só para recordar, agora que se assinalam os 25 da sua morte e muita gente vai associar a palavra "liberdade" ao nome de José Afonso...» .
...ou o senhor é um fala-barato petulante, sem respeito nenhum pela justiça portuguesa, ou a decisão tomada por unanimidade pelo colectivo de juízes do Tribunal de Relação de Lisboa releva da falta imperdoável de eles não terem ouvido as suas declarações à comunicação social ou, ainda, de não terem lido o livro de Carlos Cruz. Também suspeito que os referidos juízes não vêem o Eixo do Mal e estão concubinados com a campanha contra o Partido Socialista.
Muito grato lhe ficaria que nos esclarecesse, caso algum repórter distraído lhe for, agora, pedir a opinião. .
Eu já andava meio convencido. A Dra. Clara Ferreira Alves já me tinha dito, do púlpito do «Eixo do Mal», que Carlos Cruz estava inocente e que o processo Casa Pia era uma cabala contra o Partido Socialista. Mas dei um bocadinho de desconto, todos sabemos como a «pluma caprichosa» é arrebatada, enerva-se muito quando dorme mal, para além de que podia ter sonhado com a ideia algures num café de Damasco ou da Cisjordânia. Mas, finalmente, tudo está claro. Ainda agora tomava o meu cafezinho da manhã e Mário Soares apareceu ali na SIC Notícias, com a circunspecção devida a este tipo de declarações e afirmou: Carlos Cruz está inocente.
Prontes! Não se fala mais nisso. Andamos para aqui há anos, julgamento para aqui, testemunhas para ali, abraços e beijinhos ao Paulo Pedroso para acolá, bem que podiam ter perguntado logo a Mário Soares. Somos uns distraídos, é o que é. .
Nada de muito novo em Valência, assim, e a não se verificarem mais incidentes, facilmente se percebe que se fez uma tempestade num copo de água, agitada pela prestimosa comunicação social, redes sociais, suspeitos do costume e tão excitáveis perante a teatralização da conflitualidade social.
Fica uma referência, porém, ao facto de a serem correctos estes dados, não se entende a obsessão de estar de bem com Deus e com o diabo e não chamar os bois pelos nomes. Os «nims» habituais da direita cautelosa e timorata dão-se mal com a realidade de uma esquerda trauliteira e desonesta e ninguém ganha com isso. A não ser a própria esquerda e isso, francamente, começa a cansar.
As magnas questões nacionais discutidas no Parlamento. Felizmente que temos quem olhe por nós na encruzilhada difícil das escolhas e opções que, aqui e ali, temos de fazer na vida. Ou, por vezes, pela vida, como amiúde acontece com os nossos deputados. Por mim, confesso que me sinto dividido entre a água engarrafada e a água da torneira. Tenho de pensar no assunto.
Trabalhasse eu na TSF e saía já um Forum à pressão. E a pergunta aos ouvintes seria? Acha que a opção pela água da torneira seria uma medida recomendável para aplicar na Assembleia da República? E, a sê-lo, acha que o governo ganharia ou não com a medida? Depois convidava dois presidentes de câmara, um capitalista/poderoso de uma marca conhecida de águas minerais, um distribuidor para Portugal de hipoclorito de cálcio e de sulfato de alumínio, um director regional de saúde, o Dr. Mário Soares, a Dra. Clara Ferreira Alves e o Daniel Oliveira.
Eu para fazer filmes, estou por aqui. Infelizmente este não é daqueles de que se avisa «esta história é fictícia, não reflecte situações ou personagens conhecidas e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência». .
O «Expresso» e as estações do ano, dependendo da zona climática
[4566]
Não fosse o Brasil governado e iluminado por Dilma e o Expresso arrancaria aqui com um título tipo Primavera paulista. Raquel Pinto impressionar-se-ia imenso com a coisa e Ricardo Costa aproveitava o assunto para o próximo «Expresso da meia-noite». Assim, tudo se diluirá no arremedo de um maluquinho qualquer que não concordou com as classificações das escolas de samba paulistas.
De resto, pulularam notícias sobre as favelas do Rio de Janeiro, finalmente libertas de bandidos e traficantes de droga, que este ano festejaram o Carnaval com alegria, civilidade e na paz do Senhor. E a nossa comunicação social, no intervalo de notícias sobre a saída do Domingos do Sporting, da qualidade do ar na avenida da Liberdade e dos foliões mascarados de Sarkozi, Merkel e Passos Coelho, estava atenta. Só faltou ir pedir a opinião de Louçã...
Cada vez que passo pelo «Arrastão» e pelo «5 dias», sofro um justificado acesso de dispepsia, só tolerada pela pluralidade de ideias que considero essencial para uma sociedade moderna, livre, independente e próspera. Mesmo dando de barato que o que se lê nestes dois blogues (há mais, mas confesso alguma preguiça para os mencionar) releva de um conhecido estado de alma que só quem conheceu de perto os regimes emulados pelos seus escribas entende e é, dentro dos mais liminares parâmetros de apreciação, absolutamente condenável. Porque é evidente a sede de sangue que esta gente não se preocupa sequer em disfarçar.
Fica por entender a simpatia que este tipo de gente colhe na comunicação social, a fartura e ritmo com que são citados na rádio, televisão e nos jornais (não se dá um «pum» em Portugal que não se vá perguntar a Louçã se ouviu ou ao Daniel Oliveira se lhe cheirou mal e, já agora, a Mário Soares se achou que o «pum» foi bem dado). Resta a consolação de que a extrema-esquerda está em evidente desagregação, para não falar duma existência com uma representação cada vez mais residual nas urnas.
O povo é sereno, como dizia o Pinheiro de Azevedo. .
