Getting bored kind of thing...
[1971]
Até aos 5 anos, toda a gente me dizia o que é que devia comer;
Até aos 10, toda a gente me dizia o que é que devia (começar) a ler;
Até aos 15, toda a gente me dizia o que é que eu devia ser quando fosse grande;
Até aos 20, toda a gente me dizia com quem é que eu havia de casar;
Até aos 30, toda a gente me dizia que tinha de honrar a pátria e combater por ela;
Até aos 40, toda a gente me dizia que tinha perdido uma guerra e que devíamos pensar todos da mesma maneira;
Até aos 50 toda a gente passou a dizer-me que toda a gente devia pensar de maneira diferente;
Daqui para a frente toda a gente se está nas tintas para o que penso mas acha que eu devo ser bem comportado. Que não devo fumar, nem comer carne vermelha, gorduras, açucares, álcool e cafeína, devo andar de bicicleta pelo menos uma vez por ano na marginal, ir de comboio para o trabalho pelo menos uma vez no dia anual sem carros, participar numa jornada de limpeza da Serra de Sintra e outra vez em limpeza de praias. Toda a gente me diz que roupa devo usar e, até, que carro devo comprar. Que devo procurar as praias de bandeira azul, participar em, pelo menos, uma demonstração anual a favor do ambiente, espalhar a palavra de que a partir dos dez anos toda a miudagem deve andar munida de preservativo e, ó ironia!, dar uma aula no liceu da minha filha sobre os malefícios dos agroquímicos no ambiente e nas vantagens da agricultura biológica. Que devo procurar um relacionamento sério, mas com uma mulher de carreira firmada, que não fume e tenha uma noção básica da sensação do orgasmo, com quem devo partilhar “tarefas”, nem que para isso seja necessário mandar a minha ucraniana para o desemprego.
Toda a gente me diz, afinal, tudo, mas ninguém me diz para me fazer o que me apetece. Que é, em última instância, a plenitude de vida de uma pessoa, fazer o quer, o que lhe apetece, o que lhe vai na gana, ainda que em rigoroso respeito pela gana dos outros.
Por exemplo, hoje apetece-me sair e dar umas pedaladas de biciclet… ai, que não dá. Vai dar o Grande Prémio da Turquia. Fica para logo… ai que não dá, tenho o Porto vs Sporting. Naofámal. Faço um telefonema e saio a seguir e vou… ai que não dá, tenho um jantar.
Puta de vida. Até ela me diz o que devo fazer.
Até aos 5 anos, toda a gente me dizia o que é que devia comer;
Até aos 10, toda a gente me dizia o que é que devia (começar) a ler;
Até aos 15, toda a gente me dizia o que é que eu devia ser quando fosse grande;
Até aos 20, toda a gente me dizia com quem é que eu havia de casar;
Até aos 30, toda a gente me dizia que tinha de honrar a pátria e combater por ela;
Até aos 40, toda a gente me dizia que tinha perdido uma guerra e que devíamos pensar todos da mesma maneira;
Até aos 50 toda a gente passou a dizer-me que toda a gente devia pensar de maneira diferente;
Daqui para a frente toda a gente se está nas tintas para o que penso mas acha que eu devo ser bem comportado. Que não devo fumar, nem comer carne vermelha, gorduras, açucares, álcool e cafeína, devo andar de bicicleta pelo menos uma vez por ano na marginal, ir de comboio para o trabalho pelo menos uma vez no dia anual sem carros, participar numa jornada de limpeza da Serra de Sintra e outra vez em limpeza de praias. Toda a gente me diz que roupa devo usar e, até, que carro devo comprar. Que devo procurar as praias de bandeira azul, participar em, pelo menos, uma demonstração anual a favor do ambiente, espalhar a palavra de que a partir dos dez anos toda a miudagem deve andar munida de preservativo e, ó ironia!, dar uma aula no liceu da minha filha sobre os malefícios dos agroquímicos no ambiente e nas vantagens da agricultura biológica. Que devo procurar um relacionamento sério, mas com uma mulher de carreira firmada, que não fume e tenha uma noção básica da sensação do orgasmo, com quem devo partilhar “tarefas”, nem que para isso seja necessário mandar a minha ucraniana para o desemprego.
Toda a gente me diz, afinal, tudo, mas ninguém me diz para me fazer o que me apetece. Que é, em última instância, a plenitude de vida de uma pessoa, fazer o quer, o que lhe apetece, o que lhe vai na gana, ainda que em rigoroso respeito pela gana dos outros.
Por exemplo, hoje apetece-me sair e dar umas pedaladas de biciclet… ai, que não dá. Vai dar o Grande Prémio da Turquia. Fica para logo… ai que não dá, tenho o Porto vs Sporting. Naofámal. Faço um telefonema e saio a seguir e vou… ai que não dá, tenho um jantar.
Puta de vida. Até ela me diz o que devo fazer.
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Etiquetas: Apetites e vontade, pau-mandado
2 Comments:
loool lol lol! adorei!
sinapse
Beijinho assim mesmo. Plain :)
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