Carta aberta ao presidente George Bush
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Senhor Presidente
Venho através da presente apresentar-lhe sinceras desculpas por um facto lamentável que passo a expor sucintamente.
Esta manhã, a estação oficial de televisão do meu país deu a notícia do aparecimento de uma chuva de jogos de computador relacionados com o episódio do sapato que lhe atiraram em Bagdad. Enquanto a notícia desfilava uns quantos jogos, alguns deles, havemos de confessar, com muito humor, uma voz-off de um apresentador ia dando a notícia. Num dos jogos, o apresentador, num arroubo de consciência crítica, disse que o jogo parecia uma cena dos "três estarolas", cena em que aliás Bush iria muito bem no papel (sic).
Peço-lhe desculpa pelo facto da estação pública de televisão do meu país não ter consciência disso mesmo, que é pública e que não pode permitir-se "dichotes" deste género quando se refere à figura de um presidente da república. O que acontece é que em Portugal os jovens vão para as faculdades e aprendem mais depressa a não gostar de si e a saber como resolver os problemas do Iraque e do Afeganistão do que a expressar-se na própria língua materna. O resultado é este. Vão trabalhar para televisões e jornais e uma grande maioria deles fala mal e escreve pior. São erros atrás de erros mas, por outro lado, aprenderam que o senhor é uma besta quadrada, um imbecil, um atrasado mental, o responsável pelos males do mundo e, provavelmente, de outros mundos que porventura existam e que o povo americano é semi-idiota porque elegeu por duas vezes um energúmeno como o senhor.
Também sabem que podem dizer o que lhes apetece numa estação pública porque ninguém lhes diz que são pagos por mim e pelos outros cidadãos, a partir de uma elevadíssima carga fiscal e, sobretudo, ninguém lhes explica que se quiserem dizer mal de si podem escrever um livro ou, em última análise, abrir um blog, onde podem escrever o que lhes der na real gana.
Peço-lhe, assim, desculpa, pelo facto de estar sujeito a que um fedelho qualquer que, quase de certeza, nada sabe de si a não ser que o senhor é uma besta inculta e perigosa, que foi o que os professores e as brigadas de uma coisa que nós cá temos e que se entretém a visitar as universidades e que dá pelo nome de bloco de esquerda lhe ensinaram. Peço-lhe ainda desculpa pelo facto de a Rádio Televisão Portuguesa, um órgão institucional com profissionais pagos por mim e pelos restantes cidadãos, não dispor de responsáveis que interpelassem de imediato o garotelho da notícia dos jogos e lhe explicassem que uma televisão oficial não chama "estarola" a um presidente de república. E não interpelam porque, se calhar, eles próprios acharam muita graça.
Atenciosamente,
Senhor Presidente
Venho através da presente apresentar-lhe sinceras desculpas por um facto lamentável que passo a expor sucintamente.
Esta manhã, a estação oficial de televisão do meu país deu a notícia do aparecimento de uma chuva de jogos de computador relacionados com o episódio do sapato que lhe atiraram em Bagdad. Enquanto a notícia desfilava uns quantos jogos, alguns deles, havemos de confessar, com muito humor, uma voz-off de um apresentador ia dando a notícia. Num dos jogos, o apresentador, num arroubo de consciência crítica, disse que o jogo parecia uma cena dos "três estarolas", cena em que aliás Bush iria muito bem no papel (sic).
Peço-lhe desculpa pelo facto da estação pública de televisão do meu país não ter consciência disso mesmo, que é pública e que não pode permitir-se "dichotes" deste género quando se refere à figura de um presidente da república. O que acontece é que em Portugal os jovens vão para as faculdades e aprendem mais depressa a não gostar de si e a saber como resolver os problemas do Iraque e do Afeganistão do que a expressar-se na própria língua materna. O resultado é este. Vão trabalhar para televisões e jornais e uma grande maioria deles fala mal e escreve pior. São erros atrás de erros mas, por outro lado, aprenderam que o senhor é uma besta quadrada, um imbecil, um atrasado mental, o responsável pelos males do mundo e, provavelmente, de outros mundos que porventura existam e que o povo americano é semi-idiota porque elegeu por duas vezes um energúmeno como o senhor.
Também sabem que podem dizer o que lhes apetece numa estação pública porque ninguém lhes diz que são pagos por mim e pelos outros cidadãos, a partir de uma elevadíssima carga fiscal e, sobretudo, ninguém lhes explica que se quiserem dizer mal de si podem escrever um livro ou, em última análise, abrir um blog, onde podem escrever o que lhes der na real gana.
Peço-lhe, assim, desculpa, pelo facto de estar sujeito a que um fedelho qualquer que, quase de certeza, nada sabe de si a não ser que o senhor é uma besta inculta e perigosa, que foi o que os professores e as brigadas de uma coisa que nós cá temos e que se entretém a visitar as universidades e que dá pelo nome de bloco de esquerda lhe ensinaram. Peço-lhe ainda desculpa pelo facto de a Rádio Televisão Portuguesa, um órgão institucional com profissionais pagos por mim e pelos restantes cidadãos, não dispor de responsáveis que interpelassem de imediato o garotelho da notícia dos jogos e lhe explicassem que uma televisão oficial não chama "estarola" a um presidente de república. E não interpelam porque, se calhar, eles próprios acharam muita graça.
Atenciosamente,
Já depois deste episódio ouvi Chávez a emitir a sua corajosa opinião sobre a cena do sapato. Concluo que há razões efectivas para os amores correntes entre nós e os venezuelanos. É que estamos bem uns para os outros.
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Etiquetas: Ai Portugal, Bush, jornalistas, rtp
4 Comments:
Mesmo achando que o Bush não é flor que se cheire, subscrevo.
vê lá isto: http://www.guardian.co.uk/news/blog/2008/dec/18/george-bush-christmas-video-barney e depois vê se ainda tens vontade de mandar cartinhas simpáticas para o Bush...
Teófilo M.
Aja alguém que me compreenda que não estava a afazer a aplogia de Bush
:)
Springhasasister
Vê lá o meu comentário anterior...
E já vi vários vídeos de jogos, mas nada disso tem a ver com o sentido do post.
:))
beijinho
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