Que um truculento encartado se entretenha a chamar betinhos e betinhas aos membros do governo (sendo certo que há mais ministros e secretários de Estado de fora de Lisboa do que da capital), já não admira. Há até uma expressão americana que define bem este estado de alma. «Issues», so to speak. Por outras palavras, enquanto aqui na paróquia achamos que alguém tem problemas, nos EEUU diz-se que fulano tem «issues», que é uma forma mais precisa e adequada de definir estados de espírito, complexos, manias ou esquizofrenias avulso. Eu diria, assim, que Marinho Pinto tem «issues» o que, à partida lhe garante uma certa condescendência da grei, perante o evidente parolismo que demonstra.
Agora é que se lembram e mandam fazer levantamentos e tal...
[4563]
De cada vez que a esquerda internacional se manifesta, na linha habitual do arreganho e da truculência ressabiada, assistimos a uma série de orgasmos múltiplos da esquerda doméstica que se desmultiplica, entretanto, em citações e/ou comentários a propósito. É o nacional-parolismo a funcionar, aliado ao evidente distúrbio de que a nossa esquerda sofre por não haver umas traulitadas em Portugal, umas lojas incendiadas e uns cocktails molotov a enfeitar, e o nosso descontentamento se ir resumindo a uns grupelhos histéricos, entoando palavras de ordem como «a luta continua» ou, como ontem em Gouveia, rimas épicas e inspiradas como «o FMI não manda aqui».
Mikis Theodorakis mereceu hoje honras de jornalpor ter proferido a cascata habitual de vacuidades e lugares comuns, a propósito da situação na Grécia. E o desejo de turbulência é tão grande que faz uma resenha dificilmente compreensível de acontecimentos, nos quais Theodorakis diz que a culpa é dos nazis, depois, os americanos é que comandaram tudo a partir de 1950 e mesmo os partidos gregos só podiam governar o país depois de serem abençoados pelos americanos (sempre eles…). E é assim que os gregos e não só a esquerda têm a obrigação de se levantar contra, tal como fizeram contra a ditadura dos nazis e dos coronéis. Mais abaixo já a culpa é dos socialistas do Pasok e da Nova Democracia por terem conduzido o país ao caos. Uma trapalhada. Uma barafunda.
É pena que gente iluminada como esta não tenha incitado os gregos ao levantamento quando o socialismo se instalou, distribuiu benesses à tripa forra, aldrabou as contas sem qualquer pudor e delapidou o erário público na utopia criminosa com que os socialistas continuam a manter a elegibilidade, com o estabelecimento do tal Estado Social alicerçado na velha ideia de que alguém há-de pagar. Nessa altura é que a esquerda iluminada deveria perceber o logro e alertar os povos. Só que provavelmente lhes soube bem e lhes calhou também uma fatia do bolo, especialmente se ligada à vaca sagrada da cultura. Não o fazer na altura e vir agora berrar contra os nazis, os americanos, os coronéis, os poderosos, os banqueiros, os mercados e o anticiclone a noroeste de um país qualquer é desonesto. Nada a que, afinal, não estejamos habituados. Menos a tal esquerda paroquiana, a nossa, que delira com estes delírios que vão tão bem com os tempos da crise «em uso na repartição» dos tempos que correm. .
Afinal são 32 e não 33, os signatários. Estou a referir-me ao meu post anterior. Aqui está a sua lista completa. É que vi o Vítor Ramalho e acharia uma injustiça se não fosse mencionado.
Quando à sugestão da Helena Matos, concordo plenamente e aplaudo. Alinho até num manifesto em conformidade, se ela quiser. .
Francamente, como é que eu não me lembrei disto mais cedo? O que nos vale é de vez em quando aparecer assim uma trintena de cidadãos que se preocupam, solidarizam, criam condições democráticas e resolve-se tudo. Sorte a nossa! .
R foi mandado para a tropa. Na tropa, mandaram-no para Nova Lisboa, Angola. Seis meses depois disseram a R que tinha sido transferido para Luanda, por causa da promoção. Quando chegou a Luanda, R alugou um quarto perto da Igreja da Sagrada Família… mas seis meses depois disseram-lhe que tinha sido transferido para a ZIN (Zona Intervenção Norte). R não sabia exactamente para onde, mas achou que não tinha que saber, até por questões de segurança. Eventualmente foi parar ao Negage e um ano mais tarde, transferiram-no para Nova Lisboa outra vez, porque tinha acabado a sua comissão na ZIN. Nos últimos meses de tropa e porque sabia que provavelmente acabaria o serviço militar naquela cidade, R casou e teve um filho e alugou uma casa bonitinha num bairro bonitinho perto do liceu. Quando saiu da tropa, R apresentou-se no organismo do Estado a que pertencia porque tinha feito um estágio remunerado do seu curso e esse organismo estatal disse-lhe que tinha sido colocado em Carmona (Uíje). R ficou um pouco triste, gostava de Nova Lisboa, cidade simpática, excelente clima, já ambientado… mas era um tempo em que as pessoa lutavam pela sua carreira, pelo seu futuro e pelo dos seus e foi mesmo para o Uíje. Ao fim de um ano, R recebeu uma oferta de trabalho no sector privado e ele não pestanejou. Só que, ainda que já ambientado ao Uíje, o local de trabalho era Nova Lisboa. R voltou assim a Nova Lisboa, ao mesmo tempo, contente, apesar de mais uma mudança, porque já conhecia a cidade e gostava dela. R voltou a alugar uma casa, uma vivenda bonita, fez um jardim e mais um filho. Uma filha, melhor dizendo. E por lá foi ficando, percorrendo a região do Huambo, Bié e Cuanza Sul, em trabalho profícuo e bem remunerado. Mas eis que uma empresa de um grande grupo português convidou R para um lugar bem remunerado e de bons