domingo, dezembro 28, 2008

Ainda a hipocondria nacional


[2851]

Sobre o tema do meu post abaixo, a Cristina acrescenta alguma coisa, com a riqueza de pormenores habitual, neste comentário/resposta a um outro comentário sobre este post:

"...estamos a falar de idas à urgência completamente desnecessárias. As pessoas tossem, vão pra urgência. Têm febre há 24 horas, vão pra urgência. Têm uma diarreia vão pra urgência. Ficam mal dispostas depois de se empanturrarem com a ceia de Natal (na minha noite, destes, foram dezenas) vão prá urgência. Não conseguem dormir, vão pra urgência. Têm uma tontura, vão pra urgência. Zangam-se com a familia vão pra urgência porque estão nervosos. Têm um calo que doi mais naquele dia, vão pra urgência. Embebedam-se (estes tb são dezenas), vão pra urgência. Não têm familia, vão pra urgência queixar-se da dor nas costas de há 1 mês porque sempre têm "cinema" à volta. Agora veja isto num universo de 700 000 habitantes. 500 estiveram lá na noite de natal. sabe quantos internei? uns 20, talvez. Portanto, veja a gravidade das situações. É disso que estamos a falar e nada mais. Parece que ficou tudo histérico..."

"...uma pessoa com gripe não precisa de ir para a urgência dos hospitais. A não ser que seja velho, ou tenha falta de ar ou tenha alguma outra doença que possa ser agravada. O curioso é que antigamente as pessoas tinham mais noção disso que agora. Tomavam umas aspirinas e coisas quentes, agasalhavam-se, e esperavam que passasse. Agora não, entra tudo em histeria. Que coisa..."

Deprimente!
.

Etiquetas: , , ,

segunda-feira, março 24, 2008

Sofrer dos ossos


[2407]

Milhares de portugueses submetem-se diariamente a sessões de fisioterapia. Portugal deve ser o país do mundo onde se usa mais fisioterapia, desde os pacientes que se levantam de madrugada e se deslocam muitos quilómetros para uma sessão, até àqueles que aguardam que o fisioterapeuta lhes entre em casa, armado de toalhinhas, óleos, parafinas e outros artigos milagrosos, preparados para cobrar entre €25 e €150/hora. A maior parte porque "sofre dos ossos". É uma doença vaga, claramente muita gente não sabe o que é sofrer de ossos nem isso interessa. Mas sofrer dos ossos é suficientemente abrangente para que o português se entregue ao tratamento nacional em que a fisioterapia se tornou. Pacientes interrogados sobre o porquê de andarem durante anos, repito, anos, a fazer terapia, já que a fisioterapia faz assim tão bem, são evasivos e limitam-se a afirmar que sofrem dos ossos, têm artrites, hérnias ou deram um jeito a apanhar o sabonete na banheira.

Contrariamente ao que se possa julgar, não serão só os idosos a fazer fisioterapia. Muitos são de meia-idade ou mesmo jovens. O fenómeno entranhou-se e faz parte do enquadramento dos portugueses. Há um caso recente de uma família, pai, mãe e filha, que morreram tragicamente num desastre de ambulância que os transportava para tratamentos de fisioterapia, porque sofriam dos ossos. Foi, pelo menos, a razão invocada pela comunicação social.

As razões do fenómeno serão muitas mas quem conhece bem Portugal e os portugueses não terá muita dificuldade em entendê-lo e inscrevê-lo num dos muitos sintomas da hipocondria nacional .

Como é evidente, não se discute os casos em que a fisioterapia é um poderoso e adequado meio de restabelecimento e cura de muitos doentes.

.

Etiquetas: , ,