A crise… de repórteres decentes
Devo ter ido três ou quatro vezes à Costa da Caparica, na
minha vida. Mas todos os anos, muitos anos, ouvi falar mil vezes da praia da
Caparica. Que tinha muita gente, que os transportes eram morosos e
esquartejavam-nos a paciência em bichas longas, ao sol, esperando autocarros
que saíam apinhados do Areeiro e chegavam «à Costa» cerca de noventa minutos
depois. Quem tinha carro queixava-se, à mesma, da muita gente na praia e em vez
das bichas para os autocarros, queixava-se das longas bichas do trânsito, da
ponte, do sítio para arrumar o carro, do calor ou de qualquer coisa, já que o
português tem sempre qualquer coisa para se queixar e se não tiver, descobre.
Tudo junto e somado, parece que «ir à Costa» foi sempre um
suplício, mais ou menos suportado com o estoicismo dos portugueses que não dispensam
um golpe de sol na barriga. Mas este ano é diferente. A «Caparica» continua um
horror de gente mas, desta vez, há uma explicação – a crise. Há muita gente na
Caparica, por causa da crise. Não há dinheiro para ir mais longe e, assim, os portugueses
vão à Caparica, tesos e submissos. Como é que a comunicação social chegou a
esta conclusão, não sei. Lá deve saber como e os porquês. Não explica porque
é que nos outros anos não havia crise e a praia estava cheia na mesma. Só
explica que há crise, há austeridade e os portugueses não têm dinheiro. A
culpa é, assim, da austeridade, do Passos Coelho, da troika, da Merkel, dos bancos, dos
capitalistas, dos poderosos, dos swapistas, PPP's e portagens na Via do Infante.
A nossa comunicação social é assim. Prestimosa e bem
informada. Tenho a certeza que quando a crise acabar e os «capariquistas»
continuarem a ir à Caparica, a comunicação social entretém-se com outra coisa
qualquer. Até lá… vamos ter que aturar os repórteres em directo, os banhistas
em directo, os turistas domésticos em directo e a crise em directo e a idiotia
como um directo aos nossos queixos.
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Etiquetas: comunicação social, crise
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