auspícios, mas… em Luanda. R hesitou um pouco, não gostava do clima de Luanda, já tinha dois filhos bebés… mas achou que a proposta era tentadora e foi. Um ano e meio depois, R vivia na paz dos anjos, já habituado a Luanda, de que passou a gostar, fez amigos, tinha uma casa a meias com um familiar no Mussulo e um trabalho de que gostava imenso. Tinha a ver com a sua especialidade e viajava bastante por toda a Angola… mas não é que entretanto acontece o 25 de Abril? R pensou, condicionado à verdura dos seus conhecimentos políticos, e não sabia bem o que fazer. Mas a tragédia dos acontecimentos de Luanda mais a presença de um energúmeno qualquer que dava pelo nome de Rosa Coutinho contribuíram para que R se tirasse das suas tamanquinhas e rumasse para a África do Sul. Para trás ficaram os seus pertences, ainda que parcos, mas seus. Chegado a Joanesburgo, onde entretanto tinha obtido um emprego, instalou-se num hotel às custas da empresa que o tinha contratado que, duas semanas depois, lhe disse. R, we have better plans for you, but you’ll have to go to Durban. R pegou na família e nas malas com a roupa que lhe tinha sobrado do saque do seu camião em Nova Lisboa e seguiu para Durban, onde não conhecia ninguém. Mas a cidade era óptima, o emprego era bem remunerado e R acabou por gostar. Alugou uma casa em Pinetown, um subúrbio muito bonito e lá se instalou. Só que oito meses depois, o seu chefe em Joanesburgo lhe disse: R, F… has just passed away, we need you to take over his job. But, as you know you’d have to move to Johannesburg. R foi. Pegou na família e nos tais haveres, meteu-se no carro e foi. Em Joanesburgo alugou uma casa muito agradável, num bairro agradável, colocou os filhos numa escolinha óptima… e não é que, um ano depois, recebe um telefonema do representante de uma multinacional suíça a oferecer-lhe um lugar muito bem remunerado em Moçambique? R foi. Filhos às costas, por lá ficou uns anos, desenvolvendo um trabalho gratificante e que lhe possibilitou conhecer todo o país a fundo (de que gostou muito e onde aumentou a prole com mais uma menina) e viajar bastante por outros países. Os filhos, entretanto, iam fazendo um percurso de escolas ao longo de todo este trajecto que começara na Addington School em Durban e acabava em Uplands, uma escola mágica entre os pinheiros de White River, Western Traansval.
R, eventualmente, regressou a Portugal. Muitos empregos, casas e escolas depois. Achou que todas estas mudanças foram frequentemente dolorosas, mas enriquecedoras, e que todas elas obedeciam ao imperativo do momento e às vicissitudes da vida. Porque R pensava que a vida era assim, a vida desenrolava-se conforme lhe apetecia e que nos cabia a todos nós lidar o melhor que pudéssemos e soubéssemos com ela.
R não pertencia a sindicatos. Acho que R nem sabia bem o que isso era, ou melhor, sabia, mas tinha uma visão mais romântica da coisa. Ainda hoje não pertence. Quem sabe se, muitos anos atrás, R não tivesse mudado do funcionalismo público para o privado, hoje pertenceria ao sindicato dos técnicos da função pública e teria de ouvir o Sr. Picanço muito zangado com a proposta de Lei da Mobilidade, alegando que isso traz muito desconforto (palavras exactas de Picanço) aos trabalhadores e aos seus direitos adquiridos. Mas desconfio que se R pertencesse e soubesse o que sabe hoje não ia deixar que um senhor Picanço, ou outras personagens adventícias correlativas que gerámos nesta zona de conforto em que se tornou Portugal, decidisse ou falasse por ele. .
Isto de estar a tomar o pequeno-almoço ouvindo distraidamente as notícias, ou seja, impreparados e de guarda baixa, pode ser perigoso. No momento exacto em que se sorve um golo de café, com a boca ainda a saber a um pãozinho com um bom queijo e ouvir a Carla Trafaria dizer que os utentes dos hospitais estão doentes…pode engasgar. Pelo menos àqueles que, como eu, mantêm um certo rigor tanto à forma de dar as notícias como à sensibilidade aos conceitos que se vão criando nesta sociedade. Utentes dum hospital… doentes. Isto excede largamente a minha capacidade de encaixe.
Em todo o caso fiquei a saber que «a linha» (agora mede-se tudo em linhas e em curvas) da gripe ultrapassou ligeiramente o cinzento (isto há-de querer dizer alguma coisa…), provavelmente devido ao frio que se vai fazendo sentir. A voz da Carla passa a voz de fundo e as imagens mostram várias mulheres muito encasacadas, apesar de banhadas por um sol radioso, dizendo… adivinhemos… que está muuuuuito frio. E a pergunta, inevitável e capciosa, surge. «E como é que faz»? Pois, «trazendo muitos agasalhos», dizem elas, rindo (o português ri sempre, seja qual for a pergunta).
Este tipo de reportagens, somando aos inúmeros alertas laranjas que por aí vão ajudam à ideia que tenho, de há muito, que somos mesmo um povo piegas. Mais, eu diria, mariquinhas pé de salsa. Porque num país abençoado como este, que nos oferece sol dias a fio, com temperaturas de 10 a 14 graus durante o dia, haver televisões que vão para a rua perguntar se temos frio e os alertas laranjas se sucedem, enquanto por essa Europa fora as pessoas sobrevivem (muitas morrem) entre metros de neve e temperaturas de muitos graus abaixo de zero, é … como dizer… no mínimo, idiota. E dizer que os utentes dos hospitais entretanto adoeceram (esta expressão, só por si, já é bem reveladora, utentes de hospital a adoecerem…) porque está frio, mas estejamos descansados porque a estirpe da gripe deste ano é susceptível à vacina, é revelador de uma autêntica esquizofrenia nacional.
