terça-feira, outubro 31, 2006

Novos tempos


[1291]

Isto do racismo e xenofobia já não é o que era. O tempo de contar anedotas do Eusébio a dizer que o marisco que mais gostava em Portugal eram os tremoços já lá vai e mesmo a pantomina simiesca que os espanhóis vão dedicando a um jogador do Barcelona está, rapidamente, a dissipar-se.

Os tempos são outros e,
de acordo com o sítio do Benfica, o FCP dá o toque dizendo no seu sítio oficial que o seu jogador Anderson (um negão possante da terra do pau brasil) foi atingido intencionalmente por… um grego.

Isto da xenofobia já não é o que era...

segunda-feira, outubro 30, 2006

I-rres-pi-rá-vel


[1290]

Já a mente a informar-me que são horas de ir para casa, ainda oiço um senhor chamado João Paulo Baltazar, pivot de notícias da TSF dizer-me que (e cito de cor) um cientista inglês apresentou um relatório sobre as alterações climáticas do nosso planeta. O cenário é catastrófico e até Tony Blair (a subtileza do até não é minha, é da TSF) ficou impressionado com o relatório, prevendo que os prejuízos sejam comparáveis aos de duas Grandes Guerras Mundiais e extensas áreas do planeta tornar-se–ão inabitáveis, tudo por força da poluição, para a qual contribuem principalmente a China, a Índia e os Estados Unidos. Já em jeito de roda pé, João Paulo Baltazar, informa que dado Blair ser um reconhecido aliado de Bush, existe alguma esperança que isso possa ajudar à mudança de política dos Estados Unidos.

Claro que vou para casa muito mais confortado. Não sei bem quem poderá influenciar a China e a Índia mas, pelo menos, o idiota do Bush pode ser que mude de política por acção do aliado Blair.

“Isto” está a ficar irrespirável…

In-su-por-tá-vel


[1289]

Marcelo Rebelo de Sousa está, gradualmente, a piorar a qualidade da sua dicção. Guincha, resfolega, come metade das palavras do fim das frases, faz abreviações fonéticas e deixa partes do monólogo a meio, pressupondo que todos nós estamos a acompanhar o seu raciocínio e temos obrigação de chegar ao fim das suas reflexões por dedução ou por aplicação de corolários.

Se juntarmos a esta deficiente oralidade (inaceitável num professor de Direito) uma série de tiques recentemente adquiridos (experimente-se ver Marcelo sem som e entender-se-á melhor o que quero dizer), temos uma intervenção televisiva de conjunto, longe da eficácia a que Marcelo nos habituou na TVI.

Este reparo pode parecer, mas não é, uma vulgar recreação de um blogger anónimo, de um elemento do universo dos chats e dos blogues nem, espero, reflecte qualquer preocupante manifestação de um processo de dessocialização e sedentarização de solidões de sítios imateriais onde é possível fazer praticamente tudo, desde arranjar parceiros amorosos até dizer mal de Marcelo. E se não entenderem bem o que digo nestas últimas linhas, terão de ler Miguel Sousa Tavares no último Expresso. Dizia eu que não é tal. É apenas o reconhecimento de um facto que lastimo: ter-me habituado a gostar de ouvir as crónicas de Marcelo e agora quase todas elas me parecerem risíveis. Aquela parte de ontem em que ele dizia que a ministra da educação estava a trabalhar muito bem apesar de ser in-su-por-tá-vel nem a Lili Caneças faria melhor.

Assim, está bem

[1288]

Uma escola em Linda-a-Pastora abriu apenas hoje. O problema é que segundo as notícias desta manhã, abriu apenas com UM funcionário. E é assim que um grupo de pais em vez de ir fazer gritaria e fechar portões a cadeado resolveu organizar-se e suprir as faltas de pessoal, desde o acompanhamento e vigilância nos recreios até aos serviços de portaria. E disso mesmo dar conta ao repórter que se deslocou à escola.

Ora aqui está uma forma cívica, pedagógica e, espero, eficaz de resolver problemas. E eu digo eficaz porque se eu fosse ministra de educação envergonhar-me-ia, com certeza, e trataria de saber imediatamente porque e que a escola só abriu agora e como é que é possível uma escola abrir com cerca de 90 crianças ao deus-dará. E é isso que se espera que a ministra faça
.

sábado, outubro 28, 2006

O esplêndido "Amor atrevido"

[1287]

Uma vez mais, com a devida vénia, e para desejar um bom fim de semana a todos.


Estou mesmo ao teu lado e bem sabes que só. Salta a tua agenda e três ruas, contorna-te a cintura renitente e as rotundas de palmeiras, atravessa-te a indecisão e o viaduto, esquiva-te à culpa e aos cruzamentos, corta a direito e à tua direita e estás à minha porta, à minha ávida porta, um raminho de salsa. Sabes que estou só, vizinha hibernada neste Inverno precoce, abandonada ao meu queixo, às persianas corridas, ao cheiro a fritos do andar de baixo e ao restolho ternurento dos outros. Queria beber-te em goladas de sílabas graves e tónicas, em vez do gin desacompanhado e morno que passeio entre mãos; queria matar esta saudade mafiosa que tenho de ti, em vez de matar o tempo que sobra com séries televisivas de quando se usava colete, carapinha e botas de tacão, e concursos antigos com prémios em escudos entregues a desoras. Sei que estás perto e que em dois minutos, talvez três, quiçá cinco, temo-nos os olhos a ferver e ambos os sorrisos rendidos, a desfazerem-se-nos nas bocas como massapão. Quem sabe se encontrem, no ar saturado da espera, as pontas dos dedos ou as palmas das mãos. Eu, sozinha e perdida em mim e tu, rondando-me o bairro, ensombrando-me a varanda e os vasos baratos de roseiras despidas, o teu cheiro a pairar no focinho do cão. Vem até cá: conversamos um bocadinho o amor que deixámos por fazer, relembramos os parágrafos que nos deslassaram os abraços ferozes e soletramos os beijos que não demos. Partilhemos a vontade ociosa de sermos melhores do que aquilo em que nos tornámos.

Cusquices


[1286]

Daniel Oliveira
vai meter o nariz na casa da vizinha para depois fazer um reunião de condomínio e acusá-la de que a sala estava toda desarrumada, a loiça suja, a casa de banho com os sanitários a precisar de desinfectante, que paga uma miséria à mulher a dias, bate na avó e que anda a dormir com o técnico da TV Cabo.

O que vale é que a vizinha é tolerante, civilizada e lhe vai abrir a porta, convidá-lo a entrar e ainda lhe oferece um chazinho.

sexta-feira, outubro 27, 2006

O solinho


[1285]

E da chuva e temperaturas relativamente baixas, vamos passar hoje para o solinho e temperaturas a rondar os 30º.

Lá vou eu ter que ler uns quantos posts à conta da instabilidade do clima, de Kioto, da globalização e de Bush, claro. A não ser que o referendo continue a dominar a cena e não deixe.

NÃO

[1284]

Eu votarei não porque não consigo descobrir uma razão única que me faça encontrar uma falha que seja numa lei sobre o aborto que me parece, simplesmente, perfeita. A nossa. Também porque não sou especialista na matéria e não percebo os critérios que estabeleceram as 10 semanas, altura em que o feto já tem um coração de 1 cm a bater e todos os órgãos formados…

Terei mais umas quantas razões mas são absolutamente supérfluas perante as duas que refiro, tão fortes e evidentes que são.

Resta-me dizer que não sou religioso, não vou à missa, nem voto CDS-PP. É, apenas, uma questão de bom senso e de liminar rejeição pelo facto incontroverso de se estar a transformar uma questão humana (que é disso que se trata) numa questão política. Mais grave: ideológica. Além de achar que o problema (grave) de gravidezes não desejadas passa mais por uma vertente social e cultural do que por outras. Não esquecendo que nem sempre é a falta de dinheiro que leva uma mulher a uma “parteira” (!...) de vão de escada em vez de se dirigir a um médico. Por vezes as razões são exactamente as mesmas que levam um paciente a consultar um “endireita”, um bruxo, um chinês que percebe de agulhas ou um padre que tenha um primo em Vilar de Perdizes, do que ir a um médico queixar-se de uma artrose. E depois de consultarem os astros, naturalmente.

Pronto. Já disse e não volto a falar no referendo. Porque me repugna.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Ditosa Pátria...


[1283]

Nunca perdi muito tempo a questionar-me sobre a génese das ditaduras. Porque sempre achei que todas elas resultavam de factores intrínsecos. Basta percorrer a lista dos países que foram (ou são ainda) sujeitos a ditaduras para o percebermos. Excluo, como é evidente, as ditaduras impostas a canhão, como o caso de alguns países do Leste Europeu. Mesmo estes, passado um par de gerações iam adquirindo um caldo de cultura propício à manutenção dos regimes, como foi especialmente o caso da Roménia e da República Democrática Alemã.

