sábado, julho 30, 2011

São uns chatos




[4369]

Agora é o Chipre! Para quem tem um conhecimento frugal de finanças, confinado ao mero orçamento familiar e, com umas piruetas pelo meio, acudir às contas do fim do mês, a ideia que se tinha é que o mundo «ia vivendo» e isso de finanças era lá com os bancos, os governos, as bolsas e outros conceitos mais ou menos longínquos de quem se habitua a pensar em bancos para receber salários e pedir dinheiro emprestado, em governos para fazer as leis, as estradas e receber os impostos e as bolsas um corpo mais ou menos estranho ao comum dos cidadãos onde parece que as pessoas compram e vendem acções.

Num cômputo geral, as pessoas viviam embrenhadas nesta visão simplista daquilo que eram as finanças, sobretudo as finanças dos Estados. Mas eis que, de repente, tudo parece ter mudado. É a Grécia falida, Portugal a ouvir os finlandeses mandarem-nos trabalhar e que não têm nada que pagar as nossas contas, a Espanha «desempregada», a Irlanda, a Islândia, as ricas Itália e a Bélgica parecem estarem «tesas» e até o Obama apareceu na televisão a dizer que não sabia se na próxima terça-feira vai haver dinheiro para pagar salários e pensões. Poucos minutos depois fala-se no Chipre, também. Parece aquelas notícias sobre as gripes que começam aqui, passam para ali, chegaram acolá, os governos compram vacinas (aqui em Portugal, com a nossa tradicional peculiaridade, deitámos fora há dias dez milhões de Euros de vacinas, qualquer coisa ligada a uma ministra de saúde que tivemos, muito preocupada com os portugueses e as portuguesas e mandou vir vacinas com o mesmo à vontade com que vamos à despensa e percebemos que o esparguete acabou) e a grei vai percebendo que qualquer coisa não está bem.

Mal comparado, faz-me lembrar aqueles tempos de liceu em que fazíamos a maior confusão na sala de aula, tudo em pé, a gritar, correr entre as carteiras, rir e, de repente, chega o professor e tudo se aquieta e percebe que a brincadeira acabou. Com as finanças mundiais, tem-se a mesma sensação. Parece que andámos todos a brincar até que apareceram as agências de rating com umas manias esquisitas, põem-nos em vigilância, baixam-nos as notas e desconfiam de nós. As pessoas ouviam falar vagamente de défice, percentagem do PIB, dívida externa, dívida pública e outros palavrões, mas apareciam sempre uns «Jorges Sampaios» salvíficos e sábios que nos acalmavam. Que havia vida para além do défice e que as pessoas e as políticas de proximidade é que contavam. Nunca me interroguei se os Jorges Sampaios do nosso descontentamento acreditavam bem no que diziam, mas acho que sim, que genuinamente boiavam de costas na utopia idiota dos socialismos regeneradores do mal das pessoas, tal como boiamos numa piscina ensolarada ou numa praia romântica do litoral alentejano. E abria-se postos de saúde à esquina das pessoas, escolas onde quer que um pastor de ovelhas tivesse mais de três criancinhas, dava-se emprego toda a gente atafulhando o Estado com funcionários (muitos deles não têm NADA que fazer, literalmente, dito pelos próprios) e criava-se fundações, instituições, organismos, parcerias, centenas (milhares?) de empresas estatais, autárquicas, pulverizou-se o território em freguesias, as vilas passavam a cidades, as cidades eram geminadas e um mundo de servidores do Estado serviam-se no lauto banquete que lhes era servido. Porque havia que sossegar as pessoas com estas tretas dos défices, que para isso é que se inventou o socialismo. O democrático, porque o outro provou-se que era um exagero. Prendia-se, matava-se, reeducava-se, enfim, «aquilo» era um bocado exagerado, até que a esquerda moderna resolveu a coisa com a proximidade, as pessoas e a vida além do défice, para ser paga com o dinheiro dos outros, claro, porque o socialismo sempre achou que há muito dinheiro nos cofres dos ricos e dos poderosos e que a distribuição da riqueza é que estava mal feita. Jorge Sampaio, entretanto, verificou que há vida para além do «há vida para além do défice». É vê-lo a tratar da cultura para Guimarães e percebe-se.

Não sei bem o que isto vai dar. Já vi guerras por menos. Resta-me a esperança de que a Europa está seguir por um caminho mais confiável. Não há líderes, diz-se por aí. Pode não haver mas, à falta deles, parece que os eleitores se vão encarregando de corrigir o tiro e começaram a votar em gente mais realista e, sobretudo, com mais competência e mais respeito pelas pessoas, preocupando-se em resolver os enormes problemas criados pela ingenuidade de muitos e a idiotia de…muitos também, infelizmente. Espero bem que a Espanha se integre no «mainstream» actual da Europa e mande os prosélitos de Zapatero pregar para outra freguesia. São o último baluarte socialista na Europa e estimo e venero que a Europa se aguente assim por uns tempos. Pelo menos até «esta cena das finanças» se compor. Depois, já se sabe, o povo é sábio, vai achar que a direita está há muito no poder, isso e mais uns quantos casos de corrupção que vão certamente aparecer farão o resto. E o resto será mais gente a pensar mais nas pessoas e numa mais equitativa distribuição da riqueza. A tal, dos ricos e dos poderosos.
.

Etiquetas: ,

quinta-feira, julho 28, 2011

Refrescante


[4368]

Aqui está uma notícia refrescante. Mas cuidado que há «nogueiras» que, iradas, podem bem lançar vergônteas que ou são podadas cerce ou fazem um escarcéu que atrapalha isto tudo. Sem respeito pelos superiores interesses dos alunos.

Seria óptimo que esta medida fosse alargada a outros sectores. Acabavam os Nogueiras, os Carvalhos da Silva, os Proenças, os Picanços e as Aivecas que hão-de chegar a velhinhos com uma presunção, de duas, uma: - ou de que cumpriram a superior missão que lhes foi atribuída ou que levaram uma vida inteira a levar-nos por parvos, sem nunca perderem as suas regalias e estatuto e sem alguma vez terem produzido o que quer que fosse. Além de que cederiam o lugar a sindicalistas de sangue novo, sem o «lastro» de dezenas de anos no activo e, desejavelmente, com um diferente «substrato» e sem nos passarem aquela ideia de que a luta nunca mais acaba, mesmo se todos nós já percebemos que a luta já devia ter acabado há uma data de anos.
.

Etiquetas: ,

terça-feira, julho 26, 2011

Hoje tinha que ser...



[4367]

Ando há dias para dizer isto. Moo, remoo, contenho, retraio, semi-engulo, regurgito, rumino…mas hoje tem de sair:

- Pior que carrapato, só mesmo chiclete no sapato

Disse.
.

