Pântanos
O meu país não vive uma época particularmente brilhante. Nem fácil. Numa altura em que um partido como o PSD se deixa enlear numa das mais promíscuas e criticáveis fases da sua existência e demonstra uma gritante carência de gente capaz, surge a oposição democrática (leia-se o Partido Socialista, que o resto é folclore de mau gosto) a prometer a continuidade, na minha opinião, de um dos mais funestos períodos da nossa democracia e do nosso desenvolvimento.
Tendo acompanhado a evolução e o debate da situação do PS, cheguei a pensar que existisse por parte deste Partido o reconhecimento do verdadeiro desastre que foi o mandato de Guterres, com as consequências que ainda hoje estamos a suportar. Algumas delas, quiçá, inultrapassáveis.
Nunca duvidei que Sócrates alcançaria os seus objectivos e que a candidatura romântica de Alegre não passaria disso mesmo, de romantismo e que a de João Soares de uma simples bravata, em que o clã é especialista. O que, confesso, admiti, foi que Sócrates tivesse um capital mínimo de decência e, mesmo que eticamente se sentisse impelido a não atacar o governo de que ele próprio fez parte, ainda que, reconheçamo-lo, com eficácia, seriedade e voluntarismo, soubesse usar as suas inegáveis capacidades de comunicação no sentido de incutir nas pessoas a imagem de um PS renovado, competente e isento da mais despudorada carga de demagogia (em alguns casos, verdadeiramente danosa) que Guterres usou.
Enganei-me redondamente. Sócrates, numa entrevista à RTP, a primeira como Secretário Geral, usou e abusou dos seus ademanes mediáticos e duma estruturada pose previamente estudada ao detalhe, para nos insultar com o mais descarado branqueamento que me foi dado assistir sobre as legislaturas de Guterres, passando por cima, sem vergonha, de abundantes referências a esse período negro da nossa vida política e social, em que até insuspeitas figuras públicas de reconhecido gabarito e independência não hesitaram em acusar como sendo a causa próxima e directa do verdadeiro descalabro em que nos mergulharam. Ainda recentemente Silva Lopes e Medina Carreira a isso se referiram, sem subterfúgios e muito claramente, em intervenções na televisão e no jornal Público. Para nem citar Vítor Constâncio que nunca negou as responsabilidades directas do PS de Guterres nas causas que nos fizeram resvalar para um perigoso pântano. Pântano que Guterres teve o atrevimento e a desvergonha de citar como causa para se demitir. Demitir-se por causa do pântano para o qual ele, elaborada e conscientemente, contribuiu.
Tenho para mim que, com frequência, os políticos não acreditam no que eles próprios dizem. Dizem-no, ponto. Porque têm que o dizer e porque querem ganhar eleições. E, honestamente, aceitemos que PS não é filho único neste desiderato. É assim com o PS, com o PSD e já nem menciono o Bloco que, com o poder histriónico de alguns dos seus elementos, consegue fazer da mentira uma autêntica farsa burlesca em que se sentem actores principais, com um ou outro special guest star.
Mas é muito mau para todos quantos acreditam que ainda há gente competente, racional e intelectualmente honesta para reconhecer que o nosso país necessita de medidas extremas para corrigir os efeitos do desastre Guterres e da actual paródia em que nos encontramos, que apareça agora um mais do que provável futuro primeiro ministro a chamar-nos parvos e a branquear uma situação que deveria merecer de todos nós o mais vivo repúdio e uma consciencialização no sentido de sentirmos a necessidade de moralizarmos a governação, os seus métodos e os seus, e isto é grave, objectivos. Se Sócrates acredita no que disse a Judite de Sousa é idiota e não creio que o seja. Se não acredita... está ser velhaco, desonesto e a passar-nos um insuportável certificado de burrice que me apresso desde já a rejeitar. E a dizer-nos que os idiotas somos nós.
E.T.
Num passado recente:
Guterres: - “Se preciso for, partimos as fuças à direita”.
Jorge Coelho: - “Quem se meter com o PS, leva”.
Hoje, na Assembleia da República:
António Seguro (com aquele expressão de puto embirrento da primária a quem todos os colegas batiam, nos recreios, por ser queixinhas): - “É deplorável a atitude do Governo em relação a Marcelo Rebelo de Sousa. Nós, no PS, sempre pautámos a nossa postura por uma forma elevada, aceitando críticas de todos os quadrantes.”
Francisco Louçã: - “...um governo em que a maioria se come a si própria...” Hélas!
Maria do Carmo Seabra: - “Neste momento, 100% das escolas, TODAS, (ênfase da ministra) estão a funcionar, com excepção daquelas que...”
Não há pachorra!...
6 Comments:
Um novo negócio se adivinha, nas terras de Castela nossas vizinhas...Cordas! Cordas que nos podem tirar do pântano em que poderemos estar a regressar. Ou calções, bikinis e toalhas para as novas praias, na raia de Espanha, depois do afundamento geral...
Um novo negócio se adivinha, nas terras de Castela nossas vizinhas...Cordas! Cordas que nos podem tirar do pântano em que poderemos estar a regressar. Ou calções, bikinis e toalhas para as novas praias, na raia de Espanha, depois do afundamento geral...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Um novo negócio se adivinha, nas terras de Castela nossas vizinhas...Cordas! Cordas, de sisal de fibras sintéticas, de todos os tipos e materiais. Cordas, que nos podem tirar do pântano em que poderemos estar a regressar. Ou calções, bikinis e toalhas para as novas praias, na raia de Espanha, depois do afundamento geral...
meu caro ABF, tanto também não. Haja a esperança que um dia alguém corra tudo à chapada...
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