ESPUMADAMENTE
puro auto-entretenimento
quarta-feira, agosto 31, 2011
segunda-feira, agosto 29, 2011
Irene, preguicento, sofreu um embaraçoso «downgrading»
A minha boa amiga Cláudia reside em NY e publicou uma «comprehensive» série de fotos, a maioria das quais revelando o sentido profilático que os americanos têm a mania de ter. O «Irene» passou pela cidade, esmoreceu (vá-se lá saber se foi pelas medidas preventivas dos seus habitantes) e seguiu viagem. Para desgraça da nossa comunicação pessoal que nos bombardeou com a tragédia que ia acontecer mas não aconteceu. Para isso entrevistavam diariamente portuguesas de Newark e Jersey, sabendo-se como as portuguesas são especialistas da desgraça e antecipadas carpideiras por tudo o que de mal vem ao mundo. Os géneros iam faltar, já havia prateleiras vazias, não havia pilhas (imagine-se) e receava-se o pior com as inundações que aí vinham. Os americanos chamam àquilo (como é Vánessa, first aid kits, isn’t it?…) «first aid kits» que, entretanto, acabaram e restava esperar pelo dilúvio, armagedão, fim do mundo em cuecas que, finalmente, acabou por passar um bocadinho ao lado.
Em qualquer dos casos havia Obama. Ele esteve atento e ia avisando as pessoas. Fosse Bush e a esta hora estaríamos a contar mortos e feridos.
Para nossa vergonha, há que referir com toda a frontalidade (que nem o Baptista Bastos) que já vi efeitos bem piores na 24 de Julho, avenida de Ceuta e em Sacavém com uma pífia meia hora de chuva. Mas aí, claro, a culpa é «deles».
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Etiquetas: calamidades, comunicação social, USA
sexta-feira, agosto 26, 2011
As Pedras do Alemão (Post dedicado)
Sempre me intrigou a inverosimilhança de algumas lendas. Talvez a improbabilidade das histórias as guindem, por isso mesmo, ao estatuto lendário.
Mas há uma lenda em Angola que me fascinou particularmente quando um dia, parando junto a um maciço granítico a que se dava o nome de Pedras do Alemão, a cerca de 20 quilómetros da cidade do Huambo, na estrada que levava à Vila Nova, Bela Vista (Catchiungo), Chinguar e Silva Porto (Kuito), indaguei das razões do seu nome. Eu passava todas as semanas junto dessas rochas a caminho de Silva Porto e um dia parei para fotografá-las. Uma mulher capinava a lavra de milho à volta de casa, com uma eficiência notável já que, ao mesmo tempo que capinava, falava com um cigarro aceso na boca e mantinha um bebé às costas atado por um pano e, questionada, disse-me sem hesitação, em «portumbundês»:
- Ali (apontando as pedras) tinha um aremão. Mas era bránco. E o aremão tinha uma mulher que vivia ali mesmo. Mas ela era preto. Um dia o aremão chegou na casa dele e incuntrou a mulher dele que estava com outro homem. Mas o outro homem que era preto. Então o aremão subiu nas pedra e disse. Não pode matar o outro homem nem pode matar a minha mulher porque Deus castiga. Depois o aremão bránco atirou ele das pedras para baixo e môreu.
Esta história (a mulher que capinava a explicar-me a origem da lenda) é verdadeira. Perde um pouco o sabor pela ausência da sonoridade que a enriqueceria bastante. Mas foi o que ela me contou enquanto raspava o capim, falava com o cigarro na boca e sacolejava o bebé às costas.
Mais tarde falei com um jornalista do jornal «O Planalto» (sim, Nova Lisboa tinha um jornal) que me confirmou o esqueleto da lenda. Achei inverosímil que um alemão vivesse com uma angolana mas, mesmo que vivesse, achei pouco crível que ele se chateasse por encontrá-la com outro homem. Sendo que o outro homem era negro, até admito que o alemão vagamente se irritasse e, eventualmente, o esturricasse no forno do pão. Agora que lhe perdoasse, mesmo que para não cair em pecado mortal e, ainda por cima, se atirasse ele próprio das pedras abaixo é que, lá está, me soa a inverosímil. Mas se calhar por isso é que nasceu a lenda. E que as pedras se chamavam (e chamam) Pedras do Alemão, chamavam.
Nota: As Pedras do Alemão eram frequentemente confundidas com as Pedras do Kandumbu, um maciço granítico que também apresentava profundas rachas e fendas semelhantes às das Pedras do Alemão, muito perto e a caminho da Chicala. Kandumbu era, de resto, o nome de uma conhecida «casa de alterne» de Nova Lisboa, mas desconheço se o nome da «boite» terá nascido de alguma analogia com as características das pedras, mas isto sou eu já a dar rédea à minha dirty mind…
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Etiquetas: angola, coisas bonitas, lendas
Natural born free (No mundo «desrotinado» a que, por ventura, pertenço)
Tive tudo e não tive nada
fui rico e pobre de pedir
e para o resto da jornada
dava-me jeito descobrir
se o que me espera além da estrada
é uma nova madrugada
ou uma noite de fugir.
E desta dúvida cativo
sinto-me livre e sobrevivo.
O título do post é meu mas o poema é do Torquato da Luz. Sensível, certeiro e prenhe de gosto pela liberdade em vida, apesar da evidente angústia pelo desconhecido. Como é que o Torquato em tão poucas linhas diz tanto? E tão bem?
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quinta-feira, agosto 25, 2011
A cartilha só pode ter sido a mesma. Farinha do mesmo saco?
Descubra as diferenças
Via Insurgente
(…) Usted, señor presidente, ha convertido la mentira en deber patriótico, comprado a los sindicatos, sobornado con claudicaciones infames al nacionalismo más desvergonzado, envilecido la Justicia, penalizado como delito el uso correcto de la lengua española, envenenado la convivencia al utilizar, a falta de ideología propia, viejos rencores históricos como factor de coherencia interna y propaganda pública. Ha sido un gobernante patético, de asombrosa indigencia cultural, incompetente, traidor y embustero hasta el último minuto; pues hasta en lo de irse o no irse mintió también, como en todo. Ha sido el payaso de Europa y la vergüenza del telediario, haciéndonos sonrojar cada vez que aparecía junto a Sarkozy, Merkel y hasta Berlusconi, que ya es el colmo. Con intérprete de por medio, naturalmente. Ni inglés ha sido capaz de aprender, maldita sea su estampa, en estos siete años.
Arturo Pérez-Reverte
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Etiquetas: política, socialismos
quarta-feira, agosto 24, 2011
Abrenúncio, saramago, pé-de-cabra, vê se te avias...
