sexta-feira, fevereiro 24, 2012

A malta «animada»

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Correram 25 anos desde a morte de Zeca Afonso. Sempre me surpreendeu a devoção que os puristas da revolução dedicaram a este homem, independentemente das suas competências no canto. Desde jovem me apercebi da violência e da opressão que ressumavam na lírica de um poeta que pretendia combater exactamente a violência e a opressão. A esta forma aparentemente paradoxal de intervir politicamente, respondiam dois segmentos da população. Um apreciando genuinamente a qualidade das cantigas e, ao mesmo tempo, revendo-se no limiar das liberdades e da libertação dos ditames do Estado Novo, outro, pretensamente mais sofisticado, que percebia na intervenção de Zeca Afonso a vertente cultural e moderna, personificada numa esquerda como «deve ser», de resto em uso continuado na paróquia, como ainda ontem se percebeu nas várias alusões à efeméride aqui pela blogosfera e na generalidade da comunicação social. A TSF reservou mesmo um dia inteiro a Zeca Afonso, no recolhimento venerador de uma estação de rádio que se preza e se rendeu à terapêutica purificadora do politicamente correcto. No mais… pois, é de ler esta simples mas incisiva e cristalina intervenção (há intervenção para além da intervenção…) do Eurico de Barros, no Forte Apache, que transcrevo com a devida vénia. Está lá tudo. Ah! Vale a pena ler os comentários também.

«...José Afonso era um defensor da revolução armada, da ditadura do proletariado e dos princípios perigosamente lunáticos da esquerda mais radical, glorificando a acção política violenta em várias das suas canções, nas quais propunha, por exemplo, "atirar aos fascistas de rajada". Empenhou-se no PREC ao ponto de se afastar da vida musical e andou envolvido nas demenciais campanhas de "dinamização cultural" do MFA. Cantou no RALIS na noite do 11 de Março, defendeu as arbitrariedades e ilegalidades da Reforma Agrária, esteve com os pára-quedistas de Tancos no 25 de Novembro, apoiou Otelo Saraiva de Carvalho e os presos terroristas do PRP. Só para recordar, agora que se assinalam os 25 da sua morte e muita gente vai associar a palavra "liberdade" ao nome de José Afonso...»
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