Etiquetas:

Non est factum



[4366]

«...No que toca ao português, os alunos desabituaram-se de tirar significados, não sabem consultar capazmente um dicionário, não se habituaram a ler autores significativos e muito menos a gostar deles. Não conseguem interpretar em condições um qualquer texto literário e exprimem-se cada vez com mais problemas e deficiências no tocante à extensão e propriedade do léxico, à articulação sintáctica, ao respeito de regras gramaticais elementares, à correcção da ortografia e até da pronúncia de muitos vocábulos. Tanto quanto sei, na área das matemáticas e da simples aritmética, passam-se coisas que, mutatis mutandis, acabam por ser de sinal muito semelhante...»

Vasco de Graça Moura no DN. Ler o artigo todo aqui.
.

Etiquetas: ,

Mata, mata





[4365]

A facilidade e impunidade com que esta gente prende, julga (?) e mata, no livre arbítrio dos seus humores, complexos e raivas só tem paralelo na cumplicidade criminosa com que as esquerdas do costume a que a vulgata resolveu designar por activistas, calam ou mesmo dão o seu beneplácito a acções desta natureza. Não relevassem elas de práticas semelhantes num passado recente em que a União Soviética exportava este tipo de arbitrariedades para os países da sua influência, onde os cidadãos eram reciclados. Os que aprendiam eram emulados, os que resistiam (ou, pura e simplesmente, estavam a mais) eram apanhados, tipo carroça dos cães, e eram enviados para locais longínquos e recatados onde eram reeducados.

Não foi assim há tanto tempo. E convinha recordar que este tipo de políticas é, em última análise, o subconsciente objectivo da esquerda e de outros teóricos da persuasão avulsos. Que sonham ainda com o Ethos, o Pathos e o Logos da Retórica de Aristóteles, para tornar as gentes em pacíficos bovinos. Pastoreados por eles, claro.
.

Etiquetas:

domingo, julho 24, 2011

A verrina portuguesa. Mazinha mas condescendente



[4364]

Ainda não percebi se o facto de 99,9% dos comentadores e jornalistas que se referem a Angela Merkel lhe chamarem «senhora Merkel» é em mero tom chocarreiro (ainda que eu nem perceba bem porquê…) ou se tal é devido a sermos reconhecidamente um povo de chavões, tiques e vícios de linguagem. Assim tipo janela de oportunidade, a narrativa, para mudar o paradigma, desde logo e é assim. A verdade é que praticamente todos os líderes políticos são designados pelo nome, normalmente o primeiro e apelido. George Bush, Barak Obama, David Cameron, Zapatero, Ronald Reagan, Lula da Silva e por aí fora. Na verdade, não me ocorre alguma vez ter ouvido ou lido Dr. Clinton, Engenheiro Sarkozi ou arquitecto Berlusconi. Só mesmo em Portugal. Sá Carneiro ainda era conhecido pelo nome, Mário Soares terá sido um dos últimos a ser honrado em ser referido pelo nome mas a partir dele foi o dilúvio. Dos títulos. Cavaco Silva já era o professor Cavaco, Guterres era o engenheiro Guterres e até o domingueiro Sócrates não escapou a ser engenheiro.

Voltando a Merkel. De duas, uma. Ou somos assim mesmo (ou teremos sido operados em pequeninos?) ou zombamos do facto dela ser senhora ou, ainda, este «senhora» tem mesmo um sentido pejorativo, zombeteiro, sobretudo desde que se instituiu a ideia de que ela é a culpada do descalabro dos países incumpridores e ainda não percebeu que ela precisa de nós, senão não tem para onde exportar. Tem mais é que continuar a pagar-nos as contas para lhe podermos comprar comboios, telefones e automóveis.

Não me ocorre outra «senhora». Só mesmo Angela Merkel. Nem senhora Dilma, senhora Clinton, senhora Pintassilgo. Somos mauzinhos, mesmo. Ou condescendentes. Perdoamos a infantilidade e falta de argúcia de Angela Merkel e, irónicos mas compreensivos, chamamos-lhe senhora. Provavelmente com o mesmo sentido com que Mário Soares um dia disse que uma deputada europeia devia ir para casa lavar a loiça, só porque ela teve a ousadia de lhe ganhar uma eleição. Ou então somos um caso perdido, mesmo, e não há meio de mudarmos o paradigma.
.

Etiquetas: ,

sábado, julho 23, 2011

The Hout Bay Project



Hout Bay - Um panorama magnífico, em foto tirada à beira da estrada entre Hout Bay e Strand/Gordon's Bay e Hermmanus



[4363]

Hout Bay é um local paradisíaco que eu conheço bem. Já em 2004 aqui deixei um breve registo. Há dias tive a grata surpresa de «tropeçar» neste vídeo. Nele, este Hout Bay Project oferece-nos uma mescla interessante de culturas e artes. Do violino ao ritmo e ao coral africanos, finalizando com o imortal Pata Pata da M. Makeba, os europeus de Maastricht tiveram uma generosa amostra do génio de um país como a África do Sul.
.

Etiquetas: , ,

Comunicação esquerdacional




[4362]

A TSF é um caso arrumado. Já sabemos o que a casa gasta e só ouve quem quer. Das notícias às crónicas sobre turismo, dos «sinais» ao humor do «governo sombra», tudo, mas tudo ganhou, irremediavelmente, o sinete da esquerda inteligente, mesmo que chata, inconveniente, obsessiva e, frequentemente, idiota.

Agora é a SIC. Beber um copo de água naquela estação é, hoje, um acto político e como tal deve ser tratado. Uma criteriosa escolha de comentadores, «paineleiros», fazedores de opinião, politólogos, correspondentes, convidados e correlativos fazem o resto. E o resto é o manejo sábio duma pretensa esquerda, uma esquerda que já nem é esquerda nenhuma, é uma coisa assim mesclada, raiada de ética, inteligência, saber e superior estatuto moral que lhe confere o inalienável direito de impor aos mentalmente destituídos ou outros cidadãos degraçadamente infectados pela direita retrógrada, uma espécie de manual de conduta, uma coisa que nos norteie sobre como se deve viver, fazer e pensar.

Este pequenino desabafo vem a propósito da notícia sobre aquela desgraça sem nome que aconteceu na Noruega. Um maluco, um provável homúnculo de uma sociedade manipuladora como a de hoje, um assassino sem desculpa que não me inspiraria qualquer sentimento de piedade se o visse fritar numa cadeira eléctrica, resolveu matar 91 pessoas. Para mim, um homem que um dia acorda e resolve matar 91 pessoas é, definitivamente, maluco. Mas maluco a sério, sem direito a absolvição por razões psíquicas. Era metê-lo numa cela à espera que morresse ou, havendo pena de morte, dar-lhe uma injecção na veia e mandá-lo matar 91 pessoas para outra freguesia. Mas na SIC, as coisas fiam mais fino. Toda a notícia foi dada sob a repetição exaustiva de que o assassino… não, minto, não lhe chamavam assassino … o membro de uma organização de extrema direita era um fundamentalista, um nacionalista, um ultra-nacionalista (não percebi bem, deu-me ideia que se pode ser nacionalista, ultra é que não, e também ficou por definir onde começa o «ultra»…) tinha um cariz xenófobo e (não era só xenófobo) xenófobo-nacionalista. Não faltou mesmo uma entrevista a propos com um jornalista Cardoso que disse que a extrema direita estava cada vez a ficar mais perigosa e agressiva na Noruega e nos explicou os perigos a que estamos sujeitos nesta permissiva Europa...

