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Foram cerca de duas semanas ausente da «zona de conforto» do Blogger e isso concedeu-me uma assinalável benfeitoria das meninges.
No regresso às leituras não pude disfarçar uma certa avidez pela actualidade política (????) o que, aliás, já ontem dera um pequeno sinal numa fugaz visita à Feira do Livro, debaixo de uma invernia desconfortável, onde constatei a desolação dos pavilhões vazios e a presença retemperadora de um stand de farturas para afagar o piloro.
Pelo que, entretanto, li, parece que pouco há de novo. As pessoas continuam a reagir como se o actual governo fosse responsável pelos desmandos de Sócrates, a comunicação social continua apostada em alimentar uma espécie de esquizofrenia nacional, empolando tudo o que remeta para a crise e o sindicato dos controladores de voo continua a fazer uma greve qualquer, chateando meio mundo, por razões que ainda não consegui perceber (juro) e me faz recordar Ronald Reagan com alguma nostalgia.
Faço apenas uma chamada à atitude imbecil de Mário Soares e Manuel Alegre, quando se solidarizam com os militares de Abril, não indo à Assembleia da República comemorar o 25 de Abril. E imbecil, porquê? Porque se aquele grupo de reformados que hoje se reclama ainda de herdeiros universais da democracia portuguesa são livres de não ir onde quer que seja, já Alegre e Soares têm obrigações institucionais a que não deveriam, nem poderiam furtar-se. Eles foram espécimes do Poder, devidamente legitimados pelo regime pelo qual dizem ter lutado, e não podem agora andar a brincar às rebeldias ou arvorarem-se em «donos da bola». Recordo ter ouvido, a ambos, que, naquela altura, estavam no exílio e dizem-no com um ar solene de quem quase lhes deve uma genuflexão. Tanto um como outro deveriam pensar que enquanto uns estavam no exílio outros trabalhavam no duro e dando o seu melhor pelo progresso do seu país e pelo bem estar e segurança da sua família. Provavelmente com mais sacrifico do que subir um coqueiro em S. Tomé para apanhar uns refrescantes cocos.
De Alegre, a coisa já não choca tanto, habituados que estamos a perceber que o seu prestígio (??) se fundou à volta de umas quantas trovas de qualidade duvidosa ou ao bucolismo de uma pescaria de sargos na Foz do Arelho. Mas Soares, a quem pagamos ainda salários e alforrias diversas, condescendemos na atribuição de dinheiros para uma Fundação que ainda ninguém percebeu bem para que serve, para além de uns conspícuos contratos de arrendamento ao Estado (e espero que ele pague do seu bolso as multas por excesso de velocidade, pagará?), esperar-se-ia, pelo menos, um módico de honorabilidade e decência. A não ser assim, Soares deita fora qualquer resíduo de respeitabilidade que possa ainda merecer, mesmo que apenas institucionalmente.
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Etiquetas: Manuel Alegre, Mário Soares, pólítica, socialismos