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De repente sou agarrado por um colega, excitado, no bom sentido, com dois bilhetes especiais de corrida para ir ver o Sporting vs Bayern e a convidar-me para ir com ele.
A última vez que fui ao futebol foi mais ou menos no tempo das cruzadas, quando ainda não éramos sodomizados por um Abdul qualquer e ainda tínhamos de pedir desculpa por estar de costas. Lembro-me que fui com os meus dois filhos (ainda a princesa não existia), animado do espírito pedagógico que norteava o meu propósito de que os meus filhos vissem tudo, soubessem tudo, observassem tudo - e foi assim que tive duas criancinhas semi-aterrorizadas perante uma turba a emitir bestiais assobiadelas de minuto a minuto. No meio da turba e na fila à nossa frente estava um velhinho com uma traqueotomia mais ou menos disfarçada por um lenço vermelho e que a cada apitadela do árbitro, levantava-se, encostava um vibrador ao pescoço e grunhia a mais vasta colecção de impropérios que me ocorre, com a particularidade de o chorrilho sair com raros decibéis, apenas audíveis pela vibração do aparelho. Por outras palavras. Os insultos do homem ouviam-se num raio máximo de um metro ou coisa que o valha, o que não impedia o adepto de se levantar frequentemente a insultar a mãe do árbitro, devidamente sintonizado com uma linguagem gestual em conformidade.
Este episódio produizu várias sessões pedagógicas, como é evidente, englobando palavrões e das razões que levavam um traqueotomizado “berrar” para um homem a mais de trezentos metros dele, mesmo sabendo que a dois metros ele já não era audível. Isto no meio da berraria só comparável a uma manada de duas centenas de vitelos desmamados, como ruído de fundo.
Bom. Mas vou. Garantem-me que em Alvalade não chove e eu garanto-me a mim mesmo que o Sporting vai ganhar. Já não tenho filhos pequeninos mas, que diabo, alguma berraria se há-de arranjar. Depois vou a correr para casa para ver os lances polémicos em câmara lenta.