Clara de Sousa, desta vez, recebeu uma encomenda meio chata. Teve de ler aquela ladainha toda ao dar a notícia. E os portugueses ficaram a saber que a Noruega é um país perigosíssimo, cheio de fundamentalistas, xenófobos, xenofobó-nacionalistas, extremistas de direita, que andam para lá a matar gente. Como é timbre, de resto, da extrema-direita quando acorda mal disposta. Para que se saiba, não vá a gente ter planeado lá ir neste Verão.
.

Etiquetas: ,

As escutas más (News of the World) e as escutas boas (WikiLeaks)



[4361]

«…é difícil entender a actual fúria com a utilização de informação roubada por parte do News of the World quando se andou a endeusar Julian Assange e a WikiLeaks…»

Ler o post todo aqui. Não perder também os comentários. Os comentários do Blasfémias são, provavelmente, o exemplo mais vivo da gravitação que um blogue como o Blasfémias espoleta, bem assim como uma boa amostra de alguns desses comentadores «gravitacionais».
.

Etiquetas: , ,

sexta-feira, julho 22, 2011

Queixam-se de quê?






[4360]

A esquerda educada (aquela que já não grita «a luta continua» mas que acha que nasceu com o desígnio claro de tomar conta de todos nós para que façamos tudo como deve ser) anda num frenesi assinalável por força do recente aumento dos transportes. Não lhe ocorre que foram as políticas de esquerda, estatizantes e premiando o sistema de colocar gestores à frente de empresas estatais, ou com participação estatal, cujos méritos têm mais a ver com o seu proselitismo do que com a sua própria competência e aquela pulsão irreprimível de trazer o rebanho contente com medidas sociais que «alguém havia de pagar», o principal culpado por as empresas de transportes apresentarem défices de milhares de milhões (repito, milhares de milhões) de Euros. Ou talvez ocorra. Mas não desperdiçariam jamais a oportunidade de vituperar o governo por esta emergente medida de terem de aumentar os transportes geralmente em 15%.

Já a esquerda trauliteira vai bolsando a espuma do costume, fala em roubo, extorsão, opressão e outras acções semelhantes, coisa de que os trauliteiros, de resto, têm uma experiência assinalável. Roubar, extorquir e oprimir são coisas em que a esquerda trauliteira é formada, mestrada e doutorada.

Resta o «povo». Aquele que, sim, carrega o fardo de ter de esportular mais 15% do seu rendimento para se poder deslocar. Sobretudo numa região como a grande Lisboa, em que foi ensinado a ir viver para os dormitórios limítrofes e ser obrigado a usar transportes todos os dias, enquanto milhares de casas no centro de Lisboa se encontram devolutas. Para estas pessoas vai toda a minha simpatia. Mas, igualmente, o voto de que despertem. E desconfiem, sempre que apareçam almas caridosas a prometer este mundo e o outro, práticas dos governos socialistas de má memória e, sobretudo, que não pactuem na condescendência e bonomia concedidas (e consubstanciadas no voto), quando for patente a existência de práticas que em qualquer caso nos deveria merecer repulsa e, mormente, quando decorrentes de um governo da República. Refiro-me concretamente ao governo de Sócrates que apesar da visibilidade de muitos casos lamentáveis e reprováveis mereceu, mesmo assim, uma nova vitória nas urnas.

Estes 15% de aumento dos transportes devem-se exactamente a essas práticas e à condescendência do povo que, hoje, se confronta com mais esta séria dificuldade. E muitas mais estarão para vir.

Quando o aparelho socialista arregimentava garotelhos venais a ganhar €2 Mio em empresas estatais para promoverem pequenos-almoços com futebolistas e prometia o «estado social», estava a cavar ainda mais fundo os 15% que estamos a pagar agora de aumento de transportes (não há pequenos-almoços grátis…). Não temos do que nos queixar.
.

Etiquetas: , ,

quarta-feira, julho 20, 2011

Os ventos da vida




[4359]

Um dia fui a casa duma velhinha rica em Carcavelos, para a minha filha adoptar estas gatinhas (irmãs). Durante seis anos elas cresceram e encantaram. Ao fim de seis anos, passou uma rabanada de vento e a filha levou-me as gatas. De seguida, veio «um gato» e levou-me a filha.

Não há condições.


.

Etiquetas: ,

Um «happenning» inesperado



[4358]

O adjunto de ministro apareceu. Engomado, rigorosamente escanhoado e substancialmente mais magro. Com os (poucos) cabelos meticulosamente penteados, surgiu de surpresa e reuniu-se aos seus antigos companheiros de almoço. Falou-se de tudo, falou-se de nada, mas foi bom rever este jovem que os ventos dirão onde vai aterrar. Tudo junto e somado, pareceu-me algo nostálgico, ainda que animado na consecução das suas novas tarefas. Talvez saudade do blogue. Digo eu que nunca pertenci a nenhum governo.

Foi bom, João. Um grande abraço, muitas voltas de carro eléctrico, muitas cerejas do Pingo Doce da avenida de Paris e recomendações ao «pessoal» blogosférico com o qual, ao que parece, se tropeça agora a cada esquina das veredas governamentais.
.

Etiquetas: , , ,

A ventania





[4357]

O vento tem soprado impiedoso sobre o litoral oeste. Esta do «litoral oeste», muito usado nos boletins de meteorologia das televisões, no meu modesto entender deveria corresponder ao país todo, de Valença à Ponta de Sagres, deixando um troço de litoral sul de Sagres a V. R. de Santo António, mas por qualquer razão que me escapa, o litoral oeste é este bocadinho aqui em Cascais e que, com boa vontade, se estende à Azóia e um bocadinho acima do Cabo da Roca.

O vento sopra impiedoso, vem do norte e traz baixas temperaturas. As pessoas andam preocupadas. O Verão já não é o que era e isto de andarmos com frio em Julho só pode significar, hummmm… aquecimento global não faz sentido… alterações climáticas, é isso. Normalmente, temperaturas acima da média produzem mais impacto no cantinho de pânicos que os terráqueos em geral e os portugueses em particular possuem escondido numa qualquer circunvolução cerebral. Mas o frio também funciona. Se a primavera foi a mais quente dos últimos… não sei quantos anos, coisa dita amiúde e com ar grave nas televisões, o frio de Julho tem sido conotado com qualquer coisa pouco abaixo do fim do mundo, castigo divino tipo praga do Egipto e que deve ser para nos castigar a todos pelas nossas malfeitorias.

