Se eu fosse mulher, hoje a minha expressão bored seria exactamente esta
[2628]
Prometi-me uma semana de férias em casa e cumpri. Estou a gozá-la desde esta manhã, apesar de por duas ou três vezes me ir a saltar a mão para o telemóvel e a reprimir a tempo. E, por isso, já palmilhei a casa toda (descalço), fiz café duas vezes e não atendi o telefone por quatro. Li os despojos do Expresso de Sábado passado, incluindo a Clara Ferreira Alves a curtir o seu ódio ao PSD (coisa recente…) e a Cavaco. Dele diz que nunca lhe ouviu coisa de jeito e que os desempregados de um regime sem ideologia tentam desesperadamente encontrar em Cavaco um pensamento ou uma coerência ideológica. Cavaco modesto e frugal, limitado e deslocado e amarrado à âncora da sua ignorância, não será o presidente que ela quereria eleger mas o que foi eleito. Diz ainda que Cavaco não tem mundo e é dado a episódios paroquiais de recalcitrar quanto ao picante da comida indiana. Cavaco “Mr Chance" (para quem não saiba, Clara não se limita a ler, vê cinema e conhece Peter Sellers) administrou a fortuna da Europa de mel e leite na pele do economista mediano que ele é. No fim de uma longa dissertação com considerandos afins, Clara acha que podemos extrair o rapaz a Boliqueime, não conseguimos é que Boliqueime não largue o rapaz. O que é uma desgraça para todos nós. Para ela, Clara, claro. Porque Cavaco é um apêndice, nunca um órgão político. Por mim, Clara resumiria tudo dizendo que Cavaco não lê. E quem não lê como ela arrisca-se a ser tema de quem o faz em profusão. Como ela, a Clara, claro.
Também já fui ao "Pau de canela". Comi scones e bebi café. Segafredo, que é o melhor. E sob as nuvens balsâmicas de hoje que me protegem das inclemências do sol, sentei-me na esplanada olhando preguiçosamente os muitos turistas que enformam o cosmos desta vila que elegi para viver. Gente que se delicia com o nosso café, os nossos scones, bife pórtuguêse e calamare à lagararo. Na mesa ao meu lado, um casal de italianos comenta prazenteiramente o nosso clima e a nossa comida e recomenda à filha Virgínia de cerca de 7 anos que não se afaste para além da relva do Visconde da Luz. Pensam em tudo menos se Berlusconi é um apêndice ou se é do Boliqueime lá da terra. Que esse tipo de reflexão é só para quem lê muito e se chama Clara, claro.
Dois telefonemas às filhas, uma trabalha, a outra dorme. Compro os jornais do dia e venho para casa. Entro na sala e atiro com os jornais para o cantinho da sala (aquele cantinho que Cavaco deveria ter e, provavelmente, não tem, para poder ler o suficiente para não ser o rapaz de Boliqueime que tanto irrita a Clarinha).
Sentado ao computador, (10 minutos depois de estar a escrever saiu “isto”…) vou ouvindo o diálogo interessante de um filme que está a passar num dos TVC’s. Hesito, assim, entre fazer uma incursão de leitura pela Blogo (há que ler e minorar a distinta possibilidade de a Clarinha nos chamar nomes e ela própria se irritar) e esparramar-me no sofá a ver o filme.
De uma coisa estou certo. “Já” estou de férias há um dia e começa a faltar-me assunto. Lá dizia J. Irving-Scott que o ócio modela os vícios. Vale-me que P. O. Chandler dizia precisamente o contrário. Fazer nada e coisa nenhuma e, se possível pedir a alguém que nos ajude é um dever cívico. O melhor mesmo é seguir Mauro J. Biscaya e fazer um pouco de cada. Ou seja, metade de nada e metade de coisa nenhuma. Antes que me dê uma coisa e vá trabalhar já amanhã.
Nota: Aos menos atentos direi que J. Irving Scott, P.O. Chandler e Mauro J. Biscaya poderiam ser escritores de renome. Mas não são. Nem sequer existem. Mas que dá um certo sainete fazer umas pseudo citações mesmo que de pseudo celebridades literárias, dá.
.
Etiquetas: Ai Portugal, férias, me worry?