Sweet August
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Hoje saí cedo de casa. Ao longo da marginal inebriei-me com a luz de Lisboa, o azul do mar e a brisa salgada e quase fria cuja entrada eu permitia por uma nesga da janela direita do carro, me acariciava o rosto e saía pela janela oposta. O contraste entre o asfalto preto e a brancura das linhas de tráfego era por demais evidente e apenas um reduzido número de viaturas circulava na esquadria do meu horizonte próximo.
A música saía baixinho, melodiosa e isenta da cascata de notícias e anúncios publicitários usuais noutros meses. Noutros meses… de repente apercebo-me das razões do «milagre». Estamos em Agosto, o mês que a natureza nos oferece para nos concedermos à abstracção dos grandes problemas e do frenesi do dia-a-dia, para percebermos como há coisas pequenas na vida que de tão boas que são nos fazem sentir uma felicidade extrema, pela mera condição de estarmos vivos. A natureza oferece-se, passiva, sem nos exigir nada em troca que não seja repararmos nela. É o milagre de Agosto. O mês em que a esmagadora maioria dos portugueses gosta de ir para o Algarve, «bichar» para meter combustível, esperar longos períodos em pé por uma mesa de um restaurante, literalmente lutar por um metro quadrado de praia e desejar um «sinaleiro» para não chocar com o tráfego de veraneantes nadando, incluindo aqueles que gostam muito de «boiar», dos quais vemos assomar à superfície da água a extremidade do nariz e uma volumosa barriga. Ou, ainda, entrechocar-se pelos ombros, na multidão de veraneantes que enxameiam as ruas apertadas e de atmosfera tropical, circulando sem saber bem para onde querem ir ou o que andam a fazer, até Agosto acabar.
Por Lisboa é o milagre de Agosto, como atrás dizia. Como o Nelson e a Sara do Sweet November, também o Agosto em Lisboa é sweet e convida as pessoas a reparar nele e a desfrutá-lo com volúpia e sem reserva. Retirar dele a essência das tantas coisas boas e bonitas, esquecendo que o nosso fim de Agosto é o fim do Novembro de Sara. A realidade regressará e a nossa existência emaranhar-se-á, de novo, no turbilhão que criámos para vivermos todos os dias, na ilusão de que somos felizes. Ou, quem sabe até, na quimera do Agosto do ano seguinte para regressarmos, de novo, ao caos algarvio, com a estúpida alacridade do costume.
Por isso, esta manhã me foi particularmente grata. Não que eu tenha revisto a Charlize e Keanu de novo, pelo contrário, já nem me lembro da última vez que vi o filme mas, por qualquer razão que me escapa, ele veio-me à lembrança. E, talvez por isso, me entreguei a este Agosto voluptuoso de que esta manhã se constituiu numa maravilhosa amostra. Amostra de um «Sweet August». Before it ends!
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Hoje saí cedo de casa. Ao longo da marginal inebriei-me com a luz de Lisboa, o azul do mar e a brisa salgada e quase fria cuja entrada eu permitia por uma nesga da janela direita do carro, me acariciava o rosto e saía pela janela oposta. O contraste entre o asfalto preto e a brancura das linhas de tráfego era por demais evidente e apenas um reduzido número de viaturas circulava na esquadria do meu horizonte próximo.
A música saía baixinho, melodiosa e isenta da cascata de notícias e anúncios publicitários usuais noutros meses. Noutros meses… de repente apercebo-me das razões do «milagre». Estamos em Agosto, o mês que a natureza nos oferece para nos concedermos à abstracção dos grandes problemas e do frenesi do dia-a-dia, para percebermos como há coisas pequenas na vida que de tão boas que são nos fazem sentir uma felicidade extrema, pela mera condição de estarmos vivos. A natureza oferece-se, passiva, sem nos exigir nada em troca que não seja repararmos nela. É o milagre de Agosto. O mês em que a esmagadora maioria dos portugueses gosta de ir para o Algarve, «bichar» para meter combustível, esperar longos períodos em pé por uma mesa de um restaurante, literalmente lutar por um metro quadrado de praia e desejar um «sinaleiro» para não chocar com o tráfego de veraneantes nadando, incluindo aqueles que gostam muito de «boiar», dos quais vemos assomar à superfície da água a extremidade do nariz e uma volumosa barriga. Ou, ainda, entrechocar-se pelos ombros, na multidão de veraneantes que enxameiam as ruas apertadas e de atmosfera tropical, circulando sem saber bem para onde querem ir ou o que andam a fazer, até Agosto acabar.
Por Lisboa é o milagre de Agosto, como atrás dizia. Como o Nelson e a Sara do Sweet November, também o Agosto em Lisboa é sweet e convida as pessoas a reparar nele e a desfrutá-lo com volúpia e sem reserva. Retirar dele a essência das tantas coisas boas e bonitas, esquecendo que o nosso fim de Agosto é o fim do Novembro de Sara. A realidade regressará e a nossa existência emaranhar-se-á, de novo, no turbilhão que criámos para vivermos todos os dias, na ilusão de que somos felizes. Ou, quem sabe até, na quimera do Agosto do ano seguinte para regressarmos, de novo, ao caos algarvio, com a estúpida alacridade do costume.
Por isso, esta manhã me foi particularmente grata. Não que eu tenha revisto a Charlize e Keanu de novo, pelo contrário, já nem me lembro da última vez que vi o filme mas, por qualquer razão que me escapa, ele veio-me à lembrança. E, talvez por isso, me entreguei a este Agosto voluptuoso de que esta manhã se constituiu numa maravilhosa amostra. Amostra de um «Sweet August». Before it ends!
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Etiquetas: coisas boas, coisas bonitas, coisas simples
4 Comments:
Que post gostoso!
Você é uma pessoa especial.
Maria do Rosário
A gentileza habitual da Rosário. Obrigado.
:))
Como eu gosto de o ler quando escreve assim tão... sweetemente!
Beijinhos
Lurdes
E de vez em quando lá vem um afago gentil do Norte :)
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