Portugal é, por excelência, um desses países. Muito antes do atraso cultural a que Salazar no submeteu (e que serve à perfeição para justificar a ira de grande parte da nossa esquerda, ela própria ditadora e não é necessário recuar muito para nos lembrarmos o que poderia ter acontecido de o PC tem efectivamente tomado as rédeas do poder depois do 25 de Abril) já Portugal dispunha de formas larvares de ditadura que algumas personagens da nossa história iam conseguindo fazer eclodir, mais ou menos de acordo com o cenário político circunstancial da altura.

Isto para dizer que me divertiu imenso ver
Joana Amaral Dias “ranger” (é o termo…) uma verdadeira ameaça que, em tradução livre, significou qualquer coisa como “se por acaso Salazar ganhar o concurso da RTP, então temos de rever muito bem que tipo de sociedade é a nossa e temos de tomar medidas". Não sei que medidas, nem ela, provavelmente, nem isso interessa. O que interessa é como a partir da premissa (especulativa, naturalmente) de que Salazar poderia ganhar o concurso, nós verificamos, confortados, que poderemos continuar com uma Joana Salvadora que nos libertará das trevas e da bota cardada com "medidas adequadas".

Isto daria para rir se não fosse trágico. Considero uma bênção estarmos inseridos num contexto político e económico europeu. Não fosse isso e continuaríamos sujeitos a Joanas Salvadoras. No caso presente a coisa poderia até ser bicuda pois ela faz um bocadinho o papel de sereia de Ulisses. Cara laroca, olhos bonitinhos, sexy qb, reúne alguns ingredientes que facilmente obliteram a razão do macho latino.

Foi patético ver
Joana Amaral Dias a espumar raivas mal contidas perante a ideia (absolutamente sem pés nem cabeça) de Salazar ganhar o concurso.

NOTA: Salvou-se a noite com a nota humorística do
Ricardo Araújo Pereira, quando ele disse que Salazar deveria estar a dar voltas na tumba. Um opositor ferrenho do voto livre a ser levado, agora, a um concurso televisivo por meio de voto popular!

quarta-feira, outubro 25, 2006

Gente interessada e interessante



[1282]

A Bettina e o Peter não merecem o meu desleixo. O evento foi no Domingo e já hoje é Quinta. O esplêndido almoço para que fui convidado no passado Domingo foi um exemplo vivo de bom gosto, requinte e encontro de gente interessada e interessante, como eu costumo dizer. E quando falo em bom gosto, a expressão é extensiva ao sentido literal do termo, por via da magnífica feijoada brasileira que estava, como soe dizer-se “no ponto”. Tanto os ingredientes como a confecção provocavam visões de pecado estrugido em haute cuisine.

Foi muito bom, Bettina e Peter. Tudo bom, incluindo aquela magnífica vista sobre o mar. Houve aquele abuso pequenino de se parar a procissão para ver a largada do GP do Brasil mas tornou-se claro que a culpa foi exclusivamente do Zé e da Bela que, como se sabe, não passam sem uma ida às boxes em dia de corrida!

Um grande beijinho de simpatia e agradecimento à Bettina e um abraço ao Peter. Ficarei a contar os dias para uma próxima.

Blogoesferando


[1281]

Hoje esqueci-me dos óculos de ler e vim mais cedo para casa. Sou daqueles que vão tendo os braços curtos para ler e precisam de dioptrias + , o que faz toda a diferença se pensarmos que até aos 40 anos as dioptrias são – (este hífen é “menos”, mesmo, para aqueles que não fazem a mínima ideia dos meandros da optometria).

Animado de boas intenções pensei em escrever um post minimamente interessante, como tive a ventura de saber fazer há uns tempos atrás. Agora, por qualquer razão, fenece-me a vontade e esvai-se o engenho. E nestas coisas, o melhor mesmo é não forçar.

E foi assim que dei uma voltinha mais alargada por blogues que nem sempre visito. Por absoluta falta de tempo, note-se. São tantos e tão bons que não é possível ler tudo. E deixei-me ir por aí. Li coisas giras, menos giras, muitas delas escritas por gente que conheço, outras que não conheço mas é como se conhecesse, tal a empatia e o conhecimento de estilo e substância que vamos criando com os bloggers com quem vamos privando mais de perto. Um exemplo vivo deste último caso será a
125_azul, um caso sério de engenho, humor e sensibilidade. Não nos conhecemos pessoalmente, mas ela lê-me todos os dias e ela sabe que eu a leio todos os dias também, apesar de a comentar menos, até porque ela tem posts com, digamos, 50 comentários de mulheres, sobretudo quando os temas são, sejamos claros, do género de interessar vivamente as ditas e, com sorte, obrigar a esconder um pequeno e educado bocejo a um homem. Digamos que o efeito seria mais ou menos o mesmo que eu escrever um post sobre um embraiagem de modulação mista que eu resolvesse pôr no meu carro ou dissertar sobre as virtudes de um dispositivo de bloqueio do diferencial, para condução desportiva. Se bem que perante um post destes ela era muito bem capaz de me fazer um comentário a gritar “eu quero um diff block”, “eu quero um diff block”, porque ela não se desmancha e tem uma forma muito dela de participar, no matter the subject. Ela não pode é esconder uma certa displicência no verbo. E não me refiro a gralhas, erros ou omissões. Refiro-me concretamente ao efeito desastroso, mas verdadeiramente hilariante, que esta displicência pode causar. Senão, atentemos neste post em que ela, para cumprimentar a Carlota pelo seu novo blog, dispara coisas tão inocentes como escrever gadgets com “j” e perguntas tão perversas como “se seleccionar o texto” é “pôr o preto em cima”.

Tss, tss, tss, 125. Tenho a certeza que se por acaso fumas, um dia chegas ao quarto, atiras com a beata para cima da cama e lanças-te a ti pela janela fora. Mas é por isso que eu gosto de ti. Com o preto em cima ou com o preto em baixo.

Idioticus


[1280]

De todas as intervenções que vi e ouvi ontem sobre as irregularidades/ilegalidades das contas dos partidos, o que mais me impressionou não foram propriamente as irregularidades. Afinal somos um país irregular e com uma forte tradição de nos mostrarmos impantes sempre que conseguimos ser mais espertos que os outros.
O que verdadeiramente me impressiona é uma nova forma de comunicação que se posiciona entre o blá blá blá estéril de quem não faz a mínima ideia do que está a dizer e a utilização objectiva de uma forma insuportável de nos chamar a nós parvos. Qualquer coisa como, diz-se duas tretas e para quem é bacalhau basta. O problema é que muitos dos encarregados da nobre missão de nos chamar parvos são eles próprios um exemplo acabado da grei deste cantinho ibérico, donde resulta uma salada tremenda do que é dito, do que eles querem que nós acreditemos e daquilo em que eles próprios começam a acreditar, quando se começam a entusiasmar com o discurso.

Confuso? Nem por isso. É uma questão de repararmos na falta de cuidado com que os porta-vozes dos Partidos são descuidados nos escolhidos, no convencimento de que não é fundamental explicar bem as coisas às pessoas. Duas tretas chegam. E o resultado é que quem nos dá explicações, como aconteceu agora com esta trampolinice das contas (uma questão que toda a gente sabe não poder ser transparente, pelo contrário, tem de ser suficientemente baça para não complicar), normalmente tem uma fraca expressão oral (vide Vitalino Canas) ou tem uma lógica muito própria (vide aquela senhora do Bloco que agora não me recordo do nome). Jerónimo explica-se como um poço de virtudes a falar para as massas corruptas e os senhores do CDS e do PSD perderam-se na mais intrincada retórica que de tanto querer fazer de nós próprios parvos, tornou-os a eles uns perfeitos idiotas.

Nota: A RTP, como sempre, e vale a pena acompanhar as inúmeras referências que JPP tem vindo a fazer no
Abrupto à governamentalização dos órgãos de comunicação social, deu um triste exemplo de parcialidade. Como imagem de fundo à notícia do chumbo das contas dos Partidos, apareciam Santana e Portas em grande plano e por muito tempo, enquanto os outros líderes partidários apareciam fugazmente. Quase que inocentemente!

terça-feira, outubro 24, 2006

Tire a roupa, depressa...


[1279]

E para aqueles que acham que o local de trabalho é um espaço enfadonho, aqui fica o registo da melhor da semana, que me aguardava no correio electrónico:

Já para o fim do dia, um ginecologista aguarda a sua última paciente que não havia maneira de chegar. Cerca de uma hora depois, ele supõe que ela já não virá e resolve tomar um gin tónico para relaxar antes de voltar para casa. Instala-se confortavelmente numa poltrona e começa a ler o jornal quando toca a campainha. É a paciente que chega e pede desculpas pelo atraso.

