Protestar – como acto político
Ontem assisti a uma das mais patéticas sessões da Quadratura
do Círculo que me ocorre. Pacheco Pereira, pois claro. E pasmo como um homem
com a sua envergadura intelectual esteja verdadeiramente peado por preconceitos
ideológicos (por vezes me interrogo se será mesmo por razões ideológicas),
sempre que se dispõe a tosar o governo. Vilipendiar o actual governo tornou-se
para PP uma verdadeira obsessão e vá lá perceber-se porquê. Ontem falava-se da
greve da TAP e da requisição civil. PP desbobinava um verbo erudito, mas falacioso
e inconsequente.
Ele não é contra a greve. Mas também não é contra a privatização. Ele acha é que… perdi-me na sintaxe do que ele acha, apenas
me ocorre a sua forma verdadeiramente insidiosa de abordar questões sérias,
primordiais para o nosso país, sobretudo no estado depauperado em que o
puseram. E nessa forma insidiosa, PP relembra-me aquela forma mais ou menos
romântica de se fazer oposição como, por exemplo, quando eu era um jovem
estudante, politicamente impreparado e me atrevi a perguntar aos mais velhos sobre
a substância política que me deveria levar a partir montras nas lojas da Rua da
Sofia e me foi dito que isso era um acto político. E quando pedi para serem mais
específicos, foi-me dito que tudo na
vida era um acto político, que o cagar era um acto político.
PP parece viver ainda essa fase de romantismo quando faz a
apologia do protesto. Ele acha que é preciso protestar. No caso da TAP, ele
concorda com a privatização, ele concorda com a greve, mas é preciso protestar.
Sobretudo se estamos a ser governados por um governo mentiroso. Ora esta forma
de estar, que eu chamaria um caldo de romantismo e reviralho inconsequente acaba
por inquinar o pensamento político de um intelectual como ele. Que chega aos
sessenta e cinco anos e ainda acha que independentemente do propósito, o que é
preciso é protestar. Não deixa de ser um acto político mas isso, já nos meus verdes vinte anos me diziam que actos políticos até o movimento peristáltico
produzia.
Esperemos que ele proteste muito mas que não interrompa
tanto o Lobo Xavier sempre que este proteste sobre o protesto de PP. E, por uma
vez, que se protestasse menos, não penteássemos tanto o ego e, sobretudo, que
deixássemos de ser um país engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por
engano.
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Etiquetas: greve da TAP, Pacheco Pereira, politiquês, Quadratura do Círculo
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