Nus
[1958]
Não tenho nada contra gente nua. Pelo contrário. Gosto de gente nua, gosto de nus em pintura, escultura, gosto de nudez em geral. Eu próprio guardo boas recordações de me banhar nu nas águas mornas do Índico e se nunca me banhei nas águas frias do Atlântico foi por puro desconforto. Talvez até por razões estéticas, para aproveitar a maré de conceitos estéticos que vai por aí e creio que nada mais inestético que um homem a sair, nu, de águas gélidas, daquelas que nos reduzem o corpo a uma expressão muito próxima da insignificância. E aqui falo de homens, como é evidente porque, falando de mulheres, o efeito do frio pode provocar efeitos de uma apreciável (lá está…) estética.
E, talvez por falta de assunto, as televisões têm vindo ultimamente a falar muito de naturismo. As loas ao nudismo multiplicam-se, ele é imagens de nudistas, ele é reportagens, ele é nus por toda a parte. Os portugueses, claro, tinham de condimentar a coisa (e coisa, aqui, entenda-se por tema em apreço) com umas queixinhas, que nós sem queixinhas não somos ninguém. Que há poucas praias e nas poucas que há, as condições são precárias. Não há bares, não há restaurantes, não há salas de estar, nem equipamentos de praia. Ora aqui…eu tenho reservas. Se andar nu é óptimo, andar a roçar-me, nu, por cadeiras onde minutos antes se roçaram as estimáveis partes pudibundas de outros suscita-me alguns pruridos de higiene. Pois se o vulgar pé de atleta é contraído sobretudo nas praias (uma das principais razões porque me nego a frequentar praias com muita gente), porque não haverá risco de se contrair vários problemas de saúde pelo facto de nos andarmos a sentar nus em regime de serviço público? Ou cada nu leva uma cadeira de casa? Ou cada nu vai ao restaurante de toalha para se poder sentar com um mínimo de higiene?
Mas, pronto. O que interessa é dispor de mais um tema para as televisões. Daqui a um par de semanas já ninguém fala no assunto outra vez…
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Etiquetas: nudismo
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