- Não tem importância - responde o médico.

- Olhe, estava aqui a tomar um gin tónico enquanto a esperava. Quer um também para relaxar?

- Aceito com muito prazer - responde a paciente, aliviada.

Ele serve-lhe um copo, senta-se na sua frente e começam a conversar. De repente ouve-se um barulho de chave na porta do consultório. O médico tem um sobressalto, levanta-se bruscamente e diz:

- É a minha mulher! Rápido, tire a roupa e abra as pernas!

O pau do Miguel


[1278]

MST à paulada é programa que não quero perder.

Fico curioso é com o blog anónimo. Só li
um e estava devida-
mente assinado por
alguém que quase toda a gente conhe-
ce. E esse não fazia acusações de espécie alguma. Limita-se a enumerar alguns factos que parecem contribuir para que o número de bloggers portugueses que não leram o “Equador” baixe de sete para seis. Nada mais que isso. Pelo menos que eu tenha reparado…

Saia a paulada e o “bardamerda” que isto está a melhorar. E se o FCP perder no Domingo, a coisa então promete…

Misty window


[1277]

O conforto cinzento da chuva traz-me o contraste do sol permanente de muitos dias seguidos que banha a nuvem de pó em que Lisboa está permanentemente mergulhada. Preciso deste contraste. É nele que se me abre mais tempo e maior campo de reflexão para algumas questões que vão surgindo inexoravelmente com os anos, apesar da quimera permanente da juventude que achamos que temos.

O cinzento não é mais bonito que o brilho do sol, naturalmente. É apenas uma forma de atenuar a perversidade que o calor e a poeira dos dias solarengos que banham uma das mais bonitas cidades do mundo, a minha, trazem na forma de contrariedade. As obras, o pó, o trânsito, os dejectos de animais, a absurda calçada portuguesa (acho que só um português poderia inventar e gostar da calçada à portuguesa, cujos efeitos a Miss Pearls já por mais de uma vez dissecou no seu blog e que me dispenso, portanto, de repetir), tudo isso me rouba a possibilidade de reflectir de forma distinta e adequada. E eu, contrariado, não reflicto. Resmungo, refilo, tomo antiácidos, acho, enfim, que a minha cidade é a pior cidade do mundo e nem reparo como, aqui e ali, me devo um pouco de atenção e desvelo. Afinal sou humano, como, durmo e tenho dor de cabeça como as pessoas, amo, odeio, sou bom, sou perverso, minto ou falo verdade, no turbilhão circunstancial em que nos vemos envolvidos dia após dia.

Por isso, gosto do cinzento. Do cinzento chuvoso que nos tem feito companhia neste últimos dias. Desaparecendo alguns factores de irritabilidade, penso um pouco mais em mim, nas minhas ansiedades, nas minhas dúvidas e, até, esboço formas mais ou menos programadas de acção, que é coisa que vicissitudes várias me impediram de fazer, já que quase sempre tive de substituir a acção pela reacção, conforme as coisas iam acontecendo.

Neste momento tenho um par de pares de coisas em que tenho de pensar. Provavelmente, até, terei de decidir. Eu que detesto decisões que ultrapassem em demasia o simples acto de escolher um filme ou o prato que vou comer ao almoço. Provavelmente porque levei toda a minha vida a tomar decisões. Algumas quase sem tempo para pensar em segundas opções e com resultados tão rápidos e absorventes que não me concediam, sequer, tempo para pensar se as decisões teriam sido bem ou mal tomadas. Mas agora sobra-me um pouco de tempo. Talvez, dizendo melhor, de espaço. Posso tomar algumas decisões. Porque tenho de o fazer. E acho que, pela primeira vez na vida, reparo que tenho algum tempo para reflectir.

Talvez o cinzento dos dias me esteja a ajudar.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Pistas de choques


[1276]

Chover, na minha terra, provoca um cenário muito semelhante a uma pista de carros de choques das feiras. Aos primeiros pingos, os portugueses tendem a “marrar” (é o termo) uns com os outros e a amarrotar o “carrinho” que, provavelmente, foi lavadinho, polidinho, aspiradinho, durante o fim de semana.

É algo que me mete uma tremenda confusão, dando de barato que o piso escorregadio favorece, naturalmente, mais colisões, realmente inevitáveis. Mas eu acho que a inevitabilidade destas colisões deveria estar naturalmente ligada à imponderabilidade de uma travagem brusca por causa de um peão distraído, ou outra razão semelhante e, por via disso, levar uma “traseirada”. Mas não é o que se passa. Os portugueses esquecem o desvelo e os cuidados intensivos a que submeteram o carrinho durante o fim de semana para se meterem, alegremente, à estrada da mesma forma que o fariam se estivesse piso seco e sol a brilhar. Depois é vê-los a esbracejar de dedo espetado enquanto, muito europeus nos seus coletes brilhantes, esperam a chegada da polícia, enquanto atrás deles se vão bloqueando centenas de carros que pertencem a outra anedota mas que são obrigados a esperar pelos “coletados” condutores que não "repararam" que a estrada estava molhada, apesar de irem com as escovas na posição de velocidade máxima.

Há qualquer coisa de estranho, de patológico, neste comportamento dos meus conterrâneos perante a necessidade de se conduzir a chuva. Qualquer coisa que me escapa mas eu acho que terá alguma coisa a ver com a forma como se estaciona desbragadamente por cima dos traços brancos de um parque, como se dão voltas e voltas num piso de estacionamento com uma tabuleta do tamanho do mundo a dizer em letras vermelhas COMPLETO, à procura de um lugarzinho ao pé do elevador, enquanto o piso de baixo está rigorosamente às moscas. Terá a ver ainda com o clima, com o odor corporal, com o desvelo com que um condutor limpa o respectivo nariz num sinal vermelho ou cofia o bigode (já me dei ao trabalho de contar as vezes que um condutor o fez entre a curva do Mónaco e o Alto da Boa Viagem -35…), terá a ver com qualquer coisa entre a patogenia, a patologia ou a pura grunhice. Mas que é embaraçoso verificar que sempre que chove de manhã as entradas de Lisboa ficam literalmente entupidas, é. Eu, por exemplo, ainda aqui estou a acabar este post porque só na marginal já houve três colisões, o sinal é vermelho e dois dos acidentes ainda não foram “resolvidos”. E na A5, acidente depois das portagens bloquearam positivamente o trânsito que está “parado” (palavras da televisão).

domingo, outubro 22, 2006

Fui eu?



Indecision, de Cynda Dodge, pedra de sabão rosa e cinzenta


[1275]


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Alberto Caeiro

Bom Domingo para todos.

sábado, outubro 21, 2006

Acórdão anarca


[1274]

“…a ponte de Entre-os-Rios foi hoje condenada por suicídio sem autorização superior...”

Um espirro do Anarca. O acento agudo, hífen e as maiúsculas são meus que aquele tipo escreve na mais perfeita anarquia…

sexta-feira, outubro 20, 2006

Questões viscerais



[1273]

Está-lhes nas tripas. Não há na-
da a fazer!

A Carlota do Lote




[1272]

- Olá vizinha. Sou o Espumante e trago-lhe aqui um bolinho de boas vindas à Blogolândia.
- Olá, muito prazer, chamo-me Carlota, tenho um filho chamado Migas de quem juro que irei publicar uma data de fotos, algumas com chocolates nos dentes e um chefe que gosta de futebol, acha que os gajos do Sporting são uma elite e jurou que havia de contratar a SportTV;

UM ANO DEPOIS

- Olá vizinha, tem um raminho de salsa?
- Não, mas olhe tenho um raminho de humor que tempera tanto quanto a salsa e dá para rir um bocadinho;

Olá vizinha, tem um pacotinho de açúcar?
- Não, mas tenho uma cara bonita. Tome lá uma foto tipo passe, compre um magneto e pespegue-a na porta do frigorífico;

- Olá vizinha, tem um pacotinho de café que me dispense?
- Não, mas tenho sempre qualquer coisa para contar. Desde as burradas dos nossos políticos até aos gadgets que vou descobrindo por aí, publicito-os no “Lote” e às vezes até ofereço algum por correio, passando pela música, livros, bruxelices e muita, muita boa disposição;

- Olá vizinha. É verdade que já faz um ano que se mudou para aqui?
- É, pois.
- Então olhe. Muito honrado pela vizinhança, conte muitos, muito obrigado pelos bons bocadinhos que me tem proporcionado (honi soit...) e continue, porque a blogolândia ficou mais rica com o seu Lote. Uma grande beijola, beijinhos ao Migas e recomendações ao Chefe e daqui um ano cá estamos outra vez.

