domingo, julho 29, 2012

Os meus carros (14) Mitsubishi Lancer (o preto)

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Chegado aqui, a minha história de carros começa a ser desinteressante. Como muito provavelmente nunca poderei ter o Aston Martin que gostaria de ter, rendi-me à inevitabilidade de conduzir um carro que goste, seguro, de boa performance e, sobretudo, FIÁVEL, à medida do meu «poderio» financeiro. Não admira, assim, que tenha comprado outro Mitsubishi. Bem melhor que o anterior em potência e mais uns «zingarelhos» importantes como ABS, computador de bordo, ajuste dos bancos em três posições e sensor de chuva. O design é feliz, também. Mas, por qualquer razão que me escapa, há poucos a circular. As pessoas não conhecem bem o carro, ou a marca promove-se mal, não sei. Sei que é uma das viaturas com uma melhor relação de custo/benefício, mas não caiu no gosto português. Por mim, vou gostando. Porque isto de ter carro é um pouco como o casamento, o mais difícil são os primeiros vinte anos, sempre à procura do detalhe da perfeição. Depois a coisa entranha (salvo seja) e a gente habitua-se.
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Os meus carros (13) Mitsubishi Lancer (o verde azeitona)

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Penso ter expressado bem aqui a minha genuína surpresa pela qualidade e fiabilidade dos Mitsubishi. A vida dá muitas voltas e numa dessas voltas, acabei por me fixar definitivamente em Portugal há pouco mais de uma dezena de anos. Quando reparei que tinha de comprar um carro, acho que não pestanejei e fui direito a um agente da marca. Em minutos, escolhi a cor, paguei e fui lá uns dias depois buscar o carro, depois de devidamente matriculado.

Durante cerca de meia dúzia de anos foi o meu segundo habitat e jamais me desmereceu a confiança nele depositada. Verdade que não era tão potente como o anterior, mas igualmente servido de todas aquelas mariquices que até há pouco se chamavam de extras e hoje são o equipamento de uma viatura de segmento médio. Ar condicionado, tecto de abrir, direcção assistida, jantes de liga leve, central lock, ajuste do volante, rádio, etc., etc. Mais importante, o carro percorreu quase 400.000 kms pela Península Ibérica e em todas essas viagens nunca me dignei sequer verificar se os níveis de óleo estavam correctos. Certo que lhe fazia todas as revisões recomendadas, mas é da mais elementar justiça referir que nunca o carro precisou de nada que não fosse consumíveis correntes como filtros, óleo, pastilhas de travão, uma (!!!) bateria e pneus. Mais. Este carro foi parar à minha filha, que nele percorreu mais cerca de 70.000 quilómetros, sem o menor constrangimento. O carro acabou por ser vendido quase com meio milhão de quilómetros e o seu feliz proprietário ainda hoje percorre as ruas de Cascais, eu cumprimento-o, pergunto-lhe por cortesia se está tudo bem e ele diz que ainda no fim-de-semana passado foi ao Algarve. Mas que o carro (finalmente) precisou de levar uma embraiagem.
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sábado, julho 07, 2012

Os meus carros (12) BMW 520

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Com o carro anterior remetido para a sucata, enamorei-me pela cor de um BMW, uma cor de chumbo muito clarinha, muito brilhante, muito BMW. Afinal já tinha conduzido alguns, um bom amigo meu de Joanesburgo falava do dele como quem fala duma jóia rara e achei que seria uma boa proposta para os meus parâmetros de exigência.

O carro era bom, bonito e caro, coisa que ainda hoje tenho dificuldade em explicar, pela disponibilidade no mercado de vários modelos e marcas com semelhantes fiabilidade, design, performance e equipamento, a preços mais reduzidos. E não poso dizer que não tenha gostado dele. Irritava-me apenas aquele tique de namoradinha mimada que por tudo e por nada amuava e me obrigava a mandar o carro ao agente. Coisas de nada, da electrónica, diziam os diligentes mecânicos, mas tudo junto e somado o que é facto é que dificilmente passava um mês em que o carro não parasse por «micharias» irritantes. Uma autêntica corda de violino!

Foi o meu último carro em Moçambique, até Agosto de 1996. Uma nota trágica lhe ficou associada. Vendi-o a uma amiga, entreguei-lho dois dias antes de abandonar o país e poucas semanas depois fui sacudido com a notícia da morte dela e da filha, ao volante do BMW na estrada de Maputo a Ressano Garcia, pouco depois do desvio da Namaacha.
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domingo, julho 01, 2012

Os meus carros (11) Mitsubishi Galant 2000 GL

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Na primeira metade dos anos noventa voltei ao sistema de carro próprio. Os agentes da Mitsubishi para Moçambique tinham importado algumas unidades do Japão e teria havido uma desistência da Embaixada da Nigéria. E é assim que um bom amigo, um quadro superior da tal empresa, me aparece em casa, a um Sábado, com dois Mitsubishi Galant, um azul-escuro e um «bordeaux» e me diz:

- Escolhe um.

