sábado, janeiro 09, 2016

Uma «Quadratura» de bónus


[5354]

Assisti ontem ao comício que a SicN proporcionou a A. Costa por via de uma Quadratura do Círculo extra.

Toda a sessão assentou numa confrangedora manifestação de apoio e solidariedade ao «António, de quem sou amigo, mas não concordo com ele». Nenhuma das questões colocadas pelos participantes mereceu resposta adequada, umas vezes porque A. Costa manifestamente não consegue usar um português escorreito e compreensível, outras vezes porque as respostas se embrenhavam na repetição ad nauseam nas culpas do governo anterior, e em termos que variavam entre a pura incompetência e uma situação de quase latrocínio na forma como os assuntos foram tratados em fim de legislatura.

Ficou por explicar, por exemplo, a noção generalizada de que as empresas de transportes produziram e mantêm prejuízos de milhares de milhões de euros e como é que as coisas ficam depois das «reversões». Continuamos a dever aquele dinheiro todo e, logicamente, a aumentar a dívida? E a TAP? Que, sozinha, parece que deve tanto como as outras empresas de transportes todas juntas? E as perguntas – tímidas - de Lobo Xavier sobre a manifesta quebra de credibilidade do Estado Português mereceram apenas a repetição exaustiva das malfeitorias do governo anterior, sem que se obtivesse uma resposta adequada. Jorge Coelho fez uma perguntinha para que não se dissesse que ficava calado. E Pacheco Pereira exorbitou da sua conhecida posição de antagonismo a tudo o que cheira à Coligação transacta. Chega a assustar a forma como o homem espuma de raiva  (e treme e grita e gesticula e abana e aumenta os decibéis e, juraria, transpira) e perde por completo a compostura, basta lembrar a agressividade com que se dirigiu a Lobo Xavier de cada vez que este ensaiava uma timorata, ainda que pertinente, questão.

Já cansa.


*
*

Etiquetas: ,

sexta-feira, dezembro 26, 2014

Histeria


[5209]

Era Natal, mas deu para ver a Quadratura do Círculo. E o que vi uma vez mais, foi uma demonstração obscena de como o ódio e o preconceito podem distorcer a realidade. Eu ouvi, ninguém me contou, pela boca de Pacheco Pereira que talvez o maior drama de Portugal num futuro próximo seja a herança que o PS vai receber do actual governo. Com a fluência que se lhe reconhece, PP afirma sem rebuço que Passos Coelho e o actual governo legam a António Costa uma das mais dramáticas situações da nossa história, por força da sua desastrosa governação. No fundo, PP não consubstancia o que afirma. Diz que é desastrosa, ponto. Apetece perguntar como é possível soltar estas afirmações, por muitas e nem sempre aprováveis medidas a que este governo se tenha sentido obrigado, sem que ninguém pergunte ao insigne comentador qual seria a alternativa, perante a desastrosa, essa sim, situação em que Sócrates e os seus rapazes nos deixaram. Por via de uma inenarrável incompetência, condimentada por uma obscena promiscuidade com o poder económico (de que o novel comentador Jorge Coelho é, de resto, um refinado exemplo) e por índices aterradores de corrupção que levaram inclusivamente à prisão de um ex-primeiro-ministro, semi-parolo mas vivaço por inteiro, que aguarda na cadeia julgamento pelos seus desmandos.

Costa poderá até vir a ganhar as eleições coisa que, de resto, se espera, já que o povo é sensível aos males que lhe dilaceraram a pele (sem perceberem porquê) e à mais extraordinária e manipulada orquestração de vontades a que tenho tido oportunidade de assistir (ainda me ocorre a excitação desabrida da Ana Lourenço e de um estranhíssimo e quase histérico Pedro Marques Lopes, ontem, perante argumentos incontornáveis de José Gomes Ferreira). Mas pedir-se-ia que as críticas ao actual governo fossem feitas com um mínimo de decência, porventura confinando-se a vários temas que indubitavelmente são passíveis de duras e apropriadas críticas. Mas histeria e outras reacções patéticas seriam desejavelmente dispensáveis. Quanto mais não fosse por uma questão de higiene.

*
*

Etiquetas: ,

quarta-feira, novembro 12, 2014

Insólito


[5191]

E o insólito aconteceu. Num programa anunciado como «Frente a Frente», a moderadora Ana Lourenço, Santana Lopes e António Vitorino acabaram na risada (Ana, então, em incontrolada gargalhada…) perguntando-se como era possível o Governo ter lançado tantos impostos e estar agora a criticar António Costa por ter lançado umas taxas. Ao menos Santana Lopes poderia ter retrucado com a aleivosia de o PS enformar a sua oposição quase exclusivamente na crítica ao governo pelo lançamento de impostos (porque, também, pouco ou nada mais sabe fazer) e acabar, por via de Costa, fazendo o mesmo.

Ainda não perdi a esperança de um dia vir a entender cabalmente esta fenomenologia indígena.

*
*

Etiquetas: , ,