Embuste
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A propósito do estado de saúde de Fidel Castro tenho reparado no sentimento de admiração que rodeia dois factos da revolução cubana, designadamente o ensino e saúde e a dúvida sobre o hipotético sucesso da economia centralizada se não fosse o embargo americano.
Eu acho que estamos perante um enorme embuste devidamente explorado pela comunicação social, basicamente pelo seguinte (e isto referindo-me apenas aos aspectos que referi):
1) Apesar do inegável sucesso que se fez ao nível do ensino básico, é necessário que se saiba que o ensino superior foi sempre condicionado, no sentido de que a maioria dos chamados médicos eram, na verdade e apenas, técnicos de saúde, como aliás os juristas eram técnicos jurídicos (estes são dois exemplos, apenas). Esta “qualificação” tinha a vantagem de preparar quadros minimamente para o consumo interno e, ao mesmo tempo, impedir que os jovens tivessem demasiadas qualificações e se lembrassem de ir exercer para outras latitudes. Nos casos em que os jovens seguiam mesmo o nível universitário, é bom igualmente que se saiba que apenas chegassem a “finalistas” eram retirados das Universidades, a pretexto de prestarem trabalho cívico e, naturalmente, impedidos de acabar os respectivos cursos. Prática aliás muito comum nos países da esfera comunista.
2) Já relativamente ao embargo americano, a coisa parece-me patética. Nunca Cuba esteve impedida de manter relações comerciais bilaterais com os países da esfera comunista. E se a União Soviética subvencionava a cultura da cana de açúcar, por exemplo, era pela simples razão de que o açúcar de cana sofreu um grave revés com o surgimento do açúcar de beterraba. Isto provou ser catastrófico para um país de praticamente monocultura, apesar de proliferarem os agrónomos “incompletos”, à semelhança dos médicos e dos advogados mas que nada podiam fazer contra uma agricultura planificada, onde era mais importante o plano para a estatística do que as produções propriamente ditas.
Conheci muitos cubanos. Gente boa, competente e que trabalhava em troca de um salário que era transferido na totalidade para o governo Cubano e que lhe permitia amealhar “pontos”, exactamente ao estilo dos pontos que somamos na Galp ou na BP para, no regresso a casa poderem usá-los na compra de um electrodoméstico ou, no extremo, um carro usado. Lembro-me, por exemplo, de pilotos de pulverização agrícola. Localmente recebiam apenas uma pequena quantia em moeda local que lhes permitia comer. E recordo-me bem que mais grave e triste do que esta situação de autêntico roubo violento sobre cidadãos era o convencimento daqueles jovens de que aquele era o modelo certo de sociedade. Contra os, na altura, cinco ou seis mil dólares mensais que os outros pilotos recebiam para fazer o mesmo trabalho.
Achei trágico e triste esta manipulação de mentalidades de jovens que mais do que presos a uma ideologia eram o exemplo vivo de gerações já nascidas na revolução e no perfeito convencimento que o seu comandante os conduzia no caminho certo do internacionalismo e do socialismo.
E lembrei-me disto pela insistência com que ultimamente tenho ouvido falar no lado bom do socialismo. É que não havia. É mentira. É embuste. É objectivamente exploração do homem pelo homem, chavão que era usado em sentido inverso. Conheço dezenas de casos com cubanos que poderia usar para ilustrar este ponto de vista. E acho que Fidel Castro foi responsável por um período trágico da história cubana. Acho imoral tentar branquear o que quer que seja que aquele homem tenha feito ao seu povo e ao seu país.
De Cuba aproveitam-se os cubanos, gente boa, alegre e trabalhadora e que merecia melhor sorte. Quanto aos gangs de Miami a coisa dilui-se por si e desesperem aqueles que esfregam as mãos à espera que eles invadam a ilha e encham La Havana de casinos e prostitutas para poderem depois recordar com saudade o “comandante das mil batalhas” e dizerem que no tempo dele é que era bom.
A propósito do estado de saúde de Fidel Castro tenho reparado no sentimento de admiração que rodeia dois factos da revolução cubana, designadamente o ensino e saúde e a dúvida sobre o hipotético sucesso da economia centralizada se não fosse o embargo americano.
