sexta-feira, dezembro 19, 2014

Protestar – como acto político


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Ontem assisti a uma das mais patéticas sessões da Quadratura do Círculo que me ocorre. Pacheco Pereira, pois claro. E pasmo como um homem com a sua envergadura intelectual esteja verdadeiramente peado por preconceitos ideológicos (por vezes me interrogo se será mesmo por razões ideológicas), sempre que se dispõe a tosar o governo. Vilipendiar o actual governo tornou-se para PP uma verdadeira obsessão e vá lá perceber-se porquê. Ontem falava-se da greve da TAP e da requisição civil. PP desbobinava um verbo erudito, mas falacioso e inconsequente. 

Ele não é contra a greve. Mas também não é contra a privatização. Ele acha é que… perdi-me na sintaxe do que ele acha, apenas me ocorre a sua forma verdadeiramente insidiosa de abordar questões sérias, primordiais para o nosso país, sobretudo no estado depauperado em que o puseram. E nessa forma insidiosa, PP relembra-me aquela forma mais ou menos romântica de se fazer oposição como, por exemplo, quando eu era um jovem estudante, politicamente impreparado e me atrevi a perguntar aos mais velhos sobre a substância política que me deveria levar a partir montras nas lojas da Rua da Sofia e me foi dito que isso era um acto político. E quando pedi para serem mais específicos, foi-me dito que tudo na vida era um acto político, que o cagar era um acto político.

PP parece viver ainda essa fase de romantismo quando faz a apologia do protesto. Ele acha que é preciso protestar. No caso da TAP, ele concorda com a privatização, ele concorda com a greve, mas é preciso protestar. Sobretudo se estamos a ser governados por um governo mentiroso. Ora esta forma de estar, que eu chamaria um caldo de romantismo e reviralho inconsequente acaba por inquinar o pensamento político de um intelectual como ele. Que chega aos sessenta e cinco anos e ainda acha que independentemente do propósito, o que é preciso é protestar. Não deixa de ser um acto político mas isso, já nos meus verdes vinte anos me diziam que actos políticos até o movimento peristáltico produzia.

Esperemos que ele proteste muito mas que não interrompa tanto o Lobo Xavier sempre que este proteste sobre o protesto de PP. E, por uma vez, que se protestasse menos, não penteássemos tanto o ego e, sobretudo, que deixássemos de ser um país engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano.

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