- Mas escolho o quê? Pergunto eu sem perceber nada do que se estava a passar.

- Um daqueles dois carros. Queres o azul ou o «bordeaux»? Um é para mim e o outro é para ti.

Aqui, o tal meu amigo conta-me a história da desistência e eu, sem nunca ter reparado verdadeiramente nestes carros, disse que ficava com o «bordeaux».

- Ok, então manda arrumar na garagem e para a semana acertamos as contas.

E foi no seio destas facilidades tropicais que eu me estreei, meio desconfiado, num carro japonês. O carro demonstrou ser um super carro. Fiz várias viagens nele a Joanesburgo e três viagens de Maputo a Cape Town, via Joanesburgo, o que representava cerca de 5.200 km ida e volta, por viagem. E não pude ficar insensível ao desempenho do carro ao longo do Karoo, em velocidades elevadas durante horas seguidas de rectas intermináveis, que o Mitsubishi devorava sem um soluço. Em nenhuma das três viagens. Acresce que me esquecia (é o termo) das revisões e o carro funcionava na perfeição. Durante dois anos, habituei-me a entrar nele todas as manhãs muito cedo, imaculadamente lavado pelo Liquelique (não é um produto... é um três em um que trabalhava para mim, guarda, jardineiro e lavador de carros) e passei a interrogar-me como é que eu não sabia que havia carros que andavam meses em que bastava meter gasolina e, se preciso fosse, pegar nele de supetão, ir a Joanesburgo e voltar, sem me preocupar sequer em ver os níveis dos óleos.

O carro teve um fim inglório. Numa festa em casa de um bom amigo, o Mitsubishi era o último da fila de carros na garagem. Era preciso ir levar o cozinheiro a casa por ser já muito tarde, o tal amigo pede ao filho para o fazer, o filho diz que tinha três carros a atravancar o carro do pai… eu atiro a chave e digo para levar o meu. Ele levou… e na Keneth Kaunda (uma avenida larga de Maputo, no Sommershield) bateu de frente numa IFA (um exemplar mais ou menos museológico da indústria de camiões da antiga Europa de Leste), o velhote estilhaçou o parabrisas com a cabeça mas ficou só tonto e o carro foi para a sucata.

Foto real do carro aqui.
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sábado, junho 23, 2012

Os meus carros (10) - Opel Kadett 1.3 GL

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O post anterior tem um título estranho. Os meus carros, do 9 ao 11. Há uma razão para isso. È que durante o tal período em que tive sempre carros de serviço, há um carro número 10. Eu explico. Eu gastava fortunas de cada vez que vinha a Lisboa em carros alugados, tratava por tu os contratos da Avis, da Budget, da Europcar, da Hertz. Ocorre-me uma vez em que uma amiga de Maputo insistiu para que usasse o carro dela durante as férias, porque estava parado há muito tempo, um mini no qual, para cabermos todos, tínhamos de cortar as unhas rentes e o cabelo à escovinha. E, no fim das férias, bati com o carro, gripei a embraiagem e lá gastei o dinheiro que me custaria alugar um Ferrari por um mês.

Decisão tomada, dois dias antes do fim das férias, achei que pouparia dinheiro se tivesse um carro meu em Lisboa. Vinha cá duas ou três vezes ao ano, era cómodo e deveria sair mais barato. Comprei então um Opel Kadett 1.3, um modelo que tinha aparecido por volta de 1986 e que tinha um design agradável. Só que dois anos depois, o carro tinha apenas 5.000 km e os pneus «óvalizados», que foi um termo de oficina que aprendi aqui e que era derivado aos carros estarem muito tempo na «garage». O veredicto chegou. Comprei pneus sem estarem «óvalizados» e deixei o carro ao meu pai que, mais tarde o vendeu a uma irmã minha. Foi, portanto o carro número 10.
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Os meus carros (do 9 ao 11)

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De 1977 a 1987 dispus de um longo cortejo de carros de serviço. Um deles foi um Peugeot 504 com motor diesel. Foi o primeiro carro diesel que tive na vida e não fiquei cliente. Primeiro porque corria o ano de 1984, salvo erro, e os motores de combustão não tinham ainda a sofisticação dos de hoje. Faziam um barulho que eu imagino semelhante ao de uma máquina de fazer pregos. Resultava que uma viagem de Maputo a Nelspruit, trajecto que eu percorria com frequência, fosse porque tinha filhos a estudar em White River fosse porque dava jeito ir comprar uns artigos de luxo que faltavam em Maputo, como pasta de dentes, papel higiénico, sabonete, velas e outros caprichos da vida moderna, tornava-se um suplício para os tímpanos. Para não falar de que acima dos 120 (de resto o carro pouco mais dava…) era preciso gritar, ooooooolhaaaaa, tira-me aí os cigarroooooooos do porta luuuuuuuvas! Sério, não gostei e não durou mais de um ano. Consegui convencer o meu chefe alemão que tinha um problema nos tímpanos e uma clara degradação do olfacto (não é que ele acreditou?) e regressei ao good old petrol engine.

