quarta-feira, outubro 25, 2006

Idioticus


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De todas as intervenções que vi e ouvi ontem sobre as irregularidades/ilegalidades das contas dos partidos, o que mais me impressionou não foram propriamente as irregularidades. Afinal somos um país irregular e com uma forte tradição de nos mostrarmos impantes sempre que conseguimos ser mais espertos que os outros.
O que verdadeiramente me impressiona é uma nova forma de comunicação que se posiciona entre o blá blá blá estéril de quem não faz a mínima ideia do que está a dizer e a utilização objectiva de uma forma insuportável de nos chamar a nós parvos. Qualquer coisa como, diz-se duas tretas e para quem é bacalhau basta. O problema é que muitos dos encarregados da nobre missão de nos chamar parvos são eles próprios um exemplo acabado da grei deste cantinho ibérico, donde resulta uma salada tremenda do que é dito, do que eles querem que nós acreditemos e daquilo em que eles próprios começam a acreditar, quando se começam a entusiasmar com o discurso.

Confuso? Nem por isso. É uma questão de repararmos na falta de cuidado com que os porta-vozes dos Partidos são descuidados nos escolhidos, no convencimento de que não é fundamental explicar bem as coisas às pessoas. Duas tretas chegam. E o resultado é que quem nos dá explicações, como aconteceu agora com esta trampolinice das contas (uma questão que toda a gente sabe não poder ser transparente, pelo contrário, tem de ser suficientemente baça para não complicar), normalmente tem uma fraca expressão oral (vide Vitalino Canas) ou tem uma lógica muito própria (vide aquela senhora do Bloco que agora não me recordo do nome). Jerónimo explica-se como um poço de virtudes a falar para as massas corruptas e os senhores do CDS e do PSD perderam-se na mais intrincada retórica que de tanto querer fazer de nós próprios parvos, tornou-os a eles uns perfeitos idiotas.

Nota: A RTP, como sempre, e vale a pena acompanhar as inúmeras referências que JPP tem vindo a fazer no
Abrupto à governamentalização dos órgãos de comunicação social, deu um triste exemplo de parcialidade. Como imagem de fundo à notícia do chumbo das contas dos Partidos, apareciam Santana e Portas em grande plano e por muito tempo, enquanto os outros líderes partidários apareciam fugazmente. Quase que inocentemente!