Eu acho que estamos perante um enorme embuste devidamente explorado pela comunicação social, basicamente pelo seguinte (e isto referindo-me apenas aos aspectos que referi):
1) Apesar do inegável sucesso que se fez ao nível do ensino básico, é necessário que se saiba que o ensino superior foi sempre condicionado, no sentido de que a maioria dos chamados médicos eram, na verdade e apenas, técnicos de saúde, como aliás os juristas eram técnicos jurídicos (estes são dois exemplos, apenas). Esta “qualificação” tinha a vantagem de preparar quadros minimamente para o consumo interno e, ao mesmo tempo, impedir que os jovens tivessem demasiadas qualificações e se lembrassem de ir exercer para outras latitudes. Nos casos em que os jovens seguiam mesmo o nível universitário, é bom igualmente que se saiba que apenas chegassem a “finalistas” eram retirados das Universidades, a pretexto de prestarem trabalho cívico e, naturalmente, impedidos de acabar os respectivos cursos. Prática aliás muito comum nos países da esfera comunista.
2) Já relativamente ao embargo americano, a coisa parece-me patética. Nunca Cuba esteve impedida de manter relações comerciais bilaterais com os países da esfera comunista. E se a União Soviética subvencionava a cultura da cana de açúcar, por exemplo, era pela simples razão de que o açúcar de cana sofreu um grave revés com o surgimento do açúcar de beterraba. Isto provou ser catastrófico para um país de praticamente monocultura, apesar de proliferarem os agrónomos “incompletos”, à semelhança dos médicos e dos advogados mas que nada podiam fazer contra uma agricultura planificada, onde era mais importante o plano para a estatística do que as produções propriamente ditas.
Conheci muitos cubanos. Gente boa, competente e que trabalhava em troca de um salário que era transferido na totalidade para o governo Cubano e que lhe permitia amealhar “pontos”, exactamente ao estilo dos pontos que somamos na Galp ou na BP para, no regresso a casa poderem usá-los na compra de um electrodoméstico ou, no extremo, um carro usado. Lembro-me, por exemplo, de pilotos de pulverização agrícola. Localmente recebiam apenas uma pequena quantia em moeda local que lhes permitia comer. E recordo-me bem que mais grave e triste do que esta situação de autêntico roubo violento sobre cidadãos era o convencimento daqueles jovens de que aquele era o modelo certo de sociedade. Contra os, na altura, cinco ou seis mil dólares mensais que os outros pilotos recebiam para fazer o mesmo trabalho.
Achei trágico e triste esta manipulação de mentalidades de jovens que mais do que presos a uma ideologia eram o exemplo vivo de gerações já nascidas na revolução e no perfeito convencimento que o seu comandante os conduzia no caminho certo do internacionalismo e do socialismo.
E lembrei-me disto pela insistência com que ultimamente tenho ouvido falar no lado bom do socialismo. É que não havia. É mentira. É embuste. É objectivamente exploração do homem pelo homem, chavão que era usado em sentido inverso. Conheço dezenas de casos com cubanos que poderia usar para ilustrar este ponto de vista. E acho que Fidel Castro foi responsável por um período trágico da história cubana. Acho imoral tentar branquear o que quer que seja que aquele homem tenha feito ao seu povo e ao seu país.
De Cuba aproveitam-se os cubanos, gente boa, alegre e trabalhadora e que merecia melhor sorte. Quanto aos gangs de Miami a coisa dilui-se por si e desesperem aqueles que esfregam as mãos à espera que eles invadam a ilha e encham La Havana de casinos e prostitutas para poderem depois recordar com saudade o “comandante das mil batalhas” e dizerem que no tempo dele é que era bom.
4 Comments:
125_azul
Não é que consegui escrever um post sem ser interrompido a meio por um comentário teu?
:))))
beijinho
Pois! Eu fui querida e fiquei à espera. Sou uma senhora, sei esperar. E por causa dos teus post, dos meus comentários, e da inspiração que me dás para fazer os meus, ontem levei nas orelhas lá no 125!
Uma pessoa só quer informarse sem ter que gramar o forum TSF e o telejornal e é o que dá!
Também tenho a melhor das opiniões sobre o povo cubano.
Beijinhos
INFORMAR-SE! Isto já não acontecia há uns tempos...
125_azul
Eu vi... mas quem sou eu para desdizer a senhora que te deu nas orelhas? Nem sequer este post de hoje tem a ver com isso, mas confesso que a corrente de nobreza de pensamentos que se vai instalando por aí nas pessoas nas pessoas sobre a criatura ajudou um bocadinho. :))
Beijinhos
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