Um dia de férias
Se eu fosse mulher, hoje a minha expressão bored seria exactamente esta
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Prometi-me uma semana de férias em casa e cumpri. Estou a gozá-la desde esta manhã, apesar de por duas ou três vezes me ir a saltar a mão para o telemóvel e a reprimir a tempo. E, por isso, já palmilhei a casa toda (descalço), fiz café duas vezes e não atendi o telefone por quatro. Li os despojos do Expresso de Sábado passado, incluindo a Clara Ferreira Alves a curtir o seu ódio ao PSD (coisa recente…) e a Cavaco. Dele diz que nunca lhe ouviu coisa de jeito e que os desempregados de um regime sem ideologia tentam desesperadamente encontrar em Cavaco um pensamento ou uma coerência ideológica. Cavaco modesto e frugal, limitado e deslocado e amarrado à âncora da sua ignorância, não será o presidente que ela quereria eleger mas o que foi eleito. Diz ainda que Cavaco não tem mundo e é dado a episódios paroquiais de recalcitrar quanto ao picante da comida indiana. Cavaco “Mr Chance" (para quem não saiba, Clara não se limita a ler, vê cinema e conhece Peter Sellers) administrou a fortuna da Europa de mel e leite na pele do economista mediano que ele é. No fim de uma longa dissertação com considerandos afins, Clara acha que podemos extrair o rapaz a Boliqueime, não conseguimos é que Boliqueime não largue o rapaz. O que é uma desgraça para todos nós. Para ela, Clara, claro. Porque Cavaco é um apêndice, nunca um órgão político. Por mim, Clara resumiria tudo dizendo que Cavaco não lê. E quem não lê como ela arrisca-se a ser tema de quem o faz em profusão. Como ela, a Clara, claro.
Também já fui ao "Pau de canela". Comi scones e bebi café. Segafredo, que é o melhor. E sob as nuvens balsâmicas de hoje que me protegem das inclemências do sol, sentei-me na esplanada olhando preguiçosamente os muitos turistas que enformam o cosmos desta vila que elegi para viver. Gente que se delicia com o nosso café, os nossos scones, bife pórtuguêse e calamare à lagararo. Na mesa ao meu lado, um casal de italianos comenta prazenteiramente o nosso clima e a nossa comida e recomenda à filha Virgínia de cerca de 7 anos que não se afaste para além da relva do Visconde da Luz. Pensam em tudo menos se Berlusconi é um apêndice ou se é do Boliqueime lá da terra. Que esse tipo de reflexão é só para quem lê muito e se chama Clara, claro.
Dois telefonemas às filhas, uma trabalha, a outra dorme. Compro os jornais do dia e venho para casa. Entro na sala e atiro com os jornais para o cantinho da sala (aquele cantinho que Cavaco deveria ter e, provavelmente, não tem, para poder ler o suficiente para não ser o rapaz de Boliqueime que tanto irrita a Clarinha).
Sentado ao computador, (10 minutos depois de estar a escrever saiu “isto”…) vou ouvindo o diálogo interessante de um filme que está a passar num dos TVC’s. Hesito, assim, entre fazer uma incursão de leitura pela Blogo (há que ler e minorar a distinta possibilidade de a Clarinha nos chamar nomes e ela própria se irritar) e esparramar-me no sofá a ver o filme.
De uma coisa estou certo. “Já” estou de férias há um dia e começa a faltar-me assunto. Lá dizia J. Irving-Scott que o ócio modela os vícios. Vale-me que P. O. Chandler dizia precisamente o contrário. Fazer nada e coisa nenhuma e, se possível pedir a alguém que nos ajude é um dever cívico. O melhor mesmo é seguir Mauro J. Biscaya e fazer um pouco de cada. Ou seja, metade de nada e metade de coisa nenhuma. Antes que me dê uma coisa e vá trabalhar já amanhã.
Nota: Aos menos atentos direi que J. Irving Scott, P.O. Chandler e Mauro J. Biscaya poderiam ser escritores de renome. Mas não são. Nem sequer existem. Mas que dá um certo sainete fazer umas pseudo citações mesmo que de pseudo celebridades literárias, dá.
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Etiquetas: Ai Portugal, férias, me worry?
22 Comments:
Você não tem mesmo emenda, caro Nelson. Como é que ainda lê coisas dessas?
Um forte abraço e boas férias!
Eu digo o mesmo é preciso pachorra para ler essa fulana
... rica vida!
... e praia? não?
ora aí está o meu amigo a fazer a melhor coisa no mundo que ha pra se fazer: nada :))))
kimbeija..
:):)
torquato da luz
As férias este ano são "aos bocadinhos :)
Quanto às leituras...pois, admito. Mas sou um irrepremível leitor, que é que se pode fazer?
Um abraço
joãosemserdogrão
Eu diria mais. É preciso pachorra...
Ola... :-)
Tenta lembrar-te "como e' bom nao fazer nada e depois descansar um bocadinho", como ja dizias ha muitos anos atras!ou sera que ai por esse Portugal isso e' impossivel?!
Beijinhos e ca fico a espera um dia da tua visita quando nao tirares ferias aos bocadinhos!!!
D
sinapse
Praia... nem por isso. Mas para te explicar porquê... só mesmo um post to faria entender. Dou-te só um "hint". Depois de alguns anos de ilhas desertas, águas mornas a cobrir corais de beleza estarrecedora, em convívio com milhares de espécies de peixes, mamíferos e crustáceos, tudo visitado ao ritmo pendular dos fins-de-semana, muitos milhas de mar alto e pesca desportiva, ski e chouriço para as criancinhas, areias brancas tão finas que espirramos e levanta-se uma nuvem e águas tão azuis que, no horizonte, se confundem com o céu, depois de um cenário destes (muito incompleto, muito incompleto...) como é que me pode sequer passar pela cabeça pegar numa toalha e num par de óculos escuros e protector e ir esturricar para um areal na companhia de um exército de mais um milhão de beach hooligans?
Vês? Eu não te disse que só num post é que te conseguiria esplicar tudo? Um dia faço o tal post!
beijinhos
cristina
Agree (desde que que ando a ler os posts do JPP sobre traduções que é isto, you know?
:)
Sei como prezas não fazer nada. Eu acho que é a melhor coisa do mundo, também. Mas às tantas começa a dar-me o nervoso miudinho. Achas que devo ir ao médico?
Nota: Reconheço a minha incompetência para perceber o significado de "kimbeija". Mas tenho a certeza que não é nada de subversivo
:)
Beijinho
minhá
:):):) (ganhei)
D
Desta vez é Brisbane, só pode. Porque só tu sabes dessa do não fazer nada e depois descansar um bocadinho. Ou tenho ainda o Brasil em linha?
:))
beijos
Lá terei de pedir emprestado o Expresso ao meu filho para ler a CFA. Só não gostei dela quando disse mal do Torga. Dos outros pode dizer à vontade que eu até gosto. Haja alguém! LOL Beijinhos
Ah, vizinho, mas nem precisava de inventar nomes célebres para a elegia do "fare niente"... bastava-lhe citar o maravilhoso Agostinho da Silva, que defendia isso mesmo com toda a propriedade e com argumentos imbatíveis!
Há lá coisa melhor do que não fazer nada? Já o dizia o Pessoa, também, e não me parece que fosse burro...
:)
nahhhh....deixa-te estar que ainda te podem curar..
kimbeija seus males despeija :))))
madalena
A qustão é que a CFA diz mal, de acordo com os humores cíclicos que vai tendo. Agora deu-lhe para aqui. PSD e Cavaco. Lá vai o tempo em que se derretia com o Santana para depois o "abater" sem dó nem piedade. Enfim, nem toda a gente lê o que ela lê...
NOTA: Quando CFA diz que Cavaco é um economista mediano, onde é que ela foi buscar o enquadramente analítico para esta afirmação?
beijinhos para ti e enjoy bem a overdose :)
ana v.
Concordo, apesar de Pessoa se ater mais ao livro que tem para ler e não lê :)
Quanto a Agostinho da Silva, ele era um sábio da vida mas tenho de reconhecer que nem sempre eu comseguia entendê-lo como gostaria.
E livros ou lyrics para um novo fado? Nada de nada?
cristina
É... e eu curado arrisco-me a perder a já pouca gracinha que as almas caridoas e bem intencionadas dizem que eu, aqui e ali, esporadicamente, ainda vou tendo. Por isso, vou "tar quieto".
E depois de devidamente esclarecido sobre a forma de "despeijo" dos males aí vou eu desatar a "kimbeijar" o pessoal todo que me aparece pela frente
:)
E hoje li-te no Publico!
Mas venho cá perguntar-te se conheceste a 'Paula Lopes' que também morou no 1128. Vê aqui:
http://chuinga5.blogs.sapo.pt/37814.html
Não a conheço.
E, coincidentemente, também só estas férias fui ao Pão de Canela, copo ao fim da tarde, seguido de jantar. Um local com agradável esplanada.
Um beijo,
IO
jogos olímpicos dos sorrisos?
os meus dois destinaram-se a dizer-lhe que gostei de o ler. "sabe bem" perder tempo a ler "coisas" compridas e acabar com um sorriso ou uma gargalhada...raro, muito raro.
IO
Por partes:
1 - Público. Não tinha dado por ela. Já o li e encontrei a transcrição do meu post. Fico vaidoso, claro. Não tanto por transcreverem este modesto blog mas por perceber que alguém no Público me lê.
2 - É "Pau de Canela" e não "Pão de Canela". É uma pastelaria com uma esplanada muito agradável, sim. Estes dias tenho lá ido todos os dias porque a minha filha Marta (a que trabalhava em Maputo) agora tem escritório ali mesmo em frente e como estou de férias tenho lá ido almoçar - eles têm umas refeições frugais muito agradáveis.
3 - Quanto à Paula Lopes, não conheço. Mas foi de um Raul Lopes (mesmo apelido) que eu recebi a casa, depois de com ele ter negociado a chave.
Ainda lá vivi 2 anos e aumentei a sala, fiz um bar muito giro e da pateira (não sei se a pateira é do teu tempo) fiz uma pequena piscina para a as miúdas. Entretanto mudei-me para o 1180, que era cinquenta metros à direita, na esquina com a Damião de Góis. Portanto, eu presumo que essa Paula Lopes deve ser familiar do Raul, um rapaz que trabalhava na Bayer. O Raul já faleceu entretanto, muito novo. Ele era mais novo que eu...
Espero que tenhas sorvido a Irlanda com o deleite habitual
:))
beijos
E obrigado pela dica do Público
Hips, confundi com o 'Pão de Canela' na Praça das Flores, em Lisboa, que recomendo!
O que é pateira?... no meu tempo, a piscina era no último andar, enchiam-na a água das chuvas da estação quente e a mangueira vinda do jardim, ao pé da garagem.
Pois, os Lopes, assim sem ver a cara não sei quem eram...
Beijo e continuação de boas férias,
IO
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