De todos os carros que tive neste período, merecem relalce um Mercedes 200 (uma emergência, recebemo-lo por uma dívida) e um Opel Rekord Berlina,

um excelente carro, motor dois litros, com magnífica upholstery e com a particularidade de ter sido o primeiro carro automático que tive, Daí para a frente só tive automáticos até regressar a Portugal, onde percebi que ter um carro automático parecia que significava novo-riquismo e não dá pica nenhuma porque não se fazem reduções nas curvas e não dá para fazer ponto de embraiagem nas rampas, enquanto esperamos o sinal verde. Recordo até um pormenor de um empregado da Avis, no balcão do Aeroporto, se afobar com uma série de telefonemas, até que lhe perguntei se havia problema e ele me ter respondido (assim com aquela variante malcriada do tuga que acha que está a atender fregueses mas acha que este país é uma merda que não dá oportunidades aos cidadãos e ele devia era ser secretário de estado dos transportes), que sim, havia um problema porque eu tinha reservado um Golf e o único Golf que eles tinham disponível era automático. Quando eu lhe disse que não fazia mal, ele aprimorou a malcriadice e perguntou-me: - Mas sabe conduzir automáticos?

Rendi-me aos factos e voltei aos manuais.
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sábado, junho 16, 2012

Os meus carros (8) Peugeot 404 SW


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Interrompi a minha lista de carros em fins de Abril. Hoje retomo-a, ainda que com uma espécie de falsa partida, a razão sendo o facto de que a partir daqui, durante muitos anos, não tive carro próprio. Tive vários carros de serviço (de resto, já antes tinha tido alguns, mas como paralelamente ia tendo carros próprios, descrevi-os) nos anos seguintes.

Mas este, uma prestimosa, espaçosa, reliable e robusta station, apesar de company car, foi o meu primeiro carro na África do Sul durante dois anos. Talvez por isso me recorde bem da matrícula, NPN 36339, que era um Pinetown number plate. Nesta Peugeot fiz a minha primeira longa viagem pela África do Sul, ainda na ressaca da saída de Angola. Foi entre Johannesburg e Durban, cidade onde fui colocado pela empresa que me deu trabalho e nela cabiam todos os meus pertences, incluindo a família, já que tudo o resto jazia algures (vim a saber depois) na avenida 5 de Outubro de Nova Lisboa, no bojo de um camião que rapidamente foi saqueado, depois de morto o motorista.

Este carro não foi só um meio de transporte. Foi, também, uma espécie de refúgio e confidente. O local onde me sentia rodeado de coisas pessoais, os óculos escuros, a carteira, os cigarros e isqueiros, o mapa de estradas, a garrafa de água, num meio inicialmente hostil, por estranho, e com o qual tive de lidar durante um período de tempo. Neste carro calcorreei praticamente toda a antiga província do Natal e Zululand… a North Coast até Pongola, depois Dundee, Vryheid, Newcastle, Glencoe, Estcourt (a terra do bacon!...), Mooi River, Pietermaritzburg e muitas outras cidades, em trabalho – basicamente pesquisa e experimentação de novos herbicidas industriais e selectivos para relvados e campos desportivos. Nele me sentava durante muitas centenas de quilómetros, ouvindo o rádio, fumando tabaco Virgínia (fui-me habituando, a par das coffee drinks, em vez de um bom AC e de uma boa bica…) e perguntando-me como é que uma pessoa passa de uma vida parametrizada no habitat que criou com gosto e denodo e de repente lhe dizem que perdeu uma guerra qualquer e sente que temos que baralhar e dar de novo. Na altura ainda não dava para irmos para a televisão reclamar contra a direita liberal e berrar e exigir que o Estado nos desse um emprego, por isso este carro ganhou alguma relevância no arquivo da minha memória. Pensei tanto dentro dele, que muitas vezes tinha até a sensação que ele me compreendia – só não me dava respostas porque não sabia falar. Mas, pelo menos, acomodou-me sempre por forma a regressar a casa safe and sound. E ainda me proporcionava bons momentos de fim-de-semana para a família, levando-nos a locais novos e bonitos da área como o maciço de Drakensberk, Midmar Dam, Howick ou a cosy Umhlanga Rocks (pronuncia-se Umxlhanga). Merece, por isso, destaque especial.
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sábado, abril 07, 2012

Os meus carros (7-A) VW Buggy

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No princípio de 74 fiz uma extravagância. Encomendei um beach buggy cor de vinho a uma oficina sul-africana em Cape Town, novinho. Motor VW e customized.