Uma das inúmeras festas tradicionais portuguesas consiste em dar um banho de mar em Barcelos (*) a crianças com várias maleitas do corpo e do espírito. Gaguez e magreza não resistem à bondade do Senhor, tal como o mau-olhado e a possessão são devolvidos ao mafarrico.
Eu tinha uma vaga ideia da existência deste banho, costume antigo que não sei se acabou com os gagos, magros e possessos de Barcelos, mas nem sempre aquilo deve funcionar, porque há banho todos os anos, aquilo deve ser um bocadinho como aquelas Termas que fazem muito bem ao reumático e onde os portugueses vão todos os anos durante toda a vida, porque lhes dói as costas e os joanetes. Ou seja, faz bem mas é preciso ir lá todos os anos.
Do que eu não sabia é que isto de dar banho às criancinhas barcelenses teve um necessário «aggiornamento», que isto da vida está difícil, a crise está instalada, daí que os banheiros levem agora €5 por cada criancinha que levam ao banho. A ciosa reportagem da RTP (que não perde uma, de cada vez que se trata de manter a infantilização em curso das gentes) fez algumas perguntas a um banheiro. Uma delas era se por acaso não pagassem os €5 o banho teria o mesmo efeito. O banheiro não se desmanchou e disse que estava ali por devoção, bem intencionado e pela graça de Deus, as pessoas é que queriam pagar. A repórter perguntou então se as crianças choravam e o banheiro disse que sim. Choravam imenso, mas ele «obrigava-as» a irem ao banho e no fim, eles já não tinham medo. Fazia-os homens. Se fosse comigo eu tinha perguntado ao banheiro o que é que acontecia às meninas, se se faziam homens também, mas isto já sou eu e o meu mau feitio.
A reportagem acaba com a expressão de dever cumprido. A repórter porque fez as perguntas que devia. O banheiro porque logo à noite adormece convencido que esconjurou o demónio a uns tantos pobres de Cristo e pôs uma data de gagos a falar de seguida. E aproveita a embalagem e multiplica por cinco. Entretanto, durante o ano devem nascer mais uns gagos, magros e possessos e para o ano há mais.
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Etiquetas: coisas do demo, coisas que só acontecem uma x ano
E Deus esqueceu-se de Santa Maria quando nos fechou o Paraíso
Se alguém duvidasse que Deus se esqueceu de alguns pedaços do Paraíso na Terra depois de expulsão de Adão e Eva teria aqui a prova disso mesmo.
Santa Maria é um ponto ignoto da Terra, na Ilha da Inhaca, a uma hora de barco de Maputo e à distância de uma estreito canal para se atingir as vagas alterosas do mar aberto. A par da sua indescritível beleza, confere ao visitante as sensações inigualáveis da pesca ao «corrico», do mergulho de alto gabarito, areais quentes e finos e águas paradas em regime permanente, o que possibilita que se durma no barco em perfeita comodidade.
A poucos metros deste local estende-se uma vasta área quase sempre habitada por colónias de milhares de flamingos rosados que aproveitam as marés baixas para se saciarem com a abundância de crustáceos e pequenos peixes que Deus ali deixou para os flamingos não terem que se maçar muito procurando comida.
Em segundo plano da foto, nota-se uma encosta arborizada que proporciona locais de sonho para caminhar, «piquenicar» ou acampar. E do lado do mar aberto há um maciço rochoso com pequenas piscinas naturais onde nos vemos obrigados a afastar as lagostas para nos alojarmos. E, de caminho, apanhar uma meia dúzia delas à mão para assarmos para o almoço.
O barco, como se vê, chega mesmo à beira do areal o que denuncia um declive acentuado e permite este luxo, ao invés de termos que caminhar muitas centenas de metros, como acontece nalgumas praias até chegarmos ao areal.
O «corrico» proporciona uma pesca abundante de xaréu, barracuda, tunídeos vários (kawa-kawa, bonito, yellow fin, albacora ), dourados e wahoos. Do lado de dentro da ilha, o mergulho oferece-nos corvina real, douradas, polvos, peixe-papagaio, garoupas diversas e lagostas, em cenários do tipo que achamos que só aparecem no cinema.
A praia oferece-nos uma areia fina, quente, onde nos deitamos no intervalo de todas estas «actividades de vida difícil» e concluímos que sim, que Deus se esqueceu mesmo de alguns pedaços do Paraíso antes de nos fechar as suas portas. Um descuido que nós agradecemos. Pelo menos aqueles que alguma vez tiveram a ventura de visitar Santa Maria. Ah! E não há gente!
Nota: A foto é má (clicar, para ver um pouco melhor), porque se estragou e tive de a recuperar e isto foi o melhor que consegui. Só é possível ir de barco. O barco que se vê na imagem (o «Fame») levou-me a Santa Maria um incontável número de vezes. E lá dormi muitas vezes também. Banhado de lua, de sal, da aragem morna do Índico. Isso, entre outros detalhes, poderá explicar a razão pela qual as praias cá da paróquia não me excitam por aí além.
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Etiquetas: coisas boas, Moçambique, prazeres da vida
terça-feira, agosto 23, 2011
E quando a poeira assentar?
Kadhafi é um assassino impiedoso e um reconhecido torcionário. Acresce a estas qualidades um manifesto ódio visceral pelo Ocidente e por tudo o que ele representa em matéria de costumes, cultura, desenvolvimento, progresso, em contraponto ao milenar atraso subjacente aos regimes totalitários muçulmanos de que Kadhafi era um lídimo representante.
Enquanto líder líbio, executou algumas das mais espectaculares acções terroristas contra o Ocidente, sendo de salientar o 747 da PanAm rebentado em pleno voo sobre Lockerbie, um outro atentado contra um avião da extinta UTA, a carnificina de Munique e nem um bombardeamento americano a Tripoli (no qual a mulher e um filho de Kadhafi pereceram) lhe abrandou os ímpetos e ódios, continuando a dar suporte a vários grupos terroristas.
Num passado recente, Kadahfi converteu-se, entenda-se, retratou-se como responsável pelo atentado do 747 da PanAm e, em troca, viu até libertado e devolvido pela Escócia um dos autores materiais pelo massacre, recebido e ovacionado no seu regresso a Tripoli, como se de um herói se tratasse e entrou numa estranha lua-de-mel com os países ocidentais, a quem prometeu cooperação na luta contra o terrorismo (conseguindo, de imediato, a suspensão das sanções económicas).
Nesta neblina estranha de acontecimentos (recordo, com embaraço, Sócrates, aos pulinhos e sorriso alvar, acolitando Kadhadfi), surgem os movimentos chamados «rebeldes» nos países árabes e em menos tempo do que leva a escrever este post, Kadahfi é proscrito e cede o poder a um grupo heterogéneo de gente, cujos líderes não são sequer conhecidos. A Nato levou-os de mão dada a Benghazi e a Tripoli e agora ninguém parece saber bem o que fazer.