Chin Chin

"Desmusicar"

[1271]

"Desmusiquei" o blog. Comecei a irritar-me de leve com a imposição de ouvir música sempre que abria a minha página e eu mantenho-me fiel a um cromossoma que guardo ciosamente desde pequenino de ouvir a música que quero e quando quero. Não a que está inserida no template e quando o computador quiser. Portanto, fora com a música. Passarei a ouvi-la como ouvia antes. Ligo o computador, abro o "Pandora" e vou ouvindo o que quero, em registo variado.

Sobretudo o facto de ouvir o mesmo trecho de música de seguida e de empreitada causou-me alguma irritação e uma leve sensação de rotina. E, lá está. Rotinas só as que quero e não as que me são impostas. Mesmo que por mim. Ainda bem que a minha santa mãezinha não lê o meu blog, senão às tantas tinha um telefonema a dizer “…pois, és um inconstante, nem a música consegues aguentar mais de dois dias, um dia adoeces e não tens música para ouvir…”. E como eu teria que explicar à minha santa mãezinha que a forma como ela analisa esta minha tendência de rejeitar rotinas impostas é algo redutora e, concomitantemente, injusta, ainda bem que ela não vai saber deste episódio da música.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Trambique rasteiro


[1270]

O PS, de vez em quando, trata de nos lembrar que existe. Aquele PS que me habituou ao “trambique político”, à mentira e àquela intolerável atitude arrogante de “com papas e bolos se enganam os tolos”. Eu próprio, triste paisano sem “substrato” político suficiente para discutir “tecnicalidades” da gestão económica de uma paróquia como a nossa, achava que a questão das SCUTS assentava basicamente num complexo cenário em que João Cravinho se move, na superficialidade idiota de Guterres, na esperteza saloia de Sócrates e na habitual candura dos portugueses, muito dados a eleger a magia do vocábulo socialismo como a panaceia não do seu próprio bem mas como o merecido castigo dos maus. Dos ricos.

A questão é que qualquer inteligência mediana percebia que com os números que vinham a terreiro (milhares de milhões, endividamento até aos anos 30 e outras pérolas do género, era inevitável ir buscar dinheiro ou ao utilizador ou aos impostos. Mas verdadeiramente insuportável era o ar misto de pudícia e de matreirice, como o chico-esperto de expressão matreira que passa para a frente da bicha para a bilheteira do cinema, com que os socialistas afirmavam, graves, impolutos e salvadores, de que as SCUTS não seriam sujeitas a portagem.

Ora bem, dando de barato que mais tarde ou mais cedo as portagens aí viriam, o que é verdadeiramente extraordinário é ouvir um ministro das finanças afirmar, e vamos lá ver se eu consigo reproduzir o que vou ouvindo sem me dar três coisas, que algumas SCUTS iriam passar a ser pagas mas isso não alterava a política do governo que era de não se pagar para a utilização das SCUTS. E eu seja ceguinho se não é mesmo isto que eu oiço. Qualquer coisa como vamos pagar, mas o governo reitera a sua firme promessa eleitoral de que as Scuts não são para pagar.

Bizarro? Nem por isso. Como dizia no princípio é o PS no seu melhor. E o seu melhor é o pior. A aldrabice, a fraude política, o fazer das pessoas parvas e dizer-lhes para lhes agradecermos, é a lógica de um Jorge Coelho provinciano pateta, um João Cravinho zangado por ter nascido, um Pina Moura descarado e vira-casacas, um Manuel Alegre nostálgico da pureza das trovas de um vento que já passou há uma data de anos e um Sócrates irritado que vai fazendo aquilo que a situação política e económica do país lhe diz para fazer, sem alternativas e mais um grupo de personalidades que seria extenso reproduzir. Mas eu insisto. Esta de dizer que afinal vamos pagar algumas SCUTS mas que o governo se mantém inabalável na sua política de não pagamento das SCUTS não lembraria ao careca…

quarta-feira, outubro 18, 2006

Futebóis

[1269]

De repente sou agarrado por um colega, excitado, no bom sentido, com dois bilhetes especiais de corrida para ir ver o Sporting vs Bayern e a convidar-me para ir com ele.

A última vez que fui ao futebol foi mais ou menos no tempo das cruzadas, quando ainda não éramos sodomizados por um Abdul qualquer e ainda tínhamos de pedir desculpa por estar de costas. Lembro-me que fui com os meus dois filhos (ainda a princesa não existia), animado do espírito pedagógico que norteava o meu propósito de que os meus filhos vissem tudo, soubessem tudo, observassem tudo - e foi assim que tive duas criancinhas semi-aterrorizadas perante uma turba a emitir bestiais assobiadelas de minuto a minuto. No meio da turba e na fila à nossa frente estava um velhinho com uma traqueotomia mais ou menos disfarçada por um lenço vermelho e que a cada apitadela do árbitro, levantava-se, encostava um vibrador ao pescoço e grunhia a mais vasta colecção de impropérios que me ocorre, com a particularidade de o chorrilho sair com raros decibéis, apenas audíveis pela vibração do aparelho. Por outras palavras. Os insultos do homem ouviam-se num raio máximo de um metro ou coisa que o valha, o que não impedia o adepto de se levantar frequentemente a insultar a mãe do árbitro, devidamente sintonizado com uma linguagem gestual em conformidade.

Este episódio produizu várias sessões pedagógicas, como é evidente, englobando palavrões e das razões que levavam um traqueotomizado “berrar” para um homem a mais de trezentos metros dele, mesmo sabendo que a dois metros ele já não era audível. Isto no meio da berraria só comparável a uma manada de duas centenas de vitelos desmamados, como ruído de fundo.

Bom. Mas vou. Garantem-me que em Alvalade não chove e eu garanto-me a mim mesmo que o Sporting vai ganhar. Já não tenho filhos pequeninos mas, que diabo, alguma berraria se há-de arranjar. Depois vou a correr para casa para ver os lances polémicos em câmara lenta.

Música


[1268]

Resisti durante vinte e sete meses. Cedi. Musiquei o
Espumadamente. Há quem goste, há quem se irrite. No entanto, é simples. Quem não gostar, tudo o que tem a fazer é ir lá abaixo e carregar no botão. Retornará ao silêncio dos inocentes, sem receio de ser apanhado por uma adventícia Clarice Starling ou mastigado por uma qualquer versão lusa de um Hannibal Lecter de pacotilha. Por enquanto, gosto. Se me cansar, logo se vê. Além do mais hoje não saiu post, ainda por cima com tanto assunto “por aí à mão de semear". A ida da ministra da cultura ao Porto sem falar com os Rivokupas, por exemplo, daria pano para mangas. Mas é que não tive tempo. Até o pós almoço que costuma proporcionar-me uns momentos relaxantes no gabinete e que às vezes aproveito para escrever qualquer coisa, foi hoje acelerado, confuso e indigesto. Assim, a inauguração da música serve de post. Com o “blue eyes” do Elton John, salvo seja, que o homem e respectivos ademanes não faz o meu género, mas tem esta invejável excelência de cantar canções lindíssimas. Como esta que pus a tocar.

terça-feira, outubro 17, 2006

Os cordeiros de Deus



[1267]

Um bom-bom de sobremesa para os que detestam Bento XVI

Pologne 1944. Les SS arrivent dans un village et rassemblent la population.

Un jeune prêtre parvient à s'enfuir mais il est immédiatement poursuivi par un jeune nazi.Le prêtre se retrouve coincé dans une cour; plus d'espoir.

Le jeune soldat vise et s'apprete à tirer quand soudain le ciel devient noir et Dieu intervient en criant :

« Arrete malheureux! Ne tire surtout pas! Un jour, ce jeune polonais sera Pape! »

Perplexe, l'allemand répond: « Oui, Seigneur, et moi? »

« Toi, après. »

Recebida por mail.

Double speaking


[1266]

Um leitor do Abrupto escreveu este texto que JPP reproduziu no seu blogue:

"Já deve ter reparado que hoje, dia 16 de Outubro, o Governo manifestou um notável exercício de double speak. No primeiro caso os pais de uma escola pública em Sete Rios, Lisboa fecharam a cadeado a escola pois para 300 alunos existem apenas duas auxiliares de acção educativa. A DREL classificou o facto de "terrorista" e mandou a polícia repor a ordem. Também hoje, no Porto, um grupo de gente ligada ao teatro ocupou o Teatro Rivoli que é tutelado pelo município. A Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, afirmou tratar-se de uma "original e inovadora forma de luta" e até ofereceu os seus bons ofícios para "mediar" o conflito com a Câmara do Porto.É claro que se a Câmara do Porto fosse gerida pelo PS este último acto também seria "terrorismo", parece-me que como para bater em Rui Rio, e não sendo caso virgem, a ministra que por acaso também é do Porto prefere falar em originalidade e inovação das formas de luta.Típico Double-speak".

