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A história conta-se rápido. Ele era emigrante na Alemanha, vai daí era Agosto e como em Agosto se vem a Portugal ele resolveu vir, até porque queria dar um beijinho ao paizinho que estava doente no hospital, não se sabe bem a doença, mas estava doente e ele queria dar-lhe um beijinho. O nosso homem meteu-se à estrada mas antes, não esqueçamos, foi a casa fazer a mala e lá partiu ele, sem reparar que andava cansado e com sono. Vai daí, chega a Espanha, «dá-le» o sono e perdeu o controle da viatura e - pimba esbarrou contra um camião que vinha de frente. O carro esmagou-se e os ossinhos dele ficaram todos em fanicos pela estrada fora, uma desgraça. Mas uma desgraça nunca vem só, ele trazia a mulher e um filhinho, também iam dar um beijinho ao avozinho depois de comer uma sopinha e - pimba. Morreram todos, os desgraçadinhos, os «felizbertos», ali, na estrada, feitos em faniquinhos, os ossinhos espalhados pela estrada. Pior mesmo foi quando o pai dele, doente no hospital, soube da notícia. Ao perceber que já não ia ter o beijinho do filhinho deu-lhe um fanico… e morreu, que Deus o tenha.
Daí para a frente perdi a fio à meada, acho que o funeral foi muito bonito com muitas flores, com os sinos repicando, mulheres chorando, algumas mesmo desmaiando e assim. E apareceu um senhor, um tal de Graciano Saga, que achou que devia fazer desta história o hino do emigrante. E desatou a cantar, cantou a desgraça e toda a gente chorava no cemitério e o Graciano acabou a recomendar vivamente que «vênhamos» todos devagar, sem pressa de chegar, para Portugal abraçar. E que vale mais perder um minuto na vida que a vida num minuto – esta não conhecia, mas está bem «alembrada». Perder a vida num minuto não dá jeito, é um desperdício e tem ainda que às tantas nem um beijinho ao pai doente no hospital damos. E o pai morre e tudo - sem o beijinho já se vê.
Tragédias à parte, interrogo-me se haverá paralelo no mundo para este «fado», concluo que Herman José foi um grande humorista e que pena que ele nunca mais tenha pedido ao Felizberto Desgraçado para cantar um faduncho – mesmo daqueles com letra do meu marido, com música do gajo que vive comigo e dedicado ao gajo da mesa do canto.
Letra do hino já a seguir. Avisa-se as almas sensíveis que pode dar para chorar. Ora choremos, é ouvir aqui:
Via João Condeixa
"Imigrante vem devagar por favor,
Temos muito tempo para lá chegar
E depois, lá diz o velho ditado:
Mais vale um minuto na vida,
Do que a vida num minuto."
Passou-se no mês de Agosto,
Este drama tão cruel
De um imigrante infeliz. Foi tanta a pouca sorte,
Na estrada encontrou a morte
Quando vinha ao seu país.
Do trabalho veio a casa,
Preparou a sua mala
e partia da Alemanha.
Mas seu destino afinal
Acabou por ser fatal
Numa estrada em Espanha.
Dizem aqueles que viram
Que ele ia tão apressado
A grande velocidade.
Foi o sono que lhe deu
O controlo ele perdeu
Desse carro de maldade.
Foi o sono que lhe deu
O controlo ele perdeu
Desse carro de maldade.
Trazia na sua mente
Ir ver o seu pai doente
Que estava no hospital.
Na ideia um só pensar
O seu paizinho beijar
Ao chegar a Portugal.
Mas tudo foi de repente
Partiu de Benavente
O drama aconteceu.
Ele vinha tão cansado.
De tanto já ter rolado
E então adormeceu.
Nada podendo fazer
Num camião foi bater
E deu-se o choque frontal.
Seu carro se esmagou
E desfeito ele ficou
Num acidente mortal
Seu carro se esmagou
E desfeito ele ficou
Num acidente mortal
Ele não vinha sozinho
Trazia também consigo
Sua mulher e filhinho.
Sem dar conta de nada
E naquela madrugada
Morrem os três no caminho.
Quando a notícia chegou
No hospital alguém contou
O desastre que aconteceu
Seu pai que tanto sofria
Nunca mais o filho via
Fechou os olhos morreu.
Imigrantes oiçam bem
Não vale a pena correr
Porque pode ser fatal.
Venham todos devagar
Há tempo para cá chegar
E abraçar Portugal
Venham todos devagar
Há tempo para cá chegar
E abraçar Portugal
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