Os «rebeldes» poderão ter o rótulo momentâneo de libertadores mas, claramente, muitos deles serão os mesmos que há bem pouco tempo emulavam Kadhafi ou ovacionavam o prisioneiro libertado pelos escoceses e partilhavam os mesmos ódios do seu líder em relação ao Ocidente. O que resulta daqui, não sei. Mas que sei que Tripoli neste momento está invadida por uma massa heterogénea de gente profundamente dividida por questões tribais, sei. E que, provavelmente, a única coisa que verdadeiramente terá em comum é o seu conhecido ódio ao Ocidente. E quem quer que seja que venha a liderar os rebeldes vai ter que prender e matar muita gente até conseguir exercer, de novo, um controle mínimo sobre as emoções à flor da pele de tanta gente com uma espingarda na mão.
Ver este post (vídeo), imperdível, aqui.
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Etiquetas: coisas extraordinárias, Kadhaffi, Líbia
segunda-feira, agosto 22, 2011
Uma sensação agradável
Jorge Carlos Fonseca é o novo presidente da República de Cabo Verde.
Candidato independente com o apoio da Oposição (MdP – Movimento para a Democracia) nasceu em S. Vicente, licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tem uma activa participação no meio universitário português, lê «A Bola» desde os nove anos, é do Vitória de Setúbal, fala português correcto, a par do crioulo e acha que o cabo-verdiano sofre da síndrome dos extremos. A do «coitadismo», achando que tudo de mal lhe acontece, desde a seca e à insularidade, ao «melhorismo do mundo», mostrando, assim que conhece bem os terrenos que pisa.
Eu, que nem sou destas coisas, deixei-me invadir por uma sensação estranha. Um presidente que fala português escorreito, jurista licenciado por uma universidade portuguesa de prestígio, que lê «A Bola» e é do Vitória de Setúbal, presidente de um país cujos cidadãos tão depressa acham que são uns «coitadinhos» como são os «melhores do mundo e arredores» tem um conjunto de indicadores que me faz pensar e acreditar no velho aforismo de que Portugal deu novos mundos ao mundo. Pena que o mundo que nos demos a nós próprios nem sempre seja lá «essas coisas».
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Etiquetas: Cabo Verde, coisas boas, Portugal
quinta-feira, agosto 18, 2011
Apetências
As minhas apetências são muitas, também. Nem sempre as concretizo, umas vezes porque os meus apetites são desmesurados relativamente às minhas possibilidades (clicar na foto para ver melhor), outras porque normalmente os eduquei e condiciono sempre a um módico de racionalidade indispensável a isto de se viver numa sociedade em que por força do nosso instinto gregário, temos de conviver com muita gente e nas mais variadas vertentes. Por norma, essa racionalidade está na razão directa daquilo que eu entendo ser a feasibility dos meus apetites, para me socorrer de um termo que em Washington DC se usa com muita frequência.
Isso não me inibe de perceber os apetites que por aí vão (e não faço links senão gastava meia folha A4 a fazê-los) sobre a putativa colocação de Mário Crespo em Washington DC, como correspondente da RTP. Entretanto, MC desmentiu, formalmente. Mas os apetites vão continuar, Assim na forma habitual de orgasmos múltiplos. Pequeninos, mas múltiplos. Como gosta uma boa parte da nossa blogosfera.
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Etiquetas: a idiotia feita doutrina, Apetites e vontade, má-língua, Mário Crespo
quarta-feira, agosto 17, 2011
hoje está-me a dar para aqui. Para ali. Para lá... para África
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Se me pedissem para mencionar duas belezas superlativas de Angola e de Moçambique, diria que Moçambique tem o espectáculo único dos fundos do mar cobertos de fauna e flora que lhes conferem um cenário onírico e que não é possível sequer imaginá-los antes de serem vistos. E que tem as praias orladas de vegetação até à beirinha do mar, muitas vezes com a copa das árvores beijando a espuma das ondas ou disseminando-se em extensos mangais. E os grandes rios. E que Angola tem a magia da diversidade onde cabem o deserto do Namibe, a floresta equatorial do Maiombe, os planaltos das anharas e bissapas do Huambo, Bié e Moxico, cenários de fazer parar a respiração como a Leba, a fenda da Tundavala, as quedas do Duque, o estuário do Quanza, a irrequietude do Queve e… isso, a música. A música angolana é superlativa (acho que já é a segunda vez que emprego este termo no post) e eu acho que, injustamente, as pessoas não se apercebem disso. Gostam, mas acham que faz parte do cardápio, tão habituadas estão às coisas boas angolanas.
Este Muxima do Waldemar Bastos (que eu confesso conhecia apenas na versão do Ouro Negro) é um hino à melodia, aos céus de fogo angolanos, à nostalgia das sombras e das silhuetas, às neblinas e à mais pura das sensibilidades do poeta que o angolano muitas vezes não sabe que é. Este Muxima serve de fundo a uma galeria de cerca de cinco minutos de slides lindíssimos com algumas das imagens de marca angolanas. Ainda assim uma muito pequena parcela das belezas daquele fabuloso território.
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Etiquetas: África, angola, coisas boas, coisas bonitas, Moçambique
A sabedoria dos deuses
Há uma lenda africana que diz que o embondeiro passava a vida a lamentar-se porque não era tão verde nem tão bonito como muitas outras árvores. Por isso os deuses se zangaram muito com a resmunguice do embondeiro, de tal maneira que o arrancaram da terra e voltaram a enterrá-lo ao contrário, para que ele passasse a ter as raízes, feias e retorcidas, emaranhadas na direcção do céu.
Fora da lenda, e isto penso eu, talvez seja por isso que o embondeiro viva tantos anos. Silencioso e paciente. Na esperança de que os deuses o devolvam à posição original. O exemplar da foto, por exemplo, (Africa Geographic clicar para ver maior) é referido como tendo mais de 1000 anos.
Há por aí gente que se fosse virada de pernas para o ar, como o embondeiro, ficaria com uma imagem bem mais consentânea com a sua índole. E com a vantagem de não viver 1000 anos.