De tudo isto apetece-me enfatizar a atitude da ministra, também ela portuense, e já agora dizer-lhe, para usar argumentos já anteriormente arremessados pela “tribo”:

- A senhora ministra nunca escreveu uma peça de teatro, nunca cantou uma ária ou, pelo menos, um "levanta-te e ri" avulso. Por isso, não tem autoridade para falar.

segunda-feira, outubro 16, 2006

"Rivolição" na Invicta


[1265]

Título do post roubado a um outro que passo a trancrever, do
Sexo dos anjos (via O Insurgente):

"De vez em quando, acorda o que tenho vindo a chamar "o partido dos jornalistas".Nessas alturas parte por aí à desfilada, com o freio nos dentes.Pensei nisto logo pela manhã, ao observar o esfuziante e unânime empenho de todas as televisões em puxar para primeiro plano e transformar em grande acontecimento a comédia pobrezinha que duas dezenas de patuscos resolveram levar à cena no Rivoli.Não se trata de noticiar, é pura solidariedade militante, absolutamente incondicional e acrítica. Todos à embaixada de Espanha, já!A causa é das boas, e aquele pessoal está do lado certo. De maneira que é de aproveitar: aux armes, citoyens!A senhora Ministra da Cultura, que é da tribo, não resistiu e também apareceu a dar uma mãozinha. Esperam-se os próximos capítulos".

Post dedicado



Clicar na imagem para ler melhor


[1264]

Dedicado ao
António Chaves Ferrão, para uma melhor interpretação dos "estudos científicos" sobre o Iraque publicados na "Lancet". Com um plural e grande abraço, claro!

Retirado do
Cox and Forkum

O "Minuto Verde"



[1263]

Com alguma humildade
o admito.

Empenhei o meu anel, de rubiiiii...


[1262]

Trinta cio-
sos (no bom senti-
do) da cul-
tura e do espectá -
culo em Portugal ocupam o Rivoli des-
de ontem, protestando contra, pareceu-me, a entrega do teatro à iniciativa privada.

Deixo as contas e os considerandos económicos ao JCD, que é um especialista, para explicar os intrincados meandros da exploração de um teatro e atenho-me à felicidade de viver num país onde o ecletismo cultural dos meus compatriotas permite que em cada acto politico exista sempre um porta-voz devidamente habilitado. O porta-voz tipo é jovem, com uma razoável expressão oral para o nível da paróquia e percebe imenso de iniciativa privada e gestão da coisa pública. Trate-se de teatros, transportes municipais, retalhista de charcutaria ou moda. Eles estão lá, fazem as despesas da conversa e debitam as patacoadas que vão ainda causando algum impacto nesta terra abençoada.

No caso vertente apareceu um porta-voz bem apessoado com cara de quem percebe imenso de teatro e dá uma mãozinha à claque dos dragões nas horas vagas, que entre meia dúzia de tiradas onde couberam as palavras democracia, gestão, cultura, gestão democrática e um inflamado “o Rivoli é nosso”, demonstrou por A+B que Rui Rio é uma besta quadrada e a ministra da Cultura é uma desocupada. Penso que pôr o presidente da Câmara e a ministra no mesmo saco foi um erro de casting, mas também não se pode exigir tudo!

O porta-voz lá está e já foi entrevistado pela RTP, SIC, SIC-N, TVI (ainda não há sangue nem estupro, mas não se perca a esperança…). A RTP-N também deve ter falado na matéria mas continuo a esquecer-me. E enquanto acabo este post, lá está (desta vez uma mulher) alguém a dizer que estão a pensar em retirar (a fominha deve estar a apertar), mas que vão fechar o teatro e que este problema não é só da Câmara, é também do Governo. Ora toma.

domingo, outubro 15, 2006

A extinção do humor


[1261]

A
c_mim lançou-me um desafio. Apadrinhar um animal em extinção. Pensei no tigre da Malásia, no rinoceronte branco, na pantera negra, no okapi, no koala, na libélula de ventre listrado, no louva-a-deus preto (estes dois últimos não sei se existem, mas dão um ar centífico ao post...) na mulher a dias ainda a €5/hora e que consegue emparelhar correctamente as meias, enfim pensei numa série de exemplares que aprecio e que acho que fazem falta.

Decidi-me pelo humor. Pelo animal que ri, faz rir, percebe o riso, interage com as pessoas fazendo-as rir ou sorrir, é suficientemente inteligente para perceber, analisar, sopesar, resolver uma situação com ligeireza e a suprema virtude de lhe achar graça. Esse animal é o homem. O homem que ri. Rarefeito na idiotia e no cinzentismo, consegue manter um espírito suficientemente aberto para produzir ou provocar um sorriso ou uma saudável gargalhada.

O homem que ri está numa fase avançada e perigosa de extinção. Quer porque cada vez existam menos motivos para rir, quer por uma provável degenerescência geracional que nos vai conferindo uma aptidão especial para transformarmos um sorriso num esgar ou uma piada numa tolice ou numa chatice capazes de inspirar piedade àqueles que ainda conseguem distinguir o humor oportuno da piadola cretina ou da lamúria recorrente. Por isso, resolvi apadrinhar o homem com humor. Incluindo a mulher, está bem de ver.

Quase me atrevo a dizer que há mais homens com humor do que mulheres. Porque somos mais feios, porque temos que nos apurar. A mulher, por si, pode ser uma gracinha, bastando-lhe existir. Eu digo pode ser, não digo que o sejam sempre. Mas admito estar enganado. De qualquer modo, sou daqueles que conseguem acompanhar e admirar (e, se possível participar, partilhar) um amigo com humor. Daqueles que falando de política, de gente, de um filme, de uma peça de teatro, de uma tese sobre psicologia, de um funeral… são capazes de o fazer com a graça suficiente para nos provocar a frescura de um sorriso.

sábado, outubro 14, 2006

Treze anos...


[1260]

Não há muitos anos atrás vi o filme “Perfume de mulher” no grande ecrã. Lembro-me perfeitamente de, na altura, ter feito uma observação do género “…ui, como o Al Pacino está velho!”. Esta manhã, fruindo a preguiça de um Sábado, revi o filme em DVD. E a primeira coisa que me veio à cabeça foi “…ui, como o Al Pacino aqui estava mais novo!” Depois penso melhor e reconheço que já lá vão 13 anos…

Eu acho isto de uma gravidade tremenda. Ainda por cima não faço filmes… vejo-me todos os dias ao espelho e, se estou mais velho, não dou por isso. Mas depois deitamo-nos a pensar que se Al Pacino me tivesse visto na plateia do cinema em 1993 e me visse hoje na sala a ver o DVD era capaz de ter dito “…ei, como este espumante está mais velho!”

Al Pacino é um dos grandes actores de cinema de sempre. Tem uma filmografia extensa e é difícil seleccionar o melhor ou os melhores. Por mim, que os vi quase todos, retenho especialmente dois.
Insónia (2002, com Robin Williams and Hilary Swank), um filme poderoso em muitos aspectos e com um cenário esmagador e uma comédia deliciosa já de 1991 (Frankie & Johnny), em que ele se apaixona pela Michele Pfeiffer (coisa que não parece muito difícil, aliás), sua colega num café novaiorquino.

sexta-feira, outubro 13, 2006

A voz da rua



Foto DN da manif de ontem


[1259]

Manuel Alegre pres-
tou um mau serviço ao país. Portugal não é a Argélia (embora frequentemente pareça e muitos se esforcem por isso) nem Helena Roseta é microfone de rádio. Afirmar quase num registo de sorrelfa que não se pode ignorar a voz da rua é pactuar com a negação de um princípio fundamental da democracia, qual seja a força do voto (esse sim, popular) que, no caso em apreço, consagrou um partido para governar até cerca de 2009. Ultrapassar esta premissa cristalina remete para tiques provindos de épocas revolucionárias e que não são aplicáveis num regime político democrático com os seus próprios mecanismos de escrutínio. O voto, sempre o voto e nada mais que o voto. O resto é apenas “alguém que diz não” mas que tem, naturalmente, de se submeter à vontade da maioria. E fico por aqui se não ainda dá a impressão que votei PS. E não foi, claramente, o caso.

quinta-feira, outubro 12, 2006

O maior português de sempre


[1258]

Não quero deixar de prestar a minha modes-
ta colaboração na febre que por aí vai sobre o maior português da nossa história.

Penso ser consensual que o maior português de todos os tempos terá sido o gigante de Manjacaze, um simpá-
tico porteiro dum prédio na av. 24 de Julho, Maputo, nascido em 1945 e falecido em 1990 e que media 2,45 metros!...

Foto retirada daqui

"Previlégios de médecos"

[1257]

O Qwerty é implacável. Debrucei-me sobre ele, cordato e benevolente, admitindo que Medeiros Ferreira está sujeito, como qualquer mortal, a uma gralha própria de quem tem dedos grossos, por exemplo, leia-se carregar numa tecla e apanhar duas. E depois resultam palavras como dolrmir, pública e outros exemplos que me apetece usar mas não uso para não abandalhar o post.