E agora deixa-me ir ver se está tudo bem fechado, que tenho de ir trabalhar. Não vá ficar por aí uma greta aberta e eu logo apanhar uma pontada ou um choque «anafriolático»! .
Quem me conhece sabe que sou alérgico aos «dias de», com que a vida moderna e, quase sempre, excessivamente correcta, nos «afogou».
Faço uma gostosa excepção ao dia dos namorados. Porque namorar é bom. Porque namorar é um refrigério da alma, um consolo do corpo e, quiçá, uma das mais genuínas e elevadas realizações espirituais do homem. De todos os que namoram qual abelha picando o néctar de flor em flor, àqueles que encontram a sua flor de sempre e para sempre e dela extraem o mel da vida que nos calhou em sorte.
No dia de hoje, muitos sentirão o toque doce da mão dada num passeio a pé, a volúpia de um beijo apaixonado ou, simplesmente, um sorriso (e ele há coisa mais bonita que um sorriso de mulher?). Outros não o poderão fazer mas mesmo esses, tenho a certeza, semicerrarão os olhos e deixarão arrastar-se por uma brisa morna e suave que os levará ao toque da mão dada, ao beijo voluptuoso que faz os corpos estremecer de leve um contra o outro. E, mesmo com os olhos cerrados, terão sempre presente a imagem gratificante de um sorriso.
Feliz dia dos namorados para todos. Sem distinção de raça, cor, peso, altura, sexo, religião ou filiação clubística (não é assim que se diz?). .
Não consigo perceber bem a analogia que se faz entre descontentamento popular e uma clara intervenção de grupos organizados que se entretêm a destruir, ferir, matar se preciso for, como o que vai acontecendo em Atenas. Atenas não é a Grécia e muitos dos bárbaros à solta provavelmente nem atenienses são. Parece-me evidente que estamos em face de um claro exemplo de alteração da ordem pública que deveria ser exemplarmente reprimido.
Também me choca observar a onda de simpatia de uma considerável fatia de «bloggers» e jornalistas e comentadores pelos distúrbios que se verifica na maltratada capital grega. Não entendo mesmo a distorção que objectivamente se faz dos factos, condenando sempre a Alemanha pelo que acontece. Qualquer pessoa minimamente informada perceberá que o estado calamitoso em que se encontram as finanças da Grécia se deve à política habitual dos socialistas que continuam a sonhar com o estabelecimento de Estados Sociais à custa dos outros, já dizia Margareth Thatcher que o socialismo é óptimo enquanto o dinheiro dos outros não acaba. Os governos socialistas estabeleceram níveis de benefícios sociais, salários e hábitos de consumo, incomportáveis com a realidade económica, sempre com à convicção habitual de quem leu na cartilha os direitos do povo, sem fazerem contas ou, fazendo-as, na presunção que os ricos e os poderosos as pagassem. A isto iam juntando a sua proverbial incompetência e irresponsabilidade na gestão das despesas, ao mesmo tempo que mergulhavam frequentemente em escândalos, conúbios e cumplicidades. O povo ia recebendo e gostava, pudera. Agora chegou a conta. O povo esperneia e o governo vê-se na necessidade de escolher entre pagar contas e reduzir os benefícios em nome da desejável democracia e desenvolvimento ou apaparicar as vergônteas do sistema e manter o discurso que se conhece.
Aqui pela paróquia continua a procissão socialista do costume e a emulação dos gregos, perante os nazis. Já vi por aí, até, que a Alemanha devia era pagar o que deve e roubou aos gregos durante a guerra, ficando por saber porque se esqueceram da cidade de Londres, da Polónia, da Bélgica, da Noruega, da França e da Rússia. Para só citar alguns. Ressalta até um aparente desejo de que Portugal se torne um foco de instabilidade «à la grega». Não sei bem em nome de quê, talvez deixássemos de ter de pagar as contas no imediato. E, mais uma vez, deixar uma herança esperta para os nossos filhos e netos.
Rezemos para que permaneça o bom senso. E que continuemos, como até aqui, a cumprir as nossas obrigações e avançar com a resolução da nossa crise. Ámen. .
A última manifestação promovida pela CGTP e o amorfismo generalizado da comunicação social
[4555]
A mim o que realmente me faz impressão não é a mentira dos comunistas quando afirmam ter «metido» 300.000 pessoas no Terreiro do Paço. Os comunistas encartados são doutrinariamente mentirosos (ao ponto de acabarem por acreditar naquilo que mentem), pelo que a coisa já não faz muita mossa. O que verdadeiramente me impressiona é a atitude da comunicação social em geral, quando reflecte os números dos comunistas. Sem pestanejar, num tom acrítico que incomoda e que resvala mesmo para a cumplicidade. Assim, de repente, ocorre-me o Público e o Expresso (sem necessidade de link, porque bem conhecidos).
É uma posição estranha, esta, a da comunicação social. Faz lembrar aqueles árbitros que se enganam sempre para o mesmo lado e que os adeptos da bola, polidamente, criticam dizendo que não sabem se eles erraram de propósito ou por pura incompetência.
Nota: Vale a pena ver aqui, no Insurgente, algumas imagens do Terreiro do Paço, quando enchia com cerca de 100.000 pessoas de «povo sereno». Foto do Jornal de Notícias. Clicar para ver melhor. .