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terça-feira, agosto 16, 2011
Literaturas
A Blogoesfera atravessa a sua silly season também. Escreve-se sobre ópera, espectáculos, concertos e, aqui e ali, sobre literatura. Pena que um blogue que se chama a si próprio de literata acabe numa figuração baratucha da vizinha que diz à comadre que ia jurar ter visto o marido dela (da comadre) a sair de um bar e que ia com alguém que ela (a vizinha) não conhecia mas que ia com um vestido assim e assado e daí, podia não ser ele (o marido da comadre), afinal ele não lhe tinha dito (à mulher, à comadre) que tinha um jantar de negócios? Mas estas coisas são assim mesmo, só que um dia acaba mal, a comadre tinha mais era que ter calma e não dar ouvidos à má-língua (que isto de línguas também as há más…), que as pessoas são é mazinhas e andam sempre à coca das coisas e depois só levantam é falsos. Mas que é preciso ter cuidado, é, que isto de bruxas, a gente não acredita nelas, mas que as há, há, daí que ela (a vizinha) achasse que devia dizer à comadre que lhe parecia que era o marido e que a pessoa que ia com ele não sabia quem era, mas o levava um vestido… assim.
Adoro estas literaturas. Ressabiadas, mas literaturas.
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segunda-feira, agosto 15, 2011
¿Por qué no te callas?
Não que me surpreenda. Mas as recentes movimentações socráticas numa tentativa infantil de lavarem talvez o mais negro período da nossa governação (?) em democracia deveriam recolher à toca, quanto mais não seja por um módico de pudor devido ao estado em que Sócrates nos deixou. Tesos, empenhados, aldrabados, infantilizados, perdidos e motivo de estupefacção (e chacota) no concerto internacional.
A memória é curta, mas insisto. Esta gente, de má memória, deveria obrigar-se a um período de nojo. Por respeito a um país que deixou em ruínas e às gerações que inapelavelmente verão o seu futuro comprometido, por um largo período. Calem-se e, havendo um vestígio de vergonha na cara, confessem-se e cumpram uma penitência qualquer. Ao vosso gosto e à medida das vossas convicções.
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Etiquetas: socialismos
Tudo como dante(a)s». Quartel General na Antas
Saiu o andor. A procissão começou. Com os mesmos santos. Os mesmos anjos. A mesma fé. Vistas bem as coisas, porque é que no futebol havíamos de ser diferentes?
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Etiquetas: Ai Portugal, fuebol
domingo, agosto 14, 2011
Contar um conto. - A azeitona
Era um daqueles almoços gostosos de pai e filho. O filho era eu e o pai… era o meu pai, um homem pouco dado a restaurantes manhosos. Dizia ser impossível confiarmos na lisura de processos do pessoal dos restaurantes. Saladas mal lavadas, «croquetização» de restos de carnes, higiene pessoal dos cozinheiros e outras malfeitorias, só faltava mesmo dizer que as almôndegas eram amassadas nas axilas da sogra do dono do restaurante.
A actividade profissional obrigava-me a passar por Lisboa de cada vez que me deslocava em trabalho à Europa e essa era uma das vezes. Consegui convencer então o meu pai a irmos comer o conhecido cozido ali à Malveira da Serra, num local onde se paga por cabeça e a estratégia era encherem-nos de acepipes, pagos em separado, para depois comermos menos cozido. O percurso de Cascais à Malveira decorreu sem incidentes e deu mesmo para passar na Charneca e recordar uma casa de campo onde, em miúdo, eu costumava passar os meses de Verão. Uma romagem de saudade e que serviu de pretexto para dilatar o tempo e usufruir aquele pai, já radicado em Portugal por força da «Abrilada» e que, amiúde, me dizia:
- Meu rapaz, não te distraias. Vai pensando em Portugal, por muito que não gostes disto, mas vai pensando. E quando e se tiveres dúvidas pergunta a ti próprio se conheces alguém que tenha ficado a gozar a reforma em Moçambique ou em Angola.
O curto percurso até à Malveira foi feito rapidamente e em poucos minutos eu estava a arrumar o carro, junto ao restaurante. Entrámos, muito calor, muito fumo (ainda se fumava…) e aquela algaraviada em que os portugueses são exímios quando estão a comer, com especial predominância daquela gente que eu ainda não consegui perceber porquê, mas que fala baixo e se ouve na sala toda. Eu tenho um vizinho, por exemplo, cujas traseiras da casa dão para as traseiras da minha e que aos fins-de-semana de Verão tem a insuportável mania de fazer um churrasco com a família, ou amigos, uma coisa em que os portugueses estão cada vez mais especialistas. Até porque grelhar carne ou sardinhas tem segredos e artes só ao alcance dos portugueses, qualquer coisa assim como escolher um bom melão no supermercado, e que só pode ter sido obra divina. Ponha-se um dinamarquês a escolher um melão ou um belga a assar umas fêveras e uns coiratos e espere-se pela pancada. Deus, em matéria de churrasco e escolha de melões é português. No resto, nem por isso, mas temos de Lhe dar o desconto porque também, sabe-se, somos um povo assim para o difícil e um bocado malcriado.
Já na sala, sentámo-nos. De imediato nos cobriram a mesa de «entradas». Tachinhos com dobradinha, croquetinhos, saladinha de polvo, saladinha de ovas e umas fatias de presunto faziam o ramalhete destinado a quebrarmos a fome para quando viesse o cozido, anunciado tipo preço único e coma o que quiser. E foi assim que nos mantivemos a conversar e a debicar as entradas. E lembro-me particularmente de estar conversando e ir rebolando o caroço de uma azeitona, sugando-lhe bem qualquer vestígio de polpa que ainda existisse até ao ponto em que, caroço bem roído, o tirei da boca com os dedos e coloquei naqueles pratinhos das cascas e dos restos. Como gosto de azeitonas, procurei logo outra… e reparo que não havia azeitonas na mesa. Chamado o criado, peço-lhe mais azeitonas e ele diz.
- Peço desculpa, mas hoje não temos azeitonas.
- Como não têm, se acabei agora mesmo de comer uma?
- Comeu uma? Ná. Então é porque é de ontem.
Tive um sobressalto assim do tipo de quando o carro nos derrapa numa curva piso molhado e insisti:
- Mas olhe… veja aqui o caroço, não estou a sonhar, este caroço saiu-me da boca e na boca esteve bastante tempo (isto é dito já numa altura em que começo a adquirir a dura realidade de que não me lembrava do gosto da azeitona, apenas me lembrava do caroço às voltas na boca ).
- Pois, mas não temos. Isso deve ter sido alguém de ontem, que comeu uma azeitona e, sem querer, botou o caroço nalgum piresinho de salada de polvo ou assim, que as saladas não se estragam e a gente «guarda-las» no frigorífico. O amigo sabe como é esta gente, né?
Na confusão de sentimentos que se seguiu, não me recordo bem do que fiz. Entre vomitar, atirar com um tachinho de dobrada ao criado, dizer um palavrão do repertório de um taxista lisboeta ou fazer de conta que não tinha acontecido nada e trautear uma canção ou contar ao meu pai uma anedota de papagaios, tudo desfilou na minha mente e ainda hoje garanto que me falham pormenores de como a história acabou. Qualquer coisa entre o homem dizer que podíamos comer o cozido e não pagar e meter-me no carro vir embora, estrada abaixo, até ao Guincho. Foi isso que fizemos.