Mas não. Entre o “e” e o “i” colocam-se quatro teclas , o “r” o “t”, o”y”, o “u” e só então aparece o “i” que deveria equipar a palavra medicina que o professor Medeiros Ferreira usou no seu
erudito post com uma liminar mensagem para o Luis A. Conraria, pelo que só posso pensar que o professor acha mesmo que medecina é aquela ciência exercida por médecos.

À margem. - Ainda hoje li
um post onde um professor se mostrava eriçado com um erro de um anúncio de uma escola privada, em que se lia previlégio. Daí a achar que o ensino privado devia ser pura e simplesmente banido em favor do ensino público foi um passo. Talvez recomendando agora a esse professor que leia o professor, como ele, Medeiros Ferreira, antes de se deitar a fazer libelos políticos a partir de um exemplo de falta de rigor. Porque tanto quanto julgo saber o professor Medeiros Ferreira estudou no ensino público.

Via, com a devida vénia, o
E-jetamos

Sinal dos tempos. Ou a excitação dos repórteres


[1256]

Ontem, um avião ligeiro embateu num prédio (Edifício Bel Air) em NY. Só depois de ouvir dezenas de vezes que “não havia certezas sobre se teria sido ou não um acto de terrorismo” e que o espaço aéreo de NY estava a ser intensamente sobrevoado por aviões militares, em vez de se dizer se havia ou não conhecimento sobre se tinha morrido alguém e quantos é que lá fui informado que morreram duas pessoas. O piloto e o instrutor.

Os grandes mistérios do gineceu


[1255]

Não que eu tenha a veleidade de algum dia os resolver ou, sequer, de os entender. Os mistérios. Mas ainda assim gostava que alguém me explicasse porque é que há milhares de mulheres em África que passam horrores para desfrisar o cabelo (é frequente a aplicação de uma mistela a que, por razões que me escapam totalmente, chamam “a sopa” que se aplica nos cabelos encaracolados, após o que as mulheres aguardam pacientemente durante um par de horas até ficarem com o cabelo liso. Pelo menos durante quarenta e oito horas e depois vão à sopa outra vez. Por outro lado, há mulheres europeias, de cabelos lisos e brilhantes que volta não volta dá-lhes três coisas e lá vão elas ao cabeleireiro para de lá regressarem com o aspecto, sem ofensa ou outras similitudes que não sejam estritamente do foro do revestimento piloso do couro cabeludo, de uma garbosa e encaracolada ovelha merina.

Enfim, gostos e feitios. Talvez seja na diversidade do género que resida muito do fascínio que exerce no sexo oposto. Mas eu insisto. Uma coisa é diversidade outra é a minha total incapacidade para se perceber os humores que a regem. E ai de nós, homens, que nos atrevamos a questionar as razões que levam uma mulher de belos e sedosos cabelos lisos a encaracolá-los. Receberemos de imediato um certificado de idiotia congénita ou arriscamo-nos mesmo a que nos perguntem porque é que usamos ou não usamos bigode. Como se um homem de bigode fosse a mesma coisa que uma proto-ovelha merina…

P.S. Este post é baseado em pura fantasia reflectiva e não se refere a ninguém em particular. Qualquer semelhança com factos, personagens, eventos ou, sequer, episódios avulso com quem quer que seja é pura coincidência e juro xicuembo xanhaca que não uso bigode, nunca usei e tenho raiva a quem usa.

quarta-feira, outubro 11, 2006

"Ilicóptero" e sopa de peixe


[1254]

Mais exasperante que ver Nuno Gomes a atrapalhar o jogo às duas equipas durante hora e meia, só mesmo ouvir o José Rodrigues dos Santos dizer seguramente umas dez vezes i-li-có-pte-ro, ao noticiar, depois do jogo, o acidente desta tarde em N. York.

Nota à margem: E eu que agora não sou capaz de olhar para este homem sem associar uma mulher assim, deixa cá ver, assim como a Dolly Parton, à pescada do alto, ou a uma sopinha de peixe da Murtosa?

Vitalinar



[1255]

Vitalino Canas desperta em mim sentimentos obscuros e recalcados do provável rufia briguento que poderá existir dentro de mim. Isto porque cada vez que vejo o homem a falar sinto um formigueiro parecido com aquele que aos vinte anos nos fazia andar ao estalo ou a fugir da polícia. Ouvi-lo dizer na AR que o Procurador Geral da República já tinha sido devidamente punido pelo facto de não ter sido reconduzido no cargo, remete-me para tempos não muito distantes em que o socialismo era exercido junto da maralha de forma tutelar e didáctica. Foi exactamente essa a sensação que tive quando ouvi Vitalino. Senti-me bovino, tutelado e de orelhas de burro a um canto da sala com os horizontes tão limitados como este país.

Pela minha rica saúde, tenho de ter cuidado com Vitalino. E mais uns quantos da mesma igualha. Leram uma cartilha com uma grande tiragem nos anos setenta e fazem dela a sua bíblia. Sobretudo porque não têm ideias, não leram mais nada e porque acham que mais tarde ou mais cedo colherão pessoal benefício do bom comportamento mostrado ao longo das respectivas carreiras. Por outro lado, isso possibilita-lhes a voz de comando, o poder e o protagonismo que, de todo, perdem ao transpor as portas da Assembleia para a rua de S. Bento. E que, frequentemente, se estende por portas adentro das suas próprias casas. Mas isso são contas de outro rosário.

Mais sobre professores


[1254]

O
FJ Viegas escreveu um artigo no Jornal de Notícias em que faz uma curta mas objectiva análise de algumas das raízes do caos da educação em Portugal. Vale a pena ler, sobretudo para reavivar algumas memórias de quem tem, pelo menos, mais de quarenta anos.

Há duas realidades essenciais ligadas aos problemas do ensino em Portugal em primeiro lugar, a ministra da educação tem razão na absoluta maioria das medidas adoptada (contesto fortemente o papel despropositado concedido aos pais e encarregados de educação na avaliação dos professores, que terá consequências muito perigosas na estabilidade das escolas); em segundo lugar, se há culpas a atribuir pelo estado calamitoso de que se revestem alguns aspectos do ensino em Portugal, elas cabem - por maioria - aos técnicos do próprio ministério e à burocracia "pedagógica e ideológica" que se instala periodicamente na Avenida 5 de Outubro (sindicatos incluídos). Neste complexo, os professores - os que estão instalados no terreno - são o elo mais fraco de uma cadeia de comando em que, frequentemente, têm sido cobaias de vários génios, certamente talentosos, que, à distância, "imaginam" o ensino em Portugal. Quando falo no "terreno", quero dizer "as escolas", quero dizer os problemas de indisciplina com que têm de lidar permanentemente, os contactos com os pais, a realidade fatal das agressões nos corredores e nos gabinetes (por alunos e pais das criancinhas), a catadupa de legislação escolar em que têm de se especializar, as alterações muitas vezes absurdas das orientações científicas caídas do parnaso ministerial. Muitas vezes, aliás, por culpa do Ministério (que vive a desconfiar dos professores) eles não têm meios para reagir nem à indisciplina, nem ao insucesso escolar, nem às salas frias de escolas públicas onde falta gás para aquecimento, nem aos manuais escolares de qualidade confrangedora que o ministério autoriza a circular, nem aos - repito - génios certamente carregados de talento que, depois de requisitados às escolas, se ocupam de reformar periodicamente os programas e a gramática das suas directivas.Se alguém se ocupar, durante alguns dias, a analisar grande parte dos documentos de natureza pedagógica e ideológica que emanam do ministério da educação acerca de coisas tão díspares como matemática, português ou disciplina na sala de aula, fica com a impressão de que um grupo de esquizofrénicos se entretém a punir professores e alunos com uma gramática desconhecida e absurda. Este é apenas um exemplo, mas haveria muitos. Leiam os materiais de apoio e rejubilem.A ministra, trata os professores como uma corporação, à semelhança do que o governo entende fazer com os farmacêuticos ou os juízes e médicos. Errado. Depois de disciplinar a vida da escola, a verdadeira corporação resiste e sobrevive nos vários andares daquele pobre ministério cheio de - repito - génios certamente carregados de talento, mas que tudo têm feito para tentar destruir o ensino. Os professores são o elo mais fraco nessa cadeia de pequenos ideólogos formados à pressa nos anos setenta e que se encarregaram de matérias científicas, sindicais e pedagógicas com empenho semelhante. Isto pode não preocupar a ministra para já. Mas os professores sabem do que falo. E esse é o próximo desafio, se houver seriedade.

terça-feira, outubro 10, 2006

Forecast


[1253]

