O andor do costume
Foto retirada, com a devida vénia, do Ma-schamba
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Pedro Vieira, no seu Irmão Lúcia, condensa uma opinião sobre o livro de Isabela Figueiredo e que tanta celeuma vai levantando.
Para além de eu não me aperceber bem do facto de a celeuma ser assim tanta como Pedro Vieira diz (que me ocorra, está em curso um debate no Ma-Schamba e ouvi uma entrevista do Carlos Vaz Marques na TSF), causa-me alguma eripsela a sobranceria e a forma redutora como Pedro Vieira cataloga os livros bafejadinhos de nostalgia, com pretinhos em fundo, sobretudo se escrito por mulheres que não falam como catrapilas, nem sejam supostas falarem de cona.
A chatice com estes livros, como o desta Isabela Figueiredo, é que são tão rapidamente inquinados com críticas supostamente elevadas, intelectualmente estruturadas e alicerçadas com a opinião de quem, na maioria das vezes, nunca pôs um pé em África e acha que percebe imenso do assunto depois de ler algumas notícias da época e um par de livros do Agualusa, Pepetela, Craveirinha ou Mia Couto (não faço ideia se é o caso de Pedro Vieira, ele até sabe que havia campos de concentração com sabor a caril, 7’s de Setembro e correlativos, é até natural que conheça, vá-se lá saber) que uma pessoa começa a leitura já condicionada pela matriz de análise que nos foi instilada.
Mas não é do livro que quero falar. Vi muitos «livros de Isabela Figueiredo» ao vivo e a cores e isso pode ficar para depois. O que francamente irrita é o atestado de menoridade que se passa a livros de grande beleza, valor literário e, sobretudo, de tocante genuinidade, que são publicados e passam mais ou menos despercebidos nos escaparates das livrarias se não forem acompanhados pela fanfarra e andor do costume, id est toda a claque da nossa esquerda modernaça e a obrigatória culpabilização pelos despertares matinais dos colonos que acordavam a pensar «quantos pretos se iria matar nesse dia sem dizer nada à polícia» ou com que idade é que se começava a «ensinar aos filhos que as pretas tinham conas mais largas que as mulheres brancas».
Há livros muito genuínos, de grande riqueza narrativa, muito deles escritos por portugueses que nasceram em África e que nem por isso tiveram pais como Isabela Figueredo refere. Alguns desses serão enviesados por uma óptica saudosista e emocional e, provavelmente, desfocados da realidade da presença dos portugueses brancos em África. Outros, muitos, foram escritos com a vivacidade, verdade e honestidade de quem conheceu África profundamente, a amou e, sobretudo, não resolveu escrever um livro depois de uma sessão de psicanálise e ter descoberto que as nossa colónias estiveram entregues a um bando de filhos de puta. Ainda por cima, analfabetos e curtos de vista.
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Etiquetas: África terra bruta que até à papaia lhe chamam de fruta, esquerda (s), literatura
10 Comments:
E ainda há quem tenha feito do livro a sessão de psicanálise!;)***
Não resistes pá. É só falarem-te em goiabas, mangas, cruzeiros do Sul, coqueiros e berrebéubéu :D
eu nao li o livro mas do que li ai pelos blogs da-me pica estas gajas que aos doze anos ja sabem tudo depois da-lhes uma coisa e descobrem o resto. Desculpa os acentos mas aqui nao da!!!
os campos de concentração com sabor a caril deve querer referir-se aos campos onde foram concentrados os oriundos da India (não tenho a certeza se goeses [católicos] também, mas penso que não mas para certezas teria que ir ler) aquando da tomada de Goa pela India.
sobre o resto - a polémica, a recepção, o impacto bloguístico - terá muito mais a ver com dimensóes sociológicas (grupos de interesses e de comunhóes, e de "visões do mundo" - legítimos, normais, nao estou a imputar malfeitorias a ninguém) do que ao próprio livro em si. Acho que este caiu muito bem numa área ligada ao "denuncionismo". Outros cairão melhor numa área dada ao "apaziguamento", nada mais.
cumprimentos
Dulce Braga
Não necessariamente deste livro... mas doutros, com certeza :)))
**
IL
Esqueceste-re dos mamões, das queimadas, das barracudas do Banco Chinas, do cajú, das pitangas e dos maboques... Pois, acho que meteste tudo mo berébébéu :))))
Anónino
Se és quem julgo, o teu nome não leva acentos nem cedilhas... podias muito bem assinado :))
JPT
Meu caro JPT, o sentido do meu modesto post não apontava para o livro em si nem para os seus detalhes. Foi mais o cortejo laudatório em que este Potugalzinho é fértil sempre que o tema se põe a jeito. E o livro de Isabela Figueiredo, (na minha opinião, muito astuciosamente) «pôs-se a jeito». «Linguagem catrapila» (ó para o Pedro Vieira excitadíssimo com as expressões) e o uso e abuso de clichés que »vão muito bem» com a matriz política corrente. Tanto do livro como dele próprio, quando fala, pejorativamente, de outros livros publicados e que não se inscrevem no pensamento único que se desejaria aqui para a paróquia.
Um brande abraço para si. Tenho saudades de morrer aí de Moçambique. E não tem nada a ver com delírios saudosistas, pois fui e trabalhei aí já no período pós independência. Fui com contrato de 2 anos e fiquei 19... deve querer dizer alguma coisa :))
NR
Jpt
Ui, aquele saudades de morrer do comentário anterior devia ser aspeado, O «saudades de morrer» quer dizer apenas «muitas saudades», não é que eu queira morrer por aí. Abrenúncio :)))
Correcção feita.
pois, isso de chegar por pouco e muito ficar conheço o jeito ... mas nao escreva isso muito alto que a brigada do pós-reumático ainda por aqui lhe aparece aos gritos de "neo-colono"
cumprimentos
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