Cheguei a Lisboa anteontem, num voo de médio curso. Um dos assistentes
(agora praticamente todos de barba, daquela barba de três dias que cada vez
mais nos liga aos «cavalos de Deus») anunciou a lengalenga do costume e, pelo
meio, disse que nos ia ser servido um almoço. Eu até estava com fome, na véspera
tinha feito um voo de onze horas e não havia comido grande coisa. E foi com
alegria que vi surgir o carrinho. E sabem o que me deram? Eu explico:
«- Pão nórdico (49%), farinha de trigo, água, farinha de
centeio, xarope de glucose, sacarose e frutose, fermento, açúcar, glúten de
trigo, óleo vegetal, fibras de beterraba, sal, emulsionantes (E471 e E472),
fermento em pó (E503), açúcar de uvas, agente de tratamento da farinha (E300),
enzimas, salmão fumado (20,3%) (salmão da Noruega, sal, açúcar e fumo de
madeiras nobres), queijo Filadélfia (6,5%) (leite, nata, concentrado de proteína
de soro de leite e vaca, cabra e ovelha, sal, estabilizadores E410, E412), ácido
cítrico, conservante (E200), fermentos (lácteos), tomate, coentros, rúcula,
sumo de limão (limão, ácido cítrico, conservante (metabissulfito) de potássio).
Contém trigo, ovo, leite, glúten e sulfitos»
Resumo: 123 g de duas fatias dum biscoito meio cinzento,
mais ou menos do tamanho do meu celular, com uma fatia de salmão lá dentro. Ao
lado, uma garrafinha mais pequena que a maioria dos perfumes da Chanel contento sumo de maçã da Compal e um
guardanapo, não vá a gente babar-se com a gula. Claro que fiquei cheio de fome
mas satisfez-me ficar tão cientificamente informado sobre o que comi. E devidamente
avisado sobre a presença de cada um de vários componentes, não vá eu ser alérgico. Para
além de que eram rigorosamente 123 g de pão nórdico, não 124 nem 122. Certamente que
consultaram uma nutricionista para determinar o tamanho e peso de tão opípara
refeição.
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