Continuação do tempo encoberto, pelo estaciona-
mento da massa depressio-
nária
instalada ontem a norte da segunda meninge, não se prevendo alteração do cenário nas próximas vinte e quatro horas. Scattered thundershowers previstos para o fim da tarde, dependendo de não me chatearem muito a cabeça durante a manhã. Pequena subida de temperatura e ligeiro aumento de milibares que é uma coisa que eu aprendi quando tinha barco e resolvia as crises meteorológicas com uma saída para trinta milhas da costa e ia apanhar um wahoo. Isto em casa, porque se acontecia estar em viagem os milibares transformavam-se em minibares e that would do. O vento vai soprar forte ao fim da tarde pelo que se recomenda a todos os industriais de restauração da minha área geográfica de trabalho que não liguem os ares condicionados para podermos todos podermos comer no morninho corporal e no odor dos fritos a vir da cozinha. Também se recomenda um casaquinho de malha para o fim da tarde, apesar da anunciada subida de temperatura, mas isto nunca se sabe e o melhor mesmo é precavermo-nos não vá apanharmos por aí uma ponta de ar, uma correspondência, uma corrente de ar… sei lá, tudo perigos que eu generalizo porque não me apetece explicar as diferenças entre uma ponta de ar, uma corrente de ar e uma correspondência mas os portugueses sabem e eu poderia cair num discurso redondo (vai uma apostinha que esta do discurso redondo vai pegar, desde que o DN disse que Cavaco Silva tinha tido um discurso redondo no 5 de Outubro?). Voltando à meteorologia, dou o assunto por terminado. Eu sei que é um paradoxo eu voltar a uma coisa para dizer que dou por terminado. Mas não é isso que fazemos quase todos os dias? Voltarmos à “matéria em apreço” para dizermos que damos por terminado?

P.S.- Este tipo de posts reflecte bem o que acontece quando uma amiga que, descontado o facto de já não escrever há três quinze dias e o blogue dela andar com soluços, me deixa comentários por cem vezes a dizer que está à espera de um post. No pressure, diz ela… e também para ver se dou o exemplo a uma outra que foi comprar coca-cola zero na quinta-feira passada e ainda não escreveu uma palavra. Ao menos para dizer se é boa. Ela, a coca-cola, claro!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Com a devida vénia...



O Frade e a Freira. - Monumento natural de 683 metros de altura localizado nos limites dos municípios de Rio Novo do Sul, Vargem Alta e Itapemirim e próximo de Cachoeiro de Itapemirim.

[1252]

...ao Periférico, aqui fica fica também uma "parvoíce de segunda-feira", versão espumante:

Uma solteirona descobre que uma amiga ficou grávida só com uma oração que rezou na igreja duma aldeia próxima.

Uns dias depois foi a essa aldeia e dirigiu-se ao Padre:

- Senhor Padre, soube que uma amiga minha veio aqui e ficou grávida só com uma Avé Maria.

- Não, minha filha, foi com um Padre Nosso. Mas já o transferimos para outra paróquia!

Blank



[1251]

A semana, tal como África num livro escrito por um agrónomo francês nos anos quarenta, começa mal. Acordei tarde num dia em que precisava de acordar cedo para ir ao aeroporto. No banho, oiço que há acidente na A5 e na marginal. Não há como escolher. O joelho já está bom, mas cortei o indicador esquerdo e não tenho pensos rápidos em casa. Um pai, de férias, só pode, resolveu trazer a criancinha a quem terá oferecido uma bicicleta ontem, circular na dita bicicleta a centímetros da janela da minha sala. Pelo que estou há meia hora a ouvir o barulho das rodinhas de equilíbrio a rolar, já que o miúdo está ainda a aprender.

Aqui pela minha paróquia está em alta ser-se supersticioso. Tal como ir a Fátima e fechar as vogais. Mas eu que não tenho em casa ferraduras nem patas de coelho, amuletos ou um elefantezinho com a tromba para cima, como é que faço? Vou de comboio? Não vou trabalhar? Ná… tenho de ir. E agarrar-me à esperança que ao longo do dia me chegue uma pontinha de assunto, tempo e vontade para postar qualquer coisa.

Nada como estar por dentro de...



[1250]

Fiquei, finalmente, esclarecido sobre o diferendo que opõe os professores à ministra de educação. Bastou-me ouvir ontem o professor Marcelo dizer, na RTP, que a ministra tinha razão e não tinha razão. Por outro lado, os professores tinham razão e não tinham razão.

Reconheçamos que isto de ser comentador político tem os seus espinhos…

sábado, outubro 07, 2006

Prazeres de fim de semana



Boticelli, Venere

[1249]

Ela não sabe, mas ler os "atrevimen-
tos" dela tornou-se uma fonte de grande prazer de leitura.

Bom fim de semana para todos.


Anda, vem-me, sê cabra cabrês, salta-me em cima e faz-me em três; trepa, joão, o meu pé-de-feijão; chega-te à janela, queres casar comigo? e eu mergulho contigo no caldeirão. Lambo-te as botas, gato emproado, amo-te para onde quer que me leves: eu, bela curiosa, formosa e segura, no castelo do monstro, no chão da casa feita de massapão, no emaranho do bosque, ou pelos céus de Londres a caminho do nunca (e não digas que não queres, que se te cresce o nariz). Escondo-me o cio por detrás do capuz e finjo ignorar-te, lobo esfaimado, ao cruzar a floresta, ao cruzar-me contigo. Deita-me no chão e façamo-lo, ao som de uma orquestra andrajosa de animais escorraçados, e que os carvalhos nos vigiem o prazer com os seus murmúrios de vento, comentando posições e juras de amor, num cochicho vegetal de inveja nocturna. Crava-me aos solavancos numa abóbora com rodas puxada a ratos, depois da meia-noite; reduz-te em mim, cabe-me entre as pernas e eu faço-te a cama e o jantar, e trinco a maçã, pico-me na roca e durmo cem anos, para que me beijes a boca sem eu poder dizer não. Invertamos os papéis e as proporções, eu, polegarzinha, que guardas no bolso, levas para casa e brincas no banho. E, por minutos, num reino longínquo de fantasia, sejamos reais e felizes para sempre.

sexta-feira, outubro 06, 2006

"Atuardamentos"


[1248]

Através da Calamity Jane (cujo blogue eu desconhecia) e que teve a amabilidade de comentar um post meu, vim a encontrar uma
matablogues que se deu ao trabalho de abrir um blogue só para dizer mal de quem diz mal. Entretanto, a matablogues escreveu um post no dia 29 de Setembro e não escreveu mais coisa nenhuma. De duas uma, ou ninguém anda a dizer mal de ninguém ou então aquilo é só atuardas de, como é que é mesmo?, atuardas de nacional mal-dizer...

Dormindo com o inimigo


[1247]

O DN está imparável. Agora são os
políticos e a justiça que estão unidos contra a corrupção. Mas, unidos contra quem, como muito oportunamente assinala o João Miranda?

Esta forma residual de vigilância marxista em que se passa uma permanente mensagem de que estamos a dormir com o inimigo, de que o inimigo está à espreita e de que temos de estar juntos para o derrotar faz parte de uma cartilha já desfocada mas que o DN usa e abusa, sem pudor. Ou então, como diz o
JPP já nem é por mal. É como quem respira.

Uma questão de educação


[1246]

Com a abertura do ano lectivo, surgiram já inúmeros casos de agressões a professores, o que é um indicador seguro do caos em que a educação dos nossos filhos está mergulhada. As notícias são da comunicação social em geral, ainda agora a procissão vai no adro.

Entretanto, os professores fizeram ontem aquela que terá sido a maior manifestação de sempre, pelo menos foi o que disse aquela parda eminência do sindicalismo profissional há cerca de 30 anos, Sucena de seu nome.

Sendo que é perfeitamente claro e inalienável o direito de os professores se manifestarem, eu esperaria, porém, que dos professores viesse um exemplo de substância (das razões da manifestação só fiquei a saber que a luta continua e a ministra tem de ir para a rua e que o estatuto de progressão de carreira está ameaçado, seja lá o que for que isso signifique). Não fiquei a saber mais nada, o que me leva a estabelecer fortes dúvidas sobre a bondade das razões da manifestação. Mais grave do que isso pareceu-me o exemplo trauliteiro, truculento, de berraria histérica de slogans datados e, eventualmente, apropriados na Bolívia ou na Venezuela mas claramente desfasados num país que se quer europeu e moderno. E em alguns casos, uma postura desbragada, agressiva e violenta com que muitos professores (curiosamente com maior número de mulheres) se expressavam para as câmaras de televisão. Televisão certamente vista por alunos que, subconscientemente, acharão ser “aquela” a forma certa de protestar. E se é, pensarão eles, porque não levar a berraria e a violência à escola para mostrarem que não concordam o estatuto de progressão discente nos estabelecimentos de ensino? Ou, já agora, para mandarem um estalo numa professora de quem não gostam do penteado?

