Comer bem, apesar de
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Um dos insondáveis mistérios da vida portuguesa é a nossa extraordinária capacidade para cozinharmos bem, transformando qualquer prato trivial num pitéu. Mistério porque se analisarmos o circuito «peça a peça» tudo parece conjugado para que a coisa corra mal. Falando de restaurantes do tipo «porta sim porta não» que abundam pela cidade e onde diariamente milhares de lisboetas como eu têm compulsivamente de almoçar, é de registar como na maioria deles se come bem e barato. Há meias doses a €6 e mini pratos a €5. Comida caseira, bem apaladada, tempero ajustado e… fiquemos por aqui porque se começarmos a reparar «peça a peça», como dizia lá trás, não dá para entender. Espaços exíguos, extracção de fumos deficiente, calor opressivo (há sempre um mastigante preocupado com a corrente do ar condicionado e respectivos ácaros), atoalhados de papel, lavabos a centímetros de uma mesa, cadeiras encavalitadas em espaços a lembrar os voos «low cost», barulho infernal de vozes misturadas com toques de telemóvel que vão desde a Cavalaria Rusticana ao último êxito do José Carreira, passando por trovoadas tropicais ou orgasmos lancinantes, som estilhaçante de pires e chávenas em permanente choque a serem depositados no topo de máquinas de café, gente em pé à espera que acabemos de comer para assaltarem as mesas, enfim, um cenário que me levou seguramente dez anos a entender, quando percebi que dali para a frente seria assim, teria de almoçar todos os dias fora. Mas depois… vem a patanisca com o arroz de feijão, a alheira… o bitoque da vazia, as favas à portuguesa, a feijoada, as iscas com elas, o bacalhau ou o polvo a murro e toda uma série de iguarias que tivemos a dita de saber manipular ao ponto do resto ser mais ou menos suportável. Mas que dá que pensar, dá. Como é possível que do verdadeiro caos que é hoje um restaurante barato em Lisboa saia um prato de boa comida, mesmo que não devamos eventualmente fazer muitas perguntas de como é que ela feita, é, para mim, um verdadeiro mistério.
Um dos insondáveis mistérios da vida portuguesa é a nossa extraordinária capacidade para cozinharmos bem, transformando qualquer prato trivial num pitéu. Mistério porque se analisarmos o circuito «peça a peça» tudo parece conjugado para que a coisa corra mal. Falando de restaurantes do tipo «porta sim porta não» que abundam pela cidade e onde diariamente milhares de lisboetas como eu têm compulsivamente de almoçar, é de registar como na maioria deles se come bem e barato. Há meias doses a €6 e mini pratos a €5. Comida caseira, bem apaladada, tempero ajustado e… fiquemos por aqui porque se começarmos a reparar «peça a peça», como dizia lá trás, não dá para entender. Espaços exíguos, extracção de fumos deficiente, calor opressivo (há sempre um mastigante preocupado com a corrente do ar condicionado e respectivos ácaros), atoalhados de papel, lavabos a centímetros de uma mesa, cadeiras encavalitadas em espaços a lembrar os voos «low cost», barulho infernal de vozes misturadas com toques de telemóvel que vão desde a Cavalaria Rusticana ao último êxito do José Carreira, passando por trovoadas tropicais ou orgasmos lancinantes, som estilhaçante de pires e chávenas em permanente choque a serem depositados no topo de máquinas de café, gente em pé à espera que acabemos de comer para assaltarem as mesas, enfim, um cenário que me levou seguramente dez anos a entender, quando percebi que dali para a frente seria assim, teria de almoçar todos os dias fora. Mas depois… vem a patanisca com o arroz de feijão, a alheira… o bitoque da vazia, as favas à portuguesa, a feijoada, as iscas com elas, o bacalhau ou o polvo a murro e toda uma série de iguarias que tivemos a dita de saber manipular ao ponto do resto ser mais ou menos suportável. Mas que dá que pensar, dá. Como é possível que do verdadeiro caos que é hoje um restaurante barato em Lisboa saia um prato de boa comida, mesmo que não devamos eventualmente fazer muitas perguntas de como é que ela feita, é, para mim, um verdadeiro mistério.
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Etiquetas: Odores lisboetas
3 Comments:
Huummmm...nham...nham...nham...e as sobremesas?!?!?..ah os doces conventuais e outros tantos "tentugais"!...que perdição!!!***
Dulce Braga
E papos de anjo...e os abades de prisco...e outros impulsionadores de centímetros :)). Uns benvindos, outros... nem por isso :))))
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ai meu regime de emagrecer! hehe
quanta maldade escrever em publico tantos pecados! hahahah
Um dia ainda vou a Portugal e vou ver de perto os lugares que apenas sonho e experimentar os sabores que apenas imagino!
abraços queridos!
Meire Melo Curitiba Brasil
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