«Se um país pode ser catalogado como “lixo” pelas mais insignes organizações internacionais, porque não decretar a língua uma oportunidade de negócio?
Que os velhos do Restelo pensem nisto: as toneladas de linguiças (sem trema) que passaremos a exportar para o Brasil valem com certeza a queda de um punhado de consoantes mudas.
Claro que o famigerado Acordo não impedirá que num ônibus (do latim, omnibus; variantes por “uniformizar”: autocarro, machimbombo, toca-toca, otocarro…) a passageira do lado me responda em inglês quando lhe pergunto se estamos muito longe do Centro, seguindo-se três oi! da parte dela para finalmente eu sair já íamos no Botafogo. (Abençoada fonética que me proporcionou tão bom passeio!)
Embora entenda o pendor mercantilista do Acordo, a que acresce uma salutar preocupação progressista que faria as delícias de Bouvard e Pécuchet (Que se lixe o latim que só serve para confundir o povo!), não pude, porém, deixar de elencar (v. tr.: “fazer uma elencagem”, seja isso o que for) algumas dúvidas recolhidas por aí.
O que faz um professor durante um ano letivo? Letiva? O que faz um espetador em frente da televisão? Espeta-la? E o que faz alguém ante um para sem acento? Continua a andar e pergunta “para… onde”? Num hotel, dirigimo-nos à recepção ou lembramo-nos da receção e regressamos a casa? E um medicamento ótico aplica-se nos olhos ou serve para tratar otites? O mês de Janeiro é maior que janeiro? A metafísica de Aristóteles é em ato ou não ata nem desata? Quem requer adoção é adoçante? E os habitantes do Egito são egícios? Uma presidente incontinente é igual a uma presidenta incontinenta? E fim de semana sem hífen tem quantos dias? Esta última questão é particularmente pertinente derivado à crise. »
Da Ana Cristina Leonardo no seu Meditação na Pastelaria. Gostei particularmente da crise a derivar, a derivar, a derivar… .
Um lagarto como eu assiste à pobreza franciscana de um Marítimo/Sporting. Coisa insonsa, suporífera e que acaba com a (já inevitável e fatalista) derrota do Sporting.
A seguir começa um Benfica/Nacional. Parece futebol a mais, acho que vou mudar de canal… mas os lampiões começam a jogar. Um estádio cheio, vibrante, golos, jogadas bonitas, algumas mesmo de génio e a gente vai ficando a ver. E chega ao intervalo e acabei por ver a primeira parte completa. E, mais grave, com vontade de ver a segunda.
Perante isto a expressão rugido de leão parece coisa sem sentido… .
África, terra bruta, que até à papaia lhe chamam de fruta
[4552]
Estas fotos são de hoje. Mais uma tempestade em Maputo, cidade habituada a este tipo de fenómenos.
Chuvadas, ciclones, saraivadas de amolgar carros e partir telhas, trombas de água, chuva de peixe, de tudo eu vi nesta cidade em matéria de calamidades naturais. Guardo até uma grata recordação de ter participado numa operação de socorro com o meu barco quando a depressão tropical Domoína fustigou esta cidade. Para quem conheça a região, direi que subi o rio Maputo de barco e a partir de certa altura não se distinguia o leito. Ao ponto de passar com o barco por cima da ponte de Salamanga. Toda a região estava alagada e havia muitas dezenas de pessoas refugiadas nas árvores que nós recolhíamos para o barco e trazíamos para o Clube Naval.
Vi estas fotos (clicar para ver melhor), do Jorge Campos, tiradas hoje em Maputo e que uso com a devida vénia (será que te lembras de mim, Jorge?) e lembrei-me disto. E disto, disto e disto. Entre muitos outros «istos», claro.
Nota: A última foto foi tirada poucos minutos depois da tempestade passar, presumo que ali em frente à esplanada do Zambi. Acontece TUDO em pouco tempo! .
A esquerda caviar não é racionalmente argumentativa. Certamente porque lhe escasseiam os argumentos. Daí pontilhar a sua intervenção política com a insolência e a má-criação. Ser insolente ou malcriado não requer grande preparação, basta sê-lo. Se a isso acrescentarmos os momentos em que a dita esquerda caviar se apercebe que lhe falta massa crítica para argumentar e percebe que o que defendem não releva de convicções políticas mas mais de um ressabiamento que Deus saberá porque a tem, temos o cenário ideal para que se refugiem na insolência e numa insuportável arrogância para discutir seja o que for. Da política ao futebol, passando pela gastronomia ou de quanto em quanto tempo é que a baleia tem de vir ao de cimo para respirar.
Fernando Rosas é um bom exemplo. Enquanto Louçã berra e tenta conter as pupilas na córnea, sobretudo nos momentos em que a sua fonética se excita na estridência dos seus «erres», Fernando Rosas adopta o tom professoral de quem tem uma bagagem demasiadamente rica para descer ao nível dos outros, mas condescende.
Foi mais ou menos isso que lhe aconteceu quando acedeu a discutir qualquer coisa com Santana Lopes. Daí a chamar-lhe Salazar, sem propósito reconhecível, foi um passo. Felizmente que Santana Lopes reagiu. E bem. Faz falta reagir desta forma, de quando em vez. Quanto mais não seja, já por uma questão de higiene. E aqui, PSL goleou. .