Um dia destes o calor volta. E as notícias de que, então, estaremos a atravessar um período de temperaturas acima dos valores normais para a época sossegar-nos-ão o corpo, ainda que mantendo os desejáveis níveis de pânico reservado aos caprichos da meteorologia, ao Armagedão que Deus, mais tarde ou mais cedo, cansado e farto de nos aturar, lançará contra a sociedade iníqua. Sobretudo a senhora Merkel que não nos quer pagar as contas.
.

Etiquetas: ,

Falando ainda de gravatas





[4356]

Ao longo da minha carreira profissional fui submetido a um número incontável de cursos de treino adequados às funções que fui exercendo. No capítulo da gestão de pessoas (recursos humanos), um dos mais importantes factores de sucesso de qualquer empresa reside na preocupação permanente em trazer as pessoas satisfeitas. Para isso contribuiriam diversas alíneas. Desde o nível salarial até ao conforto do ambiente de trabalho. O ar condicionado teve um papel muito importante neste desiderato, mantendo as pessoas frescas, activas, confortáveis, logo mais aptas aos desejáveis níveis de produção. Até em Portugal, onde subsistem conflitos estranhos enraizados nos seus cidadãos, como sejam o ar condicionado (porque tem muitos ácaros), o gelo e a água gelada que fazem muito mal á garganta (ainda hoje são inúmeros os restaurantes que nos servem dois ou três cubinhos de gelo semi-derretidos e de arestas boleadas, uma reacção mecânica ao conceito de que o gelo faz mal às amígdalas, esófago e piloro) e as correntes de ar, o ar condicionado acabou por ir alastrando a sua área de influência e os locais de trabalho foram-se tornando mais aprazíveis. Apesar dos esforços recorrentes dos cidadãos em geral que pedem para desligar os aparelhos de ar condicionado dos restaurantes e dos cinemas, e dos ministros em particular que fizeram umas contas de cabeça e acharam que vão poupar uns tostões não ligando o ar condicionado. Mesmo que os funcionários passem a andar suados, incomodados, com as camisas manchadas nas axilas e, de um modo geral, a cheirar a azedo. E sem vontade de trabalhar, naturalmente.
.

Etiquetas:

Os neo-tieless





[4355]

Não sei se têm notado, mas eis senão quando um número grande de pessoas começou a aparecer sem gravata nas mais variadas funções e circunstâncias. Não porque esteja calor, mas porque o português é um animal de moda, de «corrente» de «é assim», «janela de oportunidade», «mudança de paradigma» e «desde logo». E «desde logo» a demagogia decorrente das afirmações da ministra de agricultura e demais amenidades sobre as vantagens de um pescoço esgargalado contribuir definitivamente para o abaixamento da dívida soberana passou a um estatuto de uma espécie de NEP (NEP era um coisa que havia no Exército, não sei se ainda há e que significava Norma de Execução Permanente). Já havia uma certa tendência «neo-tieless» (esta saiu bem…) na intelligentzia lusa, mas agora a coisa generalizou-se. Um dia, passa. A gravata tem vencido com estoicismo e tem-se mantido à la page, numa luta desigual. Enquanto não passa, a televisão vai mostrando os perenes «tieless boys» e os aderentes de fresca data, estes mais imbuídos da nobre e correcta missão de reduzir as emissões de carbono (!!!) do que seguindo critérios de comodidade do vestuário.

A UCP emitiu uma opinião muito equilibrada sobre as questões do vestuário. É ler e, facilmente, entender. De resto, não custa. E sorrir perante os comentários que suscitou aí pela blogosfera. Alguns que um rottweiler não desdenharia.

Nota: São 06:45 da manhã e João Proença, da UGT, homem que eu costumo ver, com frequência, a comer substanciais refeições exibindo uma gravata devidamente protegida por um guardanapo ao pescoço, acabou de aparecer ali nas notícias, sem gravata. Homem de consensos, pelo menos enquanto o PS está no poder, tem revelado alguma excitação recente. Talvez por isso a gravata incomode.
.

Etiquetas: ,

segunda-feira, julho 18, 2011

Sem tempo para me coçar




[4354]

Há dias assim. Sem tempo para me coçar. Alguém interessado numa acção de escuteiro?


.

Etiquetas:

quinta-feira, julho 14, 2011

Afectos ao afecto



[4353]

António José Seguro prometeu terça-feira que, se for eleito secretário-geral do PS, ouvirá os militantes socialistas antes de decidir e reintroduzirá nas relações dentro do seu partido uma cultura dos afectos.

Os afectos, os beijinhos, as pessoas, a proximidade, a vida para além do défice. Parece que é disto que nos espera quando e se o PS ganhar as eleições outra vez. Portanto, não temos que nos queixar. É esta retórica moralista, solidária, afectuosa e idiota reincidente que esta rapaziada socialista tem para nos oferecer. Porque competência, seriedade e realismo, sobretudo realismo, é coisa para os tecnocratas, os economicistas e outros agentes ao serviço dos ricos e dos poderosos.

Por isso é que cada vez que esta gente vai para o governo desatamos todos aos beijinhos e esquecemo-nos que há contas para pagar e o resultado tem-se visto. Repetidamente. A não ser que a coisa agora doa tanto que de uma vez por todas se acabe com esta patética retórica.
.

Etiquetas: , ,

quarta-feira, julho 13, 2011

De tanga... outra vez!




[4352]

Ainda não consegui perceber bem o recato que parece ser estratégico e recomendável em não se mencionar o facto de o Partido Socialista ter o costume de nos deixar a todos de tanga. Já Durão Barroso foi duramente criticado por ter usado o termo tanga, agora levanta-se o escarcéu do costume porque Passos Coelho se ter passado dos carretos e dito que há desvios colossais nas contas públicas.

Por mim, já dando de barato não perceber porque se criticou tanto Durão Barroso quando disse que Guterres nos deixou de tanga, intriga-me esta crítica àquilo que, acima de tudo, é o reconhecimento factual do estado deplorável em que um grupo de irresponsáveis (e alguns venais) comandados por um pantomineiro malcriado deixou o país.

Cá pelas minhas contas deveria importar mais este péssimo hábito, cíclico, que os socialistas têm de nos estoirar o dinheiro do que falar-se no assunto. Afinal Guterres e Sócrates deixaram-nos de tanga, ou não deixaram? E se deixaram, porque é não se pode ou não se deve falar no assunto?
.

Etiquetas: ,

O João faz falta





[4351]

Não é gralha. É João, mesmo. Não é o Zé, aquele do milho, cevada, centeio e fava em Sete Rios, da estandardização dos atoalhados dos restaurantes da baixa, o exterminador dos restaurantes do Campo Pequeno ou o «empata-fórmulas» do túnel do Marquês (que nos custou, de resto, uns trocos que ele deveria ser obrigado a pagar…). Esse Zé faz-nos falta, tanta como uma criação de pulgas no Rossio cheio de «indignados», mas lá vamos vivendo com a falta que ele nos faz. De quem falo é do João. Este, um dos mais acutilantes e argutos bloggers do nosso acervo blogosférico, que resolveu ser convidado para adjunto de ministro dos assuntos parlamentares.