O buggy chegou nos fins de Março de 74. Levei-o apenas duas vezes para o escritório e uma vez à Ilha de Luanda. Não cheguei, como me propunha, acelerá-lo pelas areias das Palmeirinhas e do Morro dos Veados. O 25 de Abril dominava toda a minha actividade e na maior parte dos dias eu esquecia mesmo que tinha um buggy.

Poucos meses depois do 25 de Abril, também eu me fui embora, como milhares de outros. Depois de «arrumar» os últimos pormenores da retirada dirigi-me ao aeroporto no buggy (era já o único meio de locomoção de que dispunha) e estacionei-o cuidadosamente. Era de noite. A família esperava já há dois dias no aeroporto pejado de gente, dentro e fora das instalações. Não sabia bem quando partiria, mas sabia que dali já não iria a parte nenhuma que não fosse a bordo de um avião. Saí do buggy e olhei-o, com uma sensação estranha, aquela sensação de quando estamos vendo um filme e levamos tempo a perceber o enredo. Mas olhei para o carro e, sim, lembrei-me dos carros que tinha tido até essa altura. Afinal pouco tempo decorrera ainda desde o Mini até ao Buggy. E achei, de novo, que sim, não percebia ainda o enredo do filme que estava a viver. Percebi, pelo menos o suficiente, para olhar para o céu, baço de cacimbo, e achar que a vida não parava ali mas que, no mínimo, me deveria já algumas explicações.

Já a meio do percurso para o aeroporto, percebi que tinha ainda as chaves do carro comigo. Lancei-as para longe, para trás de mim. Não olhei sequer. Segui em frente e pensei que pelo menos eu seria uma das raras pessoas do mundo que poucos dias depois de ter pago pela compra de um brinquedo caro, o abandonava, para sempre, num parque de estacionamento.
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Os meus carros (7) Renault 16 TS

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Os homens são assim. Pelo menos alguns que eu conheço e onde me considero razoavelmente enquadrado. A ebulição intensa das emoções pode passar à acalmia, quando razões extrínsecas nos convencem que sim, que temos família, olhar por ela, uma carreira, lutar por ela. A juntar a isto, nada como uma mudança de habitat para ajudar à festa. De repente a vida leva-me para a capital angolana, aquela cidade que Marcelo Caetano um dia idealizou ser a capital do império.

Esta mudança fez-me crescer. Uma cidade nova, um caldo social de todo diferente ao da snob Nova Lisboa e, sobretudo, um trabalho que, de resto, deveria marcar o meu futuro. Porque finalmente descortinava um ramo do meu curso onde me sentir minimamente atraído (até aí sempre achara que meterem-me a estudar agricultura, agronomia, agrologia, culturas arvenses ou as mil e uma maneiras de se proceder à vinificação terá sido um enorme erro de casting). E, na verdade, para o resto da vida fiquei agregado a um palavrão que em inglês é sonante (crop protection) mas em português dá mais a ideia de fiel de estufas de tomate ou morangos na região do Oeste (protecção de plantas).

A minha vida passou a ser diferente. Desacelerou e ganhou contornos até aí mais ou menos exógenos à minha condição de jovem exuberante, fogoso e capaz de carregar o mundo às costas. Mais estabilidade, menos correrias e a descoberta do mar como fonte inesgotável de prazer contribuíram para que comprasse um cómodo, confortável, preguiçoso e espaçoso Renault 16. Talvez porque residia em mim ainda uma minorca centelha desportiva, adornei a compra com um ts. Não que o Renault 16 ts andasse mais que o Renault 16 sem ts nenhum, mas sempre tinha algum equipamento extra, incluindo um conta-rotações, e o ts na traseira metia algum respeito.