Parámos no Mestre Zé e pedi uma água tónica com muito limão e muito gelo (esta do muito gelo, à altura, também era uma medida estranha para os meus hábitos. Os portugueses desconfiavam deste pedido, ainda hoje acham que faz muito mal à garganta a pode parar a digestão, daí que normalmente serviam gelo em forma de minúsculos, minúsculos mesmo, pedaços, já meio derretidos e que, vertida a bebida no copo, se acabavam de derreter de imediato). Durante largos minutos, bochechei e beberriquei a água tónica e a solidariedade desfez-se. O meu pai acabou a rir com vontade e eu fiz o resto do trajecto de regresso a casa com um sorriso amarelo. Vistas bem as coisas, da cor do caroço da azeitona que alguém comeu e eu roí…
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Etiquetas: coisas extraordinárias, episódios
sexta-feira, agosto 12, 2011
Morrer à fome
Moçambique, um país a que me ligam especiais laços de amizade pelos vários anos que lá vivi no período pós independência e pela actividade profissional que lá desenvolvi, teve um crescimento económico de 7% no primeiro trimestre de 2011, ultrapassando as expectativas em 0,5 %. Num momento conturbado do mundo, um país como Moçambique, resgatado às loucuras da guerra e de políticas ruinosas de vários anos, um crescimento de 7% é notável e, apesar de ser transversal a todos os sectores, parece destacar-se o desenvolvimento dos transportes e comunicações, pelo contributo que prestaram a esse crescimento económico.
Entretanto, e apesar destas boas notícias, há outras, como esta ,que arrefecem o entusiasmo e nos fazem pensar ainda como é que num país dotado de excepcionais condições naturais para a produção agrícola, atravessado por rios de recursos quase ilimitados e dotado de uma rede assistencial de várias ong’s, departamentos das NU e mesmo agências governamentais como a USAID e beneficiando de múltiplos programas de assistência financeira e em género, se permite deixar morrer 700 crianças por malnutrição, no primeiro semestre deste ano.
É trágico. Eu sei que há tragédias maiores, como a somali. Mas até pela diferença das condições de cada um destes países o caso moçambicano me espanta. Enquanto na Somália não há rei nem roque e um punhado de fanáticos assassinos impede a passagem de comboios de assistência médica e víveres, em Moçambique há um govermo estável e democrático e uma razoável rede de comunicações rodoviárias, aéreas, marítimas e fluviais e já ninguém anda aos tiros. Porque é que ainda morrem quatro crianças por dia à fome, presidente Guebuza?
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Etiquetas: fome, Moçambique
Os britânicos não colaboraram
Pode ter calhado, mas ainda não ouvi um único britânico, governante, residente ou mero turista no Algarve que «achasse» que os tumultos ocorridos naquele país radicassem nas malfeitorias de que os europeus são normalmente acusados, sempre que se trata de falar nas comunidades de imigrantes.
Por cá, é o que se sabe. O sol, a chuva, o frio, o calor, o desemprego, as diferenças sociais, a falta de oportunidades, o consumismo, a falta de poder de compra dos imigrantes (exactamente para, ao que parece, poderem aceder ao condenado consumismo), a «guetização» das comunidades, a brutalidade das polícias, a direita, o capitalismo, o liberalismo, o… qualquer coisa que meta «neo», a sociologia, os cuidados de saúde, a sopa com falta de sal, o pão que tem sal a mais, a intolerância, os franceses que proibiram a «burka», os alemães que pariram um Hitler, os holandeses porque davam graxa aos alemães, os austríacos porque bem lá no fundo são mais nazis que os alemães, os belgas porque não têm governo e também tiveram colónias em África, as monarquias, os suíços porque são uns sonsos, os dinamarqueses que fizeram caricaturas do profeta, os espanhóis porque não dão a independência à Galiza, Catalunha e País Basco, os finlandeses que não nos compreenderam e não nos queriam pagar as contas, os italianos porque os do Norte descriminam os napolitanos e os sicilianos e o Berlusconi porque pinta o cabelo, os sérvios porque não gostam dos albaneses, o PSD porque são todos a mesma coisa e havemos de chorar pelo Sócrates, o Benfica porque vendeu o Roberto por €8.6 M. Os nossos «tudólogos», para usar uma feliz designação do João Gonçalves, trataram de erigir uma barreira da causas, culpas e consequências. Científicas, sociais, políticas, económicas e economicistas, aquele palavrão que os capitalistas de esquerda inventaram.
Os ingleses, repito, limitaram-se a afirmar a sua vergonha pelo sucedido, a sua incompreensão pela falta de determinação das polícias e, sem rebuço, «achar» que este é um caso de desordem, de tumulto e que como tal deveria ser tratado. Se preciso fosse que chamassem o exército. Para além de considerarem que fazer do multiculturalismo uma religião é um exercício masturbatório da esquerda politicamente correcta, trágico tanto para os europeus como para os próprios imigrantes. É. Pode ter sido coincidência, ou azar dos repórteres, mas foi sempre isso que ouvi.
Etiquetas: multiculturalismo, politicamente correcto
Um exagerado, afinal, é o que eu sou. Um tuga retinto
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À falta do que tenho caminhado, resolvi fazê-lo esta manhã cedo, ali no Jardim da Estrela. Cheguei cedo ao escritório, meio entorpecido pela ausência da quase totalidade dos meus colegas que foram curtir a crise económica para o Algarve, México, Jamaica e outros destinos que ajudam a debelá-la. E deu-me para ali. Uma passeata pelo jardim, deixando-me acariciar pela brisa quase fria da manhã deste Verão pouco convicto e eis que me deparo com um ganso suicida, tal como se vê na foto. Puxei-o pelo rabo, assim mo ordenou o sentido cívico que aprendi em pequenino, nos escuteiros e na catequese.
- Mas então que se passa, ganso?
- Hummm, ando meio enfastiado. Este jardim nem sempre é o que parece. Tenho dele gratas recordações, mas tem dias que elas parecem esbater-se numa névoa meio…
- Mas que coisa, seu ganso maluco. E isso é lá caso para levar ao extremo a nostalgia que o possa ter invadido?
- Nostalgia? Mas eu…
- Oiça lá. Você tem de ser mais optimista. Lembre-se que muitos colegas seus vieram ao mundo para lhes incharem o fígado, depois de convencerem os cidadãos do mundo que o paté dos vossos fígados era uma «delicacy», enquanto você anda aqui, livre, feliz, bem alimentado, charmoso e cheio de gansas folgadas a abanarem as penas de cada vez que passam por si.
