terça-feira, maio 15, 2012

O fado dos martrindindes





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Acabei de entrar num café em Benguela, com um colega. Entrámos num recinto limpinho e bem ataviado com garrafas de Bols, Licor Beirão e outros licores portugueses, bem assim como várias garrafas de uísque. Nas prateleiras, uma tabuleta dizendo: «Bebidas expostas só para consumo da casa». Na orla da sala espraiavam-se meia dúzia de mesas redondas servida por umas cadeiras maneirinhas de tampos obviamente desproporcionadas para as «bundas» em uso corrente pelas moças bonitas, «jinguçadas» e «natural born adiantadas». Ao meio, umas quantas mesinhas redondas, sem bancos, do tipo em que nos quedamos de pé, tomando um café, de resto o que fizemos, sendo que me obriguei a tomar um café Delta que os portugueses insistem em considerar um bom café. Um familiar balcão de vidro expunha… veja-se… pastéis de feijão, pastéis de nata, bolas de Berlim, palmiers e outros notáveis da fidalguia pasteleira portuguesa, em tudo semelhantes aos que vemos em Lisboa, descontados o ENORME tamanho das bolas de Berlim e alguma palidez dos pastéis de nata. Em cima, alguns letreiros avisando que se servia «pizzas», café e bolos, sandes (escrito assim mesmo), refrigerantes e cerveja. Nas prateleiras abaixo dos olhos, alinhavavam-se garbosas garrafinhas de Compal, Sumol, água do Caramulo, cerveja Sagres, néctar, garrafinhas de água do luso e Caramulo.

Olhei através da vidraça e um olhar atento confirmou-me que estava numa rua duma cidade africana, a avaliar pelo caos do trânsito, motos, motinhas e motoretas, carrocinhas vendendo banana, mamão, banana-macaco, batata-doce e ginguba, tudo no meio de reluzentes jipões de alto luxo e numa moldura de pujantes acácias que lá para Novembro se vão vestir do fogo das suas enormes flores.

Regressei ao cenário «tuga» do café. E pensei que podemos ter sido muito maus em muitas coisas. Mas que de uma deficiente transmissão de hábitos a povos culturalmente tão diversos de nós como os africanos nunca sejamos acusados. Africanos simpáticos e sorridentes, jingões, falando português e comendo pasteís de nata e de feijão, bebendo café delta… só nós mesmos, tugas ajuramentados que devemos ter um não-sei-quê que, apesar de tudo, nos torna apelativos.
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quarta-feira, agosto 17, 2011

hoje está-me a dar para aqui. Para ali. Para lá... para África



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Se me pedissem para mencionar duas belezas superlativas de Angola e de Moçambique, diria que Moçambique tem o espectáculo único dos fundos do mar cobertos de fauna e flora que lhes conferem um cenário onírico e que não é possível sequer imaginá-los antes de serem vistos. E que tem as praias orladas de vegetação até à beirinha do mar, muitas vezes com a copa das árvores beijando a espuma das ondas ou disseminando-se em extensos mangais. E os grandes rios. E que Angola tem a magia da diversidade onde cabem o deserto do Namibe, a floresta equatorial do Maiombe, os planaltos das anharas e bissapas do Huambo, Bié e Moxico, cenários de fazer parar a respiração como a Leba, a fenda da Tundavala, as quedas do Duque, o estuário do Quanza, a irrequietude do Queve e… isso, a música. A música angolana é superlativa (acho que já é a segunda vez que emprego este termo no post) e eu acho que, injustamente, as pessoas não se apercebem disso. Gostam, mas acham que faz parte do cardápio, tão habituadas estão às coisas boas angolanas.

Este Muxima do Waldemar Bastos (que eu confesso conhecia apenas na versão do Ouro Negro) é um hino à melodia, aos céus de fogo angolanos, à nostalgia das sombras e das silhuetas, às neblinas e à mais pura das sensibilidades do poeta que o angolano muitas vezes não sabe que é. Este Muxima serve de fundo a uma galeria de cerca de cinco minutos de slides lindíssimos com algumas das imagens de marca angolanas. Ainda assim uma muito pequena parcela das belezas daquele fabuloso território.
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quarta-feira, outubro 17, 2007

Coisas e nomes de que dá pouco jeito falar









«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»



Sita Valles









Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, Purga em Angola. Nito Alves, Sita Valles, Zé Vandunem e o 27 de Maio de 1977. Edições ASA

Outros links úteis, todos recolhidos no A Origem das Espécies:
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sexta-feira, março 09, 2007

Post dedicado

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Ao Pedro e à Marta. Com um grande beijo.

Ver
aqui, só o Huambo, anos setenta. Em baixo, um vídeo com imagens de Luanda, tempos actuais.




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