Este carro provou ser uma boa aquisição. Para quem tinha dois bebés surgidos quase de rajada, como eu, e precisava de espaço, conforto e segurança, o carro revelou-se bem apetrechado. Embirrava solenemente com aquela alavanca de mudanças à coluna da direcção, mas não se podia ter tudo. O carro acompanhou-me até abandonar Angola. Numa altura em que as pessoas se vinham embora e deitavam os carros fora, eu consegui vender o R16 à Shell. Por 30 contos. Mas nesta altura já nada importava naquela terra. Vender um carro por 30 contos ou mandá-lo ribanceira abaixo ou, ainda, abandoná-lo no estacionamento do aeroporto, era indiferente (de resto, o que fiz com um buggy novinho, com motor VW e cor de vinho metalizado e a que chamarei carro de carro 7-A. Não lhe chamo carro 8 porque o tive por um período curto demais para que lhe chamasse meu). Havia muito mais em que pensar.
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Os meus carros (6) Opel Manta 1900 SR



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Corria o ano de 73 e dois carros dominavam o mercado. O BMW 2002 e o Ford Capri. Na vertente desportiva, a BMW via finalmente homologado em Grupo 1 o seu 2002 tii e o mesmo acontecia à Ford com o seu 2600 RS. Mas eram muito caros. E eis que um carro me fica no olho, o Opel Manta 1900 SR. Eu sabia que em Grupo 1 o carro não seria tão competitivo como a BMW e a Ford mas o carro tinha um design fantástico e apresentava várias características que faziam dele o compromisso ideal para carro de turismo e desporto, para isso bastando a instalação do «santo António», o arco de protecção interno.

Em pouco tempo um Manta 1900 SR verde azeitona metalizado, com um tejadilho em vinil e capô pintado de preto fosco, bem assim como aquele friso fininho ao longo da carroçaria, exactamente como na imagem acima, ocupava a minha garagem. O carro apresentava características novas em relação aos Opel, como fosse o conjunto de instrumentos e uma performance que se destacava dos Reckord e Kadett, de resto não muito fiáveis nesse particular.

O Manta cumpriu a sua missão com dignidade. Quer através de deslocações por toda a Angola, quer por via de uma honrosa participação no campeonato de grupo 1 onde rivalizou com os temíveis 2002 e Capris em praticamente todos os circuitos de Angola, incluindo as «6 horas de Nova Lisboa». No circuito de Novo Redondo, correndo nos lugares da frente intrometido entre seis (!!!!!)Bm’s e os Capris, sou voluntariamente abalroado e «empurrado» de traseira no «S» que antecedia a rampa da Câmara Municipal. Em pleno «S» e com a aderência reduzida naquela parte do circuito, dei duas cambalhotas completas até me imobilizar com o carro em pé, mas definitivamente arredado da corrida. Corrida que terminou ali, aliás, as corridas. Porque sem telemóveis, não havia como desmentir a notícia dada insistentemente pelo Rádio Clube do Huambo que anunciava eu ter morrido num aparatoso acidente da corrida. Notícia dada, de resto, por um correspondente que, segundo me disseram, me tinha visto no bar do hotel tomando um uísque.

Regressei a Nova Lisboa nessa noite onde pude comprovar que, tal como acontecera a Mark Twain, as notícias que me davam como morto eram razoavelmente exageradas.

Prometi a mim mesmo que não voltaria a correr, de resto pouco depois veio o 25 de Abril e se houve corrida que tive de fazer foi a caminho da África do Sul. Mas essa foi já uma corrida de resistência e não de velocidade pura.
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sábado, março 31, 2012

Os meus carros (5) NSU TT

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Corria o ano de 1971. Reintegrado em Nova Lisboa depois de uma passagem profissional efémera pelo Uíge, deslocava-me numa frugal Renault 4 em serviço. Com ela percorri o Huambo e Bié, mas principalmente o Bié e não havia «bicanjo» ou picada que me impedissem de chegar onde precisava. A Renault 4 foi a precursora de uma longa galeria de viaturas de serviço que tive até hoje.

As necessidades da casa repartiam-se, assim, pela 4L e pelo velho Simca. Mas um dia deu-se o inesperado. Sou literalmente arrastado para ocupar o lugar do Emídio Poiares (um amigo precocemente falecido em Espanha) na prova de Nova Lisboa do Troféu Taki-Talá, um troféu de velocidade que corria muitas cidades de Angola, patrocinado pela Joframa, agente da NSU. Eram 12 carros rigorosamente iguais, incluindo a cor laranja e era muito competitivo. Andei pelo meio do pelotão (as sensações de vestir um fato de competição e o capacete ficam para outra altura, porque só isso daria um post) e acabei ingloriamente nas boxes com um pneu traseiro furado.

Duas semanas depois, havia uma perícia no Chinguar, (uma vila simpática onde eu passava todos as semanas em trabalho e onde, por vezes, parava para comprar morangos) e convidam-me para participar, de novo num daqueles reluzentes e alaranjados bólidos. Descubro então que não tinha carta desportiva. Coisa que se resolveu rapidamente com um atestado médico e a ajuda de um amigo no A.T.C.A. Rumei ao Chinguar e, sem perceber bem como, arranquei o primeiro lugar da geral. No fim, taça, muita cerveja, muitos vivas, e o regresso a Nova Lisboa na frágil 4L.

