quarta-feira, agosto 13, 2008

O silêncio dos culpados?



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Continuo a minha "errância" de férias nesta semana em que me propus descansar sem sair do habitat. É assim que me tenho passeado pela Rua Direita, praia da Conceição e Rainha, paredão e Visconde da Luz. Preguiço depois por uma das muitas esplanadas da área, leio o jornal e como uma refeição ligeira. É sobretudo nesta altura que reparo na quantidade de casais, muitos deles com crianças pequenas, que se sentam como eu para almoçar. A diferença é que… não falam. Pura e simplesmente, não dizem nada. Não c.o.m.u.n.i.c.a.m. Por si, isto mete-me já uma impressão danada, porque sou um comunicador, porque gosto de falar e de ouvir, e até compreendo e aceito que muita gente não seja como eu. Mas o que vejo é diferente. Perpassa uma sensação estranha de que famílias como muitas que tenho observado parecem estar destreinadas de estar juntas. Provavelmente tanto ele como ela falarão muito com os colegas do serviço, pessoas com quem, afinal, passam a maior parte do tempo. Agora, em férias, estão juntos mas perderam, possivelmente, o gosto ou o jeito de falarem um com o outro. Estão fartos. Ou destreinados. Sem assunto. Sem cumplicidade.

Tenho observado casos de silêncio absoluto durante todo o repasto. Ele inspeccionando o menu ou olhando distraidamente à volta, ela fazendo o mesmo, ou falando ao telemóvel ou, havendo crianças, arranjando os pratos delas. No fim, pagam e vão-se embora.

É um mundo estranho. Este, o do silêncio entre os pares. Porque se duas pessoas almoçam juntas têm necessariamente que conversar. Nem que seja para dizer que está uma ventania desagradável ou para se interrogarem sobre se terão accionado o alarme do carro no parque. Mas assim calados, rigorosamente calados, sobretudo tantos, mas tantos casais, talvez a grande maioria, dá que pensar. E recear pelas crianças que frequentemente não se calam e se entregam a uma saudável barulheira – mal sabendo que, provavelmente, também elas estarão condenadas a ser, um dia, mandadas calar pela vida. Vá-se lá adivinhar...

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4 Comments:

At 2:37 da manhã, Blogger Sinapse disse...

Gostei muito deste post!

 
At 7:34 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

subscrevo o comentário acima. Principalmente poque é um post que na sua simplicidade aborda uma questão bem profunda.

 
At 3:24 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

sinapse
Ainda bem que gostaste. E se gostaste é porque percebeste :)
beijinhos

 
At 3:24 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

anónimo
Não sei se é tão profunda assim ou se é apenas o reconhecimento da vida...

 

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