Boa pergunta
[1166]
Cessar o quê?
A ONU não presta para nada. Não evita conflitos, não evita guerras, não evita destruições, não evita catástrofes humanas. É a instância mais empatativa e mais desprestigiada de toda a História internacional. Falha cronicamente em todas as situações em que intervém e em que as normas de direito tenham de ser impostas pela força coerciva. Nunca evitou nenhum genocídio. Há mais de 20 anos que falha no Médio Oriente. Vai agora falhar mais uma vez.
Decretou-se um cessar-fogo em que os beligerantes não têm o mesmo estatuto. O Hezbollah é uma canalha assassina que não pode ser tomada a sério nem é fiável como interlocutor. A única solução é varrer as suas milícias da zona que ocupam e o Líbano não consegue fazer isso. Praticamente não existe como Estado. É um joguete de várias forças e não tem qualquer capacidade negocial. O seu exército nunca foi capaz de limpar o Sul do país, nem nos tempos da OLP nem nos do Hezbollah. Este participa no Governo do país e contribuirá jubilosamente para a aprovação de novos fornecimentos de armas e para que ao exército seja conferido um mandato suficientemente inócuo no Sul do território.
Está-se mesmo a ver o sinistro resultado que Israel colheria se embarcasse nas injunções tão penosamente cozinhadas da comunidade internacional. Até se sentir em segurança, Israel dirá "sim, mas" ao cessar-fogo e fará o que entende que deve fazer. Felizmente para os judeus e para o mundo civilizado. O quadro da sobrevivência de Israel passa pela criação de um conjunto de condições que respeitam ao mundo árabe, ao mundo islâmico em geral e às redes terroristas. É inalcançável sem fortes dispositivos militares e sem parcerias em que o Ocidente intervenha decididamente, mas, para já, só os Estados Unidos e a Grã-Bretanha é que parecem ter compreendido todas as implicações civilizacionais e geostratégicas de uma questão cujos termos estão todos interligados, ao contrário do que pensam algumas almas ingénuas e do que afirma a esquerda pós-soviética.
Não se vislumbra que a tal força militar da ONU venha a ter uma composição satisfatória. Franceses, italianos e espanhóis, cuja participação nela se anuncia, acabarão a contribuir submissamente para o falhanço da missão: é o que pode esperar-se da mediocridade congénita e irremissível dos srs. Chirac e Villepin, da periclitante salada de esquerda do sr. Prodi e do progressismo alvar do sr. Zapatero. A França já começou a fazer as pantominas esperáveis. E o acordo para o cessar-fogo já começou a ser desrespeitado, pois nem a ONU nem o Líbano desarmarão o Hezbollah.
A força-tampão da ONU não estará em condições de disparar um único tiro. Não terá estômago para matar e morrer, como diria Miguel Monjardino, e sem isso não será possível impor uma autoridade nem fazer cumprir o direito. No dia em que os capacetes azuis esfolassem a falangeta do dedo mindinho de um só membro do Hezbollah, logo o aveludado sr. Koffi Annan se desdobraria em manifestações de pesar idiota e pedidos de desculpa irracionais.
E, depois, a União Europeia não existe militarmente. Não tem condições para integrar, enquanto tal, o contingente e, se as tivesse, ficaria bloqueada pelas divergências abissais entre os Estados membros, como já aconteceu quanto ao Iraque. Uma força da UE, se existisse, também não dispararia um único tiro e muito menos arriscaria a vida de um único soldado, porque isso faria perigar as veleidades eleitorais imediatas de alguns dos seus tenores políticos.
A UE, além disso, ainda não percebeu que todas estas questões são interdependentes e que, sem capacidade militar, ficará suicidariamente a ver passar os comboios.
"Diria que a Al-Qaeda, Hezbollah, Irão e Síria se uniram para acabar com Israel e com o Ocidente" (Bernard Lewis, Sábado, 17-8-06).
O jornalista e escritor egípcio Magdi Allam diz o mesmo: "A guerra no Médio Oriente está a caminho de consagrar uma frente nacional anti-imperialista, formada por grupos terroristas e por Estados islâmicos, assim como por países da América do Sul, da Europa e da Ásia que se inspiram na ideologia comunista" (cit. por J. A. Carvalho, Público, 18-8-06).
Os israelitas não terão outro remédio senão neutralizar o potencial nuclear do Irão. Mas a União Europeia continua a contentar-se com as patéticas deslocações do sr. Solana por esse mundo fora e a achar que tantas andanças tão exemplarmente sem sentido correspondem ao papel mais eficaz que a História lhe reservou.
Vasco Graça Moura
Diário de Notícias de hoje
A questão é demasiado simples para ser escamoteada através de florilégios moralistas ou demagogia criminosa.
Cessar o quê?
A ONU não presta para nada. Não evita conflitos, não evita guerras, não evita destruições, não evita catástrofes humanas. É a instância mais empatativa e mais desprestigiada de toda a História internacional. Falha cronicamente em todas as situações em que intervém e em que as normas de direito tenham de ser impostas pela força coerciva. Nunca evitou nenhum genocídio. Há mais de 20 anos que falha no Médio Oriente. Vai agora falhar mais uma vez.