Depois «disto» não demorou muito para que eu comprasse um reluzente NSU TT prateado e em tudo semelhante ao que aparece aqui na foto em baixo, com que o Ernesto Neves participou no Rali de Portugal), incluindo os «zingarelhos» para impedir que o capô se abrisse e aqueles vistosos e úteis «faróis de longo alcance», como se dizia.


O pequeno bólido era fabuloso, um motor transversal traseiro de 1.200 c.c., dois carburadores, (o TTS tinha quatro, um por cilindro) e um vertiginoso arranque dos 0 aos 100 em 10,5 segundos, ainda que a velocidade de ponta dificilmente ultrapassasse os 140 km/h. De condução exigente (muitas vezes corri com uma saco de 50 kg de areia na bagageira frontal para evitar que nas curvas o carro seguisse em frente…), conduzir aquela pequena maravilha, para quem gosta de automóveis, era uma coisa dos deuses. Saboreei aquele carro com deleite e fiz imensos ralis, numa época (1972) que culminou com um fantástico 3º lugar da geral e primeiro na classe, com o meu querido amigo Zé Tó Miranda que foi meu «pendura» durante todas as provas da época, no Rali do BCA, à altura o segundo mais importante rali africano, a seguir ao Rali do Quénia.

O TT faleceu ingloriamente nos fins de 72, à saída da Cela, quando uma vaca se atravessou inesperadamente na estrada e com que choquei fragorosamente. A vaca foi projectada, caiu, mugiu, levantou-se e fugiu. O TT faleceu. Não tinha ponta por onde se lhe pagasse. Recebi um cheque do dono da vaca (uma hora depois, com um pedido de desculpa) e nunca mais vi o pequeno bólido que tantas alegrias e descargas de adrenalina me deu. Nem a vaca.
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domingo, março 25, 2012

Os meus carros (4) - Symca 1501

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Os tempos iam maus. Três carros depois de eu ter tido o meu primeiro, via-me possuidor de um carro de luxo, ainda que com o diferencial gripado. Parei um bocadinho para pensar (coisa que nesta idade me dava uma incómoda dor de cabeça) e percebi que ainda devia metade do carro, tinha uma conta pesada para o conserto do diferencial e eu, acabado de sair da tropa, tinha um filho a gatinhar em casa, uma filha a caminho e era, ainda, funcionário público (assistente técnico de 2ª classe não sei quê não sei quantas… não é exagero, não me lembro mesmo, nesta altura a gente dizia baixinho que éramos funcionários públicos quando nos perguntavam a profissão, entretanto as coisas mudaram, como se sabe).

Um dia, numa manhã de pesca às tilápias numa barragem do Uíge, tropecei num enfermeiro simpático, pescador como eu e, enquanto cada um de nós puxava um peixe, percebi que o grande objectivo de vida daquele homem era ter um BMW. Devagarinho, com cuidado, expliquei-lhe que, por acaso, eu tinha um, quase novo, mas… e lá contei a história do diferencial. Saímos da pesca e levei-o a ver o carro. Lá estava ele na garagem de casa, lindo de morrer, luzidio e mostrei-lhe a conta da reparação, bem assim como uma carta do Agente, na qual se afirmava que o carro estava em rigoroso estado.

O enfermeiro tinha um Simca 1501 (!!!!!!). Eu tinha uma vaga ideia que havia Simcas mas juro que nunca tinha reparado em nenhum. O enfermeiro propunha então entregar-me o Simca e sessenta contos (exactamente o que me faltava ainda pagar) por troca com o BMW. Pensei (mais uma dor de cabeça incómoda, pensar, na casa dos vinte anos, pode ter efeitos colaterais graves), dei uma volta no Simca…tive uma sensação de ter estado a degustar uns canapés de caviar e, de repente, ter metido uma mão de tremoços à boca. Pensei outra vez (outra dor de cabeça…) e disse que sim.

