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Lagoa do Massabi. Situada a norte de Cabinda, faz fronteira com a Repúblida do Congo. Região de floresta luxuriante, do tipo equatorial, habitat de excelência para jibóias, papagaios e, segundo testemunhos locais, ainda de alguns gorilas.
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A Canja
As pessoas sentadas à mesa. Eu, o meu director geral, o administrador do grupo em Lisboa e o gerente local de uma fazenda de café e óleo de palma (conhecido pelas suas extravagâncias).
O Administrador: - Mas que rica canja, não é?
Eu: - (olhando para a sopa, branquinha, saborosa e com os fiapos de carne boiando no caldo e uma folhinha de hortelã) Sim, está muito boa. Este cozinheiro merece os parabéns.
Director: - (Metendo outra colherada à boca) Também acho, está óptima. A não ser que seja por estarmos cheios de fome, depois da caminha pelo cafezal.
Gerente: Sim, este cozinheiro é óptimo. E o que é bom é que eu só preciso de lhe dizer: Olha, somos x pessoas. O resto é com ele.
Administrador: - A canja está realmente muito boa. Para mim, só lhe falta uma coisa que eu gosto muito. A moela. Gosto imenso de encontrar a moela na canja.
Gerente: Mas, Ó senhor Coronel, as jibóias não têm moela!
(Cai o pano e não caímos nós todos da cadeira já nem sei porquê. Mas a canja ficou por ali e ficámos a aguardar o prato seguinte. E continuámos a comer. Não sem que tivéssemos perguntado 100 vezes, primeiro, de que bicho eram os bifes que vieram para a mesa…
A jibóia
Numa caminhada por um cafezal, tive necessidade absoluta de me afastar do grupo em que estava integrado e retirar-me para a intimidade de uma pequena clareira na floresta espessa onde, agachado, dei livre curso à fisiologia, que todos somos filhos de Deus e, concomitantemente, sujeitos aos caprichos do organismo.
Estava eu, já aliviado, meditando sobre se aquilo que eu acabara de fazer não caberia na tão cantada lista das melhores coisas do mundo, quando no maciço de folhagem e a pouco mais de um metro da cara vejo aquilo que me parece ser uma coisa que mexia. Levantei-me, tipo mola, recuando um par de metros. A tempo de ver «um bocado» de uma jibóia (e digo um bocado, porque não lhe vi a cabeça nem a cauda) deslocando-se lentamente. A bicha estava claramente incomodada pela minha presença e provavelmente, estaria a colocar-se em posição de defesa. Ou, quem sabe, de pituitária susceptibilizada pelo odor humano, particularmente dadas as circunstâncias, teria decidido «mudar de ares».
Não sei se alguma vez viram um jovem a correr com as calças da mão. Foi-me dito mais tarde que eu parecia a personagem de uma daquelas anedotas em que um homem é obrigado a uma retirada estratégica de um quarto de uma dama, sem tempo sequer para apertar o cinto, mas não achei muita graça.
Lamentavelmente, poucos minutos depois, uma equipa de batedores apareceu, matou a jibóia e nessa noite houve festim na aldeia.
Estes dois episódios, rigorosamente verdadeiros, vêm a propósito do ataque terrorista à equipa de futebol do Togo, participante no CAN. Porque conheço exactamente o local do ataque, no Massabi, numa estrada que liga a lagoa à fronteira com a República do Congo, a caminho de Pointe Noire. Eu era um jovem recém-formado e nas minhas atribuições cabia o futuro acompanhamento da fazenda de óleo de palma e café.
Curiosamente o director da altura é o meu CEO actual.
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