O Portugal dos Pequeninos passou a dar-nos ópera, livros, ópera, poesia, ópera e ópera. Deu-nos até um post sobre a indesmentível excelência de um moscatel de Setúbal. Não queria desmerecer dos posts do João, porque a qualidade do que ele continua a oferecer-nos permanece intacta. Mas não é bem aquilo a que estamos habituados. Queremos sangue. Peixeirada, pedrada no charco. Com o brilho, o português irrepreensível e o toque certeiro do João. Assim como as coisas estão, creio que o governo poderá até ter ganho um bom adjunto. Mas nós é que nos arriscamos a perder um bom blogue. É isso. O João faz falta.
.

Etiquetas: ,

Dótores



[4350]

Saí do escritório mal disposto. O dia correra mal. Cheguei ao carro e irritei-me. O carro estava coberto por uma desusada camada de pó que me fez odiar carros pretos. Entrei e arranquei. A TSF dizia uma barbaridade qualquer que me provocou azia. Mudei para a Renascença que dá terços e novenas àquela hora, mas já tinham acabado e emitia uma repousante «chuva de prata» da Gal que me reconciliou um bocadinho com o mundo. E de tal maneira que, ao descer a João de Deus e após quase parar para deixar passar um homem idoso meio descuidado a atravessar a rua, comecei a sentir-me melhor. O portão principal do Jardim da Estrela reconciliou-me com o Universo e foi já razoavelmente invadido por aquela sensação de homem justo que parei o carro antes da passadeira de peões entre a paragem do eléctrico e o portão do jardim. O sol batia de frente e a minha reconversão ao bem-estar era de tal maneira que até gostei. Gostei do brilho, do calor e quase achei graça ao facto do vidro dianteiro estar muito sujo com o pó que o cobria. Reconciliado com a vida, com a Gal ainda a cantar, o sol a bater, o jardim à direita, a magnífica fachada da Basílica à esquerda, esguichei o vidro para o lavar. Gostei particularmente de perceber que o líquido continha uma espuma eficiente e perfumada, o que indicava que a revisão recente ao carro tinha sido cuidada. Definitivamente rendi-me à vida que é bela e eu é que nem sempre caibo nela.

Pensei cedo demais. Neste preciso momento ouvi um piiiiiiiiiii estridente atrás de mim. Um taxista fazia gestos estranhos tipo «ande para a frente»… mas eu tinha carros em bicha à minha frente. É certo que tinha o espaço da passadeira e nesse momento não passava ninguém, mas naquele sítio está sempre gente a passar. E eu percebi, então, que o taxista apoplético atrás de mim, achava que eu estava a desperdiçar seguramente uns três metros de via, eu devia andar para a frente porque não estava a passar ninguém. Pensei em fazer-lhe um manguito pelo retrovisor, mas reparei que tinha a mão ocupada a premir ainda o dispositivo do lavador de vidros, quando…

- pumpumpumpumpumpum (um som semelhante a uma mula aos coices, tipo cascos almofadados, no vidro do lado direito).

Olhei para o lado, estupefacto, meio atordoado, e vejo outro taxista (reparei depois que há ali uma paragem de táxis), metro e meio de gente, barba de três dias e bigode daqueles que dão a ideia de cheirarem a azedo, olhos pequeninos envolvidos por uma espécie de pálpebras inchadas e ar de besta cavalar abortada num campo de urtigas, esbracejando e berrando. Abri o vidro com a mão esquerda (a direita continuava premindo o esguicho…) e perguntei:

- O que se passa?
- Que se passa? Então bócê não bê o que está a fazer ao meu carro, c…?
- Fazer ao seu carro? Bati-lhe? Que aconteceu?
- Num bateu nada porra, bocê está, a molhar-me o carro todo, não está ber?

Reparei então que o esguicho do meu carro, que tem quatro saídas, realmente lhe molhava o táxi estacionado, já que estava um dia particularmente ventoso.

- Ó amigo, desculpe lá, tenha calma, não reparei que…
- Desculpa o c…. então beija lá cuméque o meu carro está, c…
- Ó homem, vá lá tomar os comprimidos, você está é nervoso.
- Nervoso o c… bocê bê o que fez ao meu carro? Bocê é mas é um lorpa, c…
- Olhe lá, lorpa era o seu segundo hiperbólico ancestral em linha directa com o exemplo acabado das leis de Mendell de que você é um infeliz exemplo.
- Olhó dótor, dótor do c… este país está cheio de dótores, é por isso que este país…


As palavras foram ficando para trás, mais pequeninas, até se tornarem inaudíveis à medida que, entretanto, fui arrancando e a figura grotesca do homenzinho continuava aos pulos a chamar-me nomes. Vacilei de novo entre a irritação e o bem-estar de que estava invadido quando esguichei o lavador de vidros e acabei por ficar bem disposto outra vez. É a vida, dizia o Guterres. Às vezes é chata mas, aqui e ali, tempera-nos o astral.

.

Etiquetas:

terça-feira, julho 12, 2011

…acácias rubras, salpicando de sangue as avenidas, longas e floridas…



[4349]

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...

- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
Mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim! ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconsequente...

Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...

Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em Benguela, Angola, a 9.6.1930. Faleceu em Cambambe, Angola, a 30.1.1962. Porque é que se fala tão pouco da vida e da poesia desta mulher?

.

Etiquetas: ,

segunda-feira, julho 11, 2011

Segunda-Feira azul (isto em inglês soava melhor mas Cavaco Silva disse para pouparmos divisas)




[4348]

O estado do tempo, mais o montante das nossas dívidas, menos o tempo que passou desde o último Natal, vezes o tempo que já passou desde as nossas promessas de Ano Novo e que não cumprimos, elevado a uma potência correspondente aos níveis da nossa baixa motivação, a dividir pelo grau de consciência adquirida de que há uma premente necessidade para tomarmos uma atitude é uma fórmula que vi algures por aí e que define bem o que vai na alma de um cidadão a uma segunda-feira de manhã, uma coisa a que um professor da Universidade de Cardiff decidiu chamar «blue monday».

Se juntarmos a isto o facto de me terem chamado lixo na passada semana e, mais grave, eu sentir, nas tripas, que têm razão; de me lembrar que o meu escritório está a produzir um cheiro suspeito que me lembra qualquer coisa entre o cheiro de um curto-circuito e de um charroco com três semanas de frigorífico; e que houve acidente na Marginal ao Alto da Boa Viagem que ocupa duas faixas de trânsito, faz-me vacilar entre seguir para Lisboa ou meter-me na cama outra vez.

Olho pela janela e vejo dois passarinhos a cortejarem-se em cima da nespereira *. Sozinhos, saltitantes e pujantes de alegria e desejo. Para eles não há segundas-feiras azuis nem nenhum daqueles «trecos» da parafernália stressante que condiciona a catadura de um homem que tem de ir trabalhar. Um dia destes deixo crescer asas e passo a ir saltitar para o «cucuruto» de uma nespereira nas manhãs das segundas-feiras *.

