Nunca fui a Cuba nem nisso estou particularmente
interessado. Sobretudo assim que me apercebi de que Cuba era um dos vários
países com políticas sociais repugnantes, particularmente ao nível da manipulação
de gerações sucessivas, conseguindo mesmo que muitos dos seus jovens achassem
que viviam na sociedade perfeita e que gentes de outras latitudes haviam tido a
desgraça de nascer em territórios malditos por Deus e infectados por políticas
fascistas, capitalistas e de latifundiários corruptos.
Mas o tempo passou e eu julgava que, finalmente, alguns dos
mais repugnantes aspectos das políticas cubanas haviam sido ultrapassadas ou, pelo
menos, ajustadas à realidade dos tempos, pelo menos a avaliar pelos comentários
excitados de muitos progressistas da nossa praça socialista, sempre pronta a
louvaminhar cada «abertura» do Castro em gestão corrente. Afinal, eis que o
Brasil vai receber 4.000 médicos cubanos para colmatar as suas faltas no interior,
mau grado a notícia corrente de que o Brasil é um dos países com mais médicos
por habitante. O Brasil pagará $R10.000 por médico, o que para os standards
cubanos é um excelente salário. Acontece que os médicos receberão apenas 7%
desse salário (vou repetir, 7%), talvez para que não adquiram hábitos
decadentes das sociedades capitalistas, mesmo que geridas por socialistas de
segunda colheita, como será o caso de Dilma. Os 93% restantes vão direitinhos
para o Estado, porque é assim que deve ser.
Afinal, nada de muito diferente de quando conheci excelentes
pilotos agrícolas cubanos, que conheci em Moçambique, que trabalhavam o mesmo que
os seus colegas capitalistas que auferiam cerca de $5.000 mensais, ou mais,
enquanto eles recebiam o equivalente em moeda local a PTE5.000 escudos
portugueses. Mas, hélas, tinham direito a «pontos». Pontos, assim como aqueles
que a gente recebe aqui, nas bombas da BP. E quando voltavam a Cuba, esses pontos
eram contabilizados para algumas excentricidades como uma torradeira, um
aspirador ou, em casos muito especiais, um carro usado dos anos cinquenta.
No caso do Brasil não sei se há pontos. O que sei é que,
pelo que leio e vejo, continua tudo na mesma. Ou seja, em Cuba nem as moscas
mudam. Ah! E há outra coisa que eu não sei se a Dilma sabe. Mas eu sei que ela sabe
que muita gente sabe que ela deve saber. Muitos destes médicos não são médicos.
São estudantes de medicina a quem é passado um certificado político para
poderem praticar. Que era o que acontecia em Moçambique. Mas no Brasil, que é um
terceiro mundo assim a puxar para cima, Cuba é mesmo capaz de ter mandado médicos
a sério. E para cobrir a falta que os 4.000 médicos emigrados vão fazer (a não
ser que houvesse desemprego em Cuba e houvesse médicos a mais…) estes serão
substituídos por estudantes finalistas ou técnicos de saúde. E se isto der
muito nas vistas, um dia destes aparecem por aí mais umas notícias no Expresso ou
no Público dando conta de uns quantos presidentes de câmaras alentejanas que
mandam uns quantos doentes a Cuba para fazer um qualquer tratamento,
provavelmente difícil de obter em Portugal, pretexto para mais umas loas comoventes sobre a qualidade da medicina cubana e das «aberturas» do regime.
Pelo sim pelo não, as famílias dos médicos que forem para o
Brasil serão devidamente protegidas pelo Estado cubano. Não vá algum maluquinho
gostar imenso de água de coco ou duma baiana atrevida e resolva render-se à
degradação capitalista.
Entretanto, a imprensa progressista brasileira vai dando já um
jeitinho também, a avaliar pelas fotos!
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Etiquetas: brasil, socialismos, socialismos com água benta