Confesso um sentimento de grande humilhação e vergonha, independentemente das razões que poderão assistir a justeza da luta dos professores. É que ainda ontem ouvi um discurso de Estado dizendo que o exemplo tem de vir de cima…

quinta-feira, outubro 05, 2006

Opiniões


[1247]

O
Bekx acha que o A-380 (2007???) é o mais feio avião de sempre. E eu acho que ele está cheio de razão. Em contraponto e salvo melhor opinião, eu acho o Super Constellation (anos 50) a mais bela aeronave de todos os tempos…









E.T. E agora vou telefonar a meio mundo a dizer que o meu joelho está melhor mas ainda está um bocadinho inchado, porque faz parte dos costumes nacionais os portugueses telefonarem uns aos outros a dizer se estão melhores. Mesmo que não estejam doentes, mas nunca se sabe quando têm um vírus a criar uma nova estirpe ou se não lhes vai doer a 3ª cervical, já que todo o cidadão nacional sofre da coluna e tem uma alergia qualquer. Claro que há muitos que não sofrem da coluna nem têm alergias e dizem que estão piores, mas isso agora já não vem aqui ao caso. E se não disserem, perguntam-nos, pelo que estamos sempre seguros de manter as pessoas das nossas relações a par da nossa saúde física. E mental, se for uma tia que eu tenho. E moral, se for a minha santa mãezinha. Desde que seja saúde, cobre-se todo o espectro aqui na paróquia. Depois vou tomar um café ali para o Guincho porque é feriado e está sol. Bom feriado para todos (menos para o gang de Bruxelas, claro, que é para não viverem numa monarquia sem 5's de Outubro e não terem sol... - esta foi de mauzinho, mesmo).

Serviço Público na RTP




O retiro espiritual do Tenente Oliveira

[1246]

Eu ontem esforcei-me. Palavra de honra que me esforcei.

A história conta-se rapidamente:
O senhor Oliveira vivia calmamente em New Bedford, Massachussets, uma cidade cheia de letreiros em português a anunciar alheiras de Mirandela, enchidos da Beira e bacalhau do Alto, cujos donos, entretanto têm filhos que se aculturam e chegam, como o senhor Oliveira, a tenente da Marinha dos Estados Unidos e o senhor Oliveira, dizia eu, chegou a tenente e participou (com mérito, aparentemente…) em várias operações, incluindo a recente invasão do Iraque. A páginas tantas, o senhor Oliveira teve um rebate de consciência e achou que aquilo (leia-se a invasão do Iraque e outras "cowboiadas" correlativas dos ianques) não fazia sentido nenhum, resolve bater com a mão no peito, já agora bateu com a porta também e ala a integrar-se rapidamente em grupos pacifistas a protestar contra a guerra e contra as mentiras do País que, até aí, ele servira com dedicação e mérito.

É claro que a RTP, atenta a estes desenvolvimentos e prenhe de sentido de serviço público, "desarrinca" um documentário, mostrando o senhor Oliveira com uma expressão angelical e contrita a dizer que não estava bem com a consciência dele, de cinco em cinco minutos, durante 30 segundos. Os quatro minutos e meio de intervalo entre a sentida conversão do senhor Oliveira a pacifista eram integralmente preenchidos com imagens de arquivo de manifestações de protesto contra a guerra e as inevitáveis entrevistas com representantes da comunidade portuguesa que, claro, discordavam da política, achavam que Bush era um mentiroso e falavam enquanto enchiam chouriços (juro) ou prestavam informações sobre onde era a rua tal.

Como dizia no princípio, eu tentei. Juro que tentei ver o documentário (previamente anunciado como uma grande reportagem da 1), contive-me, não dei pontapés às gatas, dei um beijinho enlevado à filha que me telefona a dizer que “amanhã é feriado” e que ficava em Lisboa em casa da Rita e até me esqueci do joelho inchado da queda da bicicleta. Mas às nove e meia mudei de canal. Sob risco de iminente apoplexia. No canal 10 dava o Jay Lenno e por lá fiquei.

É por estas e por outras que eu acho que o
JPP está cheio de razão.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Cow boys


[1245]

A caminho do escritório, acabei de ouvir o nome de mais um laureado com o Prémio Nobel. O da Química.

Sendo assim, vão cinco americanos premiados até à data, ou seja, TODOS os que até agora foram distinguidos.

Prémio Nobel da Física: - C. Mather e George F. Smoot.
Prémio Nobel da Medicina: - Andrew Z. Fire e Craig C. Mello.
Prémio Nobel da Química: - Roger D. Kornberg


Ora isto é uma evidente demonstração do poder dos lóbis e da rendição ao jugo capitalista. Não há outra explicação. E, mesmo assim, se atentarmos bem nos nomes, veremos que C. Mather deve muito bem ter ascendência alemã, George Smoot cá para mim tem costela holandesa, Andrew Fire parece ter origem polaca (aquele “Z” é suspeito), Craig Mello, adivinhem... o Melo, caraças, aquele tipo que abriu uma padaria em Newark nos fins dos anos quarenta e, finalmente, o Roger Kornberg que é impossível que não seja de origem dinamarquesa. Ou, vá lá, sueca. Porque americanos, americanos, todos nós sabemos que não existem, aquilo é uma misturada promíscua que pariu aqueles incultos, antes de se ter inventado o multiculturalismo.

Bons tempos...


[1244]

O medo, servilismo e consciências morais que por aí grassam relativamente aos maometanos conduziram-me a recordações de um passado relativamente recente em que Samora Machel, no seu estilo inconfundível, fazia enormes comícios onde deixava extravasar os seus ódios, disfarçados de boas intenções e da sua inigualável competência oratória.

E era assim que num discurso algures no norte de Moçambique ele deixou soltar pérolas como “já Deus dizia, se vires uma cobra e um monhé, mata o monhé" (tradução livre do que lhe levava 10 minutos a dizer em tiradas inesquecíveis de retórica riquíssima) ou uma célebre sessão de verdadeiro achincalhamento da religião islâmica, fazendo humor com o facto de os maometanos vilipendiarem o porco porque Alá não achava o porco digno sequer de olhar para Ele, e por isso é que o porco tinha as orelhas compridas a taparem os olhos para ele não poder ver para cima. E que era completamente estúpido haver gente a morrer à fome e não comerem porco porque Alá dizia que era pecado. E depois repetia, gritando: - Vamos todos comer porco? E as pessoas diziam: - Vaaaamos. E Samora gritava, uma, duas, três, dez vezes mais: - Vamos todos comer porco? E as pessoas gritavam, levantando o punho: - Vamos!

Enfim, outros tempos, outras gentes e, certamente, outros porcos!

Sem tirar nem pôr


[1243]

«O grau de proselitismo político na nossa comunicação social está tão embrenhado, é tão denso e tão habitual, a começar pela questão "americano-bushista-israelo-palestiniana-iraquiana", que já é difícil imaginar como seriam as "notícias" sem ele. Seriam certamente mais notícias. Exemplos: silêncios sobre o que se passa e é necessário fazer no Darfur, resultado de não se querer integrar o noticiário sudanês no contexto dos conflitos de origem islâmica; indiferença perante atentados como o de Mombai, também descontextualizado; conflitos húngaros entre o primeiro-ministro e a "extrema-direita", forma de diminuir a reacção contra um governante socialista; omissão do conteúdo do documento dos serviços secretos americanos publicado para mostrar como eram de má fé as fugas parcelares realizadas, etc., etc. Fecho rápido de assuntos, de tudo o que contraria as teses dominantes, ao mesmo tempo que se estica até ao limite tudo o que as reforça. É intencional? Muitas vezes nem sequer isso é. É como quem respira. Sempre o mesmo ar

JPP no seu Abrupto (O bold é meu)

terça-feira, outubro 03, 2006

Post Sináptico ( 2 )


[1242]

Post dedicado.

All the best and be happy.Kiss kiss e vê se arranjas um
"Postais de NYC" que também é giro.
E estava a ver que nunca mais spread the news… Uff!


Some folks like to get away, take a holiday from the neighborhood
Hop a flight to Miami beach or to Hollywood.
But I’m taking a greyhound on the Hudson river line-
I’m in a New York state of mind.

I seen all the movie stars in their fancy cars and their limousines,
Been high in the rockies under the evergreens,
But I know what I’m needing and I dont want to waste more time-
I’m in a New York state of mind.

It was so easy living day by day
Out of touch with the rhythm and the blues,
But now I need a little give and take,
The New York Times or the Daily News...

It comes down to reality-and its fine with me cause I’ve let it slide,
Dont care if its Chinatown or the riverside,
I dont have any reasons, I’ve left them all behind-
I’m in a New York state of mind.


Beijinho and enjoy!