- Sim, eu sei, mas o que é que julga que…
- Não julgo nada, vim aqui desentorpecer as pernas e vi-o nesse preparo e isso tocou-me o coração. Não há nada no mundo que justifique atitudes desesperadas como a sua, mergulhando nas profundezas de… hummmm… meio metro de água de um lago, eu sei, mas, para o efeito, com o dramatismo de uma fenda abissal do Pacífico.
- Oh homem, cale-se. Deixe de ser parvo. Eu estava de cabeça debaixo de água a tentar apanhar um carocho das roseiras, um pitéu de primeira e que me tinha fugido para o fundo.
Encolhi a cauda (a minha), meti-a discretamente entre as pernas (as minhas) e vim trabalhar. Esta mania de achar que os gansos têm tendências suicidárias e crises profundas um dia tinha que dar numa cena caricata destas. Ainda parei na pastelaria da esquina, pedi um café e achei que o Sr. Lourenço também estava com um ar muito deprimido enquanto tirava uma bica. Mas não. De repente desfez-se numa documentada dissertação sobre o campeonato que começa hoje, que o Benfica nunca costuma ganhar na primeira jornada mas hoje ganha e que o Porto não tem equipa. Hoje, perde com o Guimarães. Disse (ele). Babando-se de gozo antecipado pela vitória do glorioso e pela derrota, tão certa como a morte, dos «andrades».
Definitivamente hoje não é o meu dia. Vejo depressão em todo o lado e em todos e, afinal, toda a gente, gansos incluídos, está feliz por ter nascido.
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quinta-feira, agosto 11, 2011
Dizem que não temos nada a perder
Isto já não é uma questão ideológica. Bastaria sê-lo para colher o respeito devido às convicções de cada qual, mesmo quando cada qual faz tábua rasa das convicções dos outros. Mas faz parte do jogo democrático e aqueles que o jogam com convicção acabam por acatar as regras impostas por outros, para quem o jogo democrático é uma mera liberdade poética.
Mas, repito, isto já não é uma questão ideológica. É terrorismo puro, é o desrespeito final pelos direitos e garantias de quem não pensa como eles, tornados prisioneiros dos seus humores episódicos e provavelmente resultantes de inconfessáveis angústias.
Esta rapaziada é mal formada, de má índole e muito, mas muito arrogante. Talvez adoptando este tipo de atitudes consigam a «glorinha» semelhante a uma «miss» acabada de ganhar um concurso e debitar umas vacuidades sobre a paz e a fome; esta gente sente-se emulada no concerto de uma dinâmica que eles, possivelmente, nem compreendem. Daí serem matéria-prima eficaz para qualquer «mocidade portuguesa», «pioneiros», «continuadores» ou mesmo esbirros de qualquer organização que lhes pareça consentânea com os desígnios para que se sentem eleitos.
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Não se faz. Andarmos mais de 30 anos a enganar as crianças...
Isto da verdade é como o azeite. Vem sempre à tona. O Egas e o Becas, duas das mais conhecidas personagens da série americana eram gays. Desde 1969 que os dois viviam sob a mesma telha e no mesmo quarto e mesmo em 1989, quando a RTP iniciou a produção portuguesa da série, eles mantiveram o mesmo regime de habitação, mas só agora se concluiu que eram gays. Foi uma violência o que se fez às crianças dos anos setenta e oitenta, ao não se desvendar a orientação sexual dos bonecos. Imagino o trauma de muita gente, hoje com trinta e quarenta anos a quem se negou o direito à verdade em nome de pruridos idiotas. Felizmente que corre já uma petição para que os dois se casem. Já leva 1300 assinaturas e isso evitará que as crianças de hoje sejam logradas como foram as de sessenta e oitenta.
Resta a esperança que os mesmos desenvolvimentos ocorram agora em relação a Branca de Neve e ao Capitão Haddock. As suspeitas de que Branca de Neve era lésbica relevam de se saber de fonte segura que o final do príncipe beijando a princesa foi um arranjo para que as crianças não soubessem a verdade. Qual seja a da bruxa má não ter morrido no tal penhasco, ter ela própria beijado a princesa para a despertar do sono, pedir-lhe desculpa pelos ciúmes que tinha sentido (Branca de Neve tinha tido uns devaneios com um cavaleiro do reino antes de ser expulsa, que ela era assim um bocadinho folgada. Uma questão de ciúmes lá entre elas, portanto, sabe-se agora) e levá-la de novo para o castelo. Onde casaram, não tiveram filhos, que ainda não havia procriação assistida, mas viveram muito felizes.
Já sobre o Capitão Haddock, apesar da virulência do seu carácter, investigações recentes concluem que ele tenha sido um gay passivo que obrigava o professor Tornesol a concubinato episódico nos intervalos das suas experiências científicas. Estranha-se que Tin-Tin nunca tenha desconfiado, o que não abona muito as suas cantadas capacidades de jornalista arguto, apesar de insistentemente alertado por Milu.
Enfim, felizmente que a nossa sociedade se vai libertando destes tabus que durante anos condicionaram e mal conduziram o imaginário das pobres crianças entregues ao breu da ignorância e dos preconceitos. Hoje é-lhes possível ler as histórias e ver os filmes com uma total abrangência, sem aleijões da verdade. Pela parte que me toca eu tinha algumas desconfianças do capitão Haddock. Já sobre a Branca de Neve… nunca tal me passara pela cabeça, confesso. Os meus netos podem agora crescer mais descansados. Informados. Escovados. Descomplexados.
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segunda-feira, agosto 08, 2011
Afinal???
E quando a selecção portuguesa foi assaltada e roubada no hotel de estágio, no último campeonato mundial de futebol e nós achámos que a África do Sul era um país inseguro, terceiro-mundista e, muito provavelmente, incapaz de levar a bom termo um torneio internacional?
Por este andar, só nos falta chuva grossa, calor, uns mosquitos, umas bitacaias, porque no resto estamos bem lançados.
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Sweet August
Hoje saí cedo de casa. Ao longo da marginal inebriei-me com a luz de Lisboa, o azul do mar e a brisa salgada e quase fria cuja entrada eu permitia por uma nesga da janela direita do carro, me acariciava o rosto e saía pela janela oposta. O contraste entre o asfalto preto e a brancura das linhas de tráfego era por demais evidente e apenas um reduzido número de viaturas circulava na esquadria do meu horizonte próximo.