Não concordo que o AO se deva ao desejo de agradar ao Brasil ou a qualquer outro país. Também se percebe que não foi a pensar em negócios de ocasião, como a venda e revisão de livros, mecanismos de correcção ortográfica dos computadores ou outras oportunidades de negócio, ainda que bem-vindas, tal como os custos elevadíssimos de tamanho despautério pouco interessaram aos «culpados». Por mim, o que verdadeiramente moveu quem quer que seja que se tenha lembrado de castrar, mudar, ofender e desrespeitar o português enquanto língua de personalidade própria e étimos bem definidos e consagrados foi uma dose clara de narcisismo, aliada ao pensamento correcto de umas quantas mentes iluminadas que acordam de manhã com a clara convicção que mudarão o mundo e as pessoas tal como merecem ser mudados. E eles são os messias modernaços da coisa.
Que fique bem claro que sou um apreciador descomplexado da forma cantante, colorida e alegre com que os brasileiros falam. Para além de admirar a sua espantosa verborreia e deliciosa criatividade e, ainda, a desenvoltura com que se expressam. Basta ouvir meia dúzia de apontamentos de reportagem das televisões portuguesas para invejarmos os brasileiros, neste particular.
Já agora, tiro o chapéu a Angola e a Moçambique que mantiveram a decisão firme de não alinhar em patetices, de resto tal como a Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e outras instituições. O que só lhes fica bem. Chapeau!
O ditado popular cada macaco no seu galho pode até ser inapropriado em matéria de politica, arte em que todos nós nos achamos, e muito bem, aptos e legitimados para dar a nossa opinião. Todavia, inquieta-me quando um pastor de almas, obrigado às vicissitudes do seu mister, certamente por vontade própria, desenvolve a sua pastorícia pelos caminhos ínvios do partidarismo e das ideologias, sabendo D. Januário que Cristo morreu por todos nós sem distinção de raças, credos ou filiação partidária.
Sobretudo repugna-me (mas isto sou eu a dizer, que sou suspeito) que D. Januário não se tenha revestido destes pruridos há bem pouco tempo, quando vivíamos sob um governo grotesco liderado por uma grotesca criatura. O que é, no mínimo e salvaguardada a liberdade de cada qual opinar como quiser, grotesco também. .
Se eu não estivesse já familiarizado com a forma manipuladora de o «Público» titular as suas opiniões notícias, ia pensar que Miguel Relvas tinha dado um ralhete a Passos Coelho e lhe tinha dito: - o menino não vai à Assembleia da República, não senhor. Recuso. E agora vire-se para a parede e fique de castigo enquanto vou ali buscar umas orelhas de burro.
O tom e o texto usados pelo jornal não têm nada a ver com o que realmente se passou (por acaso vi a peça correr na televisão) onde Relvas se limitou a «explicar» o óbvio aos jornalistas. .
Por acaso também me irritou ouvir Merkel perorarsobre a nossa escala de valores e prioridades, como se estivesse a conversar com uma vizinha e a dizer-lhe como é que ela devia arrumar a sala. Quando Merkel falou sobre a Madeira, a Nação foi ao rubro e, iracunda, excomungou a megera, que não tem nada que se meter connosco. A questão é que antes dela reparei nalguns milhões de portugueses querendo crucificar Jardim, exactamente com os mesmos argumentos. Com o preciosismo, até, de mencionarem os túneis e auto-estradas. É chato, eu sei… mas alguma coisa não bate certo. Ou é a vida, como dizia o outro.
Houve uma reacção semelhante em relação ao «piegas» de Passos Coelho. Já dou de barato que o primeiro-ministro nunca disse que os portugueses eram piegas, mas sim que não deveriam ser piegas. É completamente diferente, a não ser que a reacção tenha provindo dos 75% que representam a iliteracia nacional. Ou então trata-se de uma caso de distracção ou de má-fé. Ou ambas. Porque afirmar que Passos Coelho chamou piegas aos portugueses tornou-se um dado adquirido. Cheguei a ouvir ontem, na SIC Notícias, qualquer coisa como «… a oposição reagiu fortemente por Passos Coelho ter chamado piegas aos portugueses…». Esta afirmação, mentirosa, vinda de uma televisão de referência, não é apenas descuidada e carecida do rigor que se deseja. Penso que é má-fé pura.
Enfim, Madeira e piegas – os temas do momento. Bem podíamos deixar de ser piegas, aos berros de cada vez que nos tocam no umbigo. Ou, ainda, aproveitarmos a incursão de Merkel nos nossos assuntos internos (apesar de ela estar minimamente nesse direito, pelo dinheiro que lhe devemos) para percebermos que bom, bom, era não darmos motivos para ter de ouvir destas coisas. Em vez de nos armarmos em magriços, defendendo a honra do reino contra as «Merkeis» do nosso descontentamento, mantendo-nos calados que nem ratos enquanto nos vão pagando as contas. .
Está ali uma senhora de fato-casaco (Drª Rita Castelo???) a dissertar na televisão sobre as diferenças entre o homem e a mulher. Entre o cérebro maior dos homens (para nos dar mais força) e a capacidade limitada dos homens (só conseguimos fazer DUAS coisas ao mesmo tempo) e a eficiência das mulheres (fazem mais que duas coisas ao mesmo tempo e melhor… lembrem-me de lembrar a algumas mulheres a sua «polifacetagem»), disse que entre o homem e a mulher há evidentes diferenças… cromossómicas. Prontes, borrou a pintura. A Drª Rita consegue fazer mais coisas do que eu ao mesmo tempo, está visto que é uma questão cromossómica! Logo agora que eu estava a pensar com os meus botões quando é que eu conseguiria fazer uma terceira coisa ao mesmo tempo para vir no Guiness… .
Já lhes chamam os leporídeos – aqueles que se identificam com o discurso de Passos Coelho. Pois se isso for a minha penitência, por achar que este discurso é uma peça excelente de realismo, sobriedade e, sobretudo, seriedade, pois que me chamem leporídeo.