.

Etiquetas:

sábado, julho 09, 2011

Maria José Nogueira Pinto (1952 – 2011)




[4347]

De Maria José já todos disseram alguma coisa. Mas tropecei nesta fotografia e nela encontrei um conjunto de elementos a que não pude ficar alheio. O tique de uma cidade que amo num enquadramento feliz e uma mulher à qual, mesmo sem a conhecer pessoalmente, me habituei a render uma profunda admiração. Por tudo o que já dela foi dito. Mas registo particularmente a veemência e a correcção (apetece dizer educação) com que ela debatia os diversos temas políticos em apreço nos vários programas em que a vi, bem assim como a facilidade com que remetia algumas «questões fracturantes» para o campo das meras idiossincrasias politicamente correctas, por força das suas convicções e escorreita argumentação. Também recordo uma viagem que fez a Angola recentemente, percorrendo praticamente todo o país de carro, pela qual ela nos deixou uma excelente reportagem, sem que alguma vez deixasse assomar ressabiamentos ou se deixasse arrastar pelo campo fácil da crítica emocional, sobretudo quando eram bem conhecidas as suas opiniões sobre os fautores da nossa «descolonização exemplar». E rendi-me, comovido, à sua última crónica para o DN, escrita pouco antes de morrer, profusamente reproduzida na blogosfera e comunicação social.

Fazem falta em Portugal Marias Josés como esta.


.

Etiquetas: ,

Isto está a ficar melhor

[4346]

Um padre entretinha-se a molestar criancinhas. Uma das suas últimas tentativas de violação correu mal, o menino (menino é o termo agora usado pela comunicação social para definir rapazes, mesmo que tenham 13 ou 14 anos, sempre que são vítimas de qualquer coisa, sobretudo vítimas do sistema) resistiu, queixou-se ao pai e o padre só teve tempo mesmo de fugir para o Brasil.

Esta notícia nada teria de muito especial se o padre não fosse… pastor da igreja evangélica. Ou, mais concretamente, o energúmeno não é católico. E, mesmo assim, a nossa comunicação social noticiou. É de homem!
.

Etiquetas: ,

Soares anda «aflito»




[4345]

A insistência dos nossos jornalistas em pedir opiniões a Mário Soares de cada vez que chove ou faz sol, raia o paroxismo. A gravidade maior desta idiotia é que me metem a criatura em casa com aquela expressão de misto de autoridade e bonomia tipo pater familias, uma coisa que me faz recordar que pater familias só tive um, o meu e mais nenhum. Mas somos pródigos neste tipo de atitude. É coisa, assim mal comparado (ou bem?) a um Kim il Sunguismo, para que os portugueses parecem ter uma tendência genética.

Mais complicado ainda é a ideia de que de cada pum solto na atmosfera portuguesa ficamos pendentes da opinião do senhor, ainda que eu não saiba bem porquê. Vestem-lhe as roupas do moralismo e da ética, fardam-no de impoluto e o senhor disserta a seu belo prazer sobre as malfeitorias do mundo, não poupando mesmo o seu próprio partido e respectivos correlegionários, o que dá um ar saudável à coisa.

Desta vez Soares mostra-se aflito e zanga-se imenso com Cavaco Silva que poderia ter feito muito mais acerca da traquinice da Moody’s. Não diz o quê, mas fica no ar a ideia de que com ele as coisas seriam diferentes. A avidez com que alguns jornalistas vão bebericando as opiniões de Soares chega a ser patética e a forma como as relatam, vindas do histórico socialista, chega mesmo a tinir a luxúria.

Confesso que mais do que me irritar, este estado de coisas me desgosta. É preciso termos um acervo muito pobre de nomes e figuras para solicitarmos Soares por tudo e por nada e, pior, ficarmos todos contentes e reconfortados com isso. Não tenho qualquer sentimento de gratidão ou especial admiração por este homem, por razões que por várias vezes explicitei já e guardo mesmo sérias reservas quanto à imagem impoluta que faz passar, desde o salário que exigiu para Maria Barroso, sua mulher, quando ele aderiu ao PS (nunca desmentido) até um rosário de situações que, para além de mal explicadas, foram claramente esbatidas no tempo e pulverizadas na poeira dos acontecimentos, e nem vale a pena repeti-las por serem do conhecimento geral (duas repugnam-me particularmente, i.e. a colonização exemplar e cerca de dois milhões de Euros que Guterres, patrioticamente e com aquela habilidade que tinha em gastar o dinheiro dos outros, achou por bem atribuir para a sua Fundação, baseado em pressupostos não se sabe bem quais). Vistas bem as coisas, nada difere muito da recente conduta do inenarrável Sócrates de fresca data. Com a diferença de que Soares tem muito mais jeito. E Sócrates, pelo menos por ora, anda calado. Enquanto Soares não se cala. O homem não se cala mesmo. Ou tem jornalistas a bater-lhe no ombro para lhe fazer perguntas, ou plumas caprichosas para lhe fazer entrevistas, ou o povo dos bons costumes agradecido porque ele, Soares, um dia, na Alameda, deu um murro na mesa e uns gritos e pôs os comunistas na ordem.

Por mim, a criatura já me cansa e me alimenta o sentimento perene que tenho de quão pífia é esta sociedade. Mas, admito, a culpa não dele. É só ele vir à rua para se ouvir o concerto de chocalhos de jornalistas a ver quem lhe chega primeiro para lhe perguntar o que é que ele acha da cor da blusa que a senhora Merkel usava ontem.
.

Etiquetas: , ,

quinta-feira, julho 07, 2011

Itsy bitsy teenie weenie yellow polka dot bikini




[4344]

Desde que Eva deu uma mordida na maçã que a coisa descambou. É uma história de desgraças, calamidades, guerras, castigos divinos, dilúvios e pragas, tudo porque passamos a vida a fazer disparates desde que começou a cair-nos o pelo das costas e passámos a andar erectos (salvo seja). Chegámos mesmo a votar no domingueiro engenheiro Sócrates.

Mas o homem, apesar de tudo, mantém intactas e plasmadas as suas virtudes. E de vez em quando faz coisas boas. Por exemplo, inventou o «bikini» faz hoje 65 anos. E desde aí o mundo ficou melhor.
.