A música saía baixinho, melodiosa e isenta da cascata de notícias e anúncios publicitários usuais noutros meses. Noutros meses… de repente apercebo-me das razões do «milagre». Estamos em Agosto, o mês que a natureza nos oferece para nos concedermos à abstracção dos grandes problemas e do frenesi do dia-a-dia, para percebermos como há coisas pequenas na vida que de tão boas que são nos fazem sentir uma felicidade extrema, pela mera condição de estarmos vivos. A natureza oferece-se, passiva, sem nos exigir nada em troca que não seja repararmos nela. É o milagre de Agosto. O mês em que a esmagadora maioria dos portugueses gosta de ir para o Algarve, «bichar» para meter combustível, esperar longos períodos em pé por uma mesa de um restaurante, literalmente lutar por um metro quadrado de praia e desejar um «sinaleiro» para não chocar com o tráfego de veraneantes nadando, incluindo aqueles que gostam muito de «boiar», dos quais vemos assomar à superfície da água a extremidade do nariz e uma volumosa barriga. Ou, ainda, entrechocar-se pelos ombros, na multidão de veraneantes que enxameiam as ruas apertadas e de atmosfera tropical, circulando sem saber bem para onde querem ir ou o que andam a fazer, até Agosto acabar.
Por Lisboa é o milagre de Agosto, como atrás dizia. Como o Nelson e a Sara do Sweet November, também o Agosto em Lisboa é sweet e convida as pessoas a reparar nele e a desfrutá-lo com volúpia e sem reserva. Retirar dele a essência das tantas coisas boas e bonitas, esquecendo que o nosso fim de Agosto é o fim do Novembro de Sara. A realidade regressará e a nossa existência emaranhar-se-á, de novo, no turbilhão que criámos para vivermos todos os dias, na ilusão de que somos felizes. Ou, quem sabe até, na quimera do Agosto do ano seguinte para regressarmos, de novo, ao caos algarvio, com a estúpida alacridade do costume.
Por isso, esta manhã me foi particularmente grata. Não que eu tenha revisto a Charlize e Keanu de novo, pelo contrário, já nem me lembro da última vez que vi o filme mas, por qualquer razão que me escapa, ele veio-me à lembrança. E, talvez por isso, me entreguei a este Agosto voluptuoso de que esta manhã se constituiu numa maravilhosa amostra. Amostra de um «Sweet August». Before it ends!
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«O importante é saber porquê»
Já vivi em três países, trabalhando para um quarto país que visitava regularmente em actividade profissional. Não falando no meu próprio, claro. Em todos eles eu me «aculturei». Entenda-se, me submeti com naturalidade à sua cultura, às suas leis e, frequentemente, costumes. Umas vezes por razões que radicam na educação cívica e respeito pelas instituições de países que não eram os meus, que me prezo de ter. Outras vezes porque tinha consciência de que não cumprindo a lei eu seria irremediavelmente preso e, em alguns casos, sumariamente condenado.
A Europa é diferente. os expatriados, imigrantes ou detentores de quaisquer outras designações em que somos (os europeus) férteis em classificar, não se aculturam. Na maioria dos casos permanecem relutantes a essa aculturação que consideram intrusiva e nefasta, mantêm os seus hábitos de vida. O que nem seria grave se, entretanto, não infringissem a lei e se entregassem a festins de violência, pilhagem e arroubos de ódio tout court, perante a idiotia politicamente correcta dos nossos dirigentes que para tudo encontram uma explicação científica, para tudo conseguem gizar um sentimento de culpa, uma espécie de pecado original dos europeus que não há baptismo nenhum que consiga expurgar. E questionar muito o fenómeno dá direito a sermos apelidados de xenófobos, «fassistas», ou mesmo nazis encapotados. É, desgraçadamente, um sinal dos tempos.
As fotos que ontem vi de Londres fazem reflectir e pergunto-me que castigo é este. Que culpa têm as pessoas de estarmos a ser pastoreados por um grupo de idiotas para quem o importante não são as vítimas deste tipo de desmandos mas sim as razões que levaram os prevaricadores a bater, violar, matar, roubar, queimar. Isso é que é importante. Esclarecer bem os porquês. O resto, os batidos, violados, mortos, roubados e queimados podem esperar. Até que um dia, quem sabe, o multiculturalismo funcione.
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sexta-feira, agosto 05, 2011
Mudança de paradigma
Saí do gabinete e cruzei-me com ela no corredor. Sozinha, avoada (*), parecendo até temerosa da solidão do corredor, pisava as tábuas nuas do soalho sem fazer qualquer ruído, como se de um milagre se tratasse ou, mais prosaicamente, estivesse descalça.
Olhou para mim com a mesma expressão que um náufrago enxerga um sarrafo no mar alteroso e estende-me a mão, dizendo:
- Bom dia, sou a nova médica da empresa.
- Médica? Repeti eu, em sussurro, que desconhecia em absoluto que o médico anterior teria sido substituído.
- Sim, mas… não vejo ninguém. Talvez as pessoas pensem que as visitas continuem a ser no período da tarde. Mas não. Eu pedi para avisar de que passariam para o período da manhã.
- Pois, mas certamente que sim. Muito gosto em conhecê-la. Balbuciei eu, à medida que ela continua a sacudir a minha mão como se estivéssemos a ser fotografados por um batalhão de fotógrafos numa cimeira europeia.
- Mas, não há doentes?
- Não, doutora. Está toda a gente de férias. E os que ainda não estão, estão a fazer as malas. E depois… há um idiota ou outro, como eu passando agora neste corredor, que nem estou de férias nem estou fazendo as malas. Vendo bem as coisas… a doutora não acha que isto que lhe estou a dizer é um motivo forte para eu ir ao médico?
- Ih, ih! Este ih, ih é literal. A maior parte das pessoas que conheço ri ah, ah ou, ainda, eh, eh. Mas a nossa nova médica ri ih, ih!
- Ou então, continuei eu, isto é como tudo. Os portugueses só adoecem aos dias úteis. Aos feriados, fins-de-semana compridos, sábados, domingos e dias santos de guarda são saudáveis e as urgências dos hospitais e centros médicos são, até, uma sensaboria. Coisa chata, mesmo. Ah! Também adoecem, em jornadas de luta, como há dias os polícias adoeceram todos quando…
- Ah! Um escândalo não foi?
Nesta parte do diálogo estive quase, mas quase, para lhe perguntar quem é que assinava baixas e atestados médicos mas lembrei-me que neste país estranhíssimo podia muito bem ser que não fosse. Assim calei-me, disse «muito gosto em conhecê-la, doutora», e fui à vida. Ainda a ouvi dizer que, «bem, se calhar ia embora porque não estava ninguém doente». De novo tive um impulso de reatar o diálogo e dizer-lhe: olhe que não doutora, olhe que não…nesta firma temos imensos doentes. Não perde pela demora!
(*) Mente distraída, desatento. Enciclopédia Luso-Brasileira. Eu sabia, eu sabia que já tinha ouvido este avoada, algures… fui ver e lá estava. Mais tarde percebi que só o Google tem 79.300 resultados para avoada. Porque carga de água teria eu que consultar a enciclopédia? Um avoado, é o que sou!
