segunda-feira, agosto 05, 2013

A crise… de repórteres decentes


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Devo ter ido três ou quatro vezes à Costa da Caparica, na minha vida. Mas todos os anos, muitos anos, ouvi falar mil vezes da praia da Caparica. Que tinha muita gente, que os transportes eram morosos e esquartejavam-nos a paciência em bichas longas, ao sol, esperando autocarros que saíam apinhados do Areeiro e chegavam «à Costa» cerca de noventa minutos depois. Quem tinha carro queixava-se, à mesma, da muita gente na praia e em vez das bichas para os autocarros, queixava-se das longas bichas do trânsito, da ponte, do sítio para arrumar o carro, do calor ou de qualquer coisa, já que o português tem sempre qualquer coisa para se queixar e se não tiver, descobre.

Tudo junto e somado, parece que «ir à Costa» foi sempre um suplício, mais ou menos suportado com o estoicismo dos portugueses que não dispensam um golpe de sol na barriga. Mas este ano é diferente. A «Caparica» continua um horror de gente mas, desta vez, há uma explicação – a crise. Há muita gente na Caparica, por causa da crise. Não há dinheiro para ir mais longe e, assim, os portugueses vão à Caparica, tesos e submissos. Como é que a comunicação social chegou a esta conclusão, não sei. Lá deve saber como e os porquês. Não explica porque é que nos outros anos não havia crise e a praia estava cheia na mesma. Só explica que há crise, há austeridade e os portugueses não têm dinheiro. A culpa é, assim, da austeridade, do Passos Coelho, da troika, da Merkel, dos bancos, dos capitalistas, dos poderosos, dos swapistas, PPP's e portagens na Via do Infante.

A nossa comunicação social é assim. Prestimosa e bem informada. Tenho a certeza que quando a crise acabar e os «capariquistas» continuarem a ir à Caparica, a comunicação social entretém-se com outra coisa qualquer. Até lá… vamos ter que aturar os repórteres em directo, os banhistas em directo, os turistas domésticos em directo e a crise em directo e a idiotia como um directo aos nossos queixos.
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