Etiquetas:

(7 – 7 – 7) 7 x 3 = 21

[4343]

A 7 do 7, o «Espumadamente» faz 7 anos. Hoje. Não percebo nada de numerologia, muito menos sou dado a este tipo de fenómenos. Mas como a combinação desagua num 21 e eu ainda não perdi a esperança de um dia vir a saber o significado do 21, para além de render bom dinheiro numa mesa de «Black Jack», aqui fica a referência. *

O «Espumadamente» completa hoje exactamente sete anos. Ininterruptos, consubstanciado em 4343 posts e com um registo de quase 620.000 «page views», algo distante do milhão. Em qualquer caso é um número reconfortante para quem, como eu, começou isto às apalpadelas e nem tratar um texto ou postar uma fotografia sabia. Pouco a pouco as coisas foram indo ao sítio, continua a ser um blog orgulhosamente só e mantém intacto o seu estatuto de puro entretenimento, bem patente no «template». E, realmente, entretive-me. Tanto escrevia sobre coisas bonitas como sobre coisas feias, pesca, passeios, política, viagens, pessoas, os mistérios insondáveis que enformam o fenómeno sociológico, um pouco de coscuvilhice também, um blog de matéria, portanto, já que retive para sempre a definição que aprendi de matéria no terceiro ano de liceu e que era tudo aquilo que impressiona os nossos sentidos. Levei algum tempo a perceber a definição. Quando a entendi, achei que poderia haver definições mais adequadas, mas acabei por me acomodar e enformar na definição que me foi oferecida e acabei por vir a concordar com ela. Passou-se algo semelhante com o «Espumadamente». Tanto escrevi coisas que me divertiam, como me enfastiavam. No todo, porém, a coisa batia certa e agarrei-me sempre à ideia que, em qualquer dos casos, o blogue me entretinha. E essa era a premissa dominante da sua existência.

Mais grato foi verificar que o blogue foi criando audiência e hoje, apesar de longe das audiências dos chamados blogues de referência, tem uma média invejável de visitas, se considerarmos que é um blogue singular, um «one man show». Foi essa uma experiência gratificante, a par de outra, qual fosse a de ter feito bons amigos. Duas razões suficientemente fortes para continuar a escrever os meus posts do costume. E se um dia a audiência descer e não me entretiver por aí além, é fácil. Fecho o «boteco» e ficará apenas mais uma recordação para o meu acervo de lembranças.

Um palavra final de agradecimento a todos os que por aqui passam. Se passam é porque gostam. E isso é muito bom para mim. Gosto de me sentir gostado. Quem não gosta?
.

Etiquetas: ,

quarta-feira, julho 06, 2011

Pois...




[4342]

Estamos lixados. E mal pagos. Mas em vez da histeria nacional instalada convinha não esquecer o legado da camarilha espúria que nos governou num passado recente. E que está consubstanciada, com singeleza, aqui. Convém não esquecer, em vez de nos excitarmos imenso fazendo manguitos a gritar fora o árbitro.
.

Etiquetas:

terça-feira, julho 05, 2011

A sardinha este ano não presta



[4341]

Já comi sardinhas umas quantas vezes este Verão. Curioso, quis perceber até que ponto as sardinhas não prestavam. Porque a sardinha este ano não presta. O povo decidiu, o povo decretou. A sardinha não presta. Porquê? Porque a primavera foi muito quente. O mar não está bem azul. Houve muito vento. Não fez vento. O plâncton está diferente. O bioplâncton está a desaparecer. Há muito menos zooplâncton porque o bioplancton está a desaparecer. Há muita poluição.

Das vezes que, desconfiado e curioso, fui comer sardinhas, não me apercebi destas versões catastrofistas do povo. Em Alfama comi sardinhas na rua, e aí foi onde verdadeiramente comecei a ouvir dizer que as sardinhas não eram boas. Estavam magras e não tinham sabor. O povo é sábio, percebe destas coisas. E enquanto celebrava o Santo António, degustando milhares de sardinhas deitadas numa fatia de pão casqueiro, ia dizendo que este ano a sardinha não prestava. Mais. Que a petinga, não a pequenina, aquela maiorzinha, é que era boa. Dá para questionar porque é que a petinga, que é uma sardinha pequenina, está boa e a irmã mais velha não presta. Mas estas coisas não se discutem assim a céu aberto. Muito menos se discute. Essa sim. A petinga, estava uma especialidade. Curiosamente, esta onda de maledicência apareceu depois de uma notícia em várias televisões de que a sardinha este ano era congelada. Em todo o caso, as sardinhas da Alfama souberam-me pela vida. Apesar do preço estar pelas horas da morte. Fora da Alfama, já por um par de vezes fui a restaurantes comer sardinhas. Em qualquer dos casos me serviram umas sardinhas gostosas e apetitosas, gordas e de pele destacável, libertando o Ómega 3 que acumularam no mar entre o bioplâncton e zooplâncton que o povo este ano decretou estar a desaparecer.

O povo é assim. Sábio, conhecedor e inflexível. Tal como um chefe de família escolhendo o melhor melão, este ano decidimos parametrizar a sardinha, desqualificando-a por força da quantidade de plâncton no mar, horas de sol, temperatura da água e, quem sabe, aumento de votos no PSD. É uma lei dura, cega e que não admite tergiversações. Sempre assim fomos e assim seremos. Enquanto houver sardinhas, melões, enchidos, vinhos, castanhas e cerejas. Se um dia decidimos que a sardinha não presta, ai daquele que ouse questionar os porquês. E tratemos de comer sardinhas a recato de olhares críticos. Ou, a céu aberto, deveremos sempre trocá-las por petinga. A pequenina, não. Daquela maiorzinha.
.

Etiquetas: ,

segunda-feira, julho 04, 2011

Não vás tu sapateiro além da chinela (???)




[4340]

Alfredo Barroso, aquela histriónica figura, quiçá uma das mais representativas do arquétipo socialista, acabou de dizer ali na SIC-N, a propósito da renúncia de Fernando Nobre ao cargo de deputado, que o Dr. Nobre era um perfeito exemplo do ditado português não vás sapateiro além da chinela.

Foi uma saída compatível com o conteúdo do debate, ao longo do qual Alfredo Barroso encarnou bem a figura conspícua de um Partido que continua a achar que a situação em Portugal e na Grécia é por culpa do BCE, FMI e da senhora Merkel. Alfredo Barroso berrou esta asserção ao longo do programa (o homem berra…) e o ditado à la PS representa bem a imagem de marca do seu Partido em termos de cultura geral.

Valeria a pena Mário Crespo ter recomendado a Alfredo Barroso, a fechar o debate, quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão. Para que o debate não acabasse com aquela mescla promíscua, de sapateiros, varinas, meias solas e canastras, ainda por cima atirada com a sobranceria própria dos ignorantes e teimosos.
.

Etiquetas:

Sermão da Montanha


[4339]

Aturar esta rapaziada no poder já exigia contornos de resistência muito acima do que permite a força humana. Aturá-los na oposição começa a ser uma das nove bem-aventuranças do Novo Testamento. Resta-nos assim esperar a vinda do Reino de Deus através da palavra e acção de Jesus que tornem a justiça divina presente no mundo. E, assim sendo, que a leitura da sua produção diária nos seja leve como a terra que a todos nos há-de comer. Ámen.

.