Passei a ser um (in)feliz detentor de um Simca, mas sem dívidas. O carro tinha, a seu favor, o facto de ser amarelo-torrado, uma cor muito em voga nos anos setenta. A verdade é que continuei a ir a todo o lado, em razoável conforto. É certo que os queques das festas queques da queque Nova Lisboa deixaram de reparar na grelha pintada de preto fosco e no emblema 1800 do lado direito do painel traseiro, mas acabaram por se habituar. Houve até quem dissesse que o Simca era um excelente carro!...
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sexta-feira, março 23, 2012

Os meus carros (3) BMW 1800

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Nova Lisboa era uma cidade queque. No falar, no comer, no trajar. Havia grupinhos também. Onde, em festas pretensiosas se falava com desdém de Benguela (com um cinema chamado «Kalunga» e um hotel chamado «Mombaka», aquilo era lá nome que se dissesse, ao pé do chiquérrimo «Ruacaná» que tanto dava para o cinema como para o hotel…), com piedosa benevolência sobre a matrecolândia dos camundongos, luandenses, que viviam sob um odioso clima tropical, suados e catingosos e que não tinham nada mais para fazer se não ir ver um filme ao Miramar ao Sábado à noite, beber uma imperial na esplanada do Arcádia depois do cinema, saltar para o Pim’s beber um cocktail, ir dançar ao Kalhambeque e acabar a noite numa rebita do Kussunguila e, por vezes, acordar até nas areias da praia ali mesmo em frente, uma estucha aquela Luanda, tudo gente farrista vivendo numa cidade infecta, nada como a asséptica, bonita, interessante e interessada Nova Lisboa. Ou se falava ainda, com displicência e tolerância, daquela espécie de tribo de uma espécie rural que vivia para lá do Chinguar, muitos deles numa cidadezeca que dava pelo nome de Silva Porto e de que nada se sabia a não ser que nem corridas de automóveis tinha. Malange, Sá da Bandeira, Moçâmedes e Carmona ou eram demasiado longe ou demasiadamente simplórias para que se falasse nelas.

Nova Lisboa tinha duas facções principais. Os que gostavam da Ancotel e, naturalmente, conduziam Ford Taunus ou Lancias e os que gostavam da Universal, dos Mota Veigas, que eram agentes da BMW. E é numa conversa numa festa em que eu, meio lamuriento, digo que o Autobianchi depois do acidente nunca mais foi carro, que o João Cleto me diz para passar lá no stand que a gente depois conversava. No dia seguinte eu olhava extasiado para um BMW 1800 novinho em folha, reluzente e com aquela chispa que só os BMW’s tinham, excepto para os amigos da Ancotel que gostavam mais dos Taunus e da Lancia.

O carro era formidável. Cor cinza (perdão, Bristol), faiscava de brilho. O interior era opulento, com enormes bancos, um volante clássico, mostradores de design alemão e, deuses (!!!), um conta-rotações, afinal uma coisa com que eu sonhava desde o meu velho mini. Foi-me ainda dito que só tinham chegado dois carros daqueles e que eram já um modelo com pequenas diferenças. E é aí que eu reparo que a grelha em vez de ser inteiramente cromada tinha dois frisos pintados a preto fosco (o toque desportivo) e, cereja em cima do bolo, o emblema 1800 vinha agora colocado no lado direito do painel traseiro enquanto que nos modelos anteriores vinha do lado esquerdo. Frisos pretos e emblema do lado direito! Duas marcantes diferenças para aqueles que, nas festas, olhassem para o carro e percebessem, assim, que aquele era o último modelo.

Durou pouco este carro. Numa viagem de Luanda para Camabatela, o bujão do diferencial saltou… a valvulina vazou… e os satélites, planetários, roda de coroa, enfim, todo o miolo, desapareceu. O percalço ficou a dever-se à companhia de Caçadores número não sei das quantas onde o meu irmão (que era lá alferes) me tinha mandado mudar os óleos. E o «nosso pronto», por óleos, achou que o do diferencial também era para mudar. Ter-se-á esquecido de apertar bem o bujão.

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sexta-feira, março 09, 2012

Os meus carros (2) Autobianchi Primula



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Depois deste, tive este, reproduzido lá em cima. Verde azeitona metalizado, o bólide luzia no stand, mais por ser novo, «zero km», como dizem os brasileiros do que pelo gabarito do carro. No fundo, era um vulgar Fiat 1200 c.c. mas ostentando o sonante nome de Autobianchi, um fabricante entretanto comprado pela Fiat. O nome do modelo já não impressionava tanto… «Primula», assim se chamava ele. Vim a saber que era o nome de uma flor, família das primuláceas, o que tornou o carro mais «abichanado», que era uma coisa que se podia pensar na altura sem risco de sermos política e socialmente excomungados. Com optimismo, admiti que muito pouca gente saberia o significado de Primula, pelo que quando me perguntavam que carro é que eu tinha eu podia sempre dizer que era um Autobianchi, «tout court», sempre cheirava a técnica, a «racing» a «sportif»… enfim tinha uma sonoridade diferente.