Decretou-se um cessar-fogo em que os beligerantes não têm o mesmo estatuto. O Hezbollah é uma canalha assassina que não pode ser tomada a sério nem é fiável como interlocutor. A única solução é varrer as suas milícias da zona que ocupam e o Líbano não consegue fazer isso. Praticamente não existe como Estado. É um joguete de várias forças e não tem qualquer capacidade negocial. O seu exército nunca foi capaz de limpar o Sul do país, nem nos tempos da OLP nem nos do Hezbollah. Este participa no Governo do país e contribuirá jubilosamente para a aprovação de novos fornecimentos de armas e para que ao exército seja conferido um mandato suficientemente inócuo no Sul do território.
Está-se mesmo a ver o sinistro resultado que Israel colheria se embarcasse nas injunções tão penosamente cozinhadas da comunidade internacional. Até se sentir em segurança, Israel dirá "sim, mas" ao cessar-fogo e fará o que entende que deve fazer. Felizmente para os judeus e para o mundo civilizado. O quadro da sobrevivência de Israel passa pela criação de um conjunto de condições que respeitam ao mundo árabe, ao mundo islâmico em geral e às redes terroristas. É inalcançável sem fortes dispositivos militares e sem parcerias em que o Ocidente intervenha decididamente, mas, para já, só os Estados Unidos e a Grã-Bretanha é que parecem ter compreendido todas as implicações civilizacionais e geostratégicas de uma questão cujos termos estão todos interligados, ao contrário do que pensam algumas almas ingénuas e do que afirma a esquerda pós-soviética.
Não se vislumbra que a tal força militar da ONU venha a ter uma composição satisfatória. Franceses, italianos e espanhóis, cuja participação nela se anuncia, acabarão a contribuir submissamente para o falhanço da missão: é o que pode esperar-se da mediocridade congénita e irremissível dos srs. Chirac e Villepin, da periclitante salada de esquerda do sr. Prodi e do progressismo alvar do sr. Zapatero. A França já começou a fazer as pantominas esperáveis. E o acordo para o cessar-fogo já começou a ser desrespeitado, pois nem a ONU nem o Líbano desarmarão o Hezbollah.
A força-tampão da ONU não estará em condições de disparar um único tiro. Não terá estômago para matar e morrer, como diria Miguel Monjardino, e sem isso não será possível impor uma autoridade nem fazer cumprir o direito. No dia em que os capacetes azuis esfolassem a falangeta do dedo mindinho de um só membro do Hezbollah, logo o aveludado sr. Koffi Annan se desdobraria em manifestações de pesar idiota e pedidos de desculpa irracionais.
E, depois, a União Europeia não existe militarmente. Não tem condições para integrar, enquanto tal, o contingente e, se as tivesse, ficaria bloqueada pelas divergências abissais entre os Estados membros, como já aconteceu quanto ao Iraque. Uma força da UE, se existisse, também não dispararia um único tiro e muito menos arriscaria a vida de um único soldado, porque isso faria perigar as veleidades eleitorais imediatas de alguns dos seus tenores políticos.
A UE, além disso, ainda não percebeu que todas estas questões são interdependentes e que, sem capacidade militar, ficará suicidariamente a ver passar os comboios.
"Diria que a Al-Qaeda, Hezbollah, Irão e Síria se uniram para acabar com Israel e com o Ocidente" (Bernard Lewis, Sábado, 17-8-06).
O jornalista e escritor egípcio Magdi Allam diz o mesmo: "A guerra no Médio Oriente está a caminho de consagrar uma frente nacional anti-imperialista, formada por grupos terroristas e por Estados islâmicos, assim como por países da América do Sul, da Europa e da Ásia que se inspiram na ideologia comunista" (cit. por J. A. Carvalho, Público, 18-8-06).
Os israelitas não terão outro remédio senão neutralizar o potencial nuclear do Irão. Mas a União Europeia continua a contentar-se com as patéticas deslocações do sr. Solana por esse mundo fora e a achar que tantas andanças tão exemplarmente sem sentido correspondem ao papel mais eficaz que a História lhe reservou.
Vasco Graça Moura
Diário de Notícias de hoje
A questão é demasiado simples para ser escamoteada através de florilégios moralistas ou demagogia criminosa.
5 Comments:
O VGM não tem papas na língua!
(...)
Que tal cessar este interregno, este lapso que foram três semanas sem contacto blogosférico?
Ou que tal explicares a ausência do teu habitual post acompanhado do café da manhã?
Ou que tal ir mais além?
Beijola.
VGM
... e tem a virtude de dizer claro muitas coisas que todos sabemos mas que temos alguma dificuldade em expressar, sem sermos conotados com o labéu da direita reaccionária.
beijinhos sem papas na língua :)
Carlota
Mas ki saidadji, meu deus :))))
Hoje não escrevi o post do café da manhã, embaraçado conmo ainda estava de ter escrito o post anterior, onde tive de explicar algumas coisas à Sinapse...
:))))
beijolas e fico a aguardar a abertura do Lote, que está a fazer falta
Sinapse
Olha, chamei-te VGM no comentário anterior, sorry :)))
Portanto onde se lê VGM leia-se Sinapse.
Enviar um comentário
<< Home