Etiquetas: , ,

Mentes férteis




[4338]

Pedro Marques Lopes é um dos «paineleiros» mais ou menos recentes em uso nesta repartição. Colabora em vários programas de análise política, com relevância para aquela enormidade pornográfica que dá pelo nome de Eixo do Mal. É, supostamente, simpatizante ou militante do PSD e o seu desporto favorito é ser danado para a brincadeira, atacando o PSD quer em manifestações pueris com a pluma caprichosa e com o comediante Daniel Oliveira quer, num registo mais grave, com o escolástico Pedro Adão e Silva. Até porque ser de qualquer coisa e atacar a nossa própria coisa vai muito bem com a transparência, com excepção do FêQuêPê.

Pedro Marques Lopes resolveu, enfim, a charada do veto a Bernardo Bairrão. Eu conto. Ou, é assim, como se diz agora:

- Bernardo Bairrão era/é membro da claque dos simpatizantes socráticos, vai daí colaborou activamente no afastamento da desbragada Manuela Mora Guedes. O PSD é que não gostou da brincadeira e pensou. Pera aí que já te apanho na esquina. Assim, engendrou uma forma simples de punir Bairrão. Ai é? Socratino? Então aí vai. Convidam o homem para secretário de Estado, o homem diz que sim, demite-se da TVI e aí… pimba, já não vai para secretário de coisa nenhuma. Muito menos do Estado. Uma manobra simples, como se vê. Sobretudo, imaginativa. E prática. Capaz mesmo de ser a forma mais simples e eficaz de dar umas palmadas a Bairrão.

Simples, não? Se querem ler tudo como deve ser é faze-lo aqui. Mantenhamo-nos informados, lendo e ouvindo o Pedro Marques Lopes.
.

Etiquetas: , ,

domingo, julho 03, 2011

Para um fim de domingo sereno



[4337]

Gwineth Paltrow e Huey Lewis em dueto (Cruise with me, baby).


Muita gente não aprecia esta mulher em cinema. Eu, por acaso, gosto. E hoje tropecei nela num filme já de 2000 (Pares) e lembrei-me desta música que faz parte do «sound track» do filme. É uma canção bonita e que vai bem com este fim de domingo sereno e soalheiro.

.

Etiquetas: ,

Globalização

[4336]

Mordomo.- Bonjour Votre Altesse. Petit-déjeuner est prêt et nous avons osé servir notre traditionnel et délicieux petit-déjeuner. Nous avons du pain frais, les baguettes, le brioche et les croissants, le pain au chocolat et le pain au raisin, une grande tasse de café au lait, faite d'espresso et de lait à parts égales, la beurre des Alpes et la confiture de fraise et d'abricot…

Charlene Wittstock.- Hummm!!! Asseblief bring my meelie pap, boerwors en twee Castle Lager...En, waarop, vir middagete sal ek lende krokodil en 'n skaap kop. Geen oë, asseblief. Voeg 'n bietjie biltong, frites en uieringe. Milktart vir nagereg en nog 'n Castle Lager. Wel, maak dit twee. Drie...
.

Etiquetas: ,

sexta-feira, julho 01, 2011

A ler



[4335]

Mas a história dessa gente nascida nos anos 30 e 40 do século passado e que não se conformou com o destino não só merecia muito mais respeito e estudo como, neste momento particular, é uma espécie de bofetada na cara de todos nós e muito em particular daqueles ditos jovens que atochadinhos de canudos ficam muito indignados porque a senhora Merkel não lhes garante a casa e o emprego para toda a vida.

Ler o artigo todo, da Helena Matos, no Público, aqui.

.

Etiquetas: , ,

Sempre os mesmos a pagar, ou sempre os mesmos a votar?



[4334]

Os trabalhos da Assembleia da República foram reactivados com a estreia do novo Governo. De salientar o novo estilo notado, tipo «peço desculpa por estar de costas», a atitude cordata de Maria de Belém e a beligerância idiota dos comunistas e «bloquistas», incluindo a sempiterna Heloísa Apolónia com a retórica do costume.

Pelo caminho, o anúncio de um imposto extraordinário de 50% do subsídio de Natal que, mesmo assim, não produziu os efeitos que se poderia esperar. Talvez porque a ideia de que «são sempre os mesmos a pagar» tenha sido substituída, pelo menos parcialmente, por um «são sempre os mesmos a votar». Os portugueses tiveram mais do que tempo suficiente, durante todos estes anos em que vivemos em democracia, para perceberem os resultados da governação (???) socialista que, junto e somado, conduziram sempre à exaustão das nossas finanças, o comprometimento de gerações vindouras (daqueles que ainda não pagam impostos nem votam, como disse Vítor Gaspar) e a imagem, patética, de que o dinheiro dá nas árvores dos jardins de S. Bento, cabendo aos socialistas colhê-lo e distribuí-lo. Acresce que a geração romântica de Mário Soares, após um período de transição do «bonzinho» (*) Guterres, descambou num grupo de aventureiros sem escrúpulos liderados por um inenarrável produto da extracção portuguesa, que dá pelo nome de Sócrates e cujas manigâncias, «trambiques» e uma repulsiva rede de cumplicidades são por demais conhecidas e me escuso, assim de enumerar. Ora, os portugueses tiveram tempo suficiente para perceber tudo isto, poderiam mesmo ter-se interrogado, por exemplo, por que diabo Soares, apesar de toda a retórica socialista, metia o socialismo na gaveta… aparentemente ninguém questionou o paradoxo e toda a gente continuou a votar alegremente num Partido cujas competências se consubstanciavam num «passado de luta», umas prisões em Caxias, Peniche e Tarrafal e na utopia romântica dos anos sessenta , num passado mais recente, e reincidiram em Sócrates, tornado já em espécime sem valor, mas com valor suficiente para alimentar a dinâmica do voto socialista.

Por isso, voltando ao imposto extraordinário, valia mais reflectir sobre as razões que levaram os portugueses a manter no Poder os socialistas do que começarem com a excitação do costume, com a comunicação social à frente, reproduzindo uma entrevista de Passos Coelho, há uns meses atrás, a uma adolescente estudante, a quem dizia que aumentar os impostos seria um disparate.

Ainda sobre reacções, há o registo histriónico de Heloísa no local adequado, tudo bem, mas há, após a sessão, um conjunto de afirmações de Carvalho da Silva que são verdadeiramente criminosas. Há uma ameaça que nem velada é, de trazer a revolta social para a rua por causa da aplicação do imposto (o saque, como lhe chamou Carvalho da Silva) e que, na minha modesta opinião, poderia constituir um caso de polícia. Porque o que Carvalho da Silva afirmou não foi a expressão livre das suas ideias mas um claro aviso de que fará tudo para colocar os profissionais da arruaça no meio da rua. E eu acho que vai sendo tempo de explicar a esta gente que, todos juntos e somados, com as clivagens e tudo, representam sensivelmente menos de 1/5 do eleitorado português. Que naturalmente terá de respeitar os outros 4/5, em vez de vir para a rua partir montras, queimar carros e bater nos polícias.

(*) Bonzinho Guterres. A expressão é do João Gonçalves, mas é tão boa que eu não resisto a plagiar.
.

Etiquetas: