quarta-feira, agosto 09, 2006

O costume



Um dos seis camiões que, em princípio, deveriam apanhar as folhas mortas da minha rua mas que não apanham coisas nenhuma, que a Emac parece ter comprado por €550.000


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Durante os últimos anos, havia uma empresa privada contratada pela Câmara Municipal de Cascais para recolher o lixo de contentores previamente distribuídos pela vila, manter os espaços públicos limpos através de operações químicas de deserbagem específica para o efeito pretendido (matar a vegetação existente e/ou manter limpas calçadas e bermas com produtos de acção residual). Havia ainda uma operação, salvo erro semanal, em que alguns trabalhadores munidos de pequenos aparelhos motorizados de ar comprimido “limpavam” as folhas mortas dos passeios e ruas enquanto atrás passava um camião-aspirador. Tudo fácil, tudo limpo, eficiente e os cascaenses viviam felizes com o lixo recolhido, folhas mortas apanhadas e os passeios e bermas isentos de infestantes cujas raízes deformam passeios, atraem insectos e desfeiam o ambiente.

Acontece que alguém na Câmara achou (passados uns quantos anos) que se estava a pagar muito caro por este trabalho e provavelmente estava, não sei, como residente apenas sei que durante anos andei satisfeito com o trabalho e limpeza da vila. Vai daí, o senhor que decidiu que era caro promoveu a constituição de uma nova empresa municipal, a EMAC, que supostamente faria o mesmo trabalho que a contratada a custos, presumo, mais baixos.

O resultado é que as deserbagens pararam e há “capim” por todo o lado. O lixo é recolhido de forma errática e os contentores que normalmente eram deixados devidamente arrumados nos respectivos locais passaram a ser deixados a “trouxe-mouxe” e, algumas vezes, tombados. As folhas de árvores caídas desde o Outono passado jamais foram sopradas e recolhidas, pelo menos na minha zona de residência, pelo que são já uma massa informe de tecido vegetal, humidade e poeira, mal cheirosa e a caminho de se transformar em matéria orgânica produzindo musgos, abrigando microorganismos de toda a espécie que irão favorecer a continuação do processo de formação de matéria orgânica e, a completar o quadro, cheias de insectos voadores, rastejantes, de bactérias e outros agentes criptogâmicos ou, para resumir, uma massa escura, infecta, mal cheirosa e enfeitada de nuvens de mosquitos e exércitos de outros insectos.

Porque é que as coisas têm de ser assim?

P.S. Resta dizer que objectivamente para este fim se construiu em Alcabideche umas formidáveis instalações da Câmara Municipal, albergando frotas de viaturas, camiões, funcionários zelosos (não sei bem de quê, mas zelam), engenheiros, chefes de função, motoristas, armazéns e respectivos fiéis e toda a parafernália presumivelmente necessária a que as folhas das árvores da minha área caídas em Setembro não se encontrassem ainda no mesmo sítio, escuras e ricas em azoto, que é uma coisa que me fazia imensa falta e mosquitos, que não faziam falta nenhuma mas dão um tique "blazé" ao turismo nacional.

6 Comments:

At 1:03 da tarde, Blogger 125_azul disse...

Com tanto microorganismo à solta, inibiu-se-me a vontade de dar um pulinho a Cascais. Grata pelo aviso.
Achas que eles nos emprestam o carro da foto para uma voltinha pelos corredores da Assembléia da República?
Ai!
Beijinhos

 
At 6:31 da tarde, Blogger Sinapse disse...

Impunidade. Falta de transparência. And no accountability whatsoever - no one is accountable for their actions ... [sorry, é que não me lembro como se diz em português ... responsabilizável? passível de ser responsalibizado?]

E infelizmente os cidadãos não têm tempo para dedicar-se a estes casos ... não têm tempo nem forças para perseguir as entidades e os alguéns até obterem respostas! Mas deviam, deviam pedir contas à Câmara!! Os cidadãos têm esse direito e deveriam ser mais activos! Porque (quase) com certeza se pode assumir que o tal alguém (da Câmara) teve de apresentar um business case para que lhe fosse aprovada tal medida - substituir os serviços de uma empresa privada criando uma outra empresa estatal/municipal para o mesmo efeito e para (supostamente!) reduzir custos. Ora, se há um business case, o público (os cidadãos) deveria ter acesso à informação e poder contrastar a informação constante do tal do business case (ou despacho não sei quantos) com a actual situação: poupou-se? quanto? não se poupou? porquê?

... de repente dei-me conta do idealismo ... ou do delírio ... estarei com febre? ...

No fundo, sou apenas um cidadão como tantos outros: encolho os ombros, carrego as sobrancelhas, mas ... mas mais nada ... Sigo a minha vida, nada de activismos!...

...

Beijinhos, naives ou então delirantes, das duas uma ... que só isso pode justificar o discurso que antecede estes beijinhos ... ;))
Sinapse

 
At 6:32 da tarde, Blogger Sinapse disse...

p.s. - e ainda vou verificar a temperatura, para ver se estarei com febre ...

 
At 7:19 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

125_azul
Mas prontes... são microorganismos aeróbios. Se fossem anaeróbios a coisa era muito grave e perigosamente anaeróbica ou, como diria o Laurodérmio, aeróbica feita pela Ana :))))
Quanto ao pulinho, és sempre bem vinda. Não garanto que não te levem à psiquiatria, não é todos os dias que aparece em Cascais uma mulher aos pulinhos. Mas se eu for contigo, não deixo, isto é, deixo-te dar os pulinhos à vontade, não deixo é levarem-te. Ou deixo... ele há dias para tudo
:)))
beijinhos

 
At 7:24 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Sinapse

É... tu zangas-te mesmo. E se leres um post pequeno que escrevi há pouco por ter ido hoje à tua terra natal ainda te zangas mais :)))
Quanto ao accountability, eu acho que que o "responsabilizável" é o mais indicado. Eu, quando é assim, faço como tu, digo em inglês, period. :)))
Quanto à acção cívica de cada um perante desmandos deste género, nós somos muito maus nisso e eu contra mim falo. Em vez de escrever um post eu deveria mexer-me não é? Ir à Câmara, ir aos jornais, recolher assinaturas, que sei eu...
O problema é que um cidadão às tantas não faz mais nada na vida senao refilar.
beijinhos refilões :)

 
At 8:36 da tarde, Blogger Sinapse disse...

Pois, tens razão, já estou outra vez toda zangada ... já li o teu pequeno post sobre o Porto!

Já tinha ouvido/lido sobre os incêndios, não só na zona do Porto mas por todo o País ... e agora, ao ler as tuas reflexões sobre o tema (reflexões acertadíssimas, claro!) ... pois, subiu-me outra vez a mostarda ao nariz ...

Como é possível?!!?

Se alguém conseguisse explicar-me como é possível que ano após ano após ano após ano após ano ........
................

...

Beijinhos, chamuscados ...
Sinapse

 

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