quarta-feira, dezembro 10, 2014

Notas de viagem ( 1 )



Lulas suicidas em S. Tomé  - 26/11/14

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Eu viajo um bocado, normalmente aceito com naturalidade vários episódios que me envolvem durante as viagens e raramente faço registo deles no blogue.

Desta vez, porque passei por, «xacaver», seis países e porque se multiplicaram alguns episódios dignos de registo e porque cheguei a Lisboa e ainda estão no Sócrates e no Espírito Santo, vou abrir uma excepção e registar alguns deles.

Em S. Tomé passei ao longo da marginal e vi… muitas centenas de pessoas cantando alegremente ao longo do areal, apanhando qualquer coisa que, parada a viatura, vi serem lulas. Não os «da Silva», lulas a sério. E quedei-me por ali, assistindo a um verdadeiro suicídio em massa, no qual muitas centenas (milhares???) de lulas se deixavam arrastar nas águas mornas são-tomenses para virem, resignadamente, morrer à praia. Os passantes apanhavam-nas com sofreguidão e, segundo me contaram, cortam-nas em pedaços e salgam-nas.

Este episódio acontece duas a três vezes por ano. Segundo os locais, isto deve-se a grandes cardumes de tubarões que passam periodicamente ao largo e dos quais as lulas preferem escapar para não serem comidas pelos tubarões e serem, ao invés, comidas pelos homens.

Fica a ideia de que há, em África, terras abençoadas, onde até a comida vem ter connosco. Já uma vez vi chover peixe em Moçambique, ocorre-me uma barracuda suicidária que me saltou para dentro do barco enquanto eu me entretinha a tentar içar um «yahoo», entre outras recordações de abundância e prodigalidade que talvez expliquem muita coisa em África.

Desta vez foi lulas a dar à costa e não são umas lulas quaisquer, como se pode ver pela foto que eu próprio tirei. São bichos para quatro ou cinco quilos. Uma versão mais científica (no caso, colhida junto do nosso corpo diplomático do local) indica diferenças termais muito sensíveis no mar, as lulas baralham-se e correm para o suicídio.

Seja o que for, fica-me a ideia de que quando pensamos que já vimos tudo há sempre qualquer coisa de novo para ver.

Já agora: Falando de mar, um apontamento de 2006.

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