Passos Coelho deu uma autêntica lição àqueles que insistem em fazer da política um circo, muitas vezes dando vida à coisa fazendo deles próprios (e de todos nós…) uns palhaços.
É claro que a nossa comunicação social (em geral) espremeu o discurso e achou que PC chamou piegas aos portugueses e pegou no sound-byte de termos de trincar a língua. É triste perceber como de um discurso sério e honesto, se respiga aquilo que faz de pateta tanto os que escrevem como os que lêem. A Blogosfera não escapou á patetice militante e corre por aí gente que se sente insultada porque lhe chamaram piegas (mentira, PC não chamou piegas a ninguém. É uma questão de ouvir aqui o discurso) ou infantil e irritada porque PC usou a expressão popular trincar a língua.
O essencial ficou e só gente mal intencionada tentará desvirtuar aquilo que de há muito se devia fazer. Dizer a verdade aos portugueses. Em vez de, como num passado recente nos mentirem TODOS os dias. Como Sócrates, que nem por isso alguma vez me constou que tivesse trincado a língua. .
A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar (Fernando Pessoa)
Por vezes pensar muito dá em resolver muito pouco. Mas eu que sempre tive a mania de pensar? (mas isto digo eu...) .
«...este governo quer acabar com a tradição… a função pública é a cobaia… a função pública é espezinhada… os trabalhadores vão reagir… foi assim que Cavaco Silva perdeu as eleições… a função pública derrubou Cavaco Silva… estão a mexer com os seus direitos… este governo que desapareça… não precisamos deles, eles que desapareçam...»
Foi nestes termos, pelo menos dos que me lembro, que Ana Avoila, a indignada de serviço do Bloco de Esquerda se referiu ao facto de não haver tolerância de ponto para o carnaval deste ano. Isto depois de Passos Coelho ter feito uma curta e lúcida intervenção sobre o assunto, onde inclusivamente referiu não fazer sentido abolir feriados como o 5 de Outubro, 1º de Dezembro e até feriados religiosos e manter uma tolerância de ponto de carnaval, até porque o dia nem sequer é feriado, tem apenas beneficiado de tolerância de ponto.
A comunicação social achou logo que a pessoa indicada para ouvir o contraditório era Ana Avoila. Penso que haveria, pelo menos, mais um milhão de portugueses capazes de fazer um comentário civilizado e oportuno à questão (e, já agora, que se lembrasse que os privados também brincam ao carnaval e que alguns deles têm de usar máscara todo o ano, por não beneficiarem da propalada equidade da função pública), mas a RTP achou que a Ana Avoila é que era. Ah! E um autarca de Ovar que disse que iam ter imensos prejuízos. E eu fiquei a saber que uma tolerância de ponto tinha sido promovida a direito adquirido, Ana Avoila dixit. E se ela o diz, está a representar pelo menos meia dúzia de pontos percentuais do eleitorado português. .
Isto não foi bem uma sondagem, a coisa foi mais «um estudo». Deus saberá a base científica do psicólogo Pedro Costa, nós não sabemos porque o jornal não diz, mas o que interessa é que o tal Pedro concluiu, alguma da nossa comunicação social está firmemente a passar de má a abjecta e a notícia saiu. A mim ninguém me perguntou nada mas, repito, quero acreditar que o Pedro Costa aprendeu bem na Faculdade como se faz um estudo. E se ele o diz e se o JN publicou é porque deve ser mesmo… como o Pedro diz. .
Que um parlamentar egípcio apareça numa televisão a dizer que os americanos e os israelitas é que tiveram a culpa da tragédia de Port Said, ainda dá para sorrir ou, até, para uma furtiva risada, não fosse o trágico resultado de 74 mortos e 200 feridos, quando desatou tudo ao estalo, facadas e pontapés num estádio de futebol. Mas que a circulação pelas redes sociais da foto exposta lá em cima faça estremecer de indignação muitos portugueses que acreditam piamente que os americanos acordam de manhã a pensar que parte do globo é que vão lixar nesse dia, é que inspira já uma expressão piedosa e nos faz perguntar, como é possível? Ora aprecie-se este naco de prosa que eu respiguei de um preocupado/indignado que não deve conhecer o fotoshop e nunca deve ter ido aos Estados Unidos mas que, em contrapartida, conhece os malefícios do monocultivo e sabe que os americanos estão a pensar cometer crimes gravíssimos contra a vida na Terra e demonstra bons conhecimentos dos meandros da química orgânica (cito):
VEJAM SÓ COMO EM 30 ANOS SE DESTROI O ECOSSISTEMA DE UM CONTINENTE INTEIRO !!!! neste caso America do Norte !! São fotos da NASA .. O resultado da destruição de florestas, monocultivo etc está á vista !! Por isso agora se lançam á America do Sul !! praticando crimes gravissimos contra a vida na Terra na floresta amazónica ... se tiverem outros 30 anos assim a sul BYE BYE O2, BYE BYE VIDA !!!!
Fim de citação (Respeitei maiúsculas, pontuação, anglicismos, acentuação, sintaxe e, naturalmente, mantive o símbolo químico do oxigénio molecular)
Não há nada a fazer. Ou damos uma biqueirada nos americanos e os colocamos todos numa reserva de índios que esteja mais ou menos disponível, ou qualquer dia a NASA mostra o imenso deserto americano, e precisamos de camelos para ir do Alasca à Terra do Fogo. E morre mais uma data de gente nos estádios de futebol. Deixar os gringos à solta é que me parece perigoso. .
Quanto mais não seja por uma questão de rigor (eu sei que não é o nosso forte, massssss…) alguém que explique ao Governo e à presidência que a República do Kuwaité uma monarquia constitucionalcom um sistema parlamentar de governo.