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Mas não havia mais ninguém no Partido?
Tenho uma dificuldade enorme em ouvir este senhor. Ou ler seja o que for que com ele se relacione, sem expressar um sorriso amarelo ou tomar um antiácido. Ouvi-lo, então, a duvidar da lisura de alguns negócios de Estado, mesmo dando de barato que, no caso presente, muitas das rugas que impedem essa lisura vêm do tempo do Partido que o acolhe, é uma coisa do outro mundo e ultrapassa tudo o que a minha complacência acomoda.
Este Ricardo Rodrigues é um pândego e ainda hoje sempre que lhe vejo a foto ou leio a notícia, não consigo controlar o impulso de olhar em volta e certificar-me de que não há nada à mão que ele me possa palmar.
O PS não terá mais ninguém para questionar matérias desta natureza? Quanto mais não seja por uma questão de decoro…
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quarta-feira, agosto 03, 2011
Até esgotar?
Meu caro,
Pensei muito na tua argumentação de ontem. Ocorreu-me que, assim sendo, não te causaria repulsa este tipo de contagem, repara:
Um, dois, três, quatro, cinco, seis sete, oito, nove, dez,
VINTE, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta, oitenta, noventa,
CEM, duzentos, etc., novecentos, novecentos e noventa e nove
DEZ CENTOS (porque não? Não é até «esgotar»?), onze centos, doze centos, treze centos, etc., etc., dezanove centos e noventa e nove,
VINTE CENTOS, trinta centos, quarenta centos, etc., etc., noventa e nove centos e noventa e nove,
CEM CENTOS, duzentos centos, trezentos centos, etc., etc., novecentos e noventa e nove mil e noventa e nove,
MIL CENTOS (para não te perderes, ainda vamos no 100.000), qualquer americano inculto poderia continuar a chamar a este número CEM MIL, mas pela tua teoria deveria ser MIL CENTOS, mesmo. E por aí fora. Dois mil centos, etc., novecentos e nove mil centos… perdi-me… e ainda só vamos, acho, no nove mil novecentos e noventa e nove centos novecentos e noventa e nove (em algarismos, 999.999) até chegarmos ao MILHÃO. Milhão? Nem pensar, Porque não esgotar, mas esgotar mesmo, a coisa e chamar-lhe DEZ MIL CENTOS (1.000.000). Não é afinal a mesma coisa que chamar bilião ao trilião americano? Ou mil milhões ao bilião americano?
Ná… o meu azar é que discuto esta questão sempre com pessoas que sabem imenso de matemática e de história. Ainda que eu não entenda bem o que é a que a matemática ou a história têm a ver com ela. Por mim, esta tendência que temos de querer saber quantas vacas tem uma manada, contar-lhes as pernas e dividir por quatro diz bem do nosso feitiozinho complicado. E, não contentes com isso, acharmos incultos e bárbaros aqueles que se limitam a contar, simplesmente, as cabeças. «Tenho uma manada de 4000 patas de vacas para vender», diria o criador de gado tuga e malandro, sabendo que, pelo meio, botou pelo menos 100 vacas pernetas…). No fim, daria o preço em x euros por cabeça, depois de consultar o caderninho, ver o preço por pata e multiplicar por quatro.
A recente inquietação apocalítica e masturbatória por parte da nossa comunicação social, perante a visão horrífica dos EUA entrarem em default, obrigou os nossos comentadores a referirem «two point five trillion dólares», o que na nossa versão elevada e científica resultou em 2 biliões e quinhentos mil, dois mil milh… dois milhões de m… dois e meio milhares de milh… Apenas para se dizer, em português, two point five trillion…. Ou, se se quiser, two trillion and five hundred billion. Easy like Sunday morning !...
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segunda-feira, agosto 01, 2011
Cretinismo militante e repugnância. Doses reforçadas
«Podemos culpar Sarkozy, Merkel e Cameron pelo clima que provocou os atentados de Oslo?»
Título do PÚBLICO de ontem
Portugal perdeu imigrantes em 2010. Presume-se que uma notícia com esta dê especial prazer a pessoas como Paulo Portas e… Anders Breivik
Francisco J. Gonçalves – Correio da Manhã
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No. We can't!
Apanhar com Sócrates outra vez é uma possibilidade tão real como ofensiva e uma autêntica agressão.
Nunca duvidei que um homem como Sócrates, especializado em criador de uma imagem para a papalvice reinante e genuinamente convencido ser senhor de competências mais ou menos insondáveis, mas que ele acha serem essenciais para o manejo e gestão deste país, não considerasse como uma indiscutível possibilidade regressar à ribalta, após um período de nojo a que a oposição rasteira e a impreparação dos portugueses e das portuguesas o obrigaram. Acresce que as suas múltiplas aptidões para um clima de promiscuidade entre as empresas, o Estado e pessoas avulso lhe conferem, ele julga, um imperecível currículo para, de novo, se sacrificar pela grei e retomar a senda do animal feroz com que os seus prosélitos o alcunharam e ele gostou.
Voltar a ter Sócrates no horizonte é uma agressão à inteligência das pessoas, é um atentado à tranquilidade política de todos nós, é uma desconstrução de tudo aquilo que deveríamos esperar na reedificação de algum prestígio internacional, desenvolvimento, progresso e justiça social. Voltar a ter Sócrates no horizonte é, ainda, a ratificação de um fenómeno político e social, consubstanciado na existência de uma clique raivosa que sente em perigo as prebendas alcançadas e que tudo fará para as manter. Essa clique está já a trabalhar a todo o vapor. Na lavagem de uma das mais sujas imagens da nossa realidade política desde o 25 de Abril e, gradual mas firmemente, na sua reintrodução no horizonte político.
Esta capa do último Expresso, bem reveladora da luminária actual que dá pelo nome de Ricardo Costa, justamente com o recrudescimento de comentaristas, politólogos e fazedores de opinião, é um exemplo vivo desta reflexão. O arranjo gráfico é patético (um Cavaco feio e velho e um Mário Soares fresco e simpático) e a própria entrevista chegam a ser obscenos (foi uma pena que Sócrates e Passos não se entendessem… diz Soares). Também me ocorre uma entrevista de Lídia Jorge onde, por entre uma série de vacuidades, como o futuro está nas mãos de países com a Rússia e a União Indiana (sic), Lídia diz que o grande problema em Portugal é a diferença entre os ricos e os pobres. No último governo de Sócrates, ele ainda tentou corrigir a situação, mas depois a coisa derrapou, disse ela. Assim mesmo… sem se rir, com esta simplicidade e esta desfaçatez.
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