Tinha acabado de me nascer um filho e com algum pesar percebi que colocar e tirar uma alcofa de bebé num Mini era uma tarefa só comparável à desmontagem de uma roda de coroa de um relógio suíço, pelo que as quatros portas do Autobianchi e o facto de o agente em Nova Lisboa ser meu amigo pessoal (pagamento tipo nada à vista, um tanto por mês e depois uma letra enorme para o fim, reformável, que era uma coisa que dantes existia, inventada pelos bancos, muito antes de se instalar a ideia de que os bancos e o seu apelo ao consumismo eram os responsáveis directos por estarmos todos tesos e endividados.

Circular com o carro «0 km» não deixava de ser esfuziante. Ainda não tinham filmado o «When Harry met Sally», portanto eu ainda não conhecia o orgasmo da Meg Ryan num restaurante, mas tenho de confessar que percorrer as ruas de Nova Lisboa num Autobianchi verde metalizado, novo e ainda por cima uma marca/novidade era uma experiência marcante e a «atirar» assim para a célebre cena idealizada pelo Bob Reiner.

O carro durou pouco. Com seis meses de uso, o Sr. Esperança, dono da estação de serviço da Mobil ao cimo da 5 de Outubro, onde eu deixara o carro a lavar, bateu-me à porta dizendo que o sr… não me ocorre o nome, um fotógrafo na Chianga, distraiu-se, travou tarde, bateu-me no carro que estava na box a mudar o óleo, o carro foi batido por trás, foi empurrado para a frente e o resultado foi uma monumental amolgadela atrás e à frente. Ainda não havia declarações amigáveis… mas o facto de eu estar a almoçar e do tal fotógrafo da Chianga ser o mesmo a quem eu iria dar o trabalho da revelação das fotos do meu relatório de fim de curso, ajudou a resolver a questão, sem mortos nem feridos.

Carro arranjado, deu para mais dois meses. Numa viagem entre Caconda e a Chicuma, numa estrada boa, mas de saibro, perdi o contacto do terreno, o «grip» como se diz hoje. Muitas voltas ao volante, muito pó, muita confusão, dou comigo dentro do carro sentado no tejadilho e a apanhar um banho de gasolina. Percebi que o carro estava de pernas para o ar. Um segundo e meio mais tarde lembrei-me que a gasolina ardia…e é aí que eu me esgueiro para o exterior por uma das janelas, rezando um Pai Nosso em voz alta.

Sentado na berma da estrada, quedei-me a olhar para o Autobianchi Primula 0 km, verde azeitona, de quatro portas, à espera que aquilo fizesse PUM. Não fez… e a partir daí achei que os filmes americanos eram uma fraude e passei a vê-los com desconfiança. Qualquer toque e os carros explodiam sempre, com o bandido lá dentro. O meu deu uma data de cambalhotas, a gasolina jorrava para cima de mim e … nada.

Foi o fim do meu segundo carro. Ia sendo o meu também. Não foi. Esperei por socorro e pouco depois percebi que estava sem carro. Talvez eu não gostasse assim tanto dele. Não tive pena por aí além.

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domingo, março 04, 2012

Os meus carros (1) «É tão giro ter um Mini»



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Foi o meu primeiro carro. De resto, naquele tempo, ter um Mini era o sonho de qualquer jovem ou, noutro ângulo, uma espécie de inevitabilidade histórica. Acho que a muito poucos jovens passaria pela cabeça que o seu primeiro carro não fosse um Mini.

E assim tomei posse de um garboso ABS-01-46, matrícula de Benguela, embora eu tivesse comprado o carro em Nova Lisboa. Eram três metros de carro com um metro e trinta de altura, verde (almond green) e tejadilho branco (old english white roof) que comportavam um «fantástico» motor transversal de 848 c.c. com 34 cv e nos faziam sentir donos do mundo, enquanto accionávamos uma desajeitada alavanca de velocidades e contemplávamos, extasiados, os mostradores redondos (redondos, valha-me Deus, nada a ver com aqueles mostradores rectangulares da maioria dos carros da época) que nos davam conta da pressão do óleo do motor (um luxo) e do fluxo de amperes para a bateria.

A este carro devo os momentos de êxtase só possíveis a quem conduzia um maravilha como esta, sentindo a sua maneabilidade, «arranque» e um formidável «barulho de escape», cavo e personalizado, como convinha.

Quando casei, ainda o tinha. Saí do copo de água e cobri os 600 km que separavam Nova Lisboa de Moçâmedes sem problemas, salvo umas dez ou 12 paragens em que eu tinha de ir dar umas pancadinhas na bomba de gasolina (eléctrica, daquelas que tinham um pequeno platinado e tudo…) que volta e meia «amuava» e lá ia eu dar umas pancadinhas mágicas para ela funcionar de novo.

Depois deste tive muitos carros. Mas este foi talvez o que mais prazer me deu. Além do mais, lá dizia o anúncio, «era tão bom ter um Mini…»
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