O dia começa com novidades que, vistas as coisas, não são bem novidade. Vejamos:
- Valentim Loureiro foi ilibado de uma trapaça qualquer pelo tribunal. Resultado, andamos a apanhar nas televisões, em regime de «replay», com a «testosterónica» voz do major, em modo de vagomestre zangado com o fornecedor porque a última remessa de batatas para o rancho vinha toda grelada, a ralhar com os ouvintes e a dizer que não ganhou um «tusto» com o negócio (SIC). Seja lá o negócio que tenha sido.
- A vaga de frio polar atingiu Portugal. Ainda assim em níveis de benignidade compatíveis com a nossa brandura de costumes. Resultado, as televisões aconselham-me, de minuto a minuto, a pôr meinhas de lá, usar cachecol e agasalhos em geral.
Ou seja, por um lado condenado a ouvir o tonitroante major, numa forma em que quase nos sentimos culpados por respirar, por outro a ser tratado como uma criancinha, tipo enquanto brincamos com os cubos na ala pediátrica do D. Estefânia, não fosse eu ir para a rua de shorts e T-shirt. Em pano de fundo, o governo que quer acabar com uma data de freguesias (malandros!), as mesmas que o PS já tinha preconizado na AR, mas que agora se apressa a criticar, dizendo que o governo não pensa «nas pessoas», uma expressão muito querida pelos socialistas, nos intervalos de quando andam por aí a lixar as pessoas.
No frenesi habitual dos grandes acontecimentos nacionais, entenda-se greves de transportes, roubos de polvos no Pingo Doce e contratação do Djaló pelo Benfica e nome da criancinha que dele vai nascer, o repórter afogueado perguntava a um excitado sindicalista, sobre a greve de transportes de hoje:
- Então e o que me diz? O governo diz que vamos ter um prejuízo de 150.000.000 de Euros. Tem alguma coisa a dizer sobre isso?
Resposta do informado sindicalista:
- Isso é tudo bluff, meu amigo, tudo bluff. Eles dizem isso que é para quando lhes faltar o dinheiro outra vez poderem dizer que foi por causa dos 150.000.000 de Euros. Nós estamos em greve, porque estamos a cumprir a nossa obrigação. Deixem-nos trabalhar. Deixem-nos mas é trabalhar .
E lá foi o sindicalista trabalhar, quer-se dizer, não era bem o caso, porque o trabalho hoje era não trabalhar. Mas há que deixar esta rapaziada fazer o seu trabalho. Não trabalhando. E podem ficar descansados que logo à noite vários repórteres encontrarão povo compreensivo, cordato que dirá para as câmaras:
- Bom, isto causa transtorno, mas eles têm direito a lutar pelos seus direitos .
O facto de muitos dos que dirão isto logo à noite não fazerem sequer ideia por que direitos estão os grevistas a lutar, não interessa. Interessa é lutar pelos direitos. Seja o que for que isso envolva ou represente. E os repórteres terão todo o cuidado em seleccionar apenas os descontentes que acham muito bem. .
Há coisas que ainda me escapam. Leio esta notícia e ocorre-me:
- O que é que impede a GNR de ir já buscar os agressores? - Julgo que a GNR não pode fazer nada sem que se apresente uma queixa. Mas, sabendo do caso pela publicidade que lhe conferiram, o que é que os impede de ir ao hospital com um impresso e um esferográfica para o professor agredido apresentar a queixa e a seguir ir buscar os agressores, à força se preciso for para os apresentar a um juiz?
É capaz de haver alguma coisa que me passe ao lado e que os pais possam continuar a dar uma carga de lenha ao pobre do professor que se atreva a chatear as crias. O que nos vale é que a Escola já disse que a agressão foi fora da escola e o Ministério condena imenso a agressão e acha que isso é totalmente inadmissível. Ufa! Olha se o Ministério não condenasse… .
A esquerda democrática não pode ser apenas incompetente, jacobina, laica, republicana e visceralmente idiota. Tem de ser sacana, também. Só isso explica que na ânsia desmedida de desculpabilizar a sua cíclica responsabilidade no estado caótico em que faz despenhar este país, essa esquerda se desmultiplique em acções concretas de verdadeiro incitamento à violência. A consegui-lo, poderá sempre dizer que por força do estado em que nos encontramos os cidadãos perderam a paciência e extravasaram as suas emoções provocando o caos social.
Por isso eu acho que a esquerda democrática, ou consensualmente designada como tal, é, para além do que atrás referi, manifestamente sacana e irresponsável. Tanto os que objectivamente se entregam à mobilização da grei, como aqueles que, impunemente, tiveram responsabilidades de governo. Uns, provavelmente nem se apercebendo do mal que estavam causando à sociedade (Soares? Guterres? Sampaio?). Outros, possuídos por ambições inconfessáveis, que não hesitaram em levar a direito os seus propósitos, absolutamente indiferentes a danos colaterais (Sócrates?).
Este post é um bom exemplo do que acabo de citar, a juntar à catadupa incessante de notícias com que as televisões nos massacram e aos múltiplos comentadores, politólogos, sociólogos, paineleiros, fazedores de opinião, historiadores e correlativos a quem pagam para debitar constantemente, uniformemente, com perseverança, denodo e uma inconfessável falta de pudor as vacuidades do costume, aos costumes dizendo nada. Uma autêntica barragem de artilharia de onde ressalta uma clara condenação do actual governo pelo actual estado de coisas, ao mesmo tampo que tentam dar uma barrela ao socialismo em geral e a Sócrates